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|mobilidade

Agora é para andar a pé…

Ecologia é dizer não à precariedade, à especulação imobiliária e à flexibilidade laboral. Ecologia é exigir uma rede pública de transportes públicos, de creches e escolas públicas, e um SNS próximo e acessível.

Metropolitano de Lisboa 
Metropolitano de Lisboa CréditosMário Cruz / Agência Lusa

Já tem logotipo. E sigla: ENMAP. E um nome pomposo: Mobilidade Ativa Pedonal 2030. E um lema: «Somos Todos Peões». E uma Estratégia Nacional. E muitos anúncios.

Depois de um Grupo de Trabalho encarregue, durante dois anos, do desenvolvimento da proposta de ENMAP, o Conselho de Ministros aprovou agora uma resolução que, basicamente, cria «um grupo de projeto para a implementação» da ENMAP. E com base em tão extraordinário avanço, saem mais umas promessas, mais umas metas, mais uns ministros a poluírem os nossos televisores com os seus sorrisos, mais uns difusos milhares de milhões de euros.

E o ministro do Ambiente, na Mobi Summit (não podia ser na Cimeira da Mobilidade?) anuncia o objectivo de «um aumento de 35% na quota modal das deslocações pedonais» até 2030 (o que não é exactamente a mesma coisa que «uma quota modal das deslocações pedonais de 35% até 2030» que foi o primeiramente anunciado pelo Governo - mas apesar da diferença de quase 15 pontos percentuais entre um número e outro, de facto essa diferença é pouco relevante).

O que é relevante é o completo desfasamento de tudo isto com a realidade dos portugueses. Que Estratégia Nacional sectorial é capaz de trazer para a «mobilidade activa» um trabalhador precário ou subcontratado, que só consegue pagar casa a 40 quilómetros do local onde trabalha? Ou até a 20, ou a dez. E que muda de emprego duas, três ou quatro vezes ao ano, para locais de trabalho díspares.

«É preciso abanar esta sociedade até aos seus alicerces. É no modo de produção que está o problema. É na mercantilização de tudo – incluindo das políticas de defesa do ambiente – que está o problema.»

Um trabalhador que às 7h00 tem que estar em Lisboa para limpar um grande escritório e sai de casa no Cacém às 5h30, vai de bicicleta ou a pé para onde? Se até de transportes públicos a coisa resulta difícil! E os estudantes que não têm residência universitária, e alugam um pequeno quarto a 30 Km da universidade, e mesmo assim porque os pais dispensam um salário para que o filho posso aceder à educação «tendencialmente gratuita»? Vão a pé para onde? A pé vai do quarto até ao comboio, ou mais provavelmente até à camioneta, isto se se deslocarem nas horas de ponta, porque uma ida ao cinema à noite já exige apanhar um táxi ou demasiada mobilidade pedonal activa até chegar ao quarto.

Claro que se os paizinhos tiverem, não umas centenas mas, uns milhares por mês para passar ao crianço, já a coisa pode ser mais ecológica: um apartamento ali ao pé da universidade, com vidros duplos e termo-acumulador, uma bicicleta de fazer inveja ao Peter Sagan e, porque não, um Tesla para umas idas à praia e à terra. Tudo com a ajuda do Fundo Ambiental, claro, que tão ecológicos pais merecem o apoio deste Estado.

A ecologia não pode pairar sobre a vida dos portugueses, completamente indiferente a esta e a estes. A política não pode ser esta permanente encenação de uma realidade virtual, onde o governo faz propaganda e os fundos públicos são transferidos aos milhares de milhões para uma classe dominante que pouco mais faz com eles que assegurar-se desse domínio.

É preciso abanar esta sociedade até aos seus alicerces. É no modo de produção que está o problema. É na mercantilização de tudo – incluindo das políticas de defesa do ambiente – que está o problema. Ecologia é dizer não à precariedade, não à especulação imobiliária, não à flexibilidade laboral. Ecologia é exigir uma rede pública de transportes públicos, uma rede públicas de creches e de escolas, um SNS próximo e acessível. Ecologia é perceber que a habitação de cada um é estruturante da sua vida, e que só a planificação urbana e a propriedade social permitirá resolver as entorses criadas pelo mercado.

Não precisamos de um governo que nos diga que andar a pé faz bem, quando todas as suas políticas nos desestruturam a vida. Precisamos, no que é central na nossa vida – o trabalho, a habitação, o acesso aos bens e serviços essenciais, a cultura, o lazer – de políticas centradas nos nossos direitos e necessidades, e não na maximização dos rendimentos do grande capital. Temos de recuperar a política como actividade das massas e não como espectáculo para as massas. Por exemplo, no dia 15 de Outubro, unindo-nos na Manifestação Nacional convocada pela CGTP-IN, numa jornada de Mobilidade Pedonal Activa que fará todo o sentido.

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