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Sindicato percorre o País contra destruição dos CTT

A partir de 29 de Agosto, e até meados de Setembro, prosseguem as acções de esclarecimento e denúncia do SNTCT junto das populações e eleitos autárquicos.

Os CTT foram totalmente privatizados em 2014, pelo governo do PSD e do CDS-PP
CréditosManuel Almeida / Agência Lusa

Em causa, admite o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT/CGTP-IN) num comunicado, está a necessidade de «dar a volta» e «parar a destruição» do que resta de bom e do «excelente serviço» que os CTT já prestaram, bem como do seu «capital mais importante», ou seja, os seus funcionários. 

Neste sentido, desde o passado dia 16 de Agosto que o SNTCT está a levar a cabo acções públicas nas capitais de distrito e regiões autónomas. Para os próximos dias estão agendadas iniciativas nos distritos do Centro: Aveiro e Viseu (29 de Agosto), Guarda e Castelo Branco (30 de Agosto), e Coimbra (31 de Agosto). 

A estrutura sindical defende a reposição nos Correios, «criminosamente privatizados», de um conjunto de aspectos, a começar pelo serviço público postal de qualidade. «Apesar de o primeiro-ministro e o Governo terem recusado a renacionalização dos CTT, desautorizado a Anacom e terem dado, de mão-beijada, aos accionistas dos CTT, um contrato de prestação do Serviço Postal Universal leonino para os últimos, o decréscimo na qualidade do serviço prestado está à vista de todos» e as sucessivas multas do regulador, «por incumprimento dos padrões mínimos de qualidade são disso a prova», refere-se na nota. 

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CTT: Milhões de lucro e falhas no serviço

O anúncio de que o lucro dos CTT no ano passado mais do que duplicou face a 2020, para 38,4 milhões de euros, surge poucos dias depois de a Anacom relatar falhas em vários centros de distribuição.

CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

Os CTT obtiveram no ano passado um resultado líquido consolidado de 38,4 milhões de euros, «21,7 milhões de euros acima do obtido em 2020», refere a empresa em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

No período em análise, os rendimentos operacionais subiram 13,8% para 847,9 milhões de euros, «reflectindo um consistente processo de transformação do negócio com menor dependência do correio tradicional», sendo que esta tendência «foi sustentada pelo crescimento da área Expresso e Encomendas (+32,5% face a 2020), do Banco CTT (+20,4% face a 2020) e dos serviços financeiros e retalho (+11%)». 

Desde a privatização da empresa, que em Janeiro propôs aumentos salariais de 13 cêntimos, que o registo de lucros e distribuição de dividendos tem convivido com o encerramento de estações e a livre degradação do serviço postal.

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Nos CTT, o Governo cede em tudo ao Grupo Champalimaud

O Governo assume a submissão total face às reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT, através da resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República.

Os comunistas apelam ao Governo que assuma as suas responsabilidades e trave o caminho de degradação do serviço postal
Créditos / União dos Sindicatos de Évora (CGTP-IN)

A realidade é tramada. Estava o Governo – e os comentadores do costume – tão empolgado em demonstrar que estamos perante o governo mais à esquerda desde o Conselho de Comissários do Povo, e que os Decretos da Paz e da Terra só não iam entrar em vigor por culpa do voto contra do PCP ao Orçamento do Estado, e eis que sai o Diário da República de 3 de Novembro com mais uma dose de realidade pura e dura (como se não chegasse o estado do SNS, os salários congelados, o preço das rendas e da energia, a habitação inacessível, etc.).

Veio esta realidade na forma da publicação da resolução do Conselho de Ministros sobre os CTT, aprovada ainda em Setembro, mas que só agora viu a luz do dia (coincidências...). E não é que o Governo ajoelha soezmente aos pés das reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT? É que a submissão é total. Vejamos alguns exemplos:

– Os capitalistas que esmifram a concessão pública vinham-se queixando do facto de a ANACOM não se submeter aos seus ditames (o que de facto é uma raridade, pois os reguladores independentes foram criados para serem independentes do poder político e submissos ao poder económico). E o Governo determina que «os parâmetros de qualidade do Serviço Postal Universal e os objectivos de desempenho passam a ser definidos pelo concedente», deixando de ser fixados pela ANACOM como prevê a Lei Postal!

«E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.»

– Os capitalistas que esbulham os utentes dos Correios vinham reclamando do facto de a ANACOM não os autorizar a maiores aumentos de preços (apesar de terem desde a privatização já imposto um aumento de 56% na tarifa base). Pois o Governo determina «que os preços são aprovados pelo Governo, sob proposta da concessionária», em vez de serem fixados pela ANACOM como determina a Lei Postal em vigor.

O carácter «revolucionário» da resolução só é reflectido pelo facto de a mesma determinar que, como a lei actual não permite ao Governo fazer o que quer, o Governo irá primeiro mudar a lei por decreto e depois fazer o contrato com o privado. Tudo antes de 31 de Dezembro.

E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.

E, entretanto, ainda se prepara para que todos paguemos uns milhões de euros em «equilíbrio financeiro da concessão». Sobre isso, sobre o escândalo de o contrato de concessão remeter «os litígios» entre o Estado e o privado para os «tribunais» arbitrais, a resolução do Conselho de Ministros nada diz, o que augura que o mesmo mecanismo de transferência de fundos públicos para os bolsos privados está salvaguardado no próximo contrato de concessão.

Claro que todo este percurso só é possível porque ele ocorre perante o silêncio cúmplice da comunicação social dominada, fiel intérprete dos desejos e interesses do grande capital. Fidelidade que partilha com um Governo que em seis anos sempre se opôs à renacionalização dos CTT, que seis vezes se aliou a PSD e CDS-PP (e também ao Chega e à IL) para travar projectos de renacionalização, e que apenas aceitou aprovar declarações de intenções que nunca pensou concretizar e criar grupos de trabalho que nada estudaram e se limitaram a ganhar tempo. Como o comportamento presente deixa exposto.

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Apesar disso, o Governo não só tem rejeitado a renacionalização da empresa, reivindicada por trabalhadores e utentes, como decidiu atribuir, em Fevereiro, um novo contrato de concessão por um período de sete anos, que o Tribunal de Contas entendeu por bem dispensar de visto

No início desta semana, a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) divulgou o resultado de 22 acções de fiscalização em 13 centros de distribuição postal, entre Julho de 2021 e Janeiro deste ano. Segundo confirmou então a Anacom, existem «demoras significativas no encaminhamento do correio prioritário e correio normal, assim como a ausência de distribuição postal em certos giros em determinados dias, situações que perduram por períodos de tempo bastante alargados».

Para o regulador, os CTT deviam corrigir as deficiências verificadas «o mais urgentemente possível», pondo termo aos atrasos na distribuição do correio que chega diariamente a cada um dos centros de distribuição. 

A degradação do serviço postal não é novidade para os utentes e tampouco para a Anacom, que em 2020 chegou a determinar a descida dos preços devido ao incumprimento de indicadores de qualidade.

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Acrescenta-se a necessidade de «prover trabalhadores em número suficiente», nas ruas e balcões. Actualmente faltam, a nível nacional, mais de 750 carteiros e 250 técnicos nos balcões. «Os giros dobrados há meses, os balcões vazios há outros tantos, os trabalhadores esgotados e a quem ainda tentam restringir o gozo de férias com a família, tudo isto tem que ter um fim», defende o sindicato. 

No texto alerta-se igualmente para a necessidade de melhores condições de trabalho para todos os trabalhadores, «sujeitos à "lei da rolha"», não podendo dizer, por exemplo, que o correio que estão a distribuir com atraso (por vezes de semanas) teria sido distribuído a tempo e horas se não tivessem visto os seus giros acrescentados por extinção de outros e se cada giro tivesse um carteiro titular.

O SNTCT defende que a administração dos Correios tem que negociar/pagar salários que respeitem a qualificação profissional de cada trabalhador. Afinal de contas, com mais de 38 milhões de euros de lucro em 2022, «em que 36 milhões foram directa ou indirectamente para o bolso dos accionistas», a administração da empresa aplicou, unilateralmente, um aumento de 7,50 euros a cada trabalhador. 

Por outro lado, «a gestão privada dos CTT tem que acabar com a lamúria de, diz, não ter quem queira trabalhar na empresa, fundamentalmente os jovens», uma vez que «lhes oferece trabalho só para o Verão e, pasme-se, quando mesmo assim algum jovem ou menos jovem se lhes dirige, só lhes oferecem uma ou duas semanas de trabalho, quando não são dois ou três dias». 

O SNTCT critica também o «assédio moral» por parte da administração, que «tenta menorizar» trabalhadores com carreiras longas para os levar a sair da empresa, com graves penalizações. 

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