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Ucrânia: a solidariedade encheu os bolsos do Governo de Zelensky

Nem só de armamento se faz o negócio da guerra. Vários elementos do governo de Zelensky desviaram centenas de milhares de dólares destinados a apoiar o povo ucraniano. Há suspeitas de desfalques de muitos milhões.

Volodymyr Zelensky, presidente da república da Ucrânia, reúne com os homólogos da República Checa, Polónia e Eslováquia. Kiev, Ucrânia, 15 de Março de 2022 
Volodymyr Zelensky, presidente da república da Ucrânia, reúne com os homólogos da República Checa, Polónia e Eslováquia. Kiev, Ucrânia, 15 de Março de 2022. Oleksii Reznikov participou com Zelensky no encontro, sendo o Ministério da Defesa, pelo qual é responsável, acusado de crimes de corrupção de muitos milhões de dólares.CréditosGoverno da Ucrânia / EPA/Agência Lusa

«A corrupção... toda a merda que desaparece, o tratamento que os estrangeiros recebem... se eu começar a falar disto o exército [ucraniano] vai desmoronar-se com todas as investigações». As afirmações são de Emise Fajk, uma húngara de 30 anos, actual directora de comunicações da Legião Internacional de Defesa da Ucrânia.

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Face escondida de Zelensky. Contas em paraísos fiscais e relações perigosas

Uma biografia sobre o presidente da Ucrânia mostra um retrato pouco abonatório: contas offshore, controlo dos media e incompetência. Os jornalistas falam de casos de «corrupção à escala industrial».

Zelensky é acusado de ter passado contas offshore para o nome da mulher. 
CréditosPRESIDENTIAL PRESS SERVICE / EPA

O romance de amor entre a comunicação social Ocidental e o presidente da Ucrânia parece ter tido melhores dias. Os órgãos de comunicação social Welt, na Alemanha, e Exxpress, na Áustria, dão grande destaque à publicação de um livro sobre o chefe do regime de Kiev que saiu no passado fim-de-semana, de autoria dos jornalistas de investigação Steven Derix e Marina Shelkunova: Zelensky, uma Biografia Actual.

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Parlamento ucraniano aprova a proibição dos partidos da oposição

Sem a presença dos deputados da oposição, suspensos por Zelensky, o resultado da votação era um dado adquirido. Partidos acusados de tendências «pró-russas» serão proibidos em definitivo, para lá da lei marcial.

Volodymyr Zelensky 
Créditos / Serviços de imprensa ucranianos

A vida do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acaba de ficar relativamente mais fácil. Seguindo o método dialético de Manuela Ferreira Leite (numa teoria formulada aquando da sua liderança do PSD), de vez em quando, o melhor mesmo é suspender a democracia durante seis meses, «mete-se tudo na ordem e depois, então, venha a democracia».

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Zelensky suspende a actividade de 11 partidos políticos na Ucrânia

A pretexto da lei marcial, Zelensky proibiu hoje 11 partidos políticos, do centro à esquerda, na Ucrânia, incluindo o maior da oposição. A extrema-direita, por seu lado, não vê qualquer restrição à sua actividade.

Volodymyr Zelensky, presidente da república da Ucrânia, reúne com os homólogos da República Checa, Polónia e Eslováquia. Kiev, Ucrânia, 15 de Março de 2022 
CréditosGoverno da Ucrânia / EPA/Agência Lusa

«Primeiro vieram buscar os comunistas (...)», lembrava Bertolt Brecht, e agora, por fim, levam o que restava do centro/centro-esquerda ucraniano. O processo de «descomunização», em marcha desde 2015, que resultou na ilegalização e perseguição do Partido Comunista da Ucrânia, aproveita o contexto da guerra para afastar os restantes rostos da oposição anti-NATO/anti-corrupção ao governo de Zelensky.

Sob pretexto de se tratarem de partidos «pró-russos», uma narrativa rapidamente adoptada pelos meios de comunicação ocidentais, 11 partidos, com ou sem assento parlamentar, foram impedidos de exercer a sua função principal numa democracia: exercer a representação política dos seus eleitores e militantes.

O Ministério da Justiça terá agora de «tomar imediatamente medidas abrangentes para proibir as actividades desses partidos políticos».

No princípio de Fevereiro o partido ucraniano "Socialistas" ainda celebrava a maioria absoluta de António Costa nas últimas eleições legislativas. O partido, que há muito denunciava os atentados do regime de Kiev contra a liberdade de imprensa e liberdades políticas, foi agora proibido sob a acusação de "pró-russo" - um chapéu usado nos últimos anos para extinguir as vozes da oposição democrática e meios de imprensa adversos no país. Kiev, 20 de Março de 2022 Créditos

A explicação dada pelo presidente ucraniano, numa declaração proferida hoje, 20 de Março, na qual anuncia o prolongamento da lei marcial por um novo período de 30 dias, falha na prova dos factos. Muitos destes partidos, acusados de pró-russos, participam activamente na defesa da Ucrânia. Há pouca margem para interpretar esta acção que não seja a de afastar o que resta da oposição ao seu mandato, e aos interesses que ele serve.

A Plataforma de Oposição - Pela Vida, que nas eleições parlamentares de 2019 ficou em segundo lugar, com 13,05% dos votos e 43 assentos no parlamento, não só denunciou publicamente a invasão da Rússia, chegando mesmo a expulsar um deputado por não o fazer e remover um vice-presidente com ligações a Vladimir Putin, como incitou à participação nas milícias de defesa do país. Nada impediu a suspensão.

No caso do Socialistas, trata-se de um pequeno partido político pró-União Europeia [ver foto em caixa] que defende a reintegração da Crimeia na Ucrânia, ao mesmo tempo que defende a nacionalização de vários importantes sectores da economia ucraniana e o combate à corrupção nas instituições governamentais.

O verdadeiro crime destas formações políticas, algumas com quase 30 anos de actividade, foi, em alguns casos, continuarem a defender posições anti-NATO ou representarem as populações russófilas do país,  enquanto outros, apoiantes do projecto europeu, se limitam a defender uma solução pacífica para o conflito no Donbass e se opõem aos ímpetos privatizadores do governo de Zelensky.

O projecto iniciado em Maidan, em 2014/15, concluiu finalmente uma das suas principais ambições políticas: afastar todos os grupos partidários que contestem a hegemonia dos interesses económicos norte-americanos na Ucrânia.

Para além da Plataforma de Oposição - Pela Vida, também os partidos Sharia, Nosso, Bloco de Oposição, Oposição de Esquerda, União das Forças de Esquerda, Estado, Partido Socialista Progressista da Ucrânia, Partido Socialista, Socialistas e Bloco de Volodymyr Saldo, foram suspensos.

A necessidade de uma «política de informação unificada» levou Zelensky a assinar um decreto que funde todos os canais de informação, públicos e privados, num único órgão informativo, sob gestão da presidência da república da Ucrânia.

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Zelensky, no entanto, decidiu ir mais longe. Depois da experiência do último mês, com a suspensão de todos os partidos políticos da oposição de centro e centro-esquerda (sem nunca tocar nos sacrossantos direitos dos partidos da extrema-direita), o parlamento ucraniano deliberou proibir, em definitivo, a oposição.

Nas suas redes sociais, Olena Shuliak, presidente e deputada do partido Servo do Povo (pelo qual Zelensky se fez eleger) manifestou a sua satisfação pela aprovação da proposta: «Finalmente vamos parar de tolerar o 'mundo russo' dentro dos nossos círculos políticos, que só trazem destruição à Ucrânia».

Quando dá jeito, qualquer opositor é «pró-russo». Por seu lado, a extrema-direita prossegue, intocável

A pretexto de se tratarem de partidos «pró-russos», o novo projecto de lei (n.º 7172-1) permite a ilegalização de partidos, a cessação dos mandatos de representação, sejam ao nível local ou nacional, e o confisco de toda a propriedade registada pelos partidos visados.

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Combate à glorificação do nazismo volta a não contar com o apoio de EUA e aliados

A Assembleia Geral da ONU adoptou, de forma esmagadora, a resolução que a Rússia apresenta há vários anos contra a «glorificação do nazismo», que voltou a não contar com o apoio dos países da NATO.

Créditos / peacekeeping.un.org

Por iniciativa da Rússia, a resolução «Combater a glorificação do Nazismo, Neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada» foi aprovada esta quinta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com 130 votos a favor, dois votos contra (EUA e Ucrânia) e 49 abstenções.

Entre as abstenções, inclui-se a de Portugal, a dos estados-membros da União Europeia e dos países que integram a NATO.

Quadro com a votação da resolução de combate à glorificação do nazismo, esta quinta-feira, na Assembleia Geral da ONU / @RussiaUN

A resolução proposta pela Rússia apela aos estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que «eliminem todas as formas de discriminação racial por todos os meios adequados», incluindo a via legislativa, e expressa «profunda preocupação sobre a glorificação, sob qualquer forma, do movimento nazi, do neonazismo e de antigos membros da organização Waffen-SS».

De acordo com uma nota publicada no portal na ONU, o texto refere-se, também, à «construção de monumentos e memoriais», e à «celebração de manifestações em nome da glorificação do passado nazi, do movimento nazi e do neonazismo» – algo que ocorreu nos últimos anos em países como a Ucrânia, a Letónia, a Estónia, a Lituânia e a Polónia.

Grigory Lukiantsev, director-adjunto do Departamento de Cooperação Humanitária e Direitos Humanos do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, disse que a adopção da resolução será um contributo real para a erradicação do racismo e da xenofobia, refere a TASS.

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Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga

Cerca de mil pessoas participaram no desfile do Dia do Legionário em homenagem aos mais de 140 mil letões que integraram unidades nazis. A diplomacia russa classificou a marcha como uma «vergonha».

Marcha do Dia do Legionário, em Riga, capital da Letónia (16 de Março de 2019)
Créditos / Sputnik

O Dia do Legionário, a 16 de Março, é assinalado na Letónia desde os anos 90, para homenagear e evocar aqueles que fizeram parte da Legião da Letónia na Waffen Schutzstaffel (Tropa de Protecção Armada, mais conhecida como Waffen-SS).

A marcha deste ano, em Riga, contou com a participação de alguns veteranos legionários, que integraram a 15.ª e a 19ª divisões de Granadeiros da Waffen-SS, bem como de apoiantes e neonazis. O evento anual, que tem sido criticado a nível internacional como uma forma de «glorificação do nazismo», também mereceu oposição interna, com alguns manifestantes a exibirem cartazes em que classificavam a Legião como uma «organização criminosa» e a lembrar que «lutaram ao lado de Hitler», segundo refere o periódico Haaretz.

A Embaixada da Rússia no país do Báltico condenou a marcha de homenagem aos legionários da Waffen-SS, que classificou como «uma vergonha». Na sua conta oficial de Twitter, a Embaixada afirmou, no sábado: «Que vergonha! Veteranos da Waffen-SS e apoiantes estão novamente a marchar com honra no centro de uma capital europeia. E isto acontece na véspera do aniversário dos 75 anos da libertação de Riga dos invasores nazis!»

Também a Embaixada da Rússia no Canadá se manifestou no Twitter contra o desfile realizado em Riga: «Veteranos da Waffen-SS nazis e apoiantes marcham desafiantes e livremente no dia 16 de Março em Riga, Letónia, recohecidos pelas autoridades como heróis nacionais. Uma realidade ignorada por muitos no Ocidente que não pode ser descartada como "propaganda do Kremlin".»

A Waffen-SS, que foi criada como um ala armada do Partido Nazi alemão, foi considerada uma organização criminosa nos julgamentos de Nuremberga, após a Segunda Guerra Mundial, pela sua ligação ao Partido Nazi e envolvimento em inúmeros crimes de guerra e contra a Humanidade.

Glorificação do nazismo e reescrita da história

A Legião da Waffen-SS da Letónia foi fundada em 1943. Muitos dos seus membros viriam a integrar depois, juntamente com combatentes da Lituânia e da Estónia, os chamados Irmãos da Floresta, que até 1953 lutaram contra as tropas soviéticas nos países bálticos.

Em Julho de 2017, a NATO publicou um vídeo que apresenta, com visível dose de heroísmo, essa guerrilha anti-soviética, sem mostrar grande preocupação pelo facto de, nessas forças, estarem integrados muitos legionários das SS nazis ou os que, nos países bálticos, haviam colaborado com as forças invasoras nazi-fascistas.

Repúdio da Rússia

Então, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, pediu que «se veja com respeito as páginas trágicas da história e se repudie tão repugnante acção da Aliança Atlântica». Disse ainda esperar que «não seja necessário recordar os assassinatos massivos perpetrados por muitos dos membros dos Irmãos da Floresta».

Por seu lado, a representação da Rússia junto da NATO considerou que o material fílmico constitui uma nova tentativa de reescrever a história, para a colocar de acordo com os processos políticos nas ex-repúblicas socialistas do Báltico, onde prolifera o neofascismo e o nacionalismo.

Moscovo tem reafirmado a sua preocupação sobre o surgimento de grupos neonazis e acerca de políticas que glorificam colaboradores com o nazismo na Ucrânia, na Polónia e nos Estados Bálticos – países onde, refere a agência Sputnik – são frequentes as marchas em louvor de destacadas figuras fascistas.

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Acrescentou que o texto sublinha a inadmissibilidade de «glorificar os envolvidos nos crimes do nazismo, incluindo o branqueamento de ex-membros da organização SS e das unidades Waffen-SS, reconhecidas como criminosas pelo Tribunal de Nuremberga».

A representação diplomática dos Estados Unidos junto das Nações Unidas tem votado sempre contra a resolução apresentada pela Rússia, alegando que se trata de um documento que legitima as «narrativas de desinformação russa» e «denigrem os países vizinhos sob a aparência cínica de travar a glorificação do nazismo».

No contexto da votação realizada há um ano, o embaixador norte-americano afirmou ainda que a resolução é contrária ao «direito de liberdade de expressão», a que também os «nazis confessos» têm direito, tal como estipulado pelo Supremo Tribunal dos EUA.

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A decisão foi aprovada com o voto favorável de 330 deputados. Apenas 17 votaram contra. O parlamento da Ucrânia (ou Rada) continua a funcionar, desde finais de Março, com um número reduzido de deputados (num total de 450), já que várias dezenas estão impedidos de cumprir o mandato para o qual foram eleitos por milhões de ucranianos, no mesmo sufrágio que legitima Zelensky.

Qualquer partido que adopte posições, como parte da sua linha programática, que justifiquem, considerem legal e neguem o ataque da Rússia à Ucrânia, ou aceitem a conduta de militantes «pró-russos» nas «zonas temporariamente ocupadas» (em que se incluem as populações separatistas do Donbass e Crimeia), será imediatamente proibido.

Uma democracia não-representativa

A capote desta lei, fica permanentemente proibida a defesa partidária do direito à autodeterminação dos povos do Donbass e da Crimeia, zonas com grandes populações russófonas e que votaram maioritariamente, em 2019, num dos partidos que será agora proibido: a Plataforma de Oposição - Pela Vida.

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(Neo)fascismo, antifascismo e transição autoritária

Só saindo deste ciclo politicamente neurótico e retomando em força, e com urgência, as batalhas democráticas que continuam por fazer, é que conseguiremos apreender o neofascismo em toda a sua natureza.

Manifestação antifascista e antirracista em Lisboa, a 6 de junho de 2020 (foto de arquivo)
CréditosManuel de Almeida / LUSA

O fascismo nasceu como um novo produto ideológico das direitas do século XX, com uma origem e uma génese específicas na Itália do pós-I Guerra Mundial. Conquistou, contudo, o seu lugar na História justamente porque ganhou dimensão internacional, fascizando o corpus doutrinal de outras direitas em muitos contextos nacionais diferentes.1 Produtos de um processo degenerativo do sistema liberal, em cuja história se inscreve, o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, considerados justamente prototípicos do fenómeno à escala internacional, ascendem ao poder cumprindo as normas legais de um liberalismo autoritário2 no âmbito de uma transição autoritária (do sistema liberal para a ditadura fascista).

«Produtos de um processo degenerativo do sistema liberal, em cuja história se inscreve, o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, considerados justamente prototípicos do fenómeno à escala internacional, ascendem ao poder cumprindo as normas legais de um liberalismo autoritário no âmbito de uma transição autoritária (do sistema liberal para a ditadura fascista)»

Nos estudos do fascismo desenvolveram-se, entre muitos, dois debates clássicos que permanecem muito úteis para discutimos a extrema-direita que dele é herdeira. Em primeiro lugar, a distinção entre fascismo-movimento e fascismo-regime, isto é, entre os períodos e os contextos em que ele (ainda) não se constituiu como regime e ideologia de Estado e os que, sobretudo depois da nazificação da Alemanha a partir de 1933, tal acontece um pouco por toda a Europa; nos nossos dias, isto significa estudar a diferença entre as direitas radicais na oposição e no poder. Em segundo lugar, a aplicabilidade do conceito a uma grande variedade de casos nacionais – fascista foi apenas o partido e o regime de Mussolini?, ou devem também ser considerados como tal o nazismo, o franquismo, o salazarismo, o regime ustasha na Croácia, entre muitos outros? –, e contextos históricos – o fascismo teve a sua época, como lhe chamou Thomas Mann, e esta terminou definitivamente com a derrota militar nazi de 1945?, ou, sob muito variadas formas, foram e são neofascistas ou pós-fascistas movimentos, partidos e formas de governo que se desenvolveram/impuseram uma vez passada a época do fascismo, desde as extremas-direitas europeias mais clássicas (francesa, italiana, alemã), às formas ideológicas e orgânicas presentes em ditaduras reacionárias dos últimos 75 anos (sobretudo as latinoamericanas e as duas ibéricas nas suas versões adaptadas a um mundo de que havia desaparecido já qualquer esperança de uma Nova Ordem fascista), até às direitas radicais (demasiado) frequentemente descritas como populistas do século XXI?

Continuidades ou diferença?

Diferenças de contexto, comunidade ideológica e perceção de continuidades são questões essenciais tanto para analisar as experiências políticas da época do fascismo (1922-45), como para discutir as direitas extremas dos nossos dias. A posição maioritária, e que vem ganhando contornos hegemónicos, é a de sublinhar a diferença entre as novas extremas-direitas, que julgamos conhecer melhor porque com elas vivemos, e aquelas que há cem anos cunharam o nome de fascismo. Antes de mais, esta parece-me a atitude intelectual mais fácil de assumir: em contextos inegavelmente diferentes, os objetos que neles encontramos parecem-nos também eles diferentes, pelo que a perspetiva com que, à partida, os abordamos é a da verificação da diferença face a outros objetos que já conhecemos, antes de mais por não termos sido contemporâneos dos objetos do passado, que nos são inevitavelmente mais estrangeiros (como lhes chama David Lowenthal) que os do presente. Dizia Eric Hobsbawm que «a maioria dos seres humanos opera como os historiadores: só retrospetivamente conseguem reconhecer a natureza da sua experiência.»3 É evidentemente difícil conseguir dar um nome adequado ao que vivemos enquanto o vivemos. Por outro lado, muita da discussão que hoje fazemos sobre a natureza da extrema-direita é a mesma que se vem fazendo há décadas sobre a natureza dos regimes autoritários da época do fascismo, e resulta, afinal, de saber-se que grau de flexibilidade é admissível no uso das categorias políticas. Por norma, aqueles que negam que ditaduras de direita do período de entre guerras, como a salazarista, tenham sido versões nacionais de um fascismo como fenómeno internacional, não se perguntam se são hoje igualmente democráticos regimes tão diferentes como o indiano ou o francês, e se já o era o sistema político norteamericano em 1776 ou em 1865. A pergunta nada tem de retórico uma vez que a Ciência Política mainstream tende a dar-lhe uma resposta positiva em todos os casos, ao mesmo tempo que entende que eram tão comunistas e totalitários (para usar um vocabulário hegemónico que não é o meu) o regime soviético em qualquer dos seus ciclos históricos, o dos Khmeres Vermelhos ou a Revolução Cubana, entre muitos outros exemplos. Porque se aplica, então, um grau tão amplo de flexibilidade para falar de democracia ou de comunismo e uma perspetiva tão restritiva para falar de fascismo? A resposta é simples: porque se aceita quase sempre trabalhar com conceitos genéricos de democracia e de comunismo e, pelo contrário, se recusa fazer o mesmo com o fascismo.

«se a chegada da extrema-direita ao poder significa «mudar o sistema a partir de dentro», deve presumir-se que a mudança deixa mais ou menos intacta a natureza democrática do poder? Deixou Orbán intacta a democracia? E Bolsonaro, ou Duterte? Se não se trata de «mudar tudo», como designar, então, as alterações que todos eles, chegados ao poder por via constitucional exatamente como Hitler e Mussolini, vão introduzindo?»

Para o que aqui nos ocupa, a questão é saber se, e quais, direitas extremas dos nossos dias são neofascistas, isto é, se são a versão do fascismo adaptada às condições específicas (mas muito diferentes entre si) de sociedades do século XXI marcadas pelo agravamento generalizado da desigualdade social e da perda de representatividade dos sistemas políticos. Nesta nova fase da globalização capitalista que coincide com o triunfo do neoliberalismo desde os anos 1980, são a retórica ocidentalista e o racismo culturalista dos nossos dias, empapados do Choque de Civilizações de Huntington, herdeiros do discurso da decadência do Ocidente de Spengler4 dos anos 20 que enformou a mundivisão fascista? A normalização do discurso xenófobo e racista, agravada com a chamada crise dos refugiados da última década (especialmente dos anos 2015-16), partilha a mesma mundivisão do fascismo na sua época? Há ou não continuidade entre o racismo politicamente organizado da primeira metade do século passado e o dos nossos dias, que alimenta movimentos políticos que, nos países mais ricos do Ocidente, se estruturam especificamente em torno do discurso xenófobo (contra o imigrante ou o refugiado, contra as minorias muçulmanas e ciganas), disfarçado de culturalismo determinista (hoje a «inassimilabilidade» do muçulmano ou do cigano, antes a do judeu)?

Para que serve dar um nome ao que vivemos?

Não pretendo fazer aqui uma discussão detalhada em torno da terminologia mais adequada para categorizar a extrema-direita que vem avançando por todo o Ocidente, não desde o Brexit ou a eleição de Trump, em 2016, mas desde pelo menos há 25 anos, desde que a direita radical começou o assalto ao poder nos países pós-comunistas, na Europa ocidental, a começar pela Itália, com a chegada de Berlusconi ao poder (1994) aliado (como por toda a parte acontece com a direita clássica) com a extrema-direita, ou nos EUA, quando a radicalização à direita do Partido Republicano levou ao poder George W. Bush (2000). Limito-me a contestar a validade do uso (em geral, puramente confrontacional) da categoria de populismo, mesmo que adjetivado como sendo de extrema-direita, expressão que, mimetizando o uso vulgar do totalitarismo, presume que existem tantos populismos quantos discursos antissistémicos se fizerem à esquerda e à direita; bem como a aplicabilidade do conceito de pós-fascismo para sob a sua capa se reunirem movimentos que «já não são fascistas [porque] surgiram depois da consumação da sequência histórica dos fascismos clássicos», dos quais «se emanciparam, ainda que na maioria dos casos o conservem como matriz». Impressiona-me que um historiador como Enzo Traverso, apesar de reconhecer que «Mussolini e Hitler chegaram ao poder por via legal», aceite que «a vontade [deles] de derrubar o Estado de Direito e apagar a democracia estava fora de discussão» permite marcar uma diferença essencial com a atitude da extrema-direita dos nossos dias, que, segundo Traverso, «quer transformar o sistema a partir de dentro, enquanto o fascismo clássico queria mudar tudo»5. Neste âmbito, se a chegada da extrema-direita ao poder significa «mudar o sistema a partir de dentro», deve presumir-se que a mudança deixa mais ou menos intacta a natureza democrática do poder? Deixou Orbán intacta a democracia? E Bolsonaro, ou Duterte? Se não se trata de «mudar tudo», como designar, então, as alterações que todos eles, chegados ao poder por via constitucional exatamente como Hitler e Mussolini, vão introduzindo? Mesmo não afirmando querer pôr em causa a natureza liberaldemocrática dos regimes, a extrema-direita no poder (e fora dele) ataca liberdades e direitos individuais e coletivos, coloniza o poder judicial, as forças de segurança e militares, propõe a ilegalização de forças políticas, a perseguição de organizações/movimentos associados a minorias étnicas, e assume práticas ultrassecuritárias contra inimigos internos (as minorias, os migrantes) e externos. Chamar, como está em voga, iliberal (como Fareed Zakaria) a este processo político parece-me muito menos adequado que nele reconhecer o liberalismo autoritário típico dos estados em transição para o autoritarismo. Um regime em transição muda inevitavelmente de natureza ao fim de algumas etapas; uma democracia em transição autoritária deixará sempre de ser democrática a menos que o processo seja revertido. Não creio ser razoável definir o ritmo da transição como indicador da natureza diferente do horizonte final da transição; a democratização social, como processo transicional que também é, produziu resultados muito diferentes e muito incompletos em países aos quais, em geral, vejo pouca gente recusar chamar democracias. Da mesma forma, a tese que deduz que as diferenças estruturais dos contextos históricos do fascismo na sua época (1922-45) e aquele em que hoje se expande a extrema-direita são obstáculo suficiente para não a podermos considerar neofascista, deveria para ser aceitável obrigar quem a sustenta a recusar falar hoje de democracia em contextos tão radicalmente diferentes do da Atenas do século V a.C.; ou, por comparação com o contexto bolchevique de 1917-18, chamar comunista aos partidos que, em estados liberaldemocráticos, disputam eleições e chegam a partilhar o poder sem propriamente subverter «por dentro»...

Antifascismo sem (neo)fascismo?

E chegamos ao antifascismo. Sem se assumir haver uma continuidade entre as direitas extremas de há cem anos (fascistas) e as de hoje (neofascistas), não será viável estratégia alguma de reativação do antifascismo como cultura política e frente social de resistência ao ataque às três grandes conquistas de 1945: a construção da democracia social e a gradual (ainda que, uma vez mais, sempre incompleta) emancipação das classes trabalhadoras; a fundação da democracia sobre a rejeição radical das mundivisões racistas que conduziram a Auschwitz, da dominação colonial e da opressão de todas as minorias étnicas; a emancipação das mulheres de todas as culturas e de todos os continentes, de metade da Humanidade, motor das batalhas por outras emancipações, bem mais tardias, das subjetividades oprimidas definidas em torno da identidade sexual. Sem constituir em si mesmo um movimento político e social próprio, o antifascismo foi uma plataforma de resistência à expansão do fascismo e à subsequente dominação por ele imposta. O que, contudo, marcou a sua identidade na história foi a tomada de consciência de que, quer na Guerra de Espanha (1936-39), quer quando se começou a percecionar coletivamente a possibilidade efetiva de derrotar a Nova Ordem fascista, a luta antifascista era irreversivelmente uma luta pela reconstrução da democracia muito para lá dos estritos objetivos de liberais imperialistas como Churchill, De Gaulle ou Roosevelt, que lutaram contra o expansionismo de Hitler, Mussolini e Tojo mas que não pretendiam nem descolonizar, nem democratizar mais do que a reposição reformada dos termos estruturais do liberalismo oligárquico de 1939.6

«Fornecendo uma explicação convincente para a ascensão e a derrota do nazifascismo, hegemónica entre 1945 e os anos 70, o antifascismo e a memória coletiva por ele embebida sofreram um ataque generalizado com o avanço do neoliberalismo e a implosão do mundo soviético, justamente porque podiam reivindicar ter conseguido derrotar o fascismo como experiência histórica limite na história da violência como prática política, responsável pelo conflito mais mortífero e o modelo de genocídio mais eficaz e industrializado da história.»

Fornecendo uma explicação convincente para a ascensão e a derrota do nazifascismo, hegemónica entre 1945 e os anos 70, o antifascismo e a memória coletiva por ele embebida sofreram um ataque generalizado com o avanço do neoliberalismo e a implosão do mundo soviético, justamente porque podiam reivindicar ter conseguido derrotar o fascismo como experiência histórica limite na história da violência como prática política, responsável pelo conflito mais mortífero e o modelo de genocídio mais eficaz e industrializado da história. Como aliança historicamente contingente entre as duas grande famílias ideológicas que, por motivos diferentes, se reviam na Revolução Francesa (o liberalismo e o socialismo), e de uma terceira que o fazia relativamente à Revolução Russa (o comunismo), a aliança antifascista das Nações Unidas (a designação que os aliados de 1941 se deram a si próprios) dividiu-se mal a ameaça fascista foi militarmente eliminada, em 1945, e em torno das mesmas questões que tinha dividido as suas componentes no passado (a dominação burguesa, a natureza intrínseca da desigualdade capitalista, a resistência liberal à democratização social, o imperialismo). É ainda nesse ciclo que nos encontramos: forças políticas muito diferentes podem partilhar (ou melhor, ter partilhado) uma mesma cultura antifascista, mas legitimamente não partilham os mesmos modelos de sociedade.

Instrumento central para a defesa de um conjunto articulado de pressupostos democráticos sem os quais se vive automaticamente em ditadura socialmente reacionária, o antifascismo-movimento só se reativará quando os democratas percecionarem coletivamente o perigo, a ameaça (neo)fascista. Se continuarem convencidos que Le Pen, Salvini, Abascal e Ventura, como antes Trump ou Bolsonaro, não passam de figuras efémeras de um ressentimento punitivo e irracional com os quais se pode coexistir porque não querem, ou não conseguem, destruir os regimes liberaldemocráticos dentro dos quais operam, a luta política continuará a ser feita sem recurso ao frentismo antifascista – o mesmo que demorou a mobilizar, uma quinzena de anos passados sobre a ascensão de Mussolini ao poder. O novo ciclo histórico em que entrámos, de neuropolítica7, ansiedade coletiva, recessão económica sem precedentes e securitização global que a gestão política da pandemia tem vindo a acentuar, parece, aliás, ter tudo para facilitar transições autoritárias e dificultar a mobilização antifascista. Só saindo deste ciclo politicamente neurótico e retomando em força, e com urgência, as batalhas democráticas que continuam por fazer, é que conseguiremos apreender o neofascismo em toda a sua natureza.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)

  • 1. Manuel Loff, "O nosso século é fascista!" O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945), Porto: Campo das Letras, 2008.
  • 2. Daniel Woodley, Fascism and Political Theory. Critical Perspectives on Fascist Ideology, Londres/NY: Routledge, 2010.
  • 3. Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos. História breve do século XX, 1914-1991, Lisboa: Presença, 1996.
  • 4. Der Untergang des Abendlandes: Umrisse einer Morphologie der Weltgeschichte, 2 vols., Viena: Braumüller, 1918, e Munique: C. H. Beck, 1922. Edição em português: A decadência do Ocidente: esboço de uma morfologia da História Universal, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
  • 5. Enzo Traverso, Las nuevas caras de la derecha, trad. esp., Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2018, pp. 12, 18 [a edição original, contudo, intitula-se Les nouveux visages du fascisme, Paris: Textuel, 2017].
  • 6. O conceito de «antifascismo contrarrevolucionário» que Michael Seidman aplica àquelas três personagens e ao conjunto dos setores sociais que, nos EUA e nos Impérios britânico e francês, se empenharam na derrota dos nazis mas que, ao modo de Fukuyama, só teriam «[obtido] uma vitória completa quando o comunismo soviético se derrubou em 1989»(Antifascismos, 1936-1945. La lucha contra el fascismo a ambos lados del Atlántico, trad. esp., Madrid: Alianza, 2017, p. 27), parece-me essencialmente ahistórico por omitir a natureza de disputa imperial presente na guerra de Hitler contra as potências ocidentais.
  • 7. Engin F. Isin (2004), «The neurotic citizen», Citizenship Studies, 8:3, pp. 217-235.
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Com a republicação deste artigo de Manuel Loff assinalamos, neste dia 9 de Maio, os 79 anos da derrota do nazi-fascismo, na qual o Exército Vermelho e a União Soviética tiveram um papel determinante.
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Na mesma sessão, anunciaram os deputados Yaroslav Zhelezniak e Olha Sovhyria (o primeiro do partido Holos, da direita liberal, e a segunda do partido de Zelensky), foi aprovado um projecto de lei que proíbe a tomada de posições entendidas como sendo «pró-russas» na aplicação de mensagens instantâneas Telegram.

Este é o segundo momento, no período que se seguiu ao golpe de estado de 2014, em que partidos políticos são proibidos na Ucrânia, depois da ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia em 2015 (à altura com 32 deputados, eleitos por 2 687 246 eleitores).

Zelensky dá continuidade ao seu trabalho na área da representação, interpretando, à letra, o poema de Bertold Brecht: «Primeiro vieram buscar os comunistas (...)». Apenas resta saber, após a nova vaga, qual será o próximo grupo político a ser perseguido no país. Por enquanto, a extrema-direita não vê ser entreposto qualquer entrave à sua acção política e paramilitar.

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Nas páginas do livro é feito um retrato de um homem que afirma combater a corrupção e os oligarcas, mas que tem contas offshore e contas de campanha pagas por estes mesmos oligarcas. Um líder que tudo fez para dominar a totalidade da comunicação social ucraniana e relata decisões presidenciais muito pouco competentes do actual líder ucraniano.

As críticas aparecem numa altura que jornalistas bem-informados nos Estados Unidos da América afirmam que a administração Biden, principal fornecedor de armas da Ucrânia, está muito descontente com Zelensky e manifesta crescentes dúvidas sobre a forma como está a conduzir a guerra.

«A guerra da Ucrânia ainda não terminou. E, em privado, responsáveis governamentais dos EUA estão muito mais preocupados com a liderança da Ucrânia do que estão a deixar passar. Existe uma profunda desconfiança entre a Casa Branca e o presidente Volodymyr Zelensky da Ucrânia - consideravelmente mais do que tem sido relatado.», garante o jornalista Thomas Friedman, no The New York Times, com muitas fontes no governo e serviços de segurança dos EUA, e vencedor, por três vezes, do Pulitzer.

O especialista garante que há muita coisa mal explicada e escondida em Kiev e que infelizmente Zelensky não parece ser flor que se cheire. «Há coisas engraçadas a acontecer em Kiev. A 17 de Julho, Zelensky despediu o procurador-geral do seu país e o líder da sua agência de segurança interna [Ivan Bakanov] - o abalo mais significativo no seu governo desde a invasão russa em Fevereiro. (…) Mas ainda não vi nenhuma reportagem que explique de forma convincente o que se passou. É como se não quiséssemos olhar demasiado de perto para debaixo da manta em Kiev, com medo de que corrupção que possamos ver, quando investimos tanto lá.».

Essas desconfianças têm sido silenciadas por grande parte da comunicação social, até porque factos pouco claros, como a utilização por parte de Zelensky de offshores e de ter sido apanhado na investigação dos Pandora papers, já são conhecidas há mais de 10 meses e foram completamente abafadas depois do início da guerra.

O caçador de oligarcas, mas pouco

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Impor a censura de órgãos de comunicação social não é competência da UE

O Regulamento 2022/350 do Conselho Europeu suspende «todas as licenças de radiodifusão» de canais de informação russos, atropelando os príncipios inscritos na Constituição da República Portuguesa.

Momento da detenção da jornalista Givara Budeiri pela polícia israelita, quando cobria protestos no bairro de Sheik Jarrah, em Jerusalém Leste, a 5 de Junho de 2021
Créditos / twitter/Shehab News Agency

«É proibido aos operadores difundir ou permitir, facilitar ou de outro modo contribuir para a radiodifusão de quaisquer conteúdos pelas pessoas colectivas, entidades ou organismos» definidas pelo Conselho Europeu. Os cerca de 447 milhões de habitantes da União Europeia estão, desde o início do mês de Março, impedidos de aceder a conteúdos da Russia Today (RT) e da Sputnik, órgãos de comunicação social russos.

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«As disputas internacionais têm de ter uma resolução pacífica»

Várias organizações humanitárias reclamam uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia, em clara oposição à corrida armamentista que se vem anunciando um pouco por todo o mundo.

Refugiados da autoproclamada República Popular de Donetsk aguardam, num alojamento provisório, pela possibilidade de regressarem às suas casas, quando a região possa regressar à calma em que vivia até à guerra desencadeada pela intervenção dos paramilitares e exército ucranianos, em 2014, há oito anos. Rostov, Rússia, 25 de Fevereiro de 2022
CréditosYURI KOCHETKOV / EPA

A deliberação assumida, ontem, pela ampla maioria dos deputados do Parlamento Europeu (PE), na resolução contra a guerra da Ucrânia, contrasta com as posições assumidas por dezenas de organizações humanitárias por toda a Europa.

«O PE reitera que os estados membros da UE devem aumentar os seus gastos na área da defesa (...), para fortalecer a base europeia dentro da NATO, aumentando, desta forma, a segurança da NATO e da União Europeia», defende o ponto 22, seguido pelo parecer de que «os estados membros da UE devem acelerar a provisão de armas defensivas à Ucrânia» (ponto 25).

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«As sete melhores acções para investir enquanto a crise na Ucrânia aquece»

É difícil saber em quantos graus de farsa já vamos. A invasão militar russa abriu um novo mundo de oportunidades aos investidores da desgraça, apostados na eminente corrida ao armamento.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia desde 1 de Dezembro de 2019, foi ministra da Defesa alemã de 2013 a 2019, responsável pela venda de armamento a países como a Turquia e a Arábia Saudita. 
Créditos / Yahoo!

O mundo pode ter sido apanhado de surpresa pela invasão militar russa da Ucrânia, mas os especuladores cheiram uma oportunidade à distância. No dia 26 de Janeiro, quase um mês antes da intervenção, a secção de investimento do motor de busca Yahoo!, anunciava as sete melhores acções da área da defesa (vulgo, armamento) para investir neste período de conflito.

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Exército europeu em marcha

A perspectiva da realização de exercícios militares no âmbito da União Europeia (UE), a partir de 2023, consolida o nebuloso caminho da constituição de um exército europeu.

Tanques de guerra Leclerc durante o exercício militar Strong Europe Tank Challenge, em Grafenwoehr, Alemanha
CréditosCHRISTIAN BRUNA / EPA-EFE

A reunião conjunta dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da UE, que decorreu no início desta semana, aponta para a organização de exercícios militares regulares, a partir de 2023, no sentido de aumentar a capacidade de intervenção militar e de projecção de forças da União, «quando e onde for necessário».

Intenções que, segundo José Goulão em «União Europeia, aparelho de guerra», «cabem na “bússola estratégica”, um plano sobre as ambições de “defesa e segurança” da União Europeia para os próximos cinco a dez anos e que deverá ser aprovado durante o mês de Novembro». Acrescenta o autor que, na sua reunião de Setembro, «os ministros da Defesa dos Estados da União Europeia concluíram existir uma necessidade de criar unidades de guerra europeias com activos de milhares de militares que poderão ser utilizadas em “missões específicas”».

A criação do exército europeu, de que alguns não querem falar e outros se mantêm em negação, visa, por um lado, aumentar a capacidade de a UE agir com autonomia, enquanto braço armado da NATO e, por outro, dar alguma resposta às crescentes exigências de Washington de um maior esforço económico-militar europeu na Aliança Atlântica.

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O impacto ambiental de sectores militares europeus

Um estudo sobre o impacto ambiental dos sectores militares europeus aponta para uma pegada de carbono anual equivalente às emissões de pelo menos 14 milhões de carros.

Comboio militar de tropas dos EUA circula nas estradas da Alta Francónia, no centro da Alemanha, para participar no exercício Defender Europe 2020
CréditosPavel Nemecek / picture alliance

Promovido pelo Grupo Confederal da Esquerda no Parlamento Europeu e de autoria conjunta do Observatório de Conflitos e Meio Ambiente e Cientistas pela Responsabilidade Global, o estudo conclui que o chamado Pacto Verde Europeu «completa e propositadamente» ignorou tudo o que tem a ver com o impacto climático da militarização.

A realização deste estudo, que estima o impacto ambiental dos sectores militares europeus, aponta para uma pegada de carbono anual equivalente às emissões de pelo menos 14 milhões de carros e revela ainda grandes lacunas nos relatórios de emissões militares.

A Europa acolhe oito das 30 maiores corporações do mundo em vendas militares. O exército francês é identificado como contribuinte de um terço da pegada de carbono total dos sectores militares da União Europeia (UE) e a indústria de tecnologia militar da Polónia tem as maiores emissões de gases de efeito estufa.

Entretanto, o estudo não aborda o impacto das acções militares na biodiversidade dos países atacados nem as consequências a longo prazo, que tanto as suas populações como os seus ecossistemas têm de suportar.

Outro aspecto não abordado no estudo, tem a ver com as «instalações militares abandonadas». Em Portugal, na antiga base militar dos EUA nas Lages e seis anos depois da saída dos americanos, continua por efectuar a descontaminação do solo e da água. Aliás, esta foi uma das questões levantadas pela eurodeputada Sandra Pereira durante a apresentação deste estudo.

A deputada comunista no Parlamento Europeu quis também saber, por um lado, se «a melhoria do desempenho ambiental das máquinas de guerra é suficiente para realmente reduzir o impacto das operações militares no meio ambiente». Por outro, considerando os investimentos em armas cada vez mais modernas e com efeitos letais massivos, se «não é irónico que a União Europeia faça políticas amigas do ambiente», enquanto investe, cada vez mais, numa «indústria que só destrói».

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Também a Multinews, que cita o El Pais, dá nota de que a organização dos exercícios militares seriam da responsabilidade das unidades nacionais, passando em 2025 para a égide da «unidade do Estado-Maior da UE», que foi criada em 2017 com o objectivo de se tornar num quartel-general.

O Estado-Maior da União Europeia, comandado por um general de três estrelas, funciona no âmbito do Comité Militar, um órgão de aconselhamento político-militar da UE que reúne os responsáveis militares dos respectivos Estados: no caso português o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA). Aliás, um quadro que tem muito a ver com as recentes alterações às leis de Defesa Nacional (LDN) e de Organização das Forças Armadas (LOBOFA), aprovadas por PS e PSD, demonstrando uma sólida convergência naquilo que é estruturante, nomeadamente no cumprimento dos objectivos militaristas da União Europeia e da Aliança Atlântica.

Alterações, cujo objectivo passou por concentrar no CEMGFA poderes que estavam atribuídos aos chefes dos três ramos das Forças Armadas, permitindo-lhe uma maior autonomia de decisão face aos restantes chefes militares, no âmbito da sua participação nestes fóruns internacionais.

Recorde-se que em 2018, nove países europeus (Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estónia, França, Holanda, Portugal e Reino Unido) assinaram uma carta de intenções para a criação da chamada Iniciativa Europeia de Intervenção que, segundo o presidente Macron, deverá ser «encarregada de enviar rapidamente tropas para cenários de crise perto das fronteiras da Europa».

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É fascinante a previdência do capital especulador. O inferno para o qual foram atirados os povos da Ucrânia (e no qual já viviam as populações do Donbass), não deixa de constituir a oportunidade de um bom negócio. O lucro habita num outro plano, alheio a moralidades ou a qualquer decência humana, retirando dividendos até da morte, sem misericórdia.

Lamentavelmente, o capital confirmou o seu poder de previsão e mais não fez do que antecipar o inevitável comportamento dos estados. Olaf Scholz, chanceler alemão, eleito pelo Partido Social-Democrata (SPD), anunciou ontem um reforço de 100 mil milhões no orçamento de defesa da Alemanha, um caminho que os restantes países europeus se preparam para reproduzir, como já o confirmou João Gomes Cravinho, ministro da Defesa Nacional.

«Admito que todos os países europeus tenham de repensar um pouco a sua abordagem em relação ao investimento militar, vão ter de reforçar», assumiu o ministro, em declarações à RTP.

A corrida ao armamento parece já ser uma inevitabilidade: os estados-membros da União Europeia começarão a enviar armas, munições e mísseis para a Ucrânia (António Costa anunciou granadas, munições e espingardas G3) ao passo que um referendo na Bielorrússia, realizado no domingo, determinou que o País rasgaria o compromisso de ser uma nação livre das armas nucleares.

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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Sopram ventos adversos. EUA, União Europeia e Rússia continuam a recusar-se a assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares: cada passo, cada conflito, será (mais ainda) determinado pelo poder da bala, pela distância do míssil, a ameaça da morte. Era indispensável, neste momento, retomar o caminho definido pela constituição da república portuguesa: acabar com os blocos político-militares, recuperar o caminho do desarmamento, defender o direito à autodeterminação de todos os povos.

De parte a parte, o caminho continuará a ser determinado pelos interesses das elites e dos grandes grupos económicos, doa a quem doer, sofram os povos da Ucrânia, do Iémen, da Palestina... A escalada armamentícia será sempre a solução para quem tem tudo a ganhar, já o prejuízo, caberá aos povos do mundo. Que caminho tão longo...

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A solução armamentícia foi reforçada ontem pelo enorme consenso das grandes famílias políticas europeias, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas ao Partido Popular Europeu, passando pelas bancadas dos grupos políticos de extrema-direita: Identidade e Democracia (em que participa Frente Nacional francesa e a Liga Norte italiana) ou o partido Fidesz, de Viktor Órban. Segundo o Conselho Dinamarquês para os Refugiados (CDR), a escalada só «trará sérias consequências humanitárias para a população civil».

«Os esforços diplomáticos devem prevalecer sobre a intensificação da conflito armado já existente, impedindo o agravar do sofrimento humano», afimou Charlotte Slente, secretária-geral do CDR, em declarações feitas nos dias que se seguiram à invasão, «todas as partes envolvidas no conflito devem acordar um cessar-fogo duradouro, é a única maneira de proteger os civis e impedir a violação dos seus direitos».

«A comunidade internacional tem de se bater, unida, por uma solução diplomática»

«Às populações deve ser concedido o direito de se moverem livremente, e as associações de apoio devem ter o acesso, sem limitações, a todos os que precisem de ajuda», defende também o Comité Internacional de Resgate. Na mais drástica das hipóteses, o mundo «tem de se preparar para o pior, investindo em ajuda humanitária, dentro e fora da Ucrânia», não gastando milhares de milhões de euros a afogar a região em armas.

Num comunicado divulgado ontem, a Oxfam, uma das maiores organizações não-governamentais de luta contra a pobreza no mundo, reiterou os compromissos da carta das Nações Unidas: «Os membros da Organização deverão resolver as suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo a que a paz e a segurança internacionais, bem como a justiça, não sejam ameaçadas».

As guerras das elites pagam-nas os povos

A todos deve ser concedido o direito ao asilo, mas isto também tem de se aplicar «a todos os outros povos que fogem de conflitos armadas, seja na Ucrânia ou as populações do Iémen e do Afeganistão», reforça o comunicado da Oxfam. Nestes momentos, de grande perigo para a vida humana, «temos de nos unir em torno da nossa humanidade comum, na busca da paz e dos direitos humanos.

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Ghali: «Expansionismo de Marrocos põe em risco paz e estabilidade na região»

No 46.º aniversário da proclamação da República Árabe Saarauí Democrática, Brahim Ghali alertou para a «perspectiva agressiva» de Marrocos e apelou a um maior envolvimento da União Africana.

Créditos / focusonafrica.info

A perpetuação da ocupação marroquina, a sua «perspectiva agressiva e expansionista» e as suas «alianças duvidosas» irão conduzir toda a região a uma «perigosa tensão e desestabilização», denunciou este sábado o presidente saarauí e presidente da Frente Polisário, Brahim Ghali.

Num discurso a propósito do 46.º aniversário da proclamação da República Árabe Saarauí Democrática (27 de Fevereiro de 1976), Ghali alertou para «a indulgência e a autocomplacência» das Nações Unidas no que respeita à «aplicação da lei», bem como a «cobertura» que França dá à «flagrante violação da legitimidade internacional» no Saara Ocidental por parte do Estado marroquino.

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Frente Polisário responsabiliza ONU por «brutal repressão» marroquina sobre civis

Numa carta ao seu secretário-geral, a Frente Polisário responsabilizou as Nações Unidas pela protecção dos civis saarauís que têm estado a sofrer a «violência brutal» perpetrada pelas forças de ocupação.

