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Rentrée do PSD: tanto falado e tão pouco dito

O PSD retomou ontem a actividade política na tradicional Festa do Pontal com um longo discurso de Luis Montenegro, mas com poucas ideias para atacar os verdadeiros problemas do País.

Pedro Passos Coelho e Luís Montenegro, 20 de Setembro de 2017 
CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

Durante o fim de semana, Luís Montenegro, com um discurso de quase uma hora, como paladino neoliberal que é, aproveitou o palanque para afirmar a sua nostalgia dizendo que o passismo regressou e para atacar o governo com casos e nunca em ideias.

Com Pedro Passos Coelho na plateia, e com a salva de honra dada, poucas ideias foram ditas. Para além da constatação de vários problemas do país como os baixos salários, a incapacidade do SNS dar resposta ou a falta de professores, Luís Montenegro aproveitou para dizer que tem em construção um programa de governo sem nunca dizer o que contém esse programa.

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PSD ensaia regresso ao passado

Após a derrota frente a Rui Rio, Luís Montenegro conseguiu, finalmente, ser eleito presidente do PSD, derrotando Jorge Moreira da Silva nas eleições directas para a liderança dos social-democratas.

Luís Montenegro, do PSD, é aplaudido pelo seu grupo parlamentar, na sua última sessão como deputado 
CréditosJosé Sena Goulão / Agência Lusa

Este sábado, para além da eleição do presidente social-democrata, decorreu também a eleição de delegados para o 40º congresso nacional do PSD que se realiza nos dias 1, 2 e 3 de Julho, no Coliseu do Porto.

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Um PSD sorumbático escolheu Luís Montenegro

Dupond ganhou a Dupont. Entre os dois delfins do passismo, Luís Montenegro levou a melhor. Com 72,5% dos votos, antevê-se um acentuar do discurso populista da direita, ancorado no neo-liberalismo.

Pedro Passos Coelho e Luís Montenegro, 20 de Setembro de 2017 
CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

Naquelas que foram as eleições directas menos participadas da história do PSD (26 946 votantes num universo de 44 628 militantes com as quotas em dia), os eleitores não tiveram dúvidas: entre o antigo líder da bancada parlamentar do passismo Luís Montenegro e o antigo Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia do passismo, Jorge Moreira da Silva, o PSD escolheu o passismo.

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Os batedores da direita

Os que clamam por governos de emergência ou unidade nacional não são para levar a sério. Fazem o papel de lebres, enquanto a direita se reorganiza e espera o messiânico regresso dos filhos pródigos.

O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, acompanhado pelos candidatos à liderança do partido, Rui Rio e Pedro Santana Lopes, durante as jornadas parlamentares, em Braga. 30 de Outubro de 2017
As lebres do capital procuram desbravar o regresso da direita ao poderCréditosHugo Delgado / Agência LUSA

Não tem novidade a direita introduzir elementos para a agenda política. Neste caso, na sequência da reeleição do Presidente da República, surgiu um conjunto de figuras a clamar por governos de iniciativa presidencial. Sousa Tavares, Marçal Grilo, Santana Lopes ou Villaverde Cabral foram alguns dos que fizeram fila em torno da ideia.

A propósito do alegado «descontrolo da pandemia» ou cavalgando a mediatização de algumas «trapalhadas» do Governo, logo surgem estas lebres do capital procurando desbravar caminho à direita, nomeadamente ao PSD e ao CDS, que se procuram reagrupar em torno da expectativa da chegada de novas e messiânicas lideranças que lhe permitam ganhar a corrida, que é o «assalto ao poder».

No fundo, o que verdadeiramente os sobressalta é a existência de um Orçamento do Estado que contempla o pagamento a 100% a trabalhadores em lay-off, propostas de reforço do Serviço Nacional de Saúde e de combate à epidemia, do robustecimento dos serviços públicos, da defesa das micro, pequenas e médias empresas, de apoio aos artistas e agentes da cultura, do investimento público e da defesa da produção nacional.

O que, de facto, verdadeiramente os preocupa é assegurar que os «milhões da União Europeia» de que tanto se fala sejam sugados pelos grandes grupos económicos, os tais que defendem menos Estado para os apoios sociais e serviços públicos e melhor Estado para quem, como eles, estão sempre à babugem dos dinheiros públicos e, preferencialmente, a fundo perdido.

Por fim, o que verdadeiramente pretendem é um governo que promova aquilo a que, pomposamente, chamam reforma do Estado. Um eufemismo atrás do qual se escondem, mas que, trocado por miúdos, significa o assalto final ao Estado e aos serviços públicos rentáveis, nomeadamente na Educação, na Saúde e nos transportes.

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O discurso de vitória do novo presidente social-democrata reflecte, aliás, a herança desse passado. Tal como Pedro Passos Coelho, enquanto não fez o exacto oposto, Luís Montenegro comprometeu-se com a luta contra o empobrecimento, em defesa daqueles que não têm acesso ao SNS, dos que trabalham e auferem reformas e pensões demasiado baixas. Este PSD será «a voz dos que recebem menos». Onde é que nós já ouvimos isto?

As promessas do passismo, de aumento das pensões e dos salários mais  baixos, levou-as o vento, assim que o Governo PSD/CDS-PP se instalou para cumprir o mandato da troika, entre 2011 e 2015. Luís Montenegro já era, nessa altura, um dos mais entusiásticos promotores da política de delapidação de rendimentos: «a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor», assumiu em 2014.

Gato escondido... ou um projecto político neo-liberal oculto atrás de uma série de narrativas (a luta contra um hipotético socialismo instalado na nossa sociedade) que, fora dos círculos mais conservadores e reaccionários, pouco ou nada reflectem a realidade portuguesa.

Montenegro garante que o PSD será, agora, «a formação alternativa política ao socialismo que nos tem governado e desgovernado nos últimos anos», «o príncipio, do fim, da hegemonia do Partido Socialista em Portugal», assumindo, desde logo, que o único projecto, aquele que verdadeiramente o motiva, é recuperar o poder, para dar seguimento ao projecto que o PSD nunca conseguiu abandonar.

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PSD: uma revisão constitucional tamanho familiar

É todo um tratado sobre o populismo: reduzir o número de deputados, reforçar os poderes presidenciais e, claro está, remover todas as referências a colonialismo, imperialismo, desarmamento e, não podia faltar, o fascismo.

CréditosMário Cruz / Agência Lusa

O projecto de lei já está nas mãos dos 77 deputados que constituem o grupo parlamentar do PSD. Bastará agora acertar o passo com os candidatos à liderança do partido (Jorge Moreira da Silva ou Luís Montenegro, ambos com ligações ao governo PSD/CDS-PP liderado pelo Passos Coelho) para o projecto ser oficialmente entregue na Assembleia da República.

O conteúdo do documento foi, entretanto, divulgado pela agência Lusa, expondo o carácter conservador, populista e anti-democrático da proposta, disposta a acabar, de vez, com uma das constituições mais progressistas do mundo: desfigurando 127 dos 296 artigos da Constituição da República Portuguesa (CRP), eliminando mais de 30 e reorganizando capítulos inteiros da Lei Fundamental.

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Extrema-direita e a promessa de retrocesso civilizacional

Na visita de Marine Le Pen a Portugal, a líder da extrema-direita francesa insistiu no discurso anti-sistema e anti-imigração, com o qual, tal como André Ventura, tenta ocultar a sua verdadeira agenda.

CréditosAndre Kosters / Epa/Lusa

Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita francesa, a União Nacional (antiga Frente Nacional), veio a Lisboa apoiar o candidato a presidente da República, André Ventura, considerando que este representa a entrada de Portugal «numa nova era, na modernidade política do mundo».

Porém, pouco há de «moderno» em propor políticas contra os migrantes e refugiados para desresponsabilizar aqueles que impuseram as medidas económicas que têm castigado os que vivem do seu trabalho. Milhares de pessoas que fogem da pobreza e da guerra em busca de uma vida melhor são assim utilizadas pelos partidos de extrema-direita como bode expiatório, tentando apagar as décadas de políticas de favorecimento dos grandes interesses económicas que apoiam, por sua vez, o crescimento destas forças.

