Os lucros dos grandes grupos económicos e financeiros ajudam a ilustrar a dimensão do fosso que se vem cavando entre os mais ricos e os mais pobres. Num comunicado a propósito de mais uma edição do Fórum Económico Mundial, em Janeiro, a Oxfam assumia num comunicado que «as elites estão a reunir-se na estação de esqui suíça enquanto a riqueza extrema e a pobreza extrema aumentam simultaneamente pela primeira vez em 25 anos».
No nosso país, e para além do brutal aumento do custo de vida, nomeadamente dos bens alimentares e de primeira necessidade, milhares de famílias estão em risco de perder a sua casa graças às imposições do BCE (assumidas pacificamente pelo Governo e pelo Banco de Portugal), apesar dos lucros escandalosos da banca, e que atingiram igualmente outros sectores.
Recorde-se que, na passada semana, o ministro da Economia sublinhou no Parlamento os valores recorde de que beneficiaram áreas como a do turismo, e a avaliar pelos resultados de Janeiro vem aí mais um ano auspicioso, esquecendo-se de referir o brutal nível de exploração e de precariedade que atinge os trabalhadores deste sector.
Ontem soubemos que os lucros da Brisa subiram 20% para 220,2 milhões de euros em 2022, mas o resultado mais escandaloso, numa altura em que milhares de portugueses já não conseguem aquecer as suas casas, é aquele que a Galp alcançou em 2022, muito à custa do aumento de preços e da especulação, nomeadamente com a energia. São 1,1 mil milhões de euros, os 881 milhões anunciados mais os 223 milhões distribuídos a interesses minoritários em algumas empresas do grupo, o que representa um aumento de 84% face a 2021.
Entretanto, a política de distribuição destes dividendos parece continuar uma linha de progressiva descapitalização da Galp, considerando que os accionistas vão receber mais do que os lucros gerados: 1,165 mil milhões de euros face a um lucro de 1,104 mil milhões. Aliás, o mesmo já se tinha verificado em 2021 quando, face a 600 milhões de lucros, foram pagos 750 milhões de euros em dividendos.
Outros aspectos, não menos importantes, prendem-se, por um lado, com o facto de a maioria destes lucros serem transferidos para o estrangeiro, uma vez que a presença nacional na estrutura accionista está praticamente reduzida aos 18,2% do Grupo Amorim e aos 7,6% da Parpública. Por outro, com a confirmação de que a redução de impostos sobre os combustíveis foi, no essencial, açambarcada pelas empresas petrolíferas, o que apela para a necessidade de uma política que imponha finalmente o limite de preços.
O aumento dos preços dos combustíveis, para além do abuso oportunista praticado também pela Galp, é a consequência da liberalização e da privatização do sector, agravado pela cartelização de preços e por um sistema internacional de formação de preços que parte de uma base especulativa.
O que esperar quando se fecham refinarias, como a de Matosinhos, ou se colocam a produzir menos, quando se impõem sanções a alguns países refinadores, quando se diminuem os investimentos na refinação e se limita a sua produtividade? Além de maior dependência externa, o resultado só pode ser uma escassa oferta de produtos que vai potenciar o aumento dos preços no consumidor.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui