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|repressão patronal

Auchan da Amadora: empresa ameaça despedir todos os trabalhadores grevistas

«O tempo da escravidão acabou»! A intenção de transferir 8 trabalhadores grevistas, na Auchan da Amadora, passou à suspensão com vista ao despedimento. O AbrilAbril acompanhou o protesto onde dezenas expressaram a sua solidariedade.

7 dos 8 trabalhadores que foram alvo de um processo de suspensão na loja MyAuchan da Amadora. O protesto realizado ontem contou com a participação de dezenas de pessoas, incluindo delegações de vários sindicatos da CGTP e a deputada Alma Rivera, em representação do grupo parlamentar do PCP. 
7 dos 8 trabalhadores que foram alvo de um processo de suspensão na loja MyAuchan da Amadora. O protesto realizado ontem contou com a participação de dezenas de pessoas, incluindo delegações de vários sindicatos da CGTP e a deputada Alma Rivera, em representação do grupo parlamentar do PCP. Créditos / CESP

«Em Dezembro, despediram a M...», trabalhadora da loja MyAuchan da Amadora, responsável pela limpeza, que cumpria um turno de cinco horas por dia. Foi nesse período, explica Emily Ambrósio (uma dos oito trabalhadores visadas pela Auchan), que as chefias começaram a pressionar os restantes funcionários para que estes assumissem a limpeza, a fundo, da loja e das casas de banho públicas.

Não foi caso único, alertaram os trabalhadores, presentes no protesto realizado ontem em frente à loja. Tem sido uma estratégia recorrente em várias lojas da Auchan: afastar os trabalhadores das limpezas e obrigar os restantes a assumir essas tarefas, reduzindo o número de funcionários necessários para manter os supermercados em funcionamento.

A diferença é que, neste caso, os trabalhadores não se submeteram.

Ao longo dos últimos meses, os oito trabalhadores, que não cederam às pressões da empresa, têm sido alvo de todo o tipo de tácticas de assédio laboral: vários processos disciplinares sem fundamento, substituição ilegal durante períodos de greve, ameaças e, mais recentemente, a transferência compulsória para várias lojas afastadas dos locais de residência de cada um (e separados uns dos outros).

Na passada sexta-feira, porém, o patronato jogou a sua última (e desesperada) cartada. Ninguém vai ser transferido: todos os trabalhadores foram suspensos, com vista ao seu despedimento «com justa causa», informa a empresa. Na segunda-feira, quando o AbrilAbril cobriu o protesto convocado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN), a loja já estava a funcionar com novos funcionários.

Primeiro passo «é a denúncia», mas o CESP/CGTP já está a preparar providências cautelares contra as suspensões

Os trabalhadores limitaram-se a exercer os seus direitos, «direitos que são seus». O exercício dos direitos definidos pelo Estado de direito democrático não podem, em momento algum, justificar a «repressão e intimidação» por parte da entidade empregadora, defende Filipa Costa, presidente do CESP/CGTP-IN, em declarações prestadas ao AbrilAbril.

«Não estamos a ver qual é a ilegalidade que eles possam ter cometido... participar num plenário não é crime, fazer greve não é crime». No descriptivo funcional das carreiras dos oito trabalhadores é definido que estes têm de manter o seu espaço de trabalho limpo, mas «limpar as casas de banho que são utilizadas pelos clientes, não é tarefa de operadores de supermercado». Os trabalhadores também não podem ser despedidos por se recusarem a fazer coisas para as quais a empresa não os contratou.

Sem disponibilidade da Auchan para resolver o problema na mesa das negociações, o CESP continuará a avançar pela via judicial, revela Filipa Costa, em defesa dos oito trabalhadores, fazendo sempre «uso da rua e de todas as formas de denúncia para expor a situação».

Orlando Gonçalves, da Direcção Nacional do CESP, consegue, no entantanto, identificar os quatro «crimes capitais» cometidos pelos trabalhadores: «Primeiro, defenderam o aumento de salários (...), depois, quiseram defender os seus direitos enquanto trabalhadores e as suas carreiras profissionais. (...) O terceiro crime capital: quiseram fazer um plenário de trabalhadores e fecharam a loja». Mais o mais grave é mesmo o facto de «estarem unidos, juntos com o seu sindicato de classe, determinados em continuar a luta».

Várias organizações sindicais expressaram ontem, em frente à loja, a sua solidariedade com a luta na MyAuchan da Amadora

«Se nos pedissem para eleger o sector no nosso país que mais desrespeita os direitos dos trabalhadores, que mais exploração exerce, repressão... e já agora acrescentar: que mais lucros tem! Teríamos de escolher o sector da distribuição», afirmou Libério Domingues, coordenador da União de Sindicatos de Lisboa da CGTP-IN, numa intervenção realizada durante o protesto.

«O nosso primeiro-ministro disse, há dias, que era do sindicato de todos os portugueses. Mas a que portugueses é que ele se estava a referir? Aos administradores da Auchan, do Pingo Doce, do Continente? Devem ser esses os portugueses do senhor primeiro-ministro, porque perante situações concretas, atropelos, desrespeitos aos direitos dos trabalhadores, a intervenção do Governo PS tem sido zero».

Numa situação como esta em que nos encontramos, em que as estruturas de fiscalização das condições do trabalho estão subdimensionadas e o Governo PS está apostado na defesa dos interesses dos grandes grupos económicos, o tom das intervenções realizadas pelos vários sindicatos que estiveram presentes no protesto foi marcado, no entanto, pelas saudações à coragem destes trabalhadores, face a uma empresa «onde parece que ainda não chegou o 25 de Abril»

Filipa Costa, do CESP, reforçou a ideia: [estes oito trabalhadores] são «um exemplo de firmeza, de determinação. É essencial aquilo que vocês estão a fazer hoje, é um exemplo para outros trabalhadores, de outras lojas, num sector que é muito, muito difícil». Na Auchan da Amadora foi possível demonstrar que aceitar as decisões arbitrárias (e nocivas) do patronato não é uma inevitabilidade.

Estiveram ainda presentes delegações do Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira (SinTAF/CGTP), Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL/CGTP-IN), Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML/CGTP-IN), Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS/CGTP-IN) e da direcção nacional da CGTP-IN.

Delegação do PCP assume compromisso de levar a luta na Auchan da Amadora ao Governo

«Aqui temos a prova viva de como eles [a Auchan e outras grandes empresas] detestam que os trabalhadores se organizem e lhes façam frente», referiu a deputada do PCP, Alma Rivera, na intervenção que dirigiu ao protesto. O que «eles gostariam era de ver os trabalhadores a entrar e a sair do seu local de trabalho de cabeça baixa, sem poder participar, sem poder exercer os seus direitos, sem se organizarem».

Todos aqueles que exigem uma maior distribuição da riqueza ,que exigem mais igualdade, mais justiça sobretudo para quem a cria, para quem todos os dias mantêm as lojas abertas para que eles [os patrões] possam facturar, têm de dar luta, dar batalha, resistir a todas estas tentativas de opressão».

«Contem, evidentemente, com o nosso apoio e a nossa solidariedade [do PCP e do grupo parlamentar] em acções destas». A deputada comunista deixou o compromisso de levar a questão ao Governo PS, sob forma de pergunta, exigindo uma tomada de posição, activa, em relação à atitude «ditatorial e despótica» da Auchan.

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