«Os vereadores que queiram o nosso dinheiro têm de apoiar os nossos associados. Se são deputados à procura do nosso apoio, têm, primeiro, de estar ao nosso lado nos piquetes. Se são um Governo que fica parado a assistir a ataques contra os trabalhadores, então, independentemente da vossa cor política, vamos combater-vos». O discurso de Sharon Graham, secretária-geral da central sindical Unite the Union, foi ovacionado por cerca de 800 de sindicalistas que participaram na conferência do maior sindicato do Reino Unido.
Horas antes, Angela Rayner, ministra da Habitação, Comunidades e Administração Local e a segunda figura mais importante do Labour, que chegou ao partido através do seu envolvimento no sindicato, foi suspensa do Unite. Uma «esmagadora» maioria dos delegados na conferência aprovou a moção que, para além da suspensão de Rayner e de vários políticos do Labour eleitos na cidade de Birmingham, vai abrir uma investigação à sua conduta, com vista à expulsão definitiva destas pessoas do sindicato.
Em causa está o ataque dos dirigentes do Labour (onde o partido tem uma sólida maioria) aos trabalhadores da higiene urbana de Birmingham, aos quais querem impor um corte salarial de 8 mil libras anuais. A greve dos trabalhadores, sem fim à vista, prolonga-se desde 11 de Março, acumulando lixo nas ruas da cidade. Em vez de apoiar os trabalhadores, Rayner furou a greve e exigiu publicamente o seu fim.
«Em todo o país, as pessoas estão a perguntar-se de que lado está o Governo do Labour e chegar à mesma conclusão: não está do lado dos trabalhadores», lamentou Graham.
O conselho de Birmingham, acusa o Unite, está a ameaçar despedir os trabalhadores da higiene urbana ligados ao sindicato, considerando-os redundantes e substituindo-os por outros, sem ligação sindical. Os comissários desta importante cidade inglesa (eleitos pelo partido conservador e apoiados pelo Labour) «acumularam mais de 2 milhões de libras em honorários e despesas, todos financiados pelos impostos municipais locais». Caso as ameaças se concretizem, o sindicato «tem de reavaliar a sua relação com o Partido Trabalhista».
No Reino Unido, os sindicatos podem ser afiliados a partidos políticos, financiando as suas campanhas. A tensão entre as duas organizações, no entanto, nunca esteve pior: quando Graham assumiu o cargo de secretária-geral, o sindicato reduziu significativamente as suas contribuições – em 2024, foram distribuídas menos de 550 mil libras a 86 deputados do Labour, uma redução drástica em relação aos quase 3.5 milhões de libras usadas pelo Unite na campanha de 2019 (na liderança de Jeremy Corbyn). O anúncio da criação de um novo partido de esquerda, dinamizado por Corbyn e a Zarah Sultana (deputada que abandonou o Labour a semana passada), ameaça quebrar uma relação de mais de um século entre os sindicatos e o Labour.
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