Sector a sector, a bússola que guia a acção governativa pauta-se pelo favorecimento dos mais ricos, por uma soberba que está de mãos dadas por um profundo desprezo por aqueles que menos têm na sociedade. O Governo sabe que para continuar a alimentar as elites é necessário saquear os pobres e, para isso, recorrer à correlação que existe na Assembleia da República para, ardilosamente, meter em prática todo o seu projecto.
Veja-se no caso da habitação. O que está em marcha é uma política de total favorecimento dos senhorios, de alienação da coisa pública. Desde benefícios fiscais a especuladores, a descongelamentos de rendas, o eixo deste sector passa por ignorar por completo quem tem a corda na garganta. O maior exemplo disso são as chamadas «rendas moderadas», aquelas rendas que podem ir até aos 2300 euros, que foram definidas com base nos agregados com rendimento mensal de cerca de 5750 euros.
O pacote laboral é também a prova do algodão, sendo que a melhor descrição do mesmo é «declaração de guerra aos trabalhadores». No sector laboral, a mando dos grandes grupos económicos, o Governo procura a reintrodução do banco de horas individual; destruir o direito a horários flexíveis por motivos familiares, como amamentação e adaptação de horários; facilitar despedimentos sem justa causa; alargar os prazos e tipos de contratos a termo, intensificando a precariedade; e condenar os trabalhadores aos baixos salários.
Também o Serviço Nacional de Saúde espelha a visão social do Governo. O regresso das PPP, o desmantelamento do sector público, a obstaculização de soluções que visem reforçar a capacidade de resposta, ou as longas listas de espera nas urgências, consultas e cirurgias revelam que a política colocada em prática vai no sentido de dificultar o acesso universal à saúde, auxiliando os grupos privados do negócio da doença.
A súmula de tudo está, então, nas declarações de Fernando Alexandre, ministro da Educação. Apesar do mortal encarpado que realizou para tentar corrigir o que foi dito, o ministro foi, naquele momento, porta-voz da visão que o Governo tem dos mais desfavorecidos. Este é, afinal, o ministro que queria voltar a aumentar as propinas, penalizando os estudantes com menos rendimentos. A polémica não surge somente por dizer que os alunos oriundos de famílias com rendimentos mais baixos degradam os serviços públicos. Surge, porque a acção governativa tem ajudado a reforçar ambos os cenários: pobreza e menos serviços públicos.
Este é o Governo que declarou guerra ao povo e aos trabalhadores. Do conceito de «rendas moderadas», ao pacote laboral, passando pela propositada destruição do SNS, todas a acções deste Governo procuram atacar quem menos tem. As declarações de Fernando Alexandre são mais um episódio, revelador de um ódio classista que rege a acção do Governo PSD/CDS-PP.
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