Em campo, a fase de grupos fecha-se para os portugueses esta tarde. Tendo vencido as duas primeiras partidas e garantindo o apuramento, falta agora confirmar que Portugal passa em primeiro, podendo beneficiar desse lugar como uma vantagem para tentar chegar longe nesta prova. No discurso de Fernando Santos, o Mundial 2022 surge como uma possibilidade. Essa é a parte a que o nosso selecionador já nos habituou. Objetivos altos. A forma de os alcançar é que parece, este ano, conjugar-se de uma diferente forma. É à procura de evidenciar as características e as qualidades de Bernardo Silva e Bruno Fernandes que o Engenheiro organiza a equipa. Isso tem trazido mais posse de bola, maior capacidade de controlo das partidas e um Bruno a colocar-se como figura, com duas assistências e dois golos somados.
Mas as surpresas de Fernando Santos não se ficam por aqui. O reconhecimento da importância do controlo a partir dos seus homens do meio-campo tem obrigado Cristiano Ronaldo a acomodar-se a uma nova realidade em que, apesar de se manter como centro mediático do conjunto, desvanece-se a sua liderança noutros territórios. No jogo, percebe-se como as suas movimentações são pedidas exclusivamente na área do ponta-de-lança. Na conferência de imprensa, percebe-se a liberdade como o selecionador colocou Pepe acima do CR7 como o «monstro» do grupo. A vitória de Portugal perante a Coreia do Sul de Paulo Bento deverá levar a nossa seleção a evitar o confronto com o Brasil. Os canarinhos, no entanto, só mais tarde entrarão em campo. Mas a vantagem nos pontos e na diferença de golos que ambos transportam deverá ser suficiente para manter as duas equipas separadas até a uma eventual final.
2030 no horizonte
Para 2030 já não há contrato de Fernando Santos, nem as ambições mais otimistas de Cristiano Ronaldo lhe permitirão acreditar que possa ainda estar em campo. Mas, no Catar, Portugal trabalha arduamente para garantir a co-organização dessa prova, em conjunto com a Espanha e a Ucrânia. A Federação Portuguesa de Futebol tem tido a capacidade, ao longo da última década, de fazer crescer a sua influência nas principais organizações do futebol mundial, com a preparação e integração de quadros portugueses nas mais altas instâncias. O facto de ter, também, um dos jogadores mais mediáticos do mundo e um dos agentes mais influentes, foi permitindo encontrar lugar em mesas onde, tradicionalmente, Portugal era visto como um elemento menor. Esses tempos passaram. A conjugação de interesses com Espanha e a inclusão, mais tarde, da Ucrânia, fortaleceram a unanimidade europeia no voto por esta candidatura.
Mas com a decisão a ser tomada no Congresso da FIFA que se realizará em 2024, há muitos outros votos por conquistar. A América do Sul reunir-se-á em volta da candidatura conjunta de Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, evocando o centenário do primeiro Mundial jogado em terras uruguaias. África anseia a uma nova organização com a candidatura a solo de Marrocos. Mas divide-se perante uma candidatura intercontinental que junta Egito, Grécia e Arábia Saudita. Nesta última parecem concentrar-se os principais receios de concorrência. Pela influência que os países poderão granjear nas diferentes confederações e pela forma como os sauditas colocam em campo meios aparentemente infinitos. A contratação de Messi como embaixador para o Turismo, a compra do Newcastle, o desenvolvimento da sua seleção sob as rédeas de Hervé Renard e a ambição de ter Cristiano Ronaldo a jogar na sua Liga assim o expressam. Contra esse poder, Portugal exerce o trabalho dos diplomatas. Daí que a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, António Santos Silva e Ana Catarina Mendes, hoje, em substituição do primeiro-ministro António Costa, se possam revelar essenciais para que Portugal garanta, pelo menos, um dos dois Mundiais que quer ganhar.