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|Um outro Mundial

Portugal diante do espelho no Mundial 2022

Entre o que se joga em campo e no que fora dele acontece, Portugal olha-se ao espelho nos vários temas que este Mundial sugere. Há uma competição para ganhar, mas também questões que exigem resposta. Como em tudo na vida.

CréditosJosé Sena Goulão / Agência Lusa

Portugal entra hoje em campo para fazer a sua estreia no Mundial 2022, numa partida frente ao Gana. O sorteio ofereceu à seleção portuguesa um conjunto de jogos, nesta fase de grupos, onde será sempre considerada grande favorita. Essa é uma realidade que se mantém firmada deste a conquista do Euro 2016 com Fernando Santos.

A vitória engendrada pelo Engenheiro ofereceu estatuto à representação nacional e catapultou-a para uma dimensão que o seu bom futebol, no passado, via apenas como mítica. Também assim se perceberá melhor que, apesar de ter somado ainda mais um triunfo internacional posterior, com a vitória na Liga das Nações em 2019, Fernando Santos tenha que lidar com um nível de exigência ímpar no que toca aos resultados. Sem dúvida que as últimas presenças em Mundiais, e no Europeu do ano passado, deixaram algum amargo de boca. Nesse sentido, o Catar dará à equipa portuguesa uma oportunidade de redenção. 

Esta é a geração de maior qualidade que Portugal alguma vez apresentou numa grande competição. Vinte e seis jogadores que atuam nas principais ligas europeias, com experiência competitiva, com conhecimento da realidade do jogo ao mais alto nível. Uma estrutura com profissionais de qualidade, com capacidade financeira para investir ao nível da ciência do desporto, com enquadramento nas mais altas instâncias de decisão do futebol mundial.

Em mais nenhuma área de negócios Portugal apresentará índices de semelhante alcance. Mas o futebol nem sempre tende a respeitar este tipo de lideranças. É preciso comprovar esta qualidade a cada noventa minutos. Perante uma equipa ganesa reforçada, com um técnico focado na estratégia e novos jogadores, também de grandes ligas, Portugal terá que dispor dos seus trunfos da melhor forma possível. Daí que Diogo Costa, Rúben Dias, Bernardo Silva e Bruno Fernandes, como espinha-dorsal desta equipa, precisem de estar nos seus dias para alcançar a desejada vitória. 

Os desafios que se jogam fora de campo

Como em todas as restantes seleções, o caminho para o Catar também se fez muito na forma como se discute um conjunto de polémicas que foram acontecendo fora de campo.

No caso português, as suspeitas lançadas sobre o contrato de trabalho realizado com a equipa técnica liderada por Fernando Santos obrigaram o selecionador a deixar o seu posto de especialista em futebol para se exibir na sua outra função, a de detentor e gestor de empresas. O sucesso que também aí alcança nem sempre deixou sossegado quem se quer focar apenas no futebol. Dos profissionais de elite espera-se um tipo de dedicação e exclusividade que o Engenheiro não revelou. Mas também para sarar essas feridas nada haverá como uma vitória em campo. 

«Trabalhadores da Embaixada portuguesa no Catar sofrem de mesma falta de direitos de que tanto temos ouvido falar relativamente aos migrantes no Catar. Que trabalhadores do Estado português passem por este tipo de situações é uma realidade que não podemos ignorar e que nos deve envergonhar.»

Cristiano Ronaldo foi outro dos elementos que esteve no foco mediático nas últimas semanas. A sua situação em Manchester, a entrevista concedida a Piers Morgan e a forma como a sua sombra aparece a cada canto de qualquer tema ou conversa sobre a seleção portuguesa parece já um quadro fora de tempo, tendo em conta a idade e o momento de forma do jogador. Mas Portugal ainda não sabe viver sem os seus heróis e, por enquanto, é o madeirense quem ainda pode e quer vestir essa capa. O campo será o seu tribunal. 

Não se fica pelas figuras da seleção a polémica portuguesa no que toca ao Mundial. Os reparos feitos em relação à organização do evento foram concentrados numa entrevista de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, ao jornal espanhol Marca. A importância das mesmas não tiveram grande eco em Portugal, nem através dos meios oficiais da Federação, o que será de lamentar. Seria importante esse contributo para melhor percebermos o impacto da presença das altas figuras do Estado no Catar durante estas semanas. O cumprir das suas funções não deve, em caso algum, fazer com que se desvalorize a importância das lutas que se travam em redor desta competição.

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, em diferentes momentos, não souberam equilibrar o apoio necessário à representação portuguesa com a necessidade de marcar uma posição perante a organização deste evento. Nos últimos dias ficámos ainda a saber, através do Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (STCDE/CGTP-IN), que trabalhadores da Embaixada portuguesa no Catar sofrem de mesma falta de direitos de que tanto temos ouvido falar relativamente aos migrantes no Catar. Que trabalhadores do Estado português passem por este tipo de situações é uma realidade que não podemos ignorar e que nos deve envergonhar.

Dia de estreia também para o Brasil

As expetativas dos brasileiros à porta de cada Mundial são sempre enormes, mas talvez este ano essas possam ser encaradas como mais próximas da realidade. É um facto que a equipa liderada por Tite apresenta um número de soluções incrível, com dois dos melhores guarda-redes do mundo, um conjunto de centrais mais do que rodado ao mais alto nível e uma equipa de sonho do meio-campo para a frente.

Num grupo onde Sérvia e Suíça alimentam iguais ambições de alcançar um lugar nos oitavos-de-final, a equipa canarinha não pode correr riscos nesta jornada inaugural, em que os sérvios chegam com vontade de fazer esquecer as habituais distrações extra-futebol que têm condenado prestações ao melhor nível nestas provas.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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