Face a uma total ausência de ideias e projectos, a extrema-direita, um pouco por todo o mundo, parece estar alinhada, e confiante, em travar uma patética «guerra cultural» contra os direitos sexuais e reprodutivos das populações, particularmanente daquelas que, durante séculos, foram alvo da brutal violência do machismo e homofobia.
No mesmo dia em que DeSantis fazia o seu anúncio, a deputada Carla Castro (que há poucos meses recebeu 44% dos votos dos militantes da Iniciativa Liberal (IL)), afirmava no Parlamento, em dia de discussão de vários projectos dedicados à protecção de pessoas trans, o «princípio de rejeitar soluções extremistas, desenhadas para rentabilizar eleitoralmente nichos radicalizados que promovem o confronto social».
Castro e DeSantis partilham a mais reaccionária das mundividências. Seja na Flórida, seja em Lisboa, a extrema-direita recorre ao papão da cultural war (o confronto social é a tradução da IL) para evitar discutir o seu próprio programa, o seu próprio projecto para toda a sociedade. Por enquanto, o mais simples é centrar a discussão nas comunidades mais marginalizadas.
O projecto aprovado ontem na Florida, proíbe qualquer referência, nos currículos dos alunos do 4.º and 12.º (até aos 18 anos) sobre a orientação sexual e identidade de género, a menos que isso seja exigido pelas normas estatais existentes (não são) ou como parte da instrução sobre saúde reprodutiva, nas aulas de educação sexual (na Flórida, os pais podem, por e simplesmente, decidir que os filhos não participam nestas aulas).
A lei, a que chamam Don't Say Gay (não digas gay), terá consequências naquilo que poderá ser leccionado em disciplinas como História ou Literatura: a rebelião de Stonewall, que despoletou uma onda de protestos em defesa dos direitos das pessoas LGBTI+ e em cujo aniversário se realizam as marchas de orgulho, é um dos eventos históricos afectados por esta lei.
Durante a sessão que aprovou o projecto, uma professora tentou, em vão, explicar as consequências nocivas de proibir a expressão sexual e de identidade de género em crianças e jovens durante esta fase, tão importante, do seu desenvolvimento: «Por favor, compreendam que se os alunos não obtiverem resposta às suas perguntas, através dos seus professores, em quem confiam, ou de pais disponíveis a falar sobre isso com os seus filhos, provavelmente encontrarão as respostas com os seus colegas ou pela Internet», onde não será possível confirmar se a informação que recolhem é saudável ou fidedigna.
Ron DeSantis perfila-se, neste momento, como o maior opositor de Donald Trump na corrida à nomeação dos Republicanos para as próximas presidenciais nos EUA. A necessidade de afirmação levou-o, nos últimos meses, a acentuar a sua retórica e prática homofóbia e machista.
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