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Isabel Camarinha: «Nos nossos sacrifícios está o lucro deles»

Milhares de trabalhadores saíram hoje à rua pelo aumento geral dos salários e das pensões. Em Lisboa, Isabel Camarinha admitiu que o «outro lado da moeda» dos baixos salários está nos colossais lucros.

CréditosManuel de Almeida / Agência Lusa

Greves e paralisações, plenários, concentrações nos locais de trabalho e «praças da indignação» marcaram este 9 de Fevereiro, que a CGTP-IN apelidou de «Dia da Indignação» perante uma realidade talhada com baixos salários e um cada vez mais violento aumento do custo de vida.

Por todo o País, trabalhadores, reformados, pensionistas, comissões de utentes e outras camadas da população saíram à rua contra as «inevitabilidades» e a ausência de políticas capazes de travar a espiral de empobrecimento. «Não se conformam com as inevitabilidades, com a insuficiência das medidas do Governo, com a opção pelo assistencialismo, pela permissão da especulação e do aproveitamento do grande capital», afirmou ao final da tarde a secretária-geral da Intersindical, Isabel Camarinha, junto à Assembleia da República, em Lisboa, após um desfile que se iniciou no Largo Camões. 

«As nossas dificuldades são lucros para os grandes grupos económicos e financeiros», denunciou a dirigente, sublinhando que «o outro lado da moeda dos salários que não chegam e das pensões que faltam está nos colossais lucros que todos os dias são anunciados». São «milhões e milhões de euros que saem dos nossos bolsos», acrescentou, «para engordar os mais ricos entre os ricos, para aumentar as desigualdades, para manter a maioria com um nível de vida que se degrada e a minoria do costume com cada vez mais».

A suportar a crítica manifestada por Isabel Camarinha está o brutal aumento dos lucros de grandes grupos económicos e financeiros, em 2022, de que são exemplos o francês BNP Paribas, com um lucro recorde de 10 196 milhões de euros, e o Santander Totta, que quase duplicou os lucros para 568,5 milhões de euros, mas também as petrolíferas e a grande distribuição, com a Sonae e a Jerónimo Martins a lucrarem quase dois milhões por dia. 

«Não pode ser, não tem de ser assim. Há alternativas», defendeu a secretária-geral da Inter, sublinhando que, apesar de patrões, comentadores, Governo PS e partidos da direita assumirem no discurso que os salários são baixos no nosso país, «sempre que chega a altura de decidir, uns e outros optam por manter tudo na mesma». Uma evidência denunciada por alguns dos manifestantes com quem o AbrilAbril falou esta tarde.

«Vim cá [à manifestação da CGTP em Lisboa] pela desvalorização das carreiras da saúde. Eu sou de uma carreira em que os trabalhadores recebem, quase todos, o salário mínimo nacional», lamentou Ana Amaral, de 59 anos, encarregada operacional no Hospital dos Capuchos. Carlos Gralha, trabalhador da Sonae MC descreveu uma situação semelhante: «com 27 anos de casa chego ao fim do mês como 805 euros».

As consequências reais do aumento do custo de vida foram frequentemente referidas pelos manifestantes. Sara Gonçalves, de 25 anos, tradutora a trabalhar na área da restauração, afirmou ter dificuldade «em pagar a renda, mesmo a dividir com a minha namorada, a minha companheira». Gonçalo Salvaterra, 30 anos, bolseiro de doutoramento, lamentou «a impossibilidade de ter casa própria». Também no Porto, Coimbra, Setúbal e Beja, entre muitas outras localidades, o descontentamento ecoou pelas ruas. 

«O "depois" deles tem de ser agora»

Entretanto, a secretária-geral da CGTP-IN insistiu que a solução para ultrapassar o problema dos baixos salários «é simples». Basta pôr um ponto final na «hipocrisia da proclamação» e passar à acção, elucidou Isabel Camarinha, destacando a urgência de o Governo fixar o salário mínimo nos 850 euros e de acabar com «a infâmia» de haver no nosso país quem trabalhe oito e mais horas e não ganhe o suficiente para deixar a pobreza. 

As críticas estendem-se à manutenção da caducidade da contratação colectiva, aos baixos salários na Administração Pública, que provocam a sangria de trabalhadores e a degradação das funções sociais do Estado, abrindo portas à privatização, e às alterações à legislação laboral no âmbito da chamada Agenda do Trabalho Digno

«Que Agenda é esta que vão votar amanhã para o trabalho?», indagou Camarinha. «Que dignidade se quer quando o Governo mantém os instrumentos que o patronato usa para fazer chantagem, para bloquear a negociação colectiva, para condicionar o aumento dos salários e assim garantir o aumento dos lucros?», acrescentou. 

«E não nos venham com a conversa de que é preciso produzir mais para depois distribuir, ou de que vem aí a "espiral inflacionista", ou que era a pandemia, agora a guerra e depois qualquer outra desculpa, porque os salários têm de aumentar agora, porque é agora que falta para a comida, para a casa, para o aquecimento, para os medicamentos, para as necessidades dos nossos filhos», frisou a dirigente.

«O "depois" deles tem de ser agora», vincou Isabel Camarinha, esclarecendo que é em mais salários e melhores direitos que reside o crescimento e o desenvolvimento de Portugal, ao mesmo tempo que criticou as «contas certas» do Governo, mas que «de certo só têm» o aumento da exploração e das desigualdades e injustiças que provocam.

A secretária-geral da CGTP-IN insistiu na necessidade «de romper com este modelo». Criticou os paliativos adoptados pelo Executivo de António Costa, que «aliviam um mês, mas não resolvem os outros 11», mas também a falta de medidas, como a fixação dos preços de bens essenciais, que PS e direita chumbaram no Parlamento. «Queremos o que é o nosso por direito, porque somos nós que produzimos a riqueza», disse.

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