«Convém mas é não confundir género humano com o Manuel Germano», advertia o escritor Mário de Carvalho. Neste caso, é importante não confundir estas tristes exibições com a justa solidariedade com o povo ucraniano. É incauta a defesa de um regime, liderado por Volodymyr Zelensky que, na semana passada, aproveitando o estado de guerra, avançou com a proibição dos partidos políticos da oposição.
«Mas poderia um povo que perdeu mais de oito milhões de vidas na batalha contra o nazismo, apoiar o nazismo?», questionava Zelensky. Se por um lado é crucial não confundir o povo ucraniano com o nazismo, é igualmente fundamental denunciar e condenar os elementos neo-nazis que pululam nas forças armadas do país. E já se vai tornando difícil ocultar a sua omnipresente existência.
Até o facto de Zelensky ser judeu é um contra-argumento frequentemente utilizado para desviar a atenção de um problema sobejamente identificado desde 2014, a presença de forças neo-nazis nas forças armadas ucranianas e a existência de grupos para-militares de extrema-direita, muitos deles assumidamente nazis.
Os nazis de Schrödinger: «não existem» mas não falham uma sessão fotográfica
Naquilo que só poderá ser, de acordo com essa narrativa, mais uma estranha coincidência, foi a vez do próprio Zelensky, Presidente da Ucrânia, partilhar a fotografia de um soldado do seu exército a usar uma insígnia nazi. A ocasião foi, curiosamente, a celebração do Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo, data em que se comemora a rendição da Alemanha nazi em 1945.
Não é a primeira vez que acontece. No dia internacional da mulher, 8 de Março, a NATO teve a mesma ideia, partilhando a fotografia de uma militar que ostentava, no peito, o Sol Negro, criado e utilizado pelas SS, a organização paramilitar do partido nazi alemão e, mais recentemente, pelo batalhão Azov.
Tal como aconteceu com Zelensky, a imagem foi rapidamente apagada das redes (pode ainda ser visitada numa das páginas da internet que arquivam conteúdo), não sem antes deixar uma questão no ar: se, após a invasão, o número de forças neo-nazis integrados no exército ucraniano seria, alegadamente, residual, porque é que não param de aparecer seus elementos em fotografias oficiais das forças militares da Ucrânia?
Simbologia de ódio
«Entre outros usos, a Totenkopf [caveira ou death's head], tornou-se o símbolo de um dos três ramos das SS: a SS-Totenkopfverbände», a unidade da caveira, refere a Liga Anti-Difamação, ADL, uma organização judaica que luta contra o anti-semitismo, com ligações ao estado israelita.
A função inicial desta brigada era a de gerir os campos de concentração em funcionamento na Alemanha nazi, tendo, posteriormente, sido integrados na 3ª Divisão SS Totenkopf, conhecida pela sua brutalidade e pelos crimes de guerra cometidos contra judeus, africanos e prisioneiros de guerra.
Era este mesmo símbolo, pertencente à divisão nazi, que o soldado ucraniano, partilhado por Zelensky, exibia orgulhoso na sua farda. A situação toma contornos ainda mais grotescos se tivermos em conta que o presidente da Ucrânia não só é judeu, como parte da sua família foi morta nos mesmo campos de concentração geridos pelos Totenkopf.
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