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Guerra da Ucrânia. Não em nosso nome

Os povos russo e ucraniano têm direito a viver em paz. É preciso acabar com esta guerra fraticida.

Crianças do Dombass há muito que não têm paz. 
CréditosDR / DR

Conta-se que perguntaram uma vez a Roosevelt a opinião que tinha do ditador nicaraguense Anastasio Somoza. O dirigente dos EUA respondeu sem dúvidas: «É um filho da puta, mas é o nosso filho da puta». É preciso esclarecer que Putin tem muito destas características, mas não é nosso.

Os comunistas não têm nada que ver com a dinastia que nasceu com Ieltsin, de quem Putin é herdeiro político, e com a destruição da União Soviética. O poder dos oligarcas que se estabeleceu depois da destruição do socialismo real é um regime capitalista neoliberal em que a riqueza dos oligarcas faz-se à conta da miséria da maioria da população. A subida destes governantes ao poder na Rússia teve o apoio precioso e por vezes determinante das várias administrações dos Estados Unidos da América e dos governos cúmplices da União Europeia.

Putin tem razão quando diz que as nações na União Soviética ganharam estados e uma forte existência política e cultural com a Revolução de Outubro. Lenine e os outros dirigentes revolucionários perceberam que a revolução socialista só era possível no Império Russo, se conseguisse dar liberdade política e cultural às nações subjugadas pelo Império Russo. Que não era possível libertar a classe operária e os camponeses russos sem libertar os povos do império da subjugação colonial. Nesse sentido, é possível dizer que a actual Ucrânia deve muito a Lenine e aos demais revolucionários. Mas isso não faz da Ucrânia um país artificial. São os povos que decidem constituir as nações. Nem Putin pode declarar a inexistência da Ucrânia, nem o presidente dos EUA, Joe Biden, pode declarar que os povos do Donbass não têm direito a decidir a forma da sua organização política.

Os comunistas não têm nenhuma simpatia pelo actual governo ucraniano, herdeiro de um golpe de Estado apoiado pela NATO e que teve como principais medidas: a proibição do Partido Comunista Ucraniano, a perseguição dos falantes de língua russa (grande parte da população), o encerramento dos canais de televisão em língua russa e a integração dos batalhões neonazis nas forças armadas ucranianas. Os comunistas não esquecem os 50 homens, mulheres e crianças queimados vivos, em 2 de Maio de 2014, na casa dos Sindicatos de Odessa, por essas milícias neonazis. Não perdoam os sucessivos massacres e bombardeamentos à população do Donbass. Mas isso não significa apoiar uma invasão imperialista da Ucrânia.

Esta escalada de guerra não começou hoje e não é independente da promoção do golpe de Estado de 2014, que derrubou o governo, corrupto, mas eleito da Ucrânia. Nem este clima de confrontação pode ser desligado da escalada militarista da NATO e do crescente cerco por bases militares ao território da Rússia. Os ucranianos têm o direito de viver em paz, como os russos têm o direito de não serem cercados por bases militares e rampas de lançamento de mísseis hostis.

A acção militar promovida por Putin e o seu grupo apenas conduz à morte de pessoas inocentes e ao reavivar da NATO nos restantes países da Europa.

Mas a paz na Ucrânia, a autodeterminação de todos os povos da região só é possível com a paz e com estados democráticos libertos das amarras dos autocratas ucranianos e russos. Só a democracia e o socialismo podem combater a cegueira dos nacionalismos promovidos pelos autocratas capitalistas desses países.

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