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|alterações climáticas

Não é o fim do mundo, mas o horizonte é de «sofrimento sem fim»

A este ritmo, um aumento limitado a 1,5ºC em 2100 é muito irrealista, mas as piores previsões, de chegar aos 5ºC, parecem estar definitivamente descartadas. Onde quer que o futuro nos leve, a crise climática está aqui.

Várias famílias, acompanhadas pelo gado, atravessam uma autoestrada inundada no distrito de Dadu, na província de Sindh, Paquistão. As cheias repentinas do último sábado provocaram inundações sem precedentes no país, causando a morte de, pelo menos, 1000 pessoas. 30 de Agosto de 2022 
Várias famílias, acompanhadas pelo gado, atravessam uma autoestrada inundada no distrito de Dadu, na província de Sindh, Paquistão. As cheias repentinas provocaram inundações sem precedentes no país, causando a morte de, pelo menos, 1000 pessoas. 30 de Agosto de 2022CréditosWaqar Hussein / EPA

«Só uma transformação radical das nossas economias e sociedades pode salvar-nos de uma catástrofe climática acelerada». É o agora ou nunca. As conclusões são do organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) para as alterações climáticas, explanadas num relatório publicado esta quarta-feira.

Infelizmente, as afirmações da ONU, e de milhares de cientistas, surgem em contraciclo no que toca às posições assumidas recentemente pela maioria dos governos dos países mais ricos, controlados por forças políticas e económicas com interesse em manter as nossas «economias e sociedades», desiguais e poluidoras, tal como estão, protegendo os privilégios dos grandes capitalistas.

Há uma razão para tanta inacção, para além da patológica necessidade de acumular mais e mais riqueza: serão sempre os mais pobres, aqueles que menos contribuíram para a actual situação climática, a sofrer na pele as consequências da voragem das nossas «economias e sociedades».

A situação actual, pelo menos em comparação com as previsões de há cinco anos, são agridoces. A possibilidade de um aumento da temperatura que precipitasse a extinção da espécie humana parece estar definitivamente descartada: as piores previsões, neste momento, apontam para um aumento da temperatura na ordem dos 3ºC.

Temperaturas continuaram a subir e serão os povos a pagar a factura dos grandes lucros das petrolíferas

Em boa verdade, essa é a única boa notícia. O aumento de temperatura que se verifica actualmente, na ordem dos 1,2ºC, é suficiente para causar eventos climáticos dramáticos, causando a morte de milhares de pessoas e a fuga de milhões, para escapar a cheias ou ondas de calor violentas. A nova realidade climática implicará um «sofrimento sem fim» para a grande maioria da população mundial, lamenta a ONU.

As inundações das monções no Paquistão são paradigmáticas da situação dramática com que se confrontam várias populações em todo o mundo: um terço do país esteve debaixo de água durante semanas, forçando dezenas de milhões de pessoas a deslocar-se e destruindo os rendimentos do algodão e do arroz do país.

Também aqui é importante reforçar esta ideia: a desigualdade, perante as alterações climáticas, não é exclusivamente económica. O Paquistão produziu, desde o início da produção industrial no país, o equivalente às emissões de carbono dos EUA em 2022.

«Quanto mais aprendemos sobre os níveis de aquecimento ainda relativamente moderados, mais duros e mais difíceis de navegar parecem ser» as consequências climáticas do cenário mais provável, refere David Wallace-Wells, jornalista, num artigo publicado recentemente no New York Times.

O Climate Action Tracker (Monitor da Acção Climática), uma organização independente que monitoriza os compromissos dos governos, no âmbito do Acordo de Paris (onde se assumiu a meta dos 1,5ºC em 2100), refere que a chance de alcançar esse valor é de uns meros 5%.