Neste sentido, também a União Europeia que tanto criticam adopta medidas como a chamada união fortaleza, para fazer esquecer a sua política bélica que está na origem dos fortes fluxos migratórios.

Usando uma narrativa «anti-sistémica», estes partidos alimentam-se um pouco por toda a Europa do caldo de cultura criado pela falta de resposta das políticas receitadas pela UE para responder à crise economica. No entanto, a extrema-direita não visa combater verdadeiramente a UE e o seu projecto de integração. Pelo contrário, apoia os caminhos para a sua militarização, subscreve medidas orçamentais que atacam os trabalhadores e as funções sociais dos estados, muitas vezes lado a lado com aqueles partidos que nos trouxeram até aqui.

Com a grande percentagem de portugueses em França, importa lembrar as palavras de Marine Le Pen em entrevista ao Expresso, em Outubro do ano passado: «Reservo primeiro o meu humanismo para os meus, para os franceses». Tal afirmação está em linha com o programa do seu partido no que concerne às comunidades portuguesas.

O partido de extrema-direita francês defende o fim do «direito do solo», retirando a possibilidade de descendentes de cidadãos portugueses requererem a nacionalidade francesa, o fim do acesso à segurança social francesa por cidadãos portugueses residentes em França, ou seja, o acesso à reforma, subsídio de desemprego e de maternidade, e a eliminação do ensino da língua portuguesa nas escolas.

Os perigos da extrema-direita na Europa e em Portugal são reais. Mas estas forças surgem com raízes conhecidas: crise económica e social e destruição de direitos a par de ataques à soberania dos estados, pelo que as medidas a adoptar no contexto da pandemia de Covid-19 são determinantes para não alimentar o crescimento destas falsas soluções.

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Camuflado debaixo de iniciativa de revisão, está quase uma nova e retrógrada constituição, desadequada aos desafios dos novos tempos. 

Entre as proposta de teor populista avançadas pelo PSD, cada vez mais disponível a assumir todas as narrativas da extrema-direita, encontra-se a redução do limite máximo de deputados de 230 para 215, reduzindo a representatividade política, correspondendo assim a uma tentativa, por via legislativa, de impôr o modelo bipartidário.

Por outro lado, a introdução da limitação de mandatos para todos os cargos políticos, a alteração da duração das legislaturas de quatro para cinco anos e dos mandatos do Presidente da República de cinco para seis anos, representam um cheque em branco, criando obstáculos ao escrutínio popular regular.

O PSD assume, 48 anos depois, o seu posicionamento face aos crimes do colonialismo e imperialismo

Do carácter progressista da CRP, sobra o preâmbulo, sem valor normativo e que os sociais-democratas apenas pretendem manter pelo seu valor «histórico». Todas as referências à luta contra o colonialismo, o imperialismo, a defesa do desarmamento e pelo fim dos blocos político-militares seriam, segundo a intenção daquele partido, para eliminar.

Um admirável mundo novo, inaugurado pela Guerra na Ucrânia, em que o Ocidente se encontra sempre disponível para sacrificar as populações em detrimento de alucinadas corridas ao armamento, não se veiculou em Portugal apenas pela mão do PSD.

Poucos dias antes das comemorações populares do 25 de Abril, a ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, reiterou o objectivo de alcançar, de forma progressiva, um gasto de 2% do PIB em investimentos na área da Defesa (maioritariamente através da compra de armamento).

Quem paga estes desmandos? Entre os muitos mártires das novas campanhas armamentistas, sanguinárias, está a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que no Orçamento para 2022 («o orçamento mais à esquerda de sempre», era então o chavão) vai perder mais de 32 milhões de euros, sonegados à investigação portuguesa e ao desenvolvimento científico.

Abrindo o caminho para a ilegalização de partidos políticos em Portugal

Outra das alterações que o PSD pretende introduzir na CRP, no que toca ao artigo relativo à liberdade de associação, é a substituição da proibição de organizações que «perfilhem a ideologia fascista» por aquelas «que perfilhem ideologias totalitárias».

Esta, aparentemente pequena, revisão, consubstancia um percurso que a direita portuguesa e europeia vem trilhando faz alguns anos, de que é exemplo o documento, apresentado e aprovado no Parlamento Europeu, que pretende equiparar o Nazismo ao Comunismo (frequentemente usado como argumento por figuras políticas ligadas ao PSD, CDS-PP, IL e Chega).

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Resistentes antifascistas rejeitam «falsificações históricas» promovidas pela UE

A Federação Internacional de Resistentes (FIR) rejeita, numa nota, a resolução do Parlamento Europeu (PE) aprovada no passado dia 19 em que se «equipara e condena nazi-fascismo e comunismo».

A 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração de Auschwitz
Créditos

Tanto a FIR como as federações que a integram – como é o caso da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) – não podem de modo algum concordar com a resolução que, a 19 de Setembro de 2019, foi aprovada no PE, com os votos favoráveis de 535 deputados, a oposição de 66 e a abstenção de 52, e que alegadamente abordava «o significado do passado europeu (ou consciência histórica europeia) para o futuro da Europa».

Para a FIR, o «texto da declaração não mostra o futuro da Europa, mas é uma recaída ideológica nos piores tempos da Guerra Fria, que estão expressos nesta resolução, que surgiu por iniciativa dos estados Bálticos e da Polónia».


«Contrariamente a todas as evidências científicas», o texto alega que foi apenas com o Tratado de Não Agressão Germano-Soviético que «ficou marcado o rumo para a Segunda Guerra Mundial», denuncia a FIR, sublinhando que «a reconstrução dos acontecimentos que conduziram à Segunda Guerra Mundial é limitada, tendenciosa, instrumental e não tem qualquer base científica».

«Junta opressores e oprimidos, vítimas e carniceiros, invasores e libertadores. A resolução é um texto grosseiro de propaganda ideológica, digna dos piores momentos da Guerra Fria», declara-se na nota.

A FIR questiona os deputados sobre a ameaça externa actual a que se referem quando, na resolução aprovada, se afirma, «perversamente», que «assume uma importância decisiva para a unidade da Europa e dos seus povos e para o fortalecimento da resistência da Europa às actuais ameaças exteriores que as vítimas dos regimes autoritários e totalitários sejam lembradas».

«Não» às falsificações da história

«A declaração criticou de facto um novo revisionismo histórico». No entanto, «se os membros do PE condenam nalguns estados europeus a glorificação das pessoas que colaboraram com os nazis, ao mesmo tempo adoptaram a narrativa histórica desses mesmos estados europeus de que a Rússia alegadamente falsifica factos históricos e encobre os "crimes cometidos pelo regime totalitário da União Soviética"», denuncia a Federação de Resistentes.

Neste sentido, a FIR e todas as federações dos «sobreviventes da perseguição fascista, os combatentes contra a barbárie nazi e todos os antifascistas dizem "não" a tais falsificações históricas» e acusam a resolução do PE de «escolher um caminho de divisão lacerante, em vez de uma responsável e rigorosa unidade», num tempo de «perigo crescente de fascismo, racismo e nacionalismo».

A FIR, que rejeita a recente resolução do PE em que se equipara e condena nazi-fascismo e comunismo, lembra as palavras do escritor alemão Thomas Mann, que, em 1945, avisou: «Colocar comunismo russo no mesmo plano moral que o nazi-fascismo, porque ambos seriam totalitários, é, na melhor das hipóteses, superficial; na pior, é fascismo. Quem insiste nesta equiparação pode considerar-se um democrata, mas, na verdade e no fundo do seu coração, é um fascista, e irá seguramente combater o fascismo de forma aparente e hipócrita, e deixa para o comunismo todo o ódio.»

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Com os olhos postos na experiência da Ucrânia, que proibiu o partido comunista em 2015 e, mais recentemente, proibiu todos os partidos sobre os quais recaia a suspeita de serem pró-russos (suspeita, claro está, sem provas), o que o PSD pretende está bem à vista.

Tentando confundir conceitos eugenistas, desumanos e fascistas com projectos humanistas e progressistas, base do estado social de garantias e de condições dignas de vida para todos, o PSD revela a agenda escondida, há muito ambicionada, de abrir as portas à proibição do Partido Comunista Português.

As narrativas anti-comunistas têm vindo a contaminar o espaço mediático a reboque de responsáveis editoriais e grupos económicos detentores de órgãos de comunicação, que partilham e divulgam artigos de opinião branqueadores do fascismo, desvalorizadores do papel dos comunistas na luta contra o Estado Novo e na construção do Portugal Democrático.

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A verdade sobre a campanha da TVI

AbrilAbril partiu da reportagem que a TVI produziu e das informações entretanto divulgadas pela autarquia, recolheu esclarecimentos junto do seu presidente e da entidade prestadora do serviço, e juntou tudo.

Foto de arquivo.
CréditosAntónio Cotrim / Agência LUSA

A propósito da peça da TVI, envolvendo o secretário geral do PCP e a Câmara Municipal de Loures (CML), o AbrilAbril partiu do que a TVI produziu e das informações entretanto divulgadas pela autarquia de Loures, recolheu elementos de esclarecimento junto do presidente da Câmara e da entidade prestadora do serviço, e juntou tudo.

São factos reais:

1. A CML tem contratado empresas por ajuste directo e consulta prévia nos últimos anos para assegurar manutenção e reparação de abrigos de paragem, bem como colocação de publicidade institucional, entre outras tarefas;

2. Uma dessas entidades empresariais é a de Jorge Bernardino, empresário em nome individual;

3. Jorge Bernardino é casado com a filha de Jerónimo de Sousa.

A partir destes factos, a TVI desenvolveu um conjunto de especulações e insinuações que procurámos esclarecer. Em nenhum momento a TVI pôde afirmar a existência de qualquer ilegalidade ou irregularidade por manifestamente não ter encontrado nenhum facto, como o AbrilAbril também não conseguiu, que permitisse sugerir que isso teria acontecido.

O uso de ajuste directo em vez de concurso público

Ao contrário do que se pretende fazer crer (e será até convicção da maioria das pessoas), o ajuste directo é, não só um procedimento legalmente consagrado, como o mais utilizado quer pelas autarquias locais quer por outras instituições públicas. Não é um recurso excepcional apenas para matérias urgentes. É o procedimento previsto no Código dos Contratos Públicos para a contratação de serviços até 75 mil euros e de empreitadas de obra até 150 mil euros nos seguintes termos:

«A escolha dos procedimentos de ajuste directo, de consulta prévia, de concurso público ou de concurso limitado por prévia qualificação deve ser feita tendo por base o valor do contrato a celebrar.»

Sem ajustes directos nenhuma instituição pública poderia funcionar, porque os processos de concursos públicos demoram, em regra, entre quatro a seis meses até um ano e meio, e por isso são exigíveis apenas para montantes contratuais mais elevados. A título de exemplo, e de acordo com a informação de um responsável da autarquia, de Janeiro a Setembro de 2018, a CML, na sua área de aquisição de bens e serviços (excluindo obras) realizou 183 contratos por ajuste directo e 1508 compras por ajuste directo em regime simplificado (abaixo de 5 mil euros).

O ajuste directo não é uma forma nem excepcional nem menos transparente de contratar. Tem exigências legais e de transparência e limites de contratação por contrato e por entidade. É apenas mais simples do que um concurso público.

As empresas e entidades a contratar são, em todas as autarquias, propostas pelos serviços municipais e sendo os procedimentos aprovados pela administração da Câmara. Não há em Loures, neste caso ou noutros, pressão da administração para esta ou aquela contratação. A sugestão de que poderia haver conivência dos serviços com qualquer procedimento menos claro «sugerido» pela administração é desmentida pelo facto, que é do conhecimento público, de que a divisão e o departamento da Câmara responsáveis por esta área têm os mesmos dirigentes que a CDU encontrou quando tomou posse em 2013, tendo sido, portanto nomeados inicialmente pelo executivo anterior.

