Em comunicado, a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, em Portugal, e várias operações no estrangeiro, lamenta o «quadro regulatório cada vez mais intricado e burocrático» que impede a verdadeira «competitividade» das empresas europeias. A ladainha empresarial contra a regulação do mercado contrasta sempre com o anúncio de mais um ano de imensos lucros, alcançados à custa dos preços inflacionados e do estrangulamento dos produtores.
O absurdo desta posição não escapou a Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, em declarações prestadas numa acção de campanha da CDU no Barreiro, que juntou várias centenas de apoiantes: a empresa anuncia quase 760 milhões de euros em lucros e, enquanto isso, «os produtores estão apertadíssimos, nós pagamos tudo e a Jerónimo Martins vai comer de um lado e vai comer do outro; come aos produtores que aperta, come a nós que pagamos tudo e eles é sempre a encher».
«Quando não se cria riqueza, não se partilha absolutamente nada», afirmou Pedro Soares dos Santos, numa entrevista realizada no final do mês de Fevereiro. Até ao momento, já próximos de meados de Março, os trabalhadores ainda não sentiram qualquer vontade de partilha por parte do patronato. Há dinheiro para investimento noutros mercados e abrir lojas (60 remodeladas em 2023 e 11 novas localizações inauguradas), pagar salários dignos é que não parece ser possível.
Ao fim e ao cabo, quanto lucro é que o patronato precisa de acumular até que a tão prometida redistribuição dos lucros ocorra? É uma questão que os trabalhadores se colocam à séculos. Os aumentos anunciados pela Jerónimo Martins para 2024 cingem-se a 10, até 70, euros acima do salário mínimo: são salários de pobreza.
A Jerónimo Martins tem mais do que condições para aumentar os salários de todos os trabalhadores em, pelo menos, 150 euros, considera o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN). O que seria de esperar de uma empresa que se «recusa a fazer o pagamento do acréscimo por trabalho nocturno a partir das 20h» e a pagar um subsídio de alimentação, numa loja cheia de comida, de 9 euros?
Se Pedro Soares dos Santos está assim tão interessado em distribuir a riqueza, pode começar por acatar as propostas dos seus próprios trabalhadores, os que realmente trabalham para lhe criar a riqueza, e aplicar aumentos de 150 euros, categorias profissionais com distinção de 80 euros, um subsídio de frio de 10% (para temperaturas negativas) e 5% (positivas). Também eles, os trabalhadores, têm direito a 25 dias de férias e horários justos.
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