Mobilização de apoio a Sultana Khaya e contra a escalada na reptressão de Marrocos nos territórios ocupados 
Créditos / Sahara Press Pervice

Ao dirigir-se a António Guterres, o representante permanente da Frente Polisário junto das Nações Unidas, Sidi Omar, afirma que vem chamar a sua atenção e a do Conselho de Segurança para o «agravamento alarmante da situação dos direitos humanos nos territórios do Saara Ocidental sob ocupação ilegal de Marrocos».

No texto da missiva, enviada esta quarta-feira, descreve-se uma série de abusos graves e ataques violentos nos últimos dias e semanas, por parte das autoridades marroquinas, que exemplificam o agravamento referido, e pede-se à ONU que assuma a protecção e a segurança dos civis saarauís, no contexto das responsabilidades que detém no processo de descolonização do território africano.

«As Nações Unidas não podem ficar de braços cruzados a ver como o Estado ocupante de Marrocos intensifica os seus ataques atrozes e aterrorizantes contra os civis saarauís e defensores dos direitos humanos, à vista da Missão das Nações Unidas no território», afirma-se no texto, divulgado pelo Sahara Press Service.

O representante da Frente Polisário lembra que, «tal como alertou em cartas anteriores, desde a nova agressão militar contra as zonas libertadas do Saara Ocidental, a 13 de Novembro de 2020, o Estado ocupante de Marrocos tem estado a empreender uma outra guerra de represálias contra os civis saarauís, que são continuamente submetidos a uma crueldade inenarrável e desumana, bem como a práticas degradantes».

Campanha de terror contra Sultana Khaya e família

Diversas organizações de defesa dos direitos humanos têm estado a dar o alerta para a situação de Sultana Khaya e a sua família, uma vez que continuam a sofrer «as mais horrendas formas de violência física e psicológica às mãos dos agentes de segurança marroquinos», refere o documento.

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Presidente saarauí lamenta «inacção» da ONU face à escalada de repressão

O presidente da República Árabe Saarauí Democrática, Brahim Gali, lamentou a «inacção» da ONU e do seu Conselho de Segurança perante a acção repressiva das forças marroquinas nas zonas ocupadas.

Carga da Polícia marroquina sobre civis saarauís nos territórios ocupados (imagem de arquivo)
Créditos / cuartopoder.es

Em missivas enviadas aos titulares de ambos os organismos, o também secretário-geral da Frente Polisário condenou nos «termos mais enérgicos as práticas de intimidação e represália do aparelho de segurança marroquino contra cidadãos saarauís indefesos».

Brahim Gali responsabilizou a ocupação marroquina pela «escalada e as represálias nas zonas ocupadas saarauís», tendo referido que «a intimidação e a tortura física e psicológica» sofridas hoje pela família da defensora dos direitos humanos Sultana Sidi Brahim Khaya, na cidade ocupada de Bojador, «é apenas um exemplo da opressão, do abuso e das práticas que os civis saarauís padecem diariamente nas cidades ocupadas», informa o Sahara Press Service.

Nas cartas dirigidas ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e a Barbara Woodward, actual presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), Gali lembrou a «guerra de agressão e retaliação travada nestes dias pelas autoridades de ocupação marroquinas».

A este propósito, afirmou que se vem juntar à «história de crimes de genocídio e assassinato que o Estado ocupante de Marrocos tem vindo a praticar contra a população civil saarauí desde o início da invasão e da ocupação militar do território, a 31 de Outubro de 1975».

Assim, o presidente da República Árabe Saarauí Democrática lamentou «a inacção da Secretaria Geral da ONU e do CSNU, bem como o seu «silêncio vergonhoso» perante as «acções agressivas» e «práticas bárbaras» que têm lugar nas cidades ocupadas do Saara Ocidental, «à vista da ONU e da sua missão na região».

A ONU devia assumir a «responsabilidade jurídica e moral para com o povo saarauí, especialmente os civis que vivem nas zonas sob ocupação ilegal marroquina, recorrendo a mecanismos de protecção internacional e ao desenvolvimento de medidas práticas», afirmou Gali.

Sultana Khaya: «Forças marroquinas querem eliminar-me fisicamente»

Em declarações à agência Algerian Press Service (APS), a defensora saarauí dos direitos humanos afirmou que «as autoridades marroquinas de ocupação pretendem eliminá-la fisicamente», na sequência de várias tentativas, iniciadas a 13 de Fevereiro último com «uma agressão selvagem à casa onde ela e a sua família vivem», na cidade ocupada de Bojador.

Sultana Khaya fez um apelo às organizações internacionais de direitos humanos para que «proporcionem a protecção necessária aos civis saarauís indefesos das práticas repressivas do regime marroquino».

À agência argelina, a activista saarauí relatou com detalhe a agressão perpetrada pelas forças de ocupação contra a casa da sua família, que está a ser assediada há mais de três meses e se encontra proibida de receber qualquer tipo de visita.

«As cidades ocupadas do Saara Ocidental tornaram-se uma grande prisão, como resultado da escalada das forças de ocupação marroquinas contra os civis indefesos, após a sua violação do cessar-fogo e do reinício da guerra, a 13 de Novembro de 2020», denunciou Sultana Khaya.

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Como parte desta campanha de «terror constante», no passado dia 10, dezenas de agentes à paisana e homens violentos patrocinados pelo Estado marroquino atacaram a casa de Sultana Khaya, na cidade de Bojador, roubaram os seus pertences, agrediram-na e detiveram três defensores dos direitos humanos que lá se encontravam, que, denuncia a carta, foram levados para um local remoto e torturados.

Na madrugada de dia 12, num novo episódio da campanha de terror contra a família de Sultana Khaya, agentes de segurança marroquinos invadiram novamente a sua casa, tendo-a agredido fisicamente a si e à sua irmã, e submetido-as a um tratamento degradante e humilhante, aponta a missiva.

Sidi Omar refere-se também à situação dos presos políticos saarauís, em que se inclui o grupo de Gdeim Izik, que é «alarmante devido às condições deploráveis em que estão encarcerados nas cadeias» marroquinas e «às práticas degradantes e de retaliação a que são submetidos por parte da administração penitenciária de Marrocos».

«No momento em que [vocês] mantêm o esforço para nomear um novo enviado especial para o Saara Ocidental, o Estado ocupante de Marrocos está a intensificar a repressão nos territórios ocupados e, assim, a minar qualquer perspectiva de relançar o processo de paz», afirma o texto.

A este respeito, a Frente Polisário reafirma que «nenhum processo de paz será possível enquanto as forças ocupantes persistirem, com total impunidade, na sua campanha de terror e represálias contra os civis saarauís e os defensores dos direitos humanos, bem como nas suas tentativas de impor à força um estatuto de "facto consumado" no território».

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Isto «não faz mais que alimentar e encorajar a intransigência e a arrogância da parte marroquina na sua escalada de práticas coloniais agressivas e provocadoras», criticou o chefe de Estado, acrescentando que «o povo saarauí não pede o impossível», mas a «aplicação do direito» e das «resoluções das Nações Unidas», refere o Sahara Press Service.

Neste contexto, recordou as responsabilidades que a ONU tem na protecção dos civis saarauís numa zona de conflito armado, também «acelerando o fim do processo de descolonização da última colónia em África».

Referindo-se ainda ao papel das Nações Unidas, o dirigente saarauí disse que o organismo «se contentou com a gestão da crise em vez de a resolver» e que «marginalizar o papel e a responsabilidade da sua missão para o referendo no Saara Ocidental» tinha levado a «potência ocupante» a violar o cessar-fogo, em Novembro de 2020, e, depois aos confrontos militares.

Maior envolvimento da UA e agradecimentos a quem abraçou a causa

O presidente da República Saarauí solicitou também maior envolvimento à União Africana (UA) na resolução do conflito e reafirmou a disposição da parte saarauí para cooperar com a organização continental com vista à implementação de decisões.

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Saara Ocidental: África não será livre enquanto for «ocupada e brutalizada»

Numa conferência virtual, o movimento africano de solidariedade com o povo saarauí instou vários organismos a proteger os civis da repressão marroquina e a acelerar a libertação do Saara Ocidental.

A conferência celebrada esta quinta-feira pelo movimento solidário africano visa também assinalar o 45.º aniversário da proclamação da RASD Créditos / Plataforma Cascais

O apelo às Nações Unidas, à União Europeia (UE), à União Africana (UA) e ao Comité Internacional da Cruz Vermelha foi lançado no contexto da conferência virtual realizada esta quarta-feira para celebrar o 45.º aniversário da proclamação da República Árabe Saarauí Democrática (27 de Fevereiro de 1976).

O evento contou com a participação de dignatários africanos, representantes de partidos políticos, sindicatos, organizações não governamentais, académicos, representantes de organizações juvenis, mulheres e órgãos de comunicação de dezenas de países, que expressaram o seu «apoio firme e inalterável à legítima luta do povo da República Saarauí pela sua independência e liberdade», informa o portal ecsaharaui.com.

O movimento solidário africano fez um apelo «a todos os panafricanistas, amantes da paz e da liberdade para que permaneçam ao lado do povo da última colónia africana, já que África nunca será livre enquanto um dos seus países for ocupado e brutalizado».

Neste sentido, os participantes instaram também os países africanos, os partidos políticos, sindicatos, organizações de mulheres e de jovens, e os meios de comunicação africanos a dar mais visibilidade e atenção «à heróica resistência do povo africano do Saara Ocidental»

«A nova geração de África não pode permitir que os nossos irmãos e irmãs do Saara Ocidental fiquem abandonados nesta luta pela liberdade», lê-se no comunicado final do encontro, que pede à UA que assuma a sua responsabilidade de impor o respeito pela sua Acta Constitutiva e, assim, obrigar Marrocos a pôr fim à ocupação ilegal de partes do território da República Saarauí.

«UE devia fazer parte da solução, não do problema»

No que respeita aos recursos naturais, os participantes pediram «à UE que ponha fim à violação da sentença do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre a exploração ilegal dos recursos naturais no Saara Ocidental», considerando que o bloco europeu, ao fazer acordos comerciais com Marrocos, contribui directamente para a ocupação ilegal e as violações dos direitos humanos nos territórios ocupados. «A UE devia fazer parte da solução para o conflito e não do problema», sublinharam.


Sobre os acontecimentos mais recentes e actuais, o movimento africano solidário recordou que «o Saara Ocidental é uma zona de guerra desde 13 de Novembro de 2020, devido à violação marroquina do cessar-fogo e ao ataque contra civis saarauís na região de El Guerguerat, informa a mesma fonte.

Os participantes instam o Comité Internacional da Cruz Vermelha e a Comissão de Direitos Humanos e dos Povos da UA a intervir de imediato para proteger os civis saarauís das «violações sistemáticas de direitos humanos por parte de Marrocos nos territórios ocupados» e, ao abordarem a situação dos presos saarauís nas cadeias marroquinas, solicitaram a «libertação incondicional de todos os presos políticos e lutadores pela liberdade».

Ao assinalar o 45.º aniversário da proclamação da RASD, o movimento africano de solidariedade com o povo saarauí comprometeu-se a continuar a apoiá-lo na «sua legítima luta pela liberdade e a independência», bem como a reforçar a coordenação para «promover todas as iniciativas e acções africanas nesse sentido».

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No seu discurso, o chefe de Estado agradeceu a todos os amigos e aliados que têm acompanhado e apoiado o Saara Ocidental e o seu povo na luta pela independência.

Ghali enviou saudações especiais à Mauritânia, à Argélia («orgulho de revoluções e povos») e à África do Sul («país da liberdade, país de Nelson Mandela e da luta contra o apartheid»), refere o Sahara Press Service.

Agradeceu ainda «a todos os povos do continente africano que abraçaram a nossa causa» e saudou o movimento de solidariedade com o povo saarauí em Espanha, na Europa e no mundo.

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Florence Gillette, chefe da delegação do Comité Internacional da Cruz Vermelha em Kiev, assumiu, igualmente, uma posição em contraste com a assumida pela maioria dos deputados europeus: «Após oito anos de conflito, as populações não precisam, certamente, de mais violência, morte, destruição e desespero. Apelamos a todos os Estados que não poupem esforços e usem sua influência para evitar uma escalada do conflito, cujo custo e consequências para a população civil excederiam as capacidades humanitárias disponíveis».

Certo é que serão os mais vulneráveis, lembra a Oxfam, os primeiros a sofrer as consequência da invasão russa da Ucrânia. Em ambos os lados, são eles que «vão perder os seus trabalhos e o acesso a serviços indispensáveis, serão eles a sentir as maiores dificuldades em lidar com o dia a dia». Nomeadamente as crianças, os mais velhos e doentes, os desempregados, as pessoas que já se encontram antes do conflito, em situação de pobreza.

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O Regulamento 2022/350 do Conselho Europeu foi aplicado depois da aprovação da resolução de condenação da guerra na Ucrânia, no dia 1 de Março. Este documento, a reboque de uma preocupação legítima com as vítimas do conflito, impôs a corrida ao armamento, o reforço do papel da NATO na Europa e a censura de órgãos de comunicação social.

A «transmissão ou distribuição por quaisquer meios como cabo, satélite, IP-TV, fornecedores de serviços Internet, plataformas ou aplicações de partilha de vídeos na internet, quer novos, quer pré-instalados», está completamente proibida desde então.

Legitimar a censura das opiniões contrárias

Os deputados do PCP no Parlamento Europeu (PE) denunciaram hoje, em comunicado publicado na sua página nas redes sociais, o extravasar de competências da União Europeia, que efectivamente se sobrepôs às leis fundamentais dos países que a integram.

O artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), que versa sobre a liberdade de expressão e informação, determina que «todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações».

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Censura político-cultural no Brasil chega ao cinema

A Agência Nacional do Cinema (Ancine) do Brasil proibiu que os seus funcionários exibissem o filme A Vida Invisível, do realizador Karim Aïnouz, inscrito para concorrer aos Óscares.

Créditos / magazine-hd.com

Funcionários da Ancine disseram, de foram anónima, à revista Veja, que a exibição do filme estava prevista para a próxima quinta-feira, num evento de capacitação anual dos colaboradores. Contudo, a Secretaria de Gestão Interna, liderada por Cesar Brasil Gomes Dias, informou internamente que o evento não poderia ser realizado devido a problemas técnicos com o projector destinado à exibição da obra cinematográfica.

Questionado pelos funcionários, o responsável pela manutenção do equipamento assegurou não haver nenhum problema técnico com o aparelho.

O filme em causa tem no seu elenco a actriz brasileira de 90 anos Fernanda Montenegro que, em Setembro último, foi apelidada pelo actual secretário de Cultura, Roberto Alvim, de «sórdida» por «deturpar os valores mais nobres da civilização, denegrindo a sagrada herança judaico-cristã».

A comunidade artística brasileira tem-se unido contra a chamada «guerra contra o marxismo cultural» lançada pelo governo de Jair Bolsonaro, que tem defendido a censura da actividade cultural no país.

 

O mandatário admitiu, em Julho, a possibilidade de extinguir a Ancine, caso não a possa usar para impor «filtros» nas produções audiovisuais e, em Agosto, acrescentou que desejava um presidente na agência com perfil evangélico.

Em Setembro, a Ancine suspendeu o apoio financeiro à participação de realizadores brasileiros em festivais estrangeiros, incluindo em seis festivais portugueses.

Já em Outubro, foi notícia que o banco público Caixa Económica Federal começou a aplicar um sistema de censura prévia a projectos realizados nos seus centros culturais, por todo o Brasil, exigindo pormenores do posicionamento político dos artistas, o seu comportamento nas redes sociais, a par de outras imposições de carácter polémico, sobre as obras em exibição, como «manifestações contra a Caixa e contra Governo».

Membros do júri do Festival de Cinema de Marraquexe, em Marrocos, reuniram-se no passado fim-de-semana num acto contra a decisão da Ancine de retirar cartazes de filmes brasileiros da sua sede, no Rio de Janeiro, e de dificultar a sua divulgação no site da Agência.