«Com base apenas nos objectivos de 2030, o final do século terá um aumento da temperatude de 2,4°C, com mais de 95% de probabilidade de exceder 1,5°C. Se incluirmos objectivos vinculativos a longo prazo, estimamos que o aquecimento no final do século será de 2,1°C, provavelmente abaixo de 2,3°C e com mais de 90% de probabilidade de exceder 1,5°C». 

Analisando exclusivamente a acção dos governos, nas condições actuais, o aumento da temperatura chegará aos 2,7ºC, praticamente o dobro do convencionado em Paris.

Tecnologia verde cada vez mais sofisticada, acessível e disseminada

O pessimismo de Wallace-Wells em relação aos esforços dos países, principalmente daqueles que, historicamente, foram responsáveis pela grande parte das emissões de carbono, contrasta com a esperança com que vê o grande salto que foi dado no que toca às energias verdes (solar, eólica, etc.).

«Desde 2010, o custo da energia solar e das baterias de lítio diminuiu em mais de 85%. O custo da energia eólica baixou 55%. A Agência Internacional de Energia previu recentemente que a energia solar se tornaria "a fonte de electricidade mais barata da história". Um relatório da Carbon Tracker estima que 90% da população mundial viva em locais onde a energia renovável tem o potencial de ser mais barata do que a energias poluidoras».

«A China, que já está a instalar quase tanta capacidade de produção de energia renovável como o resto do mundo junto, está também a fabricar 85% dos painéis solares mundiais (e a vender cerca de metade de todos os veículos eléctricos comprados no mundo)».

O clima do futuro parece muito pior do que aos fenómenos climáticos extremos a que assistimos actualmente, mas mais esparançoso do que muitos esperavam não há muito tempo, conclui Wallace-Wells. «O mundo está a mover-se mais rapidamente para descarbonizar do que outrora parecia ser responsável e, no entanto, não o faz suficiente rápido para evitar a verdadeira turbulência».

Dezenas de milhares de pessoas exigiram a mudança na COP26. Os lucros falaram mais alto

O relatório da ONU divulgado na quarta-feira expressa a debilidade dos actuais compromissos. Na prática, o planeta, no seu conjunto, vai aumentar as emissões em 10,6% até 2030, em comparação com os níveis de 2010. Isto apenas representa uma melhoria em relação à avaliação do ano passado, que constatava que os países estavam numa trajectória de 13,7%.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas em Glasgow (COP26), realizada em 2021, todos os países concordaram em rever e reforçar os seus planos climáticos, afirmou Simon Stiell, da ONU. Facto é que, passado um ano, apenas 24 planos climáticos novos ou actualizados foram apresentados, algo que as Nações Unidas consideram «decepcionante».

«As decisões e acções governamentais devem reflectir o nível de urgência, a gravidade das ameaças que enfrentamos e a escassez do tempo que nos resta para evitar as consequências devastadoras de uma mudança climática desenfreada», alerta.

Governos conservadores e da extrema-direita europeia preparam a defesa dos interesses económicos das grandes empresas poluidoras

Dois dias após a divulgação do relatório da ONU, o novo primeiro-ministro britânico, o multimilionário e conservador Rishi Sunak, anunciou que não estaria presente na COP27, a conferência da ONU para as alterações climáticas, quebrando a promessa da sua antecessora.

Não é caso único. A 18 de Outubro foi anunciado que, pela primeira vez desde 1987, a Suécia não teria um Ministério do Ambiente no novo Governo conservador, suportado pela extrema-direita. O sector foi integrado pelo Ministério da Energia e Indústria. No acordo entre as forças conservadoras, neo-liberais e de extrema-direita, as questões climáticas são mencionadas uma única vez, para salientar problemas energéticos.

Em Itália, o recém-formado Governo de extrema-direita, liderado por Giorgia Meloni, acabou com o Ministério para a Transição Energética, criando o renovado Ministério do Ambiente e da Segurança Energética, liderado por Gilberto Pichetto Fratin, antigo secretário de estado da Indústria no Governo de Draghi e sem nenhum currículo na área ambiental.

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