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O discurso de ódio xenófobo, homofóbico e racista que Jair Bolsonaro, candidato fascista e do patronato brasileiro à Presidência do Brasil, tem veiculado está a ter equivalência nas ameaças que os seus apoiantes proferem nas redes sociais contra quem se lhe opõe. Nas ruas, o contexto das Eleições 2018 fica marcado por agressões morais, físicas e mesmo por assassinatos.

As vítimas do clima de violência alimentado pelo candidato mais votado na primeira volta (46% dos votos), que faz a defesa aberta da tortura na ditadura militar brasileira e diz que «vai metralhar a pretalhada», são também apoiantes de Bolsonaro. Mas, na grande maioria, os agressores são seus apoiantes declarados, refere o Brasil de Fato.

Neste contexto, a Agência Pública realizou um mapeamento inédito – que está a ser organizado no portal Vítimas da Intolerância – dos relatos de ameaças e agressões deste o início deste mês. Nele, revela-se que, no período de dez dias, ocorreram pelo menos 70 ataques com motivação política.

A grande maioria – 50 – foi cometida por apoiantes de Bolsonaro, sendo que 33 ocorreram no Sudeste do país. O Mapa da Violência da Extrema Direita no Brasil também mapeou perto de 50 ataques desde o dia 1 de Outubro.

Alguns casos de violência

Um dos casos mais graves, ocorrido logo após serem conhecidos os resultados da primeira volta, foi o do assassinato do mestre de capoeira Moa do Katendê, esfaqueado em Salvador da Bahia depois de defender o seu voto em Fernando Haddad (PT), apurado para a segunda volta com 29% dos votos.

No estado do Rio de Janeiro, em Nova Iguaçu, a trans Julyanna Iguaçu, ex-vocalista do grupo Furacão 2000, foi atingida na cabeça e no pescoço com uma barra de ferro, tendo sido ainda pontapeada e recebido socos. O ataque foi perpetrado, segundo indica o Brasil de Fato, por gente que gritava «Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados, essa gente lixo tem que morrer».

No Paraná, o cineasta Guilherme Daldin, que vestia uma T-Shirt vermelha com a imagem do ex-presidente Lula da Silva, foi atropelado na noite eleitoral. Ao Brasil de Fato, Daldin contou que estava a comemorar o resultado da primeira volta no Bar do Torto, em Curitiba, quando foi atingido por um carro que «bateu com tudo» nas suas costas.

Daldin relatou ainda que, ao comparecer na esquadra da Polícia Civil para dar conta da ocorrência, se deparou com o computador da escrivã coberto de autocolantes em apoio a Bolsonaro. A escrivã ter-lhe-á dito que era apenas uma estagiária e que os autocolantes vinham «de cima», do próprio chefe.

«Crime eleitoral»

Para Beatriz Vargas, fundadora da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UNB), aquilo com que Daldin se deparou na esquadra configura uma situação de «crime eleitoral», algo que é «do conhecimento de qualquer funcionário público».

Em seu entender, se Bolsonaro for eleito presidente «as expectativas não são boas». «No mínimo, um futuro governo dele seria de uma insegurança e irresponsabilidade total», «até por conta das promessas de campanha declaradas, o endurecimento da concepção de segurança pública tradicional voltada ao combate, a autorização para o policial matar», alertou.

Vargas destacou também a resposta policial a um dos ataques mais emblemáticos da última semana: uma jovem que usava autocolantes com a expressão «Ele não», de repúdio a Bolsonaro, foi abordada por três homens em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), que a agrediram a soco e desenharam uma suástica na sua barriga com um canivete.

Em entrevista, o chefe da esquadra de Porto Alegre onde a jovem apresentou a ocorrência afirmou que o símbolo desenhado é «budista», de «harmonia, de amor, de paz e de fraternidade». Sobre o caso, a professora da UNB afirmou que as autoridades devem cumprir a sua função jurídica conforme a moldura legal.

«É espantoso o caso do comissário de Porto Alegre. Mostra a contaminação de um ambiente de ódio, uma cultura que vicia o comportamento institucional», denunciou Beatriz Vargas.