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Nenhum jovem é trans em virtude do contágio social

Artigo publicado na Pediatrics, uma das publicações científicas mais reputadas do mundo, desacredita a teoria do contágio social, segundo a qual os jovens seriam influenciados socialmente a assumir-se trans.

CréditosMário Cruz / Agência Lusa

Entre 2,5% e 8,4% de todas as crianças e jovens no mundo identifica-se como transgénero ou não-binário. Estas percentagens têm vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. O considerável crescimento destas categorias levou ao desenvolvimento da hipótese do contágio social.

Segundo esta teoria, avançada, pela primeira vez, num artigo de 2018, publicado na revista PLOS One, muitos jovens estariam a experienciar, subitamente, um conflicto entre o sexo e a sua identidade de género, pouco antes, ou durante, a puberdade. O conflicto, sentido por estes adolescentes, seria atribuível a influências sociais, especialmente entre jovens que nasceram com o sexo feminino.

A teoria, que foi alvo de muitas críticas depois da sua publicação e a necessidade, por parte da PLOS ONE, de clarificar algumas das posições nele contidas, afirma que os jovens são compelidos a assumir-se trans porque os seus amigos também o fizeram.  

Um novo estudo, publicado na quarta-feira, dia 3 de Agosto, na revista Pediatrics, rejeita integralmente esta posição: «a hipótese de que jovens transgénero ou não-binário se identificam como tal por contágio social não resiste ao escrutínio e não deve ser utilizada para argumentar contra a prestação de cuidados médicos para adolescentes trans, em processo de afirmação do seu género», refere, em comunicado, o Dr. Alex S. Keuroghlian, director do Centro Nacional de Educação para a Saúde LGBTQIA+.

Ser transgénero não é uma moda social

A análise dos dados recolhidos em 2017 e 2019 pelo Centro de Prevenção e Controlo de Doenças do EUA, que recolhe dados sobre identidade de género entre jovens dos 12 aos 18 anos em 16 estados, permitiu aos autores do estudo demonstrar como nenhuma das hipótese da teoria do contágio social eram fundamentados pela realidade.

Em 2017, 2,4% (2 161 entre 91 937) dos jovens entrevistados identificava-se como transgénero ou não-binário. Essa percentagem diminuiu significativamente apenas dois anos depois: em 2019, 1,6% (1 640 entre 105 437) dos jovens assumia-se trans.

Em 2019, a maioria dos jovens trans tinha nascido com o sexo masculino, refutando outro dos pilares da teoria do contágio social, que considera as pessoas nascidas com o sexo feminino mais susceptíveis.

«A ideia de que tentativas de fugir ao estigma da minoria sexual levam os adolescentes a assumir-se como transgénero é absurda, especialmente para aqueles de nós que prestam tratamento a jovens trans», afirma o Dr. Jack Turban, coordenador do estudo e professor-assistente na Universidade da Califórnia.

«Os efeitos prejudiciais destas narrativas infundadas na estigmatização adicional dos jovens trans não podem ser subestimados. Esperamos que os clínicos, actores políticos, jornalistas e qualquer outra pessoa que contribua para a política de saúde revejam estas conclusões».

Mesmo um conceito desacreditado não deixa de ter influência no debate político

A hipótese do contágio social «tem sido utilizada em recentes debates legislativos [nos EUA] para defender e, subsequentemente, decretar políticas que proíbem a assistência médica de afirmação de género para adolescentes trans».

Os cuidados de saúde de afirmação de género, como definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), abrangem uma série de intervenções sociais, psicológicas, comportamentais e médicas concebidas para apoiar e afirmar a identidade de género de um indivíduo.

Estes projectos de lei partem do pressuposto de que os jovens são, na adolescência, demasiado novos para saber o que querem, e que, por isso mesmo,  precisam de ser protegidos das suas próprias escolhas e identidades, neste caso irreversíveis.

No entanto, de acordo com um artigo da autoria da médica Christina Roberts, publicado na mesma edição da Pediatrics, «as directrizes de tratamento sugerem que quase todos os adolescentes têm a capacidade mental de dar consentimento informado a tratamentos com efeitos irreversíveis até aos 16 anos de idade, e alguns pacientes tão jovens como 14 anos podem demonstrar essa capacidade».

Não é frequente que pessoas trans se arrependam do processo: a maioria dos adultos que suspende o tratamento de hormonas fazem-no por razões «não relacionadas com o desejo de mudar a sua identidade do género, mas sim pela pressão da família, dificuldade em obter emprego, ou discriminação».

Vários estudos realizados entre jovens transgénero pré ou pós-pubescentes, que recebem medicamentos de afirmação do género em clínicas especializadas, apontam para uma percentagem muito pequena de desistências: «apenas 1,9% a 3,5% dos pacientes interromperam o tratamento», pelas mais variadas razões.

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