Com camisolas alusivas aos filmes visados pela decisão da Ancine, personalidades de várias nacionalidades participaram na acção de protesto, designadamente o brasileiro Kleber Mendonça Filho, director de Aquarius e Bacurau, e as actrizes Tilda Swinton e Chiara Mastroianni. 

Com agência Lusa

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A resolução colide frontalmente com o que está definido na lei fundamental da república portuguesa, em que «o exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura», uma herança da luta contra o fascismo em Portugal.

Normalizar a proibição de «conteúdo caluniador e falsas narrativas sobre a UE, a NATO e a Ucrânia», como versa a resolução, é abrir as portas para normalizar a censura de qualquer oposição política, seja em que país fôr. Qualquer jornalista, activista, whistleblower ou artista pode, agora, ser legitimamente acusado de ferir a narrativa do poder político vigente, sem respeito pela verdade dos factos.

«É obrigação do jornalista divulgar as ofensas» às restrições no acesso às fontes de informação e as «tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar»,determina o 3.º ponto do código deontológico dos jornalistas.

Esta incongruência, um claro desrespeito pelos direitos fundamentais dos países que compõe a União Europeia, levou os deputados do PCP no PE a solicitar, à Comissão Europeia, mais informação sobre a «legitimidade e fundamentação da imposição de censura a órgãos de comunicação social nos Estados-Membros, em desrespeito pelos respectivos preceitos constitucionais e competências».

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No dia 2 de Julho de 2021, Zelensky publicou na sua conta do Twitter esta afirmação tonitruante: «Os oligarcas passaram à história». Isto após ter lançado um pacote legislativo que, entre outras coisas, obrigava os oligarcas a divulgarem os seus rendimentos e os impedia de financiar partidos políticos ou participar em grandes privatizações da propriedade estatal.

Em consequência da nova legislação, o magnata da comunicação social Rinat Akhmetov transferiu as suas licenças de radiodifusão para o Estado. Petro Poroshenko, ex-presidente e candidato derrotado por Zelensky, também vendeu os seus três canais de televisão: Canal 5, Kanal e Espresso. «A principal razão para introduzir esta “lei anti-oligarquia” é ganhar controlo sobre os meios de comunicação social», garante Poroshenko, citado no livro.

Vícios privados, públicas virtudes

Zelensky conquistou a sua popularidade como actor. Na série de televisão «O Servidor do Povo», nome que vai usar para o seu partido na vida real, encarna um modesto professor de história que se candidata e ganha as eleições presidenciais para combater a corrupção.

Enquanto vende a imagem que é um lutador contra os oligarcas, na realidade ele está claramente ligado ao oligarca ucraniano Igor Kolomoisky, o dono da TV 1+1, onde o seu programa tem aparecido desde 2012.

«De acordo com uma investigação liderada por Volodymyr Ariev, deputado do bloco Petro Poroshenko, o início desta cooperação televisiva coincidiu com grandes transacções financeiras entre o Privat Bank, o maior banco da Ucrânia que na altura era propriedade de Kolomoisky, e Zelenskiy e outros membros da equipa do Kvartal 95. De 2012 a 2016, 41 milhões de dólares foram canalizados do banco através de uma série de empresas intermediárias para as contas das empresas Zelensky and Co. Ariev afirma que a Kolomoisky utilizou as empresas de Zelensky para a lavagem de dinheiro.», garante o German Council on Foreign Relations.

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Um mês após divulgação dos Pandora Papers, o que fez a União Europeia?

João Pimenta Lopes, deputado do PCP no Parlamento Europeu, questionou a Comissão Europeia sobre o que está disposta a fazer com vista à erradicação da evasão e elisão fiscais.

Créditos / ICIJ

Um mês após a divulgação dos Pandora Papers, e sem que tenham sido tomadas até ao momento medidas efectivas por parte da União Europeia (UE), o deputado comunista frisa que é urgente tomar medidas «ambiciosas».

Neste sentido, pergunta se a Comissão Europeia está disponível para cooperar com os Estados-membros a fim de se implementarem medidas que «proíbam entidades sediadas em ordenamentos jurídicos offshore considerados não cooperantes de receber transferências financeiras provenientes de instituições de crédito sediadas em jurisdições de Estados-membros da UE», designadamente vedando o acesso a fundos da UE a entidades que estejam sediadas em ordenamentos jurídicos offshore não cooperantes. 

Por outro lado, pergunta se a Comissão está disposta a promover esforços que contribuam para a realização de uma conferência intergovernamental sob a égide das Nações Unidas com vista à erradicação dos paraísos fiscais e à criação de um organismo no seio da ONU. E com o objectivo, lê-se na missiva, de permitir que «países mais e menos desenvolvidos estejam à mesa das negociações de igual para igual». 

O eleito salienta que a divulgação, nos últimos anos, de vários escândalos fiscais colocam na ordem do dia «justas e antigas» reivindicações de erradicação da evasão e elisão fiscais. João Pimenta Lopes regista que foram tomadas várias iniciativas, mas «a sua eficácia está longe de ser a necessária», como comprova o caso dos Documentos de Pandora, divulgados há um mês.

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O facto de Zelensky ter contas offshore não é uma revelação nova. O facto não só tinha sido provado pelas investigações do consórcio internacional de jornalistas que analisou os Pandora papers, mas até pela comunicação social ucraniana. Em 2019, o site ucraniano Slidstvo.info revelou que o então comediante, juntamente com os irmãos Schefir e outro empregado do Studio Kwartal 95, possuiam contas offshores nas Ilhas Virgens Britânicas e Belize. No centro desta complicada estrutura empresarial está a Maltex Multicapital Corp. registada nas Ilhas Virgens.

A Maltex teria recebido um total de 40 milhões de dólares desde 2012, da parte de empresas detidas por Igor Kolomojskyj. A empresa também parece possuir apartamentos no centro de Londres no valor de 7,5 milhões de dólares. Pouco antes das eleições presidenciais, Zelensky transferiu as suas acções da Maltex Multicapital Corp para Serhij Schefir. O objectivo destas contas offshores não é clara. «Será que Zelensky se evadiu aos impostos? Ou estaria o Studio Kwartal 95 envolvido no branqueamento de dinheiro criminoso para o banco privado de Kolomojskyj?» perguntam os jornalistas de investigação Steven Derix e Marina Shelkunova no seu livro Zelensky, Uma Biografia Actual.

Já em Outubro de 2021, o Guardian tinha revelado pormenores do envolvimento de Zelensky em esquemas pouco claros, investigados no âmbito do Pandora papers, que explicam os factos publicados no livro.

Antes de se tornar presidente, Zelenskiy declarou alguns dos seus bens privados. Entre eles incluíam-se automóveis, propriedades e três das empresas offshore de que era co-proprietário. Uma, Film Heritage, que detinha juntamente com a sua esposa, Olena, uma antiga escritora do Kvartal 95, está registada em Belize.

Mas os documentos dos Pandora papers mostram mais bens offshore que Zelenskiy não declarou. Film Heritage tinha uma participação de 25% na Davegra, uma empresa holding cipriota. A Davegra, por sua vez, é proprietária da Maltex Multicapital Corp, uma entidade anteriormente desconhecida, registada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas (IVB). Zelensky, os irmãos Shefir, e Yakovlev detinham cada um 25% de participação na Maltex.

A 13 de Março de 2019, duas semanas antes da primeira volta das eleições na Ucrânia, Zelensky deu a sua participação de 25% na Maltex a Serhiy Shefir, segundo mostram os documentos. Não é claro se Shefir pagou a Zelensky. Ivan Bakanov, amigo de infância do presidente que foi até há poucos meses chefe da SBU, agência de segurança ucraniana, testemunhou esta transferência secreta e assinou os documentos offshore.

Cerca de seis semanas depois, após a vitória esmagadora de Zelensky, um advogado em representação do grupo Kvartal 95 assinou outro documento. O documento estipulava que Maltex continuaria a pagar dividendos do património cinematográfico de Zelensky, apesar de já não deter qualquer participação na empresa.

Por sua vez, a esposa de Zelensky, Olena, é agora a declarada proprietária benéfica do Film Heritage.

O documento chave (datado de 24 de Abril de 2019 ) diz que Maltex detém acções em empresas que produzem e distribuem filmes televisivos. Uma razão para a criação de Maltex foi a «acumulação eficiente de lucros comerciais em termos fiscais»; outra, afirma, foi a «protecção legal». Borys Sheifir disse que a Bakanov tinha sobretudo criado estes «esquemas financeiros» offshore a fim de proteger a empresa das «autoridades e bandidos».

As revelações sobre a Maltex são embaraçosas para Zelensky, dado o seu compromisso de reprimir aqueles que enviam riqueza para o estrangeiro. Em Setembro de 2021, o parlamento da Ucrânia aprovou um projecto de lei anti-oligarca. A votação teve lugar um dia depois de assassinos desconhecidos terem tentado matar Shefir. Um pistoleiro tinha aberto fogo sobre o seu carro nos arredores de Kiev, ferindo o seu motorista.

Num artigo de opinião para a Atlantic Council, Zelensky disse que o seu objectivo final como presidente era destruir «a ordem oligárquica tradicional» e substituí-la por um «sistema mais justo». Os críticos, contudo, dizem que Zelensky não conseguiu reformar o Estado e abraçou os mesmos caminhos sombrios que os seus antecessores. Os auditores da UE advertiram no mês passado que a «grande corrupção e a captura do Estado» pelos interesses privados continuava generalizada na Ucrânia.

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Emise ficou conhecida pela tentativa de burla a um programa de reality show na Austrália, em 2020, onde forjou documentos bancários e acabou por se ver obrigada a fugir do país. Depois de uns anos desaparecida, em que alegadamente terá burlado um cidadão português na Madeira, aparece subitamente a ocupar um elevado cargo dentro do exército da Ucrânia.

As declarações de Emise Fajk, gravações obtidas sem o seu consentimento, foram recolhidas pelo Daily Mail Australia, que as divulgou no passado Domingo. Nelas, Emise afirma estar na posse de informações sobre a corrupção prevalente nas forças armadas ucranianas: só assim, explica, conseguiu evitar ser despedida e deportada do país em guerra.

Relatórios dos Serviços de Segurança da Ucrânia (SBU) apontam a húngara como uma das responsáveis pelo desvio de equipamento militar e ajuda humanitária no valor de vários milhões de dólares. No entanto, Emise Fajk continua a exercer funções, sem restrições.

Um dos documentos alerta para o risco de a informação detida pela directora de comunicação do Legião Internacional vir a público: seria «catastroficamente mau em termos geopolíticos» e uma «enorme vitória propagandística para o inimigo».

Comunidade ocidental apanhada de surpresa. Governo corrupto persiste nos desfalques

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Ucrânia retira acreditação a jornalistas que reportaram tomada de Kherson

De acordo com as Forças Armadas Ucranianas, os jornalistas da CNN e Sky News não terão esperado pela «estabilização» da cidade, divulgando, inadvertidamente, saudações nazis e pessoas amarradas a postes.

Soldados das Forças Armadas ucranianas exibem uma bandeira do Exército Insurgente Ucraniano, liderado pelo colaborador nazi Stepan Bandera, depois da retomada de Kherson. A bandeira inclui um símbolo nazi, a Totenkopf, usada pelas SS, e a palavra Furtwängler, em referência ao único maestro que se manteve activo na Alemanha nazi durante a II.ª Guerra Mundial. Embora nunca se tenha filiado no partido Nazi, Wilhelm Furtwängler foi usado, até ao fim, como um instrumento da propaganda alemão, demonstrando que a cultura não tinha abandonado o nazismo.
CréditosIvan Antypenko / EPA/Agência Lusa

«Recentemente, alguns representantes de meios de comunicação social, ignorando as proibições e avisos existentes, sem o acordo dos comandantes e dos serviços de assuntos públicos das unidades militares, desenvolveram actividades profissionais na cidade de Kherson antes da conclusão das medidas de estabilização», denuncia, em comunicado publicado nas redes sociais, o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia.

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Zelensky partilha imagem de soldado ucraniano com símbolo nazi

Assinalando, nas suas redes sociais, o Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo, Volodymyr Zelesnky partilhou a fotografia de um soldado ucraniano com a insígnia Totenkopf, usada pelas SS entre 1934 e 1945.

À esquerda, a publicação de Volodymyr Zelensky a assinalar o Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo com a imagem de um soldade ucraniano neo-nazi; à direita, em cima, o pormenor da insígnia usada pelo soldado e, em baixo, o mesmo símbolo a ser usado pelas SS durante a II.ª Guerra Mundial. A mesma fotografia continua disponível, no dia 10 de Maio de 2022, na página de Twitter do Ministério da Defesa da Ucrânia. 
Créditosandreoli69

«Convém mas é não confundir género humano com o Manuel Germano», advertia o escritor Mário de Carvalho. Neste caso, é importante não confundir estas tristes exibições com a justa solidariedade com o povo ucraniano. É incauta a defesa de um regime, liderado por Volodymyr Zelensky que, na semana passada, aproveitando o estado de guerra, avançou com a proibição dos partidos políticos da oposição.

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«Há indícios crescentes de que o Canadá treinou extremistas ucranianos»

A denúncia partiu da CTV National News, um dos maiores órgãos de comunicação social do Canadá. Reportagens publicadas ao longo dos últimos anos demonstram o apoio dado aos neo-nazis do batalhão Azov.

Nas redes socias de Kyrylo Berkal, líder de um destacamento do batalhão Azov, estão várias publicações em apoio ao Exército Insurgente da Ucrânia (UPA), que colaborou com os nazis durante a segunda guerra mundial e participou no massacre de milhares de judeus na Polónia. Por entre saudações a colaboradores como Taras Dmytrovych Borovets, memórias da sua participação em marchas da UPA e apologia ao nazismo, está uma foto tirada com oficiais do exército do Canadá, em 2019.
Créditos / ctvnews

Várias investigações levadas a cabo por alguns dos mais importantes órgãos de comunicação do Canadá, publicadas ainda antes da invasão russa, alertavam para a presença de elementos de extrema-direita nas acções de treino do exército canadiano na Ucrânia. Ignorando as denúncias, o Canadá persistiu no apoio, formação militar e financiamento desses movimentos.

Em Outubro de 2021, a CTV National News dirigiu um pedido de informação ao exército canadiano, após a divulgação de mais um relatório alertando para sucessivos casos em que extremistas ucranianos se gabavam do treino e apoio concedido por forças canadianas.

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Mário Machado incorporou neo-nazis portugueses em milícias na Ucrânia

A «acção humanitária 1143», liderada pelo neonazi Mário Machado, cumpriu o seu propósito de integrar elementos da extrema-direita nos «meios de defesa» da Ucrânia, confirma o seu advogado.

O líder dos <em>hammerskins</em>, Mário Machado, fala aos jornalistas à saída do Tribunal Criminal de Lisboa, em Monsanto, após ter sido condenado a quatro anos e dez meses de prisão efectiva por discriminação racial, coacção agravada, posse de arma ilegal e ameaça, dano e ofensa à integridade física qualificada. Lisboa, 3 de Outubro de 2008 
CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

José Manuel Castro, advogado do neonazi Mário Machado, garantiu que este regressa a Portugal na sexta-feira, ficando sem efeito o recurso interposto pelo Ministério Público

Em declarações à agência Lusa, o advogado assegura que Mário Machado não chegou a combater durante a semana que passou em território ucraniano, limitando-se à entrega de medicamentos e à recolha de alguns refugiados, que serão transportados até à Alemanha.

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Os neonazis portugueses que vão combater, os que fogem e os amigos deles

Onde se explica o que vão fazer os neonazis à Ucrânia e qual é a guerra de propaganda em que eles estão implicados.

Treinos do Batalhão Azov
CréditosROMAN PILIPEY / EPA

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) garantiu, esta semana, ao semanário Expresso, que foi informado da situação de sete portugueses que foram combater para a Ucrânia, contra a invasão russa. Entretanto, cinco já desistiram de o fazer e estão de volta a casa.

O MNE revela, numa resposta escrita a esse semanário, que «tem registo de sete cidadãos nacionais (dois deles luso-ucranianos) que contactaram os seus serviços informando da sua deslocação para a Ucrânia a título de combatente voluntário. Os cinco cidadãos portugueses manifestaram, entretanto, vontade de abandonar o território ucraniano, o que já estarão a fazer.»

