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Fome e miséria no mundo, dia santo em Wall Street

Definitivamente, não estamos todos no mesmo barco. Desde o início da pandemia há 62 novos bilionários no sector alimentar. Alimentação e energia já acumularam mais de 382 mil milhões de dólares.

Voluntários garantem refeições a centenas de pessoas sem-abrigo, no Rio de Janeiro, Brasil, 21 de Abril de 2021. No total, 125 milhões de brasileiros vivem algum nível de insegurança alimentar.
CréditosAndré Coelho / EPA

De acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM), só nos últimos dois anos duplicou o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no mundo, num total de 276 milhões. Existe um risco significativo de que, ainda em 2022, se verifiquem inúmeros focos de fomes em várias regiões do planeta.

Cerca de 2,3 mil milhões de pessoas, em 2021, mantinham-se, em termos alimentares, num grau moderado ou gravemente inseguro – falamos de 30 por cento da população mundial. Estes dados foram divulgados em Julho de 2022, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

Uma pessoa encontra-se numa situação de insegurança alimentar grave quando enfrenta uma privação severa do consumo de alimentos. Existem ainda dois outros graus, insegurança leve e moderada, que não comportam o risco de morte imediata. 

Foi o melhor dos tempos (para muito poucos), foi o pior dos tempos (para quase todos). A riqueza global das grandes empresas e bilionários no sector da alimentação, em linha com as práticas habituais do mercado capitalista, não parou de aumentar, face à situação de escassez que assola o planeta. Os seus lucros cresceram 45% em apenas dois anos: 382 mil milhões de dólares acumulados.

Se esta situação já assumiu laivos grotescos durante a pandemia (um novo bilionário a cada 30 horas, enquanto um milhão de pessoas caía na pobreza a cada 33), o espectáculo da acumulação sôfrega só piorou desde o início da invasão russa da Ucrânia e desde o início da seca extrema que afecta a produção alimentar em vários pontos do globo.

Enquanto «milhões de famílias passam fome e as crianças morrem devido à desnutrição», como alertou Dominik Stillhart, chefe de operações do Comité Internacional da Cruz Vermelha, o patronato vem aumentando exponencialmente os seus lucros, passando para o consumidor o ónus dos aumentos de custos na produção e mais um pouco, para seu proveito.

«A ver quem vai ser capaz de te convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias»

De que outra forma se explicariam os lucros absurdos que vêm sendo anunciados para o primeiro semestre de 2022? Os salários perdem, todos os dias, valor e os preços reagem, quase diariamente, à escalada inflaccionista, no entanto, só em lucros, a Brisa acumulou 91,8 milhões de euros; a Galp 420 milhões; a EDP 306 milhões; a Navigator 161,9 milhões; a Sonae 118 milhões; a Jerónimo Martins 261 milhões...

Como é que lucros deste calibre, entre as grandes empresas, não se reflectem em aumentos salariais? Como é que se permite subidas completamente especulativas nos preços da energia e da alimentação quando é claro, e evidente, que os aumentos não reflectem os custos? Como é que os lobbys de umas centenas de bilionários impedem a introdução de medidas de controlo de preços por parte de governos, tentando convencer-nos (perante uma situação gravíssima de fome e pobreza) que uma solução dessas seria insustentável?

Como dizia o José Mário Branco, no FMI: a subida dos preços é mesmo «uma finta vossa».

Não sobram dúvidas: o paraíso liberal é mesmo o inferno dos povos. Enquanto milhares de milhões de euros são distribuídos, em forma de dividendos, aos ultra-ricos, milhares de milhões de pessoas no planeta são privadas, por opção consciente, do seu direito a uma alimentação e nutrição adequada, condenadas à morte em prol da acumulação, irracional e mórbida, de capital.

Tudo é invocado para justificar a inflação. Aumentar salários agrava a inflação, limitar a especulação nos preços aumenta a inflação, direitos laborais e sindicais prejudicam a economia e... Os estados, subordinados aos interesses económicos, nada fazem. Estão de mãos atadas, diríamos, se as suas prioridades não fossem as que conhecemos.

Mas o lucro lá está, como uma santa de altar. Incólume, o derradeiro direito humano consagrado no sistema capitalista, ao qual todos os outros se devem submeter. Mais dinheiro, custe o que custar.

Um 2023 com novas agruras

Entre os principais custos para os agricultores, aos dias de hoje, são os preços dos fertilizantes e da energia.  Os fertilizantes aumentaram, em mais de metade, o seu valor no último ano, enquanto os preços da energia quase duplicaram no mesmo período.  

Internacionalmente, todas as colheitas serão atingidas, incluíndo as culturas de arroz e milho, fundamentais para milhares de milhões de pessoas em toda a Ásia, África e nas Américas. O que hoje é uma dificuldade em encontrar, ou adquirir, alimentos pode vir a resultar, em 2023, numa escassez global de comida sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial. 

Nenhum país ficará imune às repercussões sociais e económicas de uma catástrofe desta envergadura.

Se a solução para a seca extrema que atinge partes da Europa, Ásia e África obriga a uma intervenção profunda na organização de todas as sociedades, há medidas imediatas que limitariam, significativamente, o impacto da fome. No início do mês de Junho, Macky Sall, pre­si­dente do Se­negal e da União Afri­cana, denunciou a forma como as «san­ções contra a Rússia agra­varam a si­tu­ação do abas­te­ci­mento de ce­reais e ferti­li­zantes aos países afri­canos».

Sem uma solução negociada no horizonte, entre a Rússia e a Ucrânia, é expectável que os dois, dois dos maiores produtores de cereais e fertilizantes no mundo, reduzam significativamente as exportações para os países que delas necessitam.

PS e direita travam acções em defesa da soberania alimentar em Portugal

Durante as votações do Orçamento do Estado para 2022, foi discutida, pela mão do PCP, a necessidade de reforçar a soberania alimentar do país. Foi traçado, nessa discussão, um retrato negro da situação da agricultura em Portugal: «As dificuldades que atravessa o sector agrícola e agro-pecuário nacional, em particular os sectores da pequena e média produção, ficam bem patentes no registo da perda de 15,5 mil explorações agrícolas nos últimos dez anos e no aumento em 13% da área média das explorações».

«A par da liquidação das explorações agrícolas, regista-se um decréscimo de 12% de terras aráveis, com redução da área de produção de cereais para grão e de área de produção de batata, com aumento de 24% da área reservada a culturas permanentes e de 14% da área de pastagens».

As proposta, contudo, não granjearam apoios por parte da direita portuguesa, com quem o PS e o PAN frequentemente se alinham. Juntos (PS, PSD, IL e Chega, com ou sem PAN) chumbaram a criação de um programa de apoio à produção de cereais; a criação de uma empresa pública de recolha e aprovisionamento de cereais e a instituição de um fundo autónomo de apoio à agricultura familiar.

Só existem dois lados nesta barricada. Aqueles que estão comprometidos com as necessidades dos povos, assegurando o direito de todos à alimentação e subnutrição, e o lado que o PS e o PAN partilham com o PSD, IL e Chega: que entre a morte de milhões de pessoas à fome, ou a protecção dos dividendos dos acionistas, defenderá, até ao fim, o lucro acima de tudo. Acima de todos.

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