Os contratos com Jorge Bernardino

A contratação desta prestação de serviços corresponde obviamente a uma necessidade do Município, por não dispor de meios próprios para efectuar este trabalho.

Os cinco primeiros contratos, para tratamento de 153 abrigos, foram feitos por ajuste directo, sendo que em três deles foram consultadas outras duas empresas, apesar de isso não ser obrigatório. Nos dois últimos destes cinco foi proposta pelos serviços consulta à mesma empresa, por necessidade de continuidade imediata do trabalho e no respeito pelos critérios e limites legais.

A par destes existiram contratos com outras empresas para os restantes abrigos da CML, como a própria Câmara já divulgou.

O último contrato foi adjudicado pelo procedimento de consulta prévia a três empresas, que só existe na lei desde 1 de Janeiro de 2018, razão porque antes não foi utilizado. Neste processo, adjudicado pelo preço mais baixo, e com a duração de quatro meses, não há registo de qualquer contestação das outras empresas consultadas.

A evolução do valor dos contratos

Os cinco contratos de ajuste directo anteriores (desde 2015) tiveram preços que oscilaram entre cerca de 14 mil e cerca de 21 mil euros, sendo contratos com diferentes durações (entre 120 e 180 dias). Todos versavam sobre um universo de 153 abrigos, com as tarefas que abaixo se referem.

Conforme explica a nota divulgada pela CML, a passagem para 64 mil euros no último contrato deve-se ao facto de este ter vindo substituir dois contratos anteriores: um, já referido, com Jorge Bernardino, para 153 abrigos, no valor de 21 510 euros; e outro, com uma outra empresa, a Cabena, para 271 abrigos, no valor de 74 892,50 euros.

No total custavam cerca de 96 mil euros para cinco meses, enquanto o contrato que os substituiu custou 64 mil euros para quatro meses (cerca de 30 mil euros para manutenção correctiva, que acabaram por não ser utilizados como adiante se refere, e o restante – 34 mil euros - para o resto das tarefas correntes a desempenhar).

Com esta agregação, a CML obteve uma poupança de cerca de 15%; aliás a comparação dos dois contratos anteriores evidencia que o preço cobrado pela outra empresa era, sensivelmente, o dobro por cada abrigo, ou seja, muito menos vantajoso para a CML.

A peça da TVI omite deliberadamente que o aumento do valor do contrato está diretamente ligado ao número de abrigos abrangidos – antes 153 e depois 438, dispersos por todo o concelho de Loures.

A questão do tipo de entidade empresarial

A peça procura cimentar a ideia de que se tratou de uma «contratação individual» e não de uma entidade empresarial, procurando com a fulanização aproximar-se da ideia do favorecimento pessoal. Há várias formas empresariais previstas na legislação, sendo duas delas a de empresário em nome individual e a de empresa unipessoal. Sendo diferentes, sobre elas não há qualquer diferença de tratamento pelas regras da contratação pública. O factor determinante é a actividade económica, não a forma jurídica.

A ideia da contratação individual é desmentida pelo facto de o empresário em nome individual Jorge Bernardino ter contratado dois trabalhadores para participar no desempenho das tarefas previstas no contrato.

Jorge Bernardino ganhou 11 mil euros por mês?

O que se pode concluir é que não. A parte efectivamente paga do valor do contrato (excluindo a manutenção correctiva que correspondia a cerca de 30 mil euros, a qual só seria paga se fossem realizadas reparações estruturais dos abrigos no decurso do contrato, que não existiram), dividida pelos quatro meses da sua duração, corresponde efectivamente a um valor de cerca de 8500 euros por mês.

Este valor tem de suportar todos os custos com materiais (designadamente o material eléctrico de substituição, água e materiais de limpeza, entre outros), ferramentas, viaturas e respectivo combustível, seguros, impostos e contribuições para a Segurança Social, vencimentos dos trabalhadores e, naturalmente, também a remuneração do próprio.

A TVI procura dar a entender que este valor mensal é excessivo quando o valor de um dos contratos anteriores, com a empresa Cabena, correspondia a um valor mensal de cerca de 15 mil euros para 271 abrigos (menos 167 abrigos e mais 6 500 euro por mês).

O trabalho efectivamente realizado – só foram mudadas lâmpadas e casquilhos?

O conjunto de tarefas a realizar no âmbito destes contratos foi efectivamente realizado e confirmado pelos serviços do município. Sem essa confirmação, que responsabiliza os técnicos que a fazem, não é possível fazer qualquer pagamento, neste ou noutro contrato de prestação de serviços. Esse é o elemento essencial e não qualquer relatório do prestador, que não é exigível à face da lei.

A referência a lâmpadas e casquilhos mudados num mês como a justificação para o recebimento de 11 mil euros, que afinal são 8 500 euros como já se referiu, omite que o trabalho implica realizar a manutenção preventiva, reparação regular, limpeza periódica, inspecção técnica – incluindo da instalação eléctrica –, manutenção correctiva e substituição de publicidade institucional de todos os 438 abrigos de paragem, dispersos por 170 quilómetros quadrados.

Nos quatro meses do contrato foram colocados centenas de cartazes «mupi», de várias campanhas de publicidade institucional, em todo o concelho.

A situação laboral anterior de Jorge Bernardino

Foi também referida uma suposta situação de desemprego de Jorge Bernardino e a sua inexperiência na área em causa para insinuar que só teria sido contratado por razões de proximidade familiar. O próprio esclareceu que tem 15 anos de experiência na área da electricidade e electromecânica.

Não estava também desempregado à altura, mas sim empregado num supermercado e, no passado mais próximo, trabalhou na área de construção e manutenção de jardins e arranjos de exteriores, e num talho.

A forma como a TVI procedeu

A TVI contactou pela primeira vez a CML cerca de 15 dias antes da primeira emissão da peça e terá ainda convidado o presidente da CML para ir ao Jornal das 8 na passada sexta-feira… às 19h30!

Primeiro foi questionado o valor do contrato em relação a contratos anteriores com a mesma empresa. Depois disso foi sugerida a ilegitimidade de uma suposta remuneração ou salário a uma pessoa individualmente considerada, procurando confundir essa situação com a de um empresário em nome individual. Esclarecida essa questão, passou-se para a indagação sobre o cumprimento do contrato.

Para a autarquia, ficou evidente neste processo que o trabalho jornalístico tinha desde sempre uma conclusão já definida, o que se comprovou pelo sucessivo acrescentar de novas linhas de questionamento à medida que a Câmara Municipal de Loures esclarecia os anteriores. O que sempre se manteve foi a intenção de especular sobre a ligação familiar com o secretário-geral do PCP.

No decurso deste processo, o jornalista da TVI, na entrevista com o presidente da CML, colocou a questão da relação familiar do empresário com Jerónimo de Sousa, sobre a qual nunca tinha pedido qualquer esclarecimento e que revelou ser o verdadeiro tema da peça. Confrontou depois Jerónimo de Sousa com o mesmo método, o que repetiu, já no dia seguinte à primeira emissão da peça.

Tudo o que foi dito por ambos foi cortado e truncado, tendo sido omitidos dados essenciais dos esclarecimentos efetuados pela CML. Em nenhum momento se refere o número e a dispersão de abrigos – 438 espalhados por cerca de 170 quilómetros quadrados –; omite-se que a diferença de preço entre o penúltimo e o último contrato se deve ao triplicar do número de abrigos e que este foi atribuído pelo preço mais baixo; reduz-se o trabalho feito à substituição de lâmpadas e casquilhos quando o âmbito é vasto e complexo.

Os contratos profusamente exibidos pela TVI, dando a entender que estariam a ser escondidos pela CML, foram efectivamente disponibilizados pela Câmara, bem como as informações internas dos serviços comprovando a realização dos trabalhos do prestador, essas nunca referidas.

A peça em causa foi emitida na abertura do Jornal das 8, precisamente num dia em que não faltaram notícias (das verdadeiras): da convulsão interna no PSD aos desenvolvimentos em torno do Brexit, assim como a apresentação pública de João Ferreira como cabeça-de-lista da CDU ao Parlamento Europeu.

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Câmara de Loures acusa a TVI: «despudorada manipulação»
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Não encontrando o revisionismo histórico eco na academia, são agora, sem pudores nem vergonha, os órgãos de comunicação social comandados por figuras sempre disponíveis para cortejar o poder, que assumem este papel. Esta dinâmica alucinada, sem compromisso com a verdade e com príncipios deontológicos, já deixava antever em 2020 o que aí vinha. Exemplo flagrante foi uma abertura do telejornal da noite, em 2020, na SIC, com uma imagem falsa da capa da Time sobre a Festa do Avante!.

As alterações à Constituição exigem uma maioria de dois terços dos deputados em funções, o que torna o apoio do PS indispensável para a aprovação do projecto do PSD. O seu posicionamento determinará, fundamentalmente, o futuro da democracia em Portugal.

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«Não vamos ser cúmplices nem condescendentes com este caminho de empobrecimento», afirmou Montenegro, apenas um dia depois de o PS (com a abstenção do Livre e PAN) fazer aprovar um orçamento que confirma a perda de rendimentos de grande parte da população

O caminho do PSD será, certamente, outro, principalmento num momento em que precisa de ressalvar os muitos problemas sociais que se vão adensar nos próximos tempos, mas o destino é o mesmo. O rumo está, aliás, patente na proposta de revisão constitucional apresentada há semanas pelos deputados sociais-democratas.

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Luís Montenegro foi líder parlamentar do PSD entre 2011 e 2017, onde se destacou na defesa das políticas do governo de Passos Coelho, nomeadamente no brutal corte de rendimentos e direitos realizado entre 2011 e 2015.

O ex-líder parlamentar dos sociais-democratas, para além de ter sido um dos rostos da derrota da direita e do desespero que se seguiu no PSD, que tardou a acordar para a nova realidade política resultante das eleições legislativas de 2015, foi protagonista no ataque político a medidas como o aumento extraordinário de pensões, a gratuitidade dos manuais escolares ou a reposição de salários e feriados.

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Luís Montenegro, fugindo ao conteúdo procurou pegar na espuma mediática dos dias e pegar no conjunto de casos que envolvem directamente o Governo. Veja-se no caso da Saúde, contraditoriamente reconhecendo que o PS ajuda os privados, afirma que existe um «fanatismo ideológico» com o SNS. Escondendo sempre as culpas do PSD no estado do país, apenas diz que «a seu tempo irá» apresentar o seu modelo de gestão do SNS mas acaba por dizer que o PS «não quer instituir um regime de complementaridade com do sector público, com o sector social e com o sector privado».

Sobre o aumento do custo de vida e a inflação, mais uma vez, Montenegro optou por não apontar à resolução do problema e não indo além de meras constatações, como neoliberal que é, diz que é necessário devolver o dinheiro dos impostos e não investir onde é necessário ou travar a escalada de preços.

Como grande trunfo da noite foi anunciado um «Programa de emergência social» que entre algumas medidas opta por ir numa lógica de não resolver os problemas estruturais do país mas sim numa lógica assistencialista efémera ou pela redução do IRS da «classe média» optando por não combater a acumulação e centralização de capital que se tem se tem verificado. Montenegro admite mesmo que são «medidas transitórias» demonstrando que a vontade não é mesmo efectiva mas populista.    

Como remate final, Montenegro fala das próximas eleições legislativas dizendo que não está a falar. A tónica do discurso parece marcar a abordagem do PSD para os próximos tempos – uma acção eleitoralista que pega nos problemas legítimos de quem trabalha mas que respostas nem vê-las.

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