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«A NATO e os Estados da UE estão a pressionar o governo de Zelensky para tomar medidas para controlar a localização das armas fornecidas à Ucrânia, em resposta a informações de que grupos criminosos estejam a contrabandear essas armas para fora do país e para o mercado negro da Europa», revela o Financial Times.

Desde do início da ofensiva russa na Ucrânia, os estados ocidentais fornecerem cerca de dez mil milhões de dólares em apoio militar: desde mísseis, veículos blindados, armas ligeiras e grandes quantidades de munições.

«Todas estas armas aterram no sul da Polónia, são enviadas para a fronteira e depois dividem-se em veículos para atravessar: camiões, carrinhas, por vezes carros particulares», disse um dos funcionários ocidentais. «A partir desse momento ficamos em branco sobre a sua localização, não temos ideia para onde vão, onde são utilizadas ou mesmo se ficam no país», garantiu esse funcionário.

Perante esta situação, vários estados membros da NATO estão a discutir com Kiev alguma forma de sistema de rastreio cruzadas com listas detalhadas de inventário de armas fornecidas à Ucrânia.

O governo da Ucrânia prometeu aos seus dadores criar um sistema eficiente de monitorização e rastreio de armas, com a ajuda de países ocidentais.

Mesmo os EUA, que estão a fornecer armas cada vez mais sofisticadas, receiam, «entre uma série de considerações», que estas armas e tecnologias possam cair em mãos erradas, assume Bonnie Denise Jenkins, subsecretária norte-americana para o controlo de armas e segurança internacional, dada a «situação desafiante» no terreno no país.

«Os EUA levam muito a sério a nossa responsabilidade de proteger as tecnologias de defesa de origem americana e impedir o seu desvio ou proliferação ilícita», disse Jenkins aos jornalistas em Bruxelas, acrescentando que os EUA estavam em «contacto contínuo» com Kiev sobre o assunto.

«Estamos confiantes no empenho do governo ucraniano em salvaguardar e prestar contas de forma adequada aos EUA [armas]», acrescentou Jenkins.

Yuriy Sak, um conselheiro do ministro da Defesa da Ucrânia, afirmou: «Qualquer movimento de armamento quer para a Ucrânia quer para fora da Ucrânia - quando tal movimento é necessário para reparações, quando necessário - é muito atentamente acompanhado e supervisionado tanto pela Ucrânia como pelos nossos parceiros internacionais».

Entretanto, em vários canais russos no Telegram, entre os quais o da agência noticiosa Novosti, apareceram notícias que garantem que militares ucranianos venderam aos russos um exemplar de um sistema avançado dos EUA Himar (High Mobility Artillery Rocket System) e dois canhões autopropulsionados franceses Ceaser. Afirmações que não foram confirmadas por fontes independentes, embora seja possível encontrar nas redes da Internet propostas de venda de mísseis anti-carro Javelin, e de anti-aéreos Stinger, que preocupam as autoridades policiais europeias.

A questão do tráfico de armas da Ucrânia foi discutida numa reunião dos ministros do Interior da UE esta semana, a Comissão Europeia lançou um «Centro de Apoio da UE» na vizinha Moldávia para fornecer conhecimentos especializados e cooperação para combater questões como o contrabando de armas.

«É difícil evitar o tráfico ou contrabando - não o conseguimos na ex-Jugoslávia e provavelmente não o conseguiremos evitar na Ucrânia», disse Jana Černochová, a ministra da Defesa checa, aos repórteres em Praga na sexta-feira passada. A ministra disse que confiava que os países doadores estavam a tomar todas as medidas necessárias para localizar o armamento mas, avisou, não seria possível seguir todos as armas fornecidas.

Europol teme o pior

A Europol, a agência de aplicação da lei da UE, afirmou em Abril que as suas investigações indicavam que o tráfico de armas da Ucrânia para o bloco para fornecer grupos de crime organizado tinha começado e constituía uma ameaça potencial para a segurança da UE.

«A guerra de agressão russa contra a Ucrânia resultou na proliferação de um número significativo de armas de fogo e explosivos no país» disse a Europol, numa nota de informação.

«Inicialmente, funcionários ucranianos mantiveram registos das armas de fogo distribuídas a civis, mas esta prática foi abandonada à medida que a guerra avançava e as armas de fogo foram distribuídas sem registos desde então», afirmou, solicitando «um registo das armas e outros materiais militares transferidos da UE para a Ucrânia» para ajudar as agências de aplicação da lei a localizá-los.

Há poucos dias, a diretora da Europol, Catherine De Bolle, colocou o dedo na ferida, alertando que uma parte das armas importadas por Kiev pode acabar nas mãos de grupos criminosos. «A dada altura, a guerra terminará. Queremos evitar uma situação como a que se seguiu à guerra nos Balcãs, há 30 anos», afirmou, referindo-se ao boom das máfias daquela região, que se aproveitaram do conflito armado na sequência do colapso da Jugoslávia. «As armas daquela guerra ainda hoje são utilizadas por grupos criminosos», disse De Bolle.

Também o diretor da Interpol, Jürgen Stock, já veio alertar para o perigo de inundação de armamento de guerra na Europa e EUA proveniente do conflito armado do Leste. Assim que as armas se calarem na Ucrânia, as armas ilegais virão. Sabemos isto de muitos outros teatros de conflito. Os criminosos estão mesmo agora, enquanto falamos, a concentrar-se neles», analisou Stock ao The Guardian.

Há suspeitas de que, juntamente com os refugiados que fogem da invasão russa, estejam a circular pela Europa operacionais das máfias ucranianas, aproveitando-se da livre circulação dos ucranianos, por motivos humanitários. As autoridades temem que estes grupos criminosos estejam a preparar terreno para avançar com negócios ilegais de armamento em vários pontos da Europa, segundo relata uma notícia do Expresso.

Este semanário afirma que em Portugal tanto a PJ como a PSP estão a monitorizar de perto a circulação de carros de alta cilindrada com matrícula ucraniana, sobretudo na área da Grande Lisboa. «Foi sinalizado recentemente o risco de estruturas de crime organizado eventualmente mais ligado ao tráfico de armas», confidencia uma fonte judicial citada pelo Expresso. Uma outra fonte policial, consultada pelo mesmo semanário, corrobora: «Estamos atentos e a recolher informação quanto a essa possibilidade».

Acresce ainda a junção a este problema que grande parte dos combatentes estrangeiros na Ucrânia estão ligados a grupos neonazis.

«Os elementos de todo o mundo que subscrevem a ideologia de subculturas neonazis, como a Divisão Misantrópica, têm uma oportunidade muito real de viajar para a Ucrânia, receber treino militar, e participar num intenso conflito armado contra um inimigo tecnologicamente avançado.

Se sobreviverem, a sua experiência de combate poderá dar-lhes a confiança e a capacidade de realizar actos de violência política nos seus países de origem.», garante o site informativo The Intercept.

Isto é claramente motivo de preocupação numa altura em que os incidentes de crimes de ódio e terrorismo doméstico estão a aumentar. A tudo isto se soma contactos e armas facilmente levadas para os seus países de origem.