Os mesmos que se protegem com a ideia de que a esquerda acha que «tudo é culpa do Passos Coelho», agarraram-se com unhas e dentes à primeira menção do seu nome na campanha. O nome de Passos iluminou-se no céu mediático e os líderes do PSD, Iniciativa Liberal e Chega esqueceram, num ápice, os seus programas e as suas agendas de campanha. Isto a propósito do almoço do antigo primeiro-ministro do Governo PSD/CDS-PP com Luís Montenegro (e vários outros antigos líderes sociais-democratas, como Rui Rio, Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva) na terça-feira.
Numa acção de campanha no Mercado do Bolhão, no Porto, André Ventura defendeu que «todas as intervenções do Dr. Pedro Passos Coelho até hoje foram no sentido de mostrar que a linha política que o Chega estava a seguir era a linha certa na família, na integração, na imigração, nas questões de ideologia de género, na segurança». O líder deste partido de extrema-direita está até convencido de que Passos, na solitária solidão da urna, «vai votar no Chega nestas eleições».
Não espanta que Montenegro e Ventura tenham esta relação com o Passos Coelho. Ambos são, afinal de contas, produtos desse período negro da nossa história recente (Montenegro catapultado para líder da bancada parlamentar do PSD, André Ventura escolhido como candidato autárquico do PSD a Loures). Devem-lhe as suas carreiras políticas. Há filhos e há enteados, mas isso não impediu o líder da Iniciativa Liberal de expressar a sua admiração pela figura.
Pregando às viúvas neo-liberais do passismo, Rui Rocha (que em falta de apoio popular nas ruas prefere visitar administrações de empresas) assumiu que o que a Iniciativa Liberal tem para oferecer aos portugueses é «precisamente esse ímpeto reformista» defendido pelo Passos Coelho: o ímpeto de tudo privatizar, de cortar pensões, salários e direitos laborais, de tudo sacrificar no altar do lucro.
Puxando para si o legado do líder da Troika, esse ímpeto reformista que os liberais assumem como seu, Rocha afirma ter a «capacidade de olhar para as áreas onde a AD não foi capaz de introduzir a mudança absolutamente necessária e urgente no país». Passos foi além da Troika, a Iniciativa Liberal quer ir além do PSD/CDS-PP que corporizou a sua política.
«Está [Passos] sempre a dizer que temos as pessoas, as ideias, as competências, os quadros para reformar o país. Esse é o nosso discurso e parece muito importante que Pedro Passos Coelho tenha dado esse alerta, como quem diz: aquilo que não aconteceu nesta legislatura, tem de acontecer na próxima», afirmou Rocha, já a sonhar com os cargos ministeriais que vai ocupar num futuro Governo PSD/CDS-PP.
Às eleições legislativas de 2025 concorrem diversos partidos da direita, mas, lá no fundo, só existe uma linha política para a direita portuguesa, do centro à extrema: o projecto político de desmantelamento do estado social e de delapidação do Estado em favor dos interesses privados dos grandes grupos económicos, esmagando, pelo caminho, as vidas dos jovens, dos pensionistas e dos trabalhadores. O Passos morreu, viva o Passos!
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