Apesar dessas rápidas desistências – após o bombardeamento russo da base onde estavam acantonados os combatentes estrangeiros – , mais portugueses são esperados na Ucrânia. No dia 20 de Março, terá partido um grupo de vinte pessoas, oito delas com o objectivo de se juntar a uma milícia neonazi ucraniana que se encontra em Lviv. O Expresso garante não ser o Batalhão Azov, o mais poderoso grupo armado ucraniano, com mais de quatro mil combatentes no início da guerra, perfilhando uma ideologia neonazi.

O grupo é liderado pelo neonazi Mário Machado, que lamentou publicamente não poder ficar mais do que quinze dias na Ucrânia, entre ida e volta e estadia, pois está obrigado a apresentar-se quinzenalmente numa esquadra, dado estar com termo de identidade e residência, por mais um processo criminal que tem às costas [Na sexta-feira, depois deste artigo ser escrito, ficou-se a saber que um juiz preocupado, com tanta viagem em pouco tempo, permitiu-lhe não se apresentar na PSP, enquanto estiver na Ucrânia].

O AbrilAbril enviou várias perguntas para o Gabinete do Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), ao cuidado do seu secretário-geral, Paulo Vizeu Pinheiro:

«Em várias notícias e redes sociais, elementos neonazis ligados ao grupo de Mário Machado afirmam que vão sete pessoas combater na Ucrânia. Queria saber se o Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna tem alguma preocupação a esse respeito e como encara o facto de neonazis cadastrados ganharem experiência militar e poderem-na utilizar quando regressarem a Portugal».

«É verdade que a causa da independência da Ucrânia é bastante mais nobre que a do Califado do Daesh, mas não deixam de ser extremistas cadastrados a ganharem experiência a matar pessoas».

«Em outros países, como o Reino Unido, o governo colocou entraves à deslocação de pessoas e de ex-militares para combater na Ucrânia, em Portugal vai ser feito alguma coisa nesse sentido»?

«A actividade, nesse país, dessas pessoas será alvo de particular atenção? Serão tomadas medidas de segurança depois do seu eventual regresso?».

Até agora, a missiva não mereceu nenhuma atenção dos responsáveis de segurança de Portugal.

Os neonazis que segundo as televisões não existem na Ucrânia

Há pouco tempo, o Batalhão Azov começou a recrutar nos canais de propaganda, em língua portuguesa, na rede social Telegram. Com as bandeiras de Portugal e do Brasil no cimo do texto, os nazis ucranianos dão conselhos sobre as rotas mais seguras para os voluntários chegarem a Lviv ou a Kiev, bem como as zonas a evitar por causa do risco de emboscadas de tropas russas. «Se tiver o seu próprio equipamento, como equipamentos de primeiros socorros, capacetes, roupas militares, equipamentos militares, sacos de dormir, almofadas para dormir, armamento, leve consigo também», escrevem.

«Olá, pode por favor reencaminhar uma mensagem uma vez que dois de nós estamos a tentar obter uma partilha de carro da Alemanha para a Ucrânia», lê-se numa mensagem de 26 de Fevereiro reencaminhada para um popular canal web neonazi, citado num texto do Washington Post.

«Somos três franceses, partimos amanhã de manhã de Estrasburgo com o nosso carro», respondeu outra mensagem. «Há lugar para dois lutadores alemães».

Estes são os tipos de conversas que têm inundado todos os dias os locais neonazis ocidentais e neo-supremacistas brancos online desde que Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia: utilizadores a organizar carpools, a conspirar como atravessar a fronteira entre a Polónia e a Ucrânia para se juntarem à luta contra a Rússia.

Alguns neonazis vêem esta nova guerra como um lugar para realizarem as suas fantasias violentas e ganharem experiência de combate e contactos para usar nos seus países. «Para outros, a força que os puxa para o conflito é uma visão partilhada para um etno-estado ultra-nacionalista. Vêem a Ucrânia como uma oportunidade de ouro para perseguir este objectivo e transformá-la num modelo para exportar para todo o mundo.», conclui Rita Katz, directora executiva do SITE Intelligence Group e uma analista de terrorismo, num texto publicado no diário norte-americano Washington Post.

Como escreveu o administrador de um popular grupo de conversação neonazi alemão e inglês, enquanto exortava os membros a juntarem-se ao Azov, «Não estou a defender a Ucrânia, estou a defender o nacional-socialismo».

«De qualquer forma, quando chegar à Ucrânia, vou matar judeus sempre que os vir», garantiu um neonazi inglês com experiência no exército, que se identifica como D. «Vou juntar o meu equipamento, saudar Hitler, glória à Ucrânia e vamos todos matar alguns judeus para Wotan!» (Wotan é um deus da mitologia nórdica, a que muitos extremistas de extrema-direita apelam na sua retórica e estética). D. indicou mais tarde que tinha formado um «grupo do Reino Unido» para se dirigir para a Ucrânia.

Os militantes foram recrutados por grupos como o Batalhão Azov, absorvido pela guarda nacional ucraniana em 2014. Esse batalhão tem acolhido abertamente os ocidentais nas suas fileiras através de sites supremacistas brancos. Foram vistos autocolantes e símbolos do Batalhão Azov um pouco por todo o mundo: numa manifestação neonazi em Julho de 2020, no Tennessee, e na moto usada numa tentativa de ataque à bomba de uma mesquita em Itália.

De acordo com os dados de um estudo do Soufan Center, organização não-governamental que estuda o fenómeno dos extremismos, pelo menos quatro mil voluntários estrangeiros fizeram parte desta milícia ucraniana, havendo o registo de um português que já combateu nas fileiras do Batalhão Azov entre 2014 e 2019. O número poderá até ser um pouco maior, de acordo com reportagens recentes, como a do jornalista Ricardo Cabral Fernandes no Público. E há uma ligação umbilical entre movimentos da extrema-direita portuguesa com estes ucranianos, com a realização de seminários e torneios de artes marciais tanto em Portugal como na Ucrânia nos últimos anos.

Em 2019, o Soufan Center, que segue grupos terroristas e extremistas em todo o mundo, advertiu: «O Batalhão Azov está a emergir como um nó crítico na rede extremista transnacional de extrema-direita violenta. ... [A sua] abordagem agressiva ao trabalho em rede serve um dos objectivos globais do Batalhão Azov, de transformar as áreas sob o seu controlo na Ucrânia no centro principal da supremacia branca transnacional».

O Soufan Center descreveu como a «rede agressiva» do Batalhão Azov chega a todo o mundo para recrutar combatentes e espalhar a sua ideologia de supremacia branca. Os combatentes estrangeiros que treinam e lutam com o Batalhão Azov regressam depois aos seus próprios países para aplicar o que aprenderam e recrutar outros.

Os extremistas estrangeiros violentos com ligações a Azov incluíram Brenton Tarrant, que massacrou 51 muçulmanos em duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, em 2019, e vários membros do Movimento «Rise Above Movement» dos EUA, que foram processados por atacarem pessoas que participavam no comício «Unite the Right» em Charlottesville, em Agosto de 2017. Outros veteranos de Azov regressaram à Austrália, Brasil, Alemanha, Itália, Noruega, Suécia, Reino Unido, Portugal e outros países.

Para os mais extremistas entre estes neonazis, o plano é ainda mais sinistro. Eles vêem a Ucrânia como uma oportunidade para promover uma agenda «acelerista», que procura apressar um colapso de toda a civilização e depois construir estados étnicos fascistas a partir das cinzas.

O SITE Intelligence Group, organização que estuda a actividade da extrema-direita nas redes sociais, denuncia uma série de publicações de uma das vozes neonazis aceleracionistas mais influentes da extrema-direita, «o eslovaco», que estaria implicado na guerra da Ucrânia. A 25 de Fevereiro, «o eslovaco» anunciou que estava a deixar um país desconhecido para lutar na Ucrânia. «Esta guerra vai queimar a fraqueza física e moral do nosso povo, para que uma nação forte possa levantar-se das cinzas», escreveu. «A nossa tarefa é assegurar que as condições permaneçam terríveis o suficiente, por tempo suficiente, para que esta transformação aconteça, e deve acontecer. O nosso futuro está em jogo e podemos não ter outra oportunidade, certamente não uma tão boa como esta».

Em muitos aspectos, a situação da Ucrânia lembra a Síria. Tal como o conflito sírio serviu de terreno fértil para grupos como a al-Qaeda e o Estado islâmico, condições semelhantes podem estar a fermentar na Ucrânia para a extrema-direita. A Síria tornou-se um terreno de conspiração e treino para os terroristas montarem ataques no Ocidente, tais como os ataques em Paris em 2015 e em Bruxelas em 2016.

Os extremistas que conseguirem chegar à Ucrânia poderão regressar a casa com novas armas e experiência de combate – ou permanecer na Ucrânia, onde poderão influenciar ainda mais os seus compatriotas online. Só porque os extremistas estão «noutro lugar», não os torna menos perigosos para os países de onde vêm.

«Putin é um judeu», garante um combatente do Azov

«Não tenho nada contra os nacionalistas russos, ou contra uma grande Rússia», disse Dmitry, ao repórter Shaun Walker do diário britânico The Guardian, enquanto acelerávamos pela noite escura de Mariupol numa pick-up, uma metralhadora posicionada na parte de trás. «Mas Putin nem sequer é um russo. Putin é um judeu».

A reportagem datada de 2014, acompanhou a reconquista de Mariupol pelos neonazis. Dmitry – que disse não ser o seu verdadeiro nome – é natural da Ucrânia Oriental e membro do Batalhão Azov, que tem feito grande parte da linha da frente na guerra da Ucrânia com separatistas pró-Rússia.

Dmitry afirmou não ser um nazi, mas confessa-se admirador Adolf Hitler como líder militar, e acredita que o Holocausto nunca aconteceu. Nem todos no batalhão Azov pensam como Dmitry, mas depois de ter falado com dezenas dos seus combatentes e de ter participado em várias missões durante a semana passada na cidade estratégica portuária de Mariupol e arredores, o The Guardian encontrou, em muitos deles, opiniões políticas perturbadoras, quase todos com a intenção de «trazer a luta para Kiev» quando a guerra no leste acabar.

O símbolo do batalhão é igual ao Wolfsangel nazi, que encimava os batalhões SS ucranianos, embora fonte oficial do batalhão garante que, de facto, é suposto ser a letra N, representando uma «ideia nacional». Muitos dos seus membros têm ligações com grupos neonazis, e mesmo aqueles que se riram da ideia de que são neonazis não deram as negações mais convincentes.

«Claro que não, é tudo inventado, há apenas muitas pessoas que estão interessadas na mitologia nórdica», disse um combatente quando interrogado se havia neonazis no batalhão. Quando lhe perguntaram quais eram as suas próprias opiniões políticas, contudo, ele respondeu «nacional-socialista». Quanto às tatuagens da suástica vistas em homens na base de Azov, corrigiu: «a suástica nada tem a ver com os nazis, era um antigo símbolo do sol».

Tortura e violação como forma de actuação

O Batalhão Azov tem suas origem numa grupo claque ultra do clube de futebol FC Metalist Kharkiv chamado «Sect 82» (1982 é o ano de fundação do grupo). No final de Fevereiro de 2014, durante a crise ucraniana de 2014, ajudou a reprimir manifestações pró-russas em Kharkiv, o «Sect 82» ocupou o prédio da administração da Oblast [região] em Kharkiv e serviu como uma força de «autodefesa» local.

Em 13 de Abril de 2014, o ministro de Assuntos Internos, Arsen Avakov, emitiu um decreto autorizando a criação de novas forças paramilitares de até 12 mil pessoas. O Batalhão Azov foi formado em 5 de Maio de 2014, em Berdiansk.

O batalhão começou a actuar em Mariupol, onde esteve envolvido em combates, tendo sido determinante na reconquista da cidade aos separatistas russos, na segunda batalha por essa cidade.

Em relação ao cessar-fogo acordado em 5 de Setembro, o líder do grupo, Biletskiy, declarou: «Se foi um movimento táctico, não há nada de errado com isso. Se é uma tentativa de chegar a um acordo sobre o solo ucraniano com separatistas, obviamente é uma traição».

A ocupação de Mariupol e a acções do Batalhão Azov e de outras forças neonazis, desde aí, não foi pacífica. Já em 2014, a Amnistia Internacional apelou ao governo ucraniano para investigar abusos de direitos e possíveis execuções por parte dos batalhões neonazis Aidar e Azov.

«A incapacidade de pôr fim aos abusos e possíveis crimes de guerra por parte dos batalhões voluntários corre o risco de agravar significativamente as tensões no leste do país e minar as intenções proclamadas das novas autoridades ucranianas de reforçar e defender o Estado de direito de forma mais ampla», disse, o na altura, Salil Shetty, Secretário-Geral da Amnistia Internacional, em Kiev.

Segundo um relatório da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) que monitorizava o cumprimento do cessar-fogo entre ucranianos e separatistas, datado de 2015, as forças de segurança ucranianas e as unidades neonazis estavam envolvidas em práticas generalizadas de tortura aos prisioneiros e população suspeita de ter simpatias pelos separatistas russos.

«Os prisioneiros foram electrocutados, espancados cruelmente ao longo de vários dias com diferentes objectos (barras de ferro, bastões de basebol, bastões, espingardas, espingardas, beatas, facas de baioneta, bastões de borracha). Técnicas amplamente utilizadas pelas forças armadas ucranianas e pela segurança forças incluem o waterboarding, o estrangulamento com um «garrote banderista» e outros tipos de estrangulamento. Em alguns casos, os prisioneiros, para fins de intimidação, foram enviados a campos minados e atropelados com veículos militares, matando-os. Outros métodos de tortura utilizados pelas forças armadas ucranianas e as forças de segurança incluem o esmagamento de ossos, esfaqueamento e corte com uma faca, marcas com objectos incandescentes, e disparos contra partes do corpo com armas de pequeno calibre».

No relatório, do Gabinete das Nações Unidas Alto Comissário para os Direitos Humanos, «Violência Sexual Relacionada com Conflitos em Ucrânia», de 2017, foram recolhidos inúmeros testemunhos da utilização, pelos serviços secretos ucranianos e dos batalhões neonazis, da violação como forma de tortura sobre civis suspeitos de simpatizarem com rebeldes pró-russos.

A verdadeira história dos nazis e a falsa história da desnazificação

O Presidente russo Vladimir Putin afirmou ter ordenado a invasão da Ucrânia para «desnazificar» o seu governo, enquanto funcionários ocidentais, como o antigo embaixador dos EUA em Moscovo Michael McFaul, chamaram a isto pura propaganda, insistindo: «Não há nazis na Ucrânia».

No contexto da invasão russa, as relações problemáticas dos governos ucranianos pós-2014 com grupos de extrema-direita e partidos neonazis tornaram-se um elemento da guerra de propaganda, com a Rússia a usá-la como um pretexto para a guerra e o Ocidente a tentar varrê-la para debaixo do tapete.

A verdade é que os neonazis foram importantes para o golpe de Estado de 2014, como foram importantes para combater os separatistas russos na Ucrânia oriental. A invasão russa, longe de desnazificar a Ucrânia, é susceptível de espalhar neonazis treinados por vários países.

O Partido neonazi Svoboda, da Ucrânia, e os seus fundadores, Oleh Tyahnybok e Andriy Parubiy, desempenharam papéis de liderança no golpe apoiado pelos EUA em Fevereiro de 2014. A secretária de Estado adjunta, Victoria Nuland, e o embaixador dos EUA, Geoffrey Pyatt, mencionaram Tyahnybok como um dos líderes com quem estavam a trabalhar antes do golpe de Estado.

Nunca se saberá quão diferente teria sido o novo governo da Ucrânia se um processo político pacífico tivesse sido autorizado a seguir o seu curso sem a interferência dos EUA ou de extremistas violentos de direita.

Mas foram os neonazis que subiram ao palco na praça Maidan e rejeitaram o acordo de 21 de Fevereiro de 2014 negociado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros francês, alemão e polaco, segundo o qual o Presidente Viktor Yanukovych e os líderes políticos da oposição concordaram em realizar novas eleições no final desse ano. Em vez disso, Yarosh e o sector de direita recusaram-se a desarmar e lideraram a marcha sobre o Parlamento que derrubou o governo.

Desde 1991, as eleições ucranianas tinham oscilado entre líderes como Yanukovych, que era de Donetsk e tinha laços estreitos com a Rússia, e líderes apoiados pelo Ocidente, como o Presidente Viktor Yushchenko, que foi eleito em 2005 após a «Revolução Laranja», a que se seguiu a uma eleição disputada. A corrupção endémica da Ucrânia manchou todos os governos, e a rápida desilusão pública com qualquer líder e partido que ganhasse o poder levou a um equilíbrio e alternância entre as facções alinhadas pelo Ocidente e pela Rússia.

Em 2014, Nuland e o Departamento de Estado conseguiram que o seu favorito, Arseniy Yatsenyuk, se instalasse como primeiro-ministro do governo pós-golpe de Estado. Durou dois anos até que também ele perdesse o cargo devido a um sem fim de escândalos de corrupção. Petro Poroshenko, o Presidente que se seguiu, durou um pouco mais, até 2019, mesmo depois dos seus esquemas pessoais de evasão fiscal terem sido expostos nos Panama Papers de 2016 e nos Paradise Papers de 2017.

Quando Yatsenyuk se tornou primeiro-ministro, recompensou o papel do Svoboda no golpe com três cargos de gabinete, incluindo Oleksander Sych como vice-primeiro-ministro, e governadores de três das 25 províncias da Ucrânia. Andriy Parubiy, do Svoboda, foi nomeado presidente do Parlamento, um cargo que ocupou durante os cinco anos seguintes. Tyahnybok concorreu à presidência em 2014, mas obteve apenas 1,2% dos votos, e não foi reeleito para o parlamento.

Os eleitores ucranianos viraram as costas à extrema-direita nas eleições pós-eleitorais de 2014, reduzindo a quota de Svoboda de 10,4% dos votos nacionais em 2012 para 4,7%. Svoboda perdeu o apoio em áreas onde detinha o controlo dos governos locais mas não tinha cumprido as suas promessas, e o seu apoio foi dividido agora que já não era o único partido a concorrer com slogans e retórica explicitamente anti-russa.

Após o golpe, a extrema-direita ajudou a consolidar a nova ordem, atacando e quebrando os protestos anti-golpistas, no que o líder do Sector Direito, Yarosh, descreveu à revista Newsweek como uma «guerra» para «limpar o país» dos manifestantes pró-russos. Esta campanha culminou a 2 de Maio com o massacre de mais de 40 manifestantes anti-golpistas queimados vivos na Casa dos Sindicatos em Odessa.

Após os protestos anti-golpistas terem evoluído para declarações de independência em Donetsk e Luhansk, a extrema-direita na Ucrânia foi armada para um confronto em grande escala. Os militares ucranianos tinham pouco entusiasmo em combater o seu próprio povo, pelo que o governo formou novas unidades da Guarda Nacional, com neonazis, para o fazer.

O Sector Direito formou um batalhão, e os neonazis também dominaram o Batalhão Azov, que foi fundado por Andriy Biletsky, um supremacista branco declarado que afirmava ser o objectivo nacional da Ucrânia livrar o país dos judeus e outras raças inferiores. Foi o batalhão Azov que liderou o assalto do governo pós-golpe às repúblicas auto-proclamadas e retomou a cidade de Mariupol das forças separatistas.

O acordo de Minsk II, em 2015, pôs fim aos piores combates e criou uma zona tampão em torno das repúblicas separatistas, mas uma guerra civil de baixa intensidade continuou. Estima-se que tenham sido mortas 14 mil pessoas desde 2014. A representante Ro Khanna, Democrata eleita pela Califórnia, e outros membros progressistas do Congresso tentaram durante vários anos pôr fim à ajuda militar dos EUA ao Batalhão Azov. Finalmente, fizeram-no na Lei de Apropriação de Defesa de 2018, mas o Azov terá continuado a receber armas e treino dos EUA, apesar da proibição.

Independentemente do sucesso decrescente de Svoboda nas eleições nacionais, grupos neo-nazis e nacionalistas extremistas, cada vez mais ligados ao Batalhão Azov, têm mantido o poder nas ruas da Ucrânia, assim como na política local, no coração nacionalista ucraniano em torno de Lviv, na Ucrânia ocidental.

Após a eleição do Presidente Volodymyr Zelenskyy, em 2019, a extrema-direita ameaçou-o de destituição, ou mesmo de morte, se negociasse com líderes separatistas de Donbass e seguisse em frente com os acordos de Minsk. Zelenskyy tinha concorrido às eleições como «candidato à paz», mas sob ameaça da direita, recusou-se mesmo a falar com os líderes de Donbass, que descreveu como terroristas, como afirmam Medea Benjamin e Nicolas J.S. Davies, num artigo sobre o papel dos neonazis no conflito, publicado no site fairobserver.

Durante a presidência de Trump, os EUA inverteram a proibição de Obama de vender armas à Ucrânia, e a retórica agressiva de Zelenskyy levantou receios em Donbass e na Rússia de que ele estaria a preparar as forças da Ucrânia para uma nova ofensiva para retomar Donetsk e Luhansk pela força.

O neoliberalismo antecipou a guerra

A guerra civil combinou-se com as políticas económicas neoliberais do governo para criar um terreno fértil para a extrema-direita. O governo pós-combatente impôs mais da mesma «terapia de choque» que foi imposta em toda a Europa de Leste nos anos 90. A Ucrânia recebeu uma ajuda de 40 mil milhões de dólares do Fundo Monetário Internacional e, como parte do acordo, privatizou 342 empresas estatais; reduziu o emprego no sector público em 20%, juntamente com cortes salariais e nas pensões; privatizou os cuidados de saúde e desinvestiu na educação pública, fechando 60% das suas universidades.

Juntamente com a corrupção endémica da Ucrânia, estas políticas levaram à pilhagem de bens estatais pela classe dominante corrupta, e à queda do nível de vida e de medidas de austeridade para todos os outros. O governo pós-golpe manteve a Polónia como modelo, mas a realidade estava mais próxima da Rússia de Boris Ieltsin dos anos 90. Após uma queda de quase 25% do PIB entre 2012 e 2016, a Ucrânia é ainda o país mais pobre da Europa.

Tal como noutros lugares, os fracassos do neoliberalismo alimentaram o aumento do extremismo de direita e do racismo, e agora a guerra com a Rússia promete proporcionar a milhares de jovens alienados de todo o mundo treino militar e experiência de combate, que poderão então levar para casa para aterrorizar os seus próprios países.

Neste momento, os ucranianos estão unidos na sua resistência à invasão da Rússia, mas não devemos ficar surpreendidos quando a aliança dos EUA com as forças neonazis na Ucrânia, incluindo a entrega de milhares de milhões de dólares em armas sofisticadas, resultar em algo incontrolado.

O silêncio não fará a extrema-direita ucraniana desaparecer de imediato. Agir como se qualquer menção ao problema alimente a propaganda do Kremlin só está a piorar a situação.

Mas, enquanto fala de desnazificação, a Rússia também tem dado novos passos para fortalecer as suas fileiras com elementos ligados à extrema-direita. Desde o início da invasão russa que os mercenários do Grupo Wagner, co-fundado por Valeryevich Utkin, neonazi condecorado pelo presidente russo, e considerado o braço militar não oficial do Kremlin, têm estado presentes na guerra. O Grupo Wagner também está a recrutar através do Telegram, diz o Counter Extremism Project, citado pelo site Setenta e Quatro.

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O objectivo da «acção humanitária 1143» cumpriu-se em todos os seus aspectos, com a integração de elementos do grupo de neonazis nos «meios de defesa» da Ucrânia, como os descreve José Manuel Castro.

Numa publicação feita hoje, na plataforma Telegram, um serviço de mensagens online, Machado salienta alguns dos pontos mais importantes da participação do seu grupo na Ucrânia: pretendemos, «se necessário ou possível, participar na secção militar e ajudar na colocação de homens nossos no terreno», assim como «colocar a nossa área política de forma cabal e inequívoca, do lado certo da história». 

«Com o apoio de patriotas de todo o país, foi possível concretizar todos os quatro objectivos», afirma Mário Machado, satisfeito por ter ajudado na «colocação, em território ucraniano, de vários portugueses, luso-descendendentes e de outras nacionalidades, no domínio militar».

Ao Diário de Notícias, Sergii Malyk, adido militar da Embaixada da Ucrânia em França, afirmou não ser possível integrar cidadãos estrangeiros nas milícias paramilitares em actividade no país. «Isso não é possível. Não pode juntar-se a milícia nenhuma. Não, não, isso não acontece», cita a notícia divulgada ontem.

Mas a tese de que «alguém que tem os crimes mencionados no cadastro não pode entrar nas nossas forças armadas», e que «não é qualquer pessoa que pode servir o nosso país», referindo-se ao facto de Mário Machado ser neonazi, cai por terra com a integração de outros elementos nacionalistas e racistas do mesmo grupo.

Vários destes indivíduos, pertencentes ao movimento nacionalista, de supremacia branca, de Machado, já se encontram, neste momento, perfeitamente integrados nas milícias ucranianas: «consegui entrar nesse país, completamente despercebido, e fui ter com patriotas portugueses, ucranianos, ingleses, alemães e espanhóis que me deram todo o apoio», descreve o próprio.

Mário Machado reforça que «sempre, desde o início, deixou bem claro no áudio disponível no meu canal que não iria combater pela Legião Internacional».

«Raparigas brancas lutarão!»

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Combate à glorificação do nazismo com voto contra dos EUA e abstenção da UE

A Assembleia Geral da ONU aprovou, de forma esmagadora, uma resolução que a Rússia apresenta há vários anos contra a «glorificação do Nazismo», que não voltou a contar com o apoio dos países da NATO.

Marcha em honra de Stepan Bandera em Kiev
Marcha em honra de Stepan Bandera em Kiev Créditos / Twitter

Por iniciativa da Rússia, a resolução «Combater a glorificação do Nazismo, Neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada» foi aprovada esta quarta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com 130 votos a favor, dois votos contra (EUA e Ucrânia) e 51 abstenções (incluindo a de Portugal, de todos os estados-membros da União Europeia e outros países «sérios», como o Reino Unido, que definem o que são eleições «sérias» ou «direitos humanos», e decretam sanções contra «países não sérios»).

A resolução apela aos estados membros da ONU para que aprovem legislação para «eliminar todas as formas de discriminação racial» e expressa «profunda preocupação sobre a glorificação, sob qualquer forma, do movimento nazi, do neonazismo e de antigos membros da organização Waffen-SS».

Neste sentido, refere-se à construção de monumentos e memoriais, bem como à celebração de manifestações públicas em nome da glorificação do passado nazi, do movimento nazi e do neonazismo.

Os apoiantes da resolução mostram-se preocupados com «as tentativas cada vez mais frequentes de profanar ou demolir monumentos erigidos em memória daqueles que combateram o nazismo na Segunda Guerra Mundial, bem como de exumar ou remover os restos mortais dessas pessoas», informa a agência TASS.


O texto da resolução destaca também o alarme da Assembleia Geral das Nações Unidas perante «a utilização das tecnologias de informação, da Internet e das redes sociais, por grupos neonazis, bem como outros grupos extremistas e indivíduos que defendem ideologias de ódio, para recrutar novos membros, visando em especial crianças e jovens».

A Assembleia Geral, refere a TASS, recomenda aos estados que «tomem as medidas concretas apropriadas, incluindo legislativas e educativas (...) para evitar o revisionismo sobre a Segunda Guerra Mundial e a negação de crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos na Segunda Guerra Mundial».

A representação diplomática dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, refere a RT, lembrou que vota repetidamente contra a resolução russa, todos os anos, porque se trata de um documento bem conhecido pelas suas tentativas de legitimar as «narrativas de desinformação russa», que «denigrem os países vizinhos sob a aparência cínica de travar a glorificação do nazismo».

Para além disso, afirmou que a resolução é contrária ao «direito de liberdade de expressão», a que também os «nazis confessos» têm direito, tal como estipulado pelo Supremo Tribunal dos EUA.

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No dia em que era noticiada a suposta proibição da sua entrada no país em guerra, o militante neonazi divulgou algumas imagens da sua actividade na Ucrânia através do seu grupo no Telegram. Também na passada quinta-feira, Machado partilhou fotos de milicianas ucranianas a posar, armadas, com símbolos nazis (suásticas e o sol negro, usadas pelas SS) e t-shirts com inscrições supremacistas (White Pride/Worldwide; Orgulho Branco/em todo o mundo), com o comentário «Raparigas brancas lutarão!».

Noutra publicação, no mesmo dia, afirmava: «Não se preocupem traidores, quando o dia chegar, também aí estarão lado a lado com os militantes do PCP e BE na fila para o cadafalso» (palanque em que é montada a forca). «Em sentido figurado, claro», acrescenta no final da mensagem, editada horas depois da publicação.

Azov e a NATO, com Israel pelo meio. «Se a paz vier com o governo do Zelensly, o palhaço judeu, ainda no poder, vai haver guerra civil»

Num dos «canais de referência para quem quiser obter mais informações sobre o conflito Rússia vs. Ucrânia», disponibilizados pelo próprio, todos repletos de iconografia supremacista, é publicado um texto de um membro americano do Batalhão Azov, conhecido por Kent.

Para além de assumir a relação que este batalhão neonazi mantém com a NATO, «estritamente por questões de realpolitik e uma tolerância temporária entre os dois lados devido a um inimigo comum», Kent afirma que muitos «nacional-socialistas ucranianos já só querem sangue e a cabeça de judeu do Zelensky enfiado num espeto».

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Zelensky suspende a actividade de 11 partidos políticos na Ucrânia

A pretexto da lei marcial, Zelensky proibiu hoje 11 partidos políticos, do centro à esquerda, na Ucrânia, incluindo o maior da oposição. A extrema-direita, por seu lado, não vê qualquer restrição à sua actividade.

Volodymyr Zelensky, presidente da república da Ucrânia, reúne com os homólogos da República Checa, Polónia e Eslováquia. Kiev, Ucrânia, 15 de Março de 2022 
CréditosGoverno da Ucrânia / EPA/Agência Lusa

«Primeiro vieram buscar os comunistas (...)», lembrava Bertolt Brecht, e agora, por fim, levam o que restava do centro/centro-esquerda ucraniano. O processo de «descomunização», em marcha desde 2015, que resultou na ilegalização e perseguição do Partido Comunista da Ucrânia, aproveita o contexto da guerra para afastar os restantes rostos da oposição anti-NATO/anti-corrupção ao governo de Zelensky.

Sob pretexto de se tratarem de partidos «pró-russos», uma narrativa rapidamente adoptada pelos meios de comunicação ocidentais, 11 partidos, com ou sem assento parlamentar, foram impedidos de exercer a sua função principal numa democracia: exercer a representação política dos seus eleitores e militantes.

O Ministério da Justiça terá agora de «tomar imediatamente medidas abrangentes para proibir as actividades desses partidos políticos».

No princípio de Fevereiro o partido ucraniano "Socialistas" ainda celebrava a maioria absoluta de António Costa nas últimas eleições legislativas. O partido, que há muito denunciava os atentados do regime de Kiev contra a liberdade de imprensa e liberdades políticas, foi agora proibido sob a acusação de "pró-russo" - um chapéu usado nos últimos anos para extinguir as vozes da oposição democrática e meios de imprensa adversos no país. Kiev, 20 de Março de 2022 Créditos

A explicação dada pelo presidente ucraniano, numa declaração proferida hoje, 20 de Março, na qual anuncia o prolongamento da lei marcial por um novo período de 30 dias, falha na prova dos factos. Muitos destes partidos, acusados de pró-russos, participam activamente na defesa da Ucrânia. Há pouca margem para interpretar esta acção que não seja a de afastar o que resta da oposição ao seu mandato, e aos interesses que ele serve.

A Plataforma de Oposição - Pela Vida, que nas eleições parlamentares de 2019 ficou em segundo lugar, com 13,05% dos votos e 43 assentos no parlamento, não só denunciou publicamente a invasão da Rússia, chegando mesmo a expulsar um deputado por não o fazer e remover um vice-presidente com ligações a Vladimir Putin, como incitou à participação nas milícias de defesa do país. Nada impediu a suspensão.

No caso do Socialistas, trata-se de um pequeno partido político pró-União Europeia [ver foto em caixa] que defende a reintegração da Crimeia na Ucrânia, ao mesmo tempo que defende a nacionalização de vários importantes sectores da economia ucraniana e o combate à corrupção nas instituições governamentais.

O verdadeiro crime destas formações políticas, algumas com quase 30 anos de actividade, foi, em alguns casos, continuarem a defender posições anti-NATO ou representarem as populações russófilas do país,  enquanto outros, apoiantes do projecto europeu, se limitam a defender uma solução pacífica para o conflito no Donbass e se opõem aos ímpetos privatizadores do governo de Zelensky.

O projecto iniciado em Maidan, em 2014/15, concluiu finalmente uma das suas principais ambições políticas: afastar todos os grupos partidários que contestem a hegemonia dos interesses económicos norte-americanos na Ucrânia.

Para além da Plataforma de Oposição - Pela Vida, também os partidos Sharia, Nosso, Bloco de Oposição, Oposição de Esquerda, União das Forças de Esquerda, Estado, Partido Socialista Progressista da Ucrânia, Partido Socialista, Socialistas e Bloco de Volodymyr Saldo, foram suspensos.

A necessidade de uma «política de informação unificada» levou Zelensky a assinar um decreto que funde todos os canais de informação, públicos e privados, num único órgão informativo, sob gestão da presidência da república da Ucrânia.

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A posição do batalhão em relação a Israel é desmentida por Kent, que colabora com o Azov desde 2014 (quando se deu Maidan): O que Andriy Biletsky, fundador do batalhão e membro do parlamento ucraniano entre 2014 e 2019, quis dizer com o apoio a Israel é que este é um «etno-estado». «Lendo nas entrelinhas, é óbvio que é isso que ele quer que a Ucrânia seja: um etno-estado».

Mário Machado partilha muitas das desconfianças do batalhão Azov, integrado oficialmente nas forças armadas ucranianas e cujo braço político, o Svoboda (pelo qual foi eleito Biletsky), não viu qualquer restrição à sua actividade, ao contrário de todos os partidos de centro e esquerda.

«Jamais estaria sobre ordens do Governo de Zelensky, porque nada o distingue de todos os outros governantes europeus», afirma, equiparando-o a Vladimir Putin.

Machado foi condenado, ao longo de mais de 20 anos, pelos crimes de extorsão, sequestro, agressão, posse ilegal de armas (algumas proibidas), ofensa à integridade física qualificada (num dos casos, pelo assassinato de Alcindo Monteiro), discriminação racial e coacção agravada.

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Os treinos terão ocorrido ao abrigo da operação UNIFIER, que desde Abril de 2015 apoia activamente as forças militares da Ucrânia, após o golpe de estado de 2014. Só entre 2015 e 2018, mais de dez mil efectivos ucranianos foram armados, treinados e preparados por algumas centenas de militares do Canadá.

Esta operação é coordenada internacionalmente com as forças enviadas, para o mesmo efeito, pelos Estados Unidos da América, Reino Unido, Suécia, Polónia, Lituânia e Dinamarca.

Em resposta à CTV National News, o exército do Canadá negou estar a par da participação de elementos extremistas, de extrema-direita ou mesmo neo-nazis, nas suas operações. Reconhecem, no entanto, não ter mandato para fazer qualquer averiguação sobre as dezenas de milhares de soldados que treinaram. É um imenso cheque em branco passado às instituições ucranianas.

Vários relatórios e reportagens comprovam a relação entre o Canadá e forças neo-nazis

Uma investigação do diário Ottawa Citizen, publicada em Novembro de 2021, dá conta de vários momentos em que oficiais do exército do Canadá se encontraram com elementos do batalhão Azov. Tudo isto, apesar das conclusões da Task Force, criada especificamente para supervisionar a sua actividade na Ucrânia, alertarem para o facto de «vários membros do Azov se declararem nazis».

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À boleia de Zelensky, neonazis falam no parlamento grego

Durante a sua intervenção no parlamento da Grécia, Zelensky mostrou um vídeo onde dois terroristas do neonazi Batalhão Azov, um deles afirmando-se de ascendência grega, se dirigiram aos deputados gregos.

Militante do neo-nazi Batalhão Azov dirige-se aos deputados por iniciativa de Volodymyr Zelensky, durante a videoconferência do presidente da Ucrânia com o parlamento grego. Atenas, 7 de Abril de 2022
Créditos / Cumhuryet

Os homens, que se identificaram como membros do Batalhão Azov, cujas fardas exibem como símbolo um sol negro, oriundo do ocultismo nazi alemão e que resulta da sobreposição de três cruzes suásticas, apareceram a falar aos deputados gregos num vídeo mostrado pelo Presidente ucraniano, durante a sua intervenção, por videoconferência, no parlamento grego.

Apanhados desprevenidos, deputados gregos, na reacção ao facto de membros do neonazi Batalhão Azov, integrado pelo regime de Kiev na Guarda Nacional ucraniana, ter sido autorizado a dirigir-se-lhes, falaram mesmo em «vergonha histórica».

A propósito desta tentativa de instrumentalização dos parlamentos nacionais, convém lembrar que esta quarta-feira a Assembleia da República aprovou, com o voto contra do PCP, um convite formal ao presidente Volodimyr Zelensky para intervir no parlamento português, por videoconferência.

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Os encontros, promovidos e organizados pelo governo ucraniano, só vieram a público através de publicações nas redes sociais do grupo neo-nazi. Recorrendo a fotografias de soldados canadianos, o Azov legitimou o seu discurso de ódio, assinalando a disponibilidade do exército ucraniano em «continuar a desenvolver uma colaboração proveitosa» para ambos os lados.

Ao Ottawa Citizen, Bernie Farber, da Rede Contra o Ódio no Canadá, lamentou o «tenebroso erro» cometido pelo exército do seu país, «é perturbante saber que o batalhão Azov vai usar canadianos para branquear a sua ideologia de extrema-direita».

Segundo comunicações internas do exército canadiano, divulgadas publicamente pelo diário daquele país, a principal preocupação das forças armadas não era impedir que grupos neo-nazis voltassem a receber apoio do Canadá, mas sim evitar que a informação fosse tornada pública.

Mesmo após as denúncias, forças armadas canadianas continuaram a treinar neo-nazis

A rádio pública do Canadá, Radio Canada, conseguiu identificar outras situações em que oficiais canadianos estiveram envolvidos no treino de membros do Azov, apesar da promessa assumida publicamente pelo governo de não voltar a apoiar estes grupos.

Em 2020, dois anos depois dos primeiros casos identificados, foram promovidas sessões conjuntas entre o exército e o batalhão, no centro de treino da cidade de Zolochiv, na zona oeste da Ucrânia.

Kyrylo Berkal, líder de um destacamento do batalhão Azov, partilhou nas suas redes sociais uma fotografia tirada perto de Mariupol, a 12 de Fevereiro de 2019, com uma insígnia do grupo. Um dos símbolos na insígnia é o Sol Negro, usado pelas SS, a organização paramilitar do partido Nazi. CréditosKyrylo Berkal /

Por esta altura, o carácter supremacista, racista e nazi do Azov, integrado na Guarda Nacional da Ucrânia, era sobejamente conhecido em todo o mundo, reiterado em numerosas reportagens e denunciado por várias organizações de direitos humanos por todo o mundo. As instituições canadianas não foram excepção.

Nas redes sociais do líder de um regimento do batalhão Azov, Kyrylo Berkal, a CTV National News conseguiu identificar imagens de 2019 que mostram, uma vez mais, soldados canadianos numa sessão de formação promovida para nazis do Azov. Para além desse encontro, Berkal partilha frequentemente imagens com simbologia nazi.

Face a estas informações, um porta-voz do exército do Canadá reiterou as desculpas dadas anteriormente: «todos os membros da operação UNIFIER receberam formação para identificar insígnias usadas pela extrema-direita», mas «a Ucrânia é um estado soberano a quem cabe decidir quem é aceite nas suas forças armadas».

O facto de a Ucrânia integrar elementos de extrema-direita, anti-semitas, racistas, homofóbicos e neo-nazis nas suas forças armadas, não vai impedir o Canadá de continuar a dar formação a estes grupos.

Para além dos 900 milhões de dólares investidos na operação UNIFIER, o Canadá continua, e vai continuar, a fornecer armas à Ucrânia, plenamente consciente (porque os treinou e o reconheceu) que um número significativo dos seus membros perfilha ideologias de ódio.

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«Mas poderia um povo que perdeu mais de oito milhões de vidas na batalha contra o nazismo, apoiar o nazismo?», questionava Zelensky. Se por um lado é crucial não confundir o povo ucraniano com o nazismo, é igualmente fundamental denunciar e condenar os elementos neo-nazis que pululam nas forças armadas do país. E já se vai tornando difícil ocultar a sua omnipresente existência.

Até o facto de Zelensky ser judeu é um contra-argumento frequentemente utilizado para desviar a atenção de um problema sobejamente identificado desde 2014, a presença de forças neo-nazis nas forças armadas ucranianas e a existência de grupos para-militares de extrema-direita, muitos deles assumidamente nazis.

Os nazis de Schrödinger: «não existem» mas não falham uma sessão fotográfica

Naquilo que só poderá ser, de acordo com essa narrativa, mais uma estranha coincidência, foi a vez do próprio Zelensky, Presidente da Ucrânia, partilhar a fotografia de um soldado do seu exército a usar uma insígnia nazi. A ocasião foi, curiosamente, a celebração do Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo, data em que se comemora a rendição da Alemanha nazi em 1945.

Kyrylo Berkal, líder de um destacamento do batalhão Azov, partilhou nas suas redes sociais uma fotografia tirada perto de Mariupol, a 12 de Fevereiro de 2019, com uma insígnia do grupo. Um dos símbolos na insígnia é o Sol Negro, usado pelas SS, a organização paramilitar do partido Nazi. CréditosKyrylo Berkal /

Não é a primeira vez que acontece. No dia internacional da mulher, 8 de Março, a NATO teve a mesma ideia, partilhando a fotografia de uma militar que ostentava, no peito, o Sol Negro, criado e utilizado pelas SS,  a organização paramilitar do partido nazi alemão e, mais recentemente, pelo batalhão Azov.

Tal como aconteceu com Zelensky, a imagem foi rapidamente apagada das redes (pode ainda ser visitada numa das páginas da internet que arquivam conteúdo), não sem antes deixar uma questão no ar: se, após a invasão, o número de forças neo-nazis integrados no exército ucraniano seria, alegadamente, residual, porque é que não param de aparecer seus elementos em fotografias oficiais das forças militares da Ucrânia?

Simbologia de ódio

A segunda versão da Totenkopf, desenhada pelos nazis das SS e usada entre 1934 e 1945. A imagem é idêntica ao símbolo que o soldado ucraniano, partilhado por Zelensky, usa na farda.

«Entre outros usos, a Totenkopf [caveira ou death's head], tornou-se o símbolo de um dos três ramos das SS: a SS-Totenkopfverbände», a unidade da caveira, refere a Liga Anti-Difamação, ADL, uma organização judaica que luta contra o anti-semitismo, com ligações ao estado israelita.

A função inicial desta brigada era a de gerir os campos de concentração em funcionamento na Alemanha nazi, tendo, posteriormente, sido integrados na 3ª Divisão SS Totenkopf, conhecida pela sua brutalidade e pelos crimes de guerra cometidos contra judeus, africanos  e prisioneiros de guerra.

Era este mesmo símbolo, pertencente à divisão nazi, que o soldado ucraniano, partilhado por Zelensky, exibia orgulhoso na sua farda. A situação toma contornos ainda mais grotescos se tivermos em conta que o presidente da Ucrânia não só é judeu, como parte da sua família foi morta nos mesmo campos de concentração geridos pelos Totenkopf.

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Todos os profissionais que cumpriram o seu dever jornalístico, retratando a entrada das tropas ucranianas na cidade de Kherson, oito meses depois da sua ocupação pelo exército russo, assim como a sua recepção por parte da população, viram as suas autorizações de trabalho «canceladas e os seus cartões de imprensa invalidados».

De acordo com um artido do Pravda Ucraniano, um dos meios de comunicação social mais reputados no país, pelo menos seis jornalistas da CNN e da Sky News terão sido abrangidos por esta decisão, havendo ainda a possibilidade da proibição incluir jornalistas ucranianos.

Em causa estará a divulgação de imagens que não interessam, em termos propagandísticos, à narrativa ucraninana. Em imagens transmitidas pela CNN Internacional, uma pessoa que segura a bandeira ucraniana aparenta fazer a saudação nazi. Em simultâneo, imagens partilhadas ontem pela Associated Press mostram dois supostos colaboradores atados a postes, cercados por elementos das Forças Armadas ucranianas.

Soldados ucranianos com insígnias nazis são identificados dias antes de entrar em Kherson

Símbolo das SS-Sturmbrigade Dirlewanger, uma das mais brutais brigadas nazis durante a II.ª Guerra Mundial. 

A poucos dias da entrada em Kherson, a NEXTA, uma organização que divulga informação sobre o leste europeu (considerada uma organização terrorista pelo Governo bielorrusso) partilhou nas redes sociais um pequeno vídeo de soldados ucranianos em Kysylivka, a apenas 15km da cidade. Na sua conta de Twitter, Oliver Alexander, um jornalista que colabora com o Telegraph, a Reuters, o Der Spiegel e o Washington Post, denuncia a iconografia nazi utilizada por soldados das Forças Armadas Ucranianas.

«Embora esteja satisfeito com a libertação de Kherson, usar o emblema da brigada SS Dirlewanger não dá um bom aspecto. Foi, sem dúvida, uma das mais horríveis unidades das SS na segunda guerra mundial, composta por assassinos condenados, violadores e pedófilos, tendo cometido inúmeros, e brutais, crimes de guerra».

O mesmo jornalista partilhou outro vídeo de 10 de Novembro, de uma coluna de veículos blindados ucranianos, em que uma bandeira com o símbolo da Reichsadler e do Sol Negro (usadas pelo Governo nazi e pelas SS) é acenada por soldados de um dos veículos.

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As demissões do procurador-geral adjunto, Oleksii Simonenko, do ministro-adjunto de Políticas Sociais, Vitalii Muzichenko, de dois ministros-adjuntos do Ministério de Desenvolvimento das Comunidades e Territórios, Ivan Lukeria e Viacheslav Negoda foram anunciadas esta terça-feira. Também os governadores das províncias de Dnipropetrovsk, Zaporíjia, Kiev, Sumi e Kherson caíram no escândalo de corrupção que abalou o Governo de Volodymyr Zelensky.

Esta vaga de demissões surge depois de o ministro-adjunto das infra-estruturas, Vasil Lozinskyi, ter sido detido por receber um suborno de 367 mil euros. Enquanto milhões de ucranianos passam frio, por falta de electricidade na sequência de ataques russos à infraestrutura ucraniana, o Governo comprava geradores a preços excessivos.

Também o Ministério da Defesa, liderado por Oleksii Reznikov, uma das figuras mais importantes no regime de Zelensky, é alvo de suspeitas, tendo o seu departamento sido responsável pela aquisição de rações de combate a preços muito acima do normal (326 milhões de dólares).

O chefe-adjunto do gabinete presidencial, Kirilo Timoshenko, uma das figuras mais próximas de Zelensky desde a sua eleição em 2019 e um dos porta-vozes do Estado desde a invasão russa, foi outras das altas figuras governamentais a cair, demitindo-se antes de ser acusado de qualquer crime. Como medida preventiva, o presidente ucraniano viu-se obrigado a impedir todos os membros do Governo a sair do País, para evitar a fuga de outros ministros e adjuntos.

A Ucrânia ocupa a 122.ª posição (de entre 180 países) no ranking organizado pela Transparência Internacional, o pior classificado na Europa.

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