|José Goulão

O «Dia da Europa» esconde a ameaça nazifascista

Os governos da União Europeia limitam-se a assinalar a derrota hitleriana em cerimónias burocráticas e restritas das suas desclassificadas classes políticas e nas quais o povo não cabe nem poderia caber. E fazem-no com zero de convicção e 100% de História falsificada.

«Não os 80 anos da derrota do nazifascismo, mas os 75 anos de uma chamada Declaração Schuman, por eles considerada o primeiro passo no processo de integração europeia»Créditos / DR

O  dia 9 de Maio não significa o mesmo para todas as nações da Europa. O que poderia ser surpreendente, até mesmo absurdo, uma vez que a data representa a derrota do nazifascismo, o maior flagelo continental dos últimos séculos.

Dia 9 de Maio é o Dia da Vitória, a evocação de uma jornada de alegria incontida de todos os povos do continente europeu. Celebrações próprias de um acordar leve e aliviado depois de uma interminável noite de pesadelo. 

Essa alegria extravasou sem restrições, por momentos sem quaisquer manchas ou sombras nos rostos, apesar de quase todos os que celebraram a liberdade terem pelo menos um familiar morto ou ferido durante os seis anos de conflito; aos quais devemos acrescentar os três catastróficos anos da Guerra Civil de Espanha, primeira e sangrenta imagem carimbada pelo terrorismo nazifascista.

Apesar do acto de liberdade, humanismo, esperança e democracia que foi a assinatura da paz sobre os escombros do regime hitleriano, celebram-se agora duas efemérides evocando o dia 9 de Maio: os povos da Europa e os governos de nações que mais contribuíram e mais sofreram para que a paz fosse possível, assinalam os 80 anos do Dia da Vitória; os governos dos «aliados ocidentais», que esbracejam tentando salvar-se do naufrágio dessa entidade artificial que denominaram União Europeia, celebram o Dia da Europa. Não os 80 anos da derrota do nazifascismo, mas os 75 anos de uma chamada Declaração Schuman, por eles considerada o primeiro passo no processo de integração europeia. É caso para perguntar o que há para celebrar. E os povos dos 27 fá-lo-iam se lhes fosse dada a possibilidade de alguma vez se pronunciarem sobre o assunto.

Fugir à celebração da derrota do nazismo

Os governos da União Europeia limitam-se a assinalar a derrota hitleriana em cerimónias burocráticas e restritas das suas desclassificadas classes políticas e nas quais o povo não cabe nem poderia caber. E fazem-no com zero de convicção, zero de emoção, zero de memória e 100% de História falsificada; e, simultaneamente, com um espírito provocatório, confirmando na actualidade as intenções traiçoeiras e mistificadoras com que as potências ocidentais se viram obrigadas, por uma questão de sobrevivência e de terror perante o aparelho triturador de Hitler, a fazer uma aliança com a União Soviética. 

Não valerá a pena, aqui chegados, falar de ingratidão dos governos  que excluem a Rússia das suas celebrações de plástico. Organizam-nas para fazer de conta, talvez receosos da imagem de insensibilidade que a omissão ainda poderia acarretar; e também com intuitos propagandísticos óbvios, para dar largas à sua patologia esquizofrénica, e já muito enraizada, induzida pelo culto da descabelada «ameaça russa». A campanha de publicidade paga das televisões portuguesas sobre as extremosas virtudes do «Dia da Europa» – com a participação desadequada da UNICEF, totalmente à revelia do estatuto da ONU – não escondeu as intenções de proceder a uma lavagem cerebral sobre uma evocação desconhecida por toda a gente. O que traduz a irremediável certeza dos autocratas da União Europeia de que existe uma desconexão total entre eles e os povos do continente.

«Não os 80 anos da derrota do nazifascismo, mas os 75 anos de uma chamada Declaração Schuman, por eles considerada o primeiro passo no processo de integração europeia. É caso para perguntar o que há para celebrar. E os povos dos 27 fá-lo-iam se lhes fosse dada a possibilidade de alguma vez se pronunciarem sobre o assunto.»

 

Estes procedimentos das castas políticas da União Europeia revelam, simultaneamente, a ambivalência dos seus governos e antecessores perante o nazifascismo. Usando-o nos anos 30 e 40 do século passado como instrumento para tentar concretizar a ideia fixa de destruir a União Soviética; uma estratégia que acabou por fracassar em termos militares e que, apesar disso, foi retomada agora contra a Federação Russa, de braço dado com o nazi-banderismo ucraniano, por sinal herdado e inspirado no nazismo assassino do Terceiro Reich. Negar esta evidência é uma prática governamental e mediática tornada obrigatória para construir a opinião única militarista e militarizada que nos querem impingir e também uma razão para vulgarizar a perseguição contra os cidadãos que demonstram, sem apelo, o carácter nazi do regime de Kiev e defendem uma solução negociada do conflito.

Por todas estas razões, os governos da União Europeia não se sentem confortáveis para assinalar a queda do nazifascismo ao lado dos actuais representantes de um povo e um país sem o qual não seriam quem são. Ou talvez fossem, quem sabe, porque um nazismo vitorioso poderia reciclar-se, com o andar dos tempos, na forma de uma democracia liberal como a de hoje, aplicando o neoliberalismo como receita de exploração máxima dos povos. Sentimos bem isso à nossa volta.

Os alvores da liberdade custaram 26,6 milhões de mortos

Quando consideram necessário, ainda que a contragosto, falar do desfecho da Segunda Guerra Mundial, os governos da União Europeia e o seu aparelho mediático totalitário enchem-nos os olhos e ouvidos com o estrategicamente sobrevalorizado desembarque da Normandia.

Um assinalável feito militar, sem dúvida, no qual as tropas norte-americanos, depois de anos a verem em que paravam as modas, acabaram por desempenhar um importante papel contra uma máquina nazi muito enfraquecida e desmoralizada pelos fracassos a Leste. 

Não haveria, porém, desembarque na Normandia sem que mais de 26,6 milhões de soviéticos se tivessem sacrificado para conter a esmagadora progressão hitleriana para Leste, com o objectivo primordial de conquistar a União Soviética. Mais de 26 milhões de pessoas… duas vezes e meia a população actual de Portugal. E, embora pareça cruel evocá-lo, porque se trata de recorrer a uma aritmética sangrenta, quatro vezes mais do que as vítimas do Holocausto. O despudorado sequestro sionista desta tragédia obriga a que seja absolutamente necessária uma reflexão deste tipo sobre números usados para justificar uma sinistra propaganda expansionista. São números que os nossos governos não deveriam esquecer, se tivessem consciência, um bem raro nestas terras.

«Estes procedimentos das castas políticas da União Europeia revelam, simultaneamente, a ambivalência dos seus governos e antecessores perante o nazifascismo. Usando-o nos anos 30 e 40 do século passado como instrumento para tentar concretizar a ideia fixa de destruir a União Soviética (...).»

 

Quando as tropas hitlerianas enfrentaram o desembarque na Normandia a amputação das suas tropas decorrente da campanha a Leste atingira 8,6 milhões de efectivos; tinham perdido na União Soviética cerca de 75% dos seus tanques e dos seus aviões, mais 74% dos canhões de artilharia e morteiros. Durante os seis anos de guerra o povo soviético arrasou 607 divisões alemãs; os aliados ocidentais viriam a esmagar 176 divisões. 

As condições para o desembarque na Normandia tornaram-se possíveis a partir da contenção das tropas nazis às portas de Moscovo, no Outono de 1941, a primeira derrota militar do Reich e que pôs fim ao mito da «guerra relâmpago».

A população de Leninegrado, por seu lado, resistiu vitoriosa a 872 dias de cerco selvático, no qual um milhão de pessoas morreram de fome, doenças e na sequência de bombardeamentos alemães. Os hipócritas governos ocidentais da actualidade recusam-se a reconhecer o genocídio contra o povo soviético, mas a Alemanha ufana-se de fazer reparações materiais aos herdeiros de famílias que foram vítimas do cerco: desde que se declarem judeus. A cumplicidade germânica com o fascismo e o segregacionismo sionistas não poderia ser mais repugnante.

A partir da derrota nazi na longa e mortífera batalha de Estalinegrado, na qual as tropas de Hitler perderam milhão e meio de efectivos entre 1942 e 1943, inverteu-se o rumo da Segunda Guerra Mundial; na sequência do martírio e da prolongada resistência soviética, a derrota total do Reich tornou-se possível a partir de então. 

Seguiu-se a terrível e decisiva batalha de Kursk em 1943, que envolveu o maior número de carros de combate de sempre e cuja consequência próxima foi o desembarque de tropas norte-americanas e britânicas para acelerar a libertação da Itália e tirar de campo o fascismo mussoliniano. A Operação Bagration, que permitiu depois à União Soviética libertar a Bielorrússia, a Polónia e a Lituânia, em 1944, teve um peso estratégico incalculável nos êxitos da ofensiva na frente ocidental, iniciada em Junho desse ano. 

Na cavalgada vitoriosa para Berlim, libertando a Polónia, a Hungria, a Jugoslávia, a Checoslováquia, a Noruega, a Bulgária, a Roménia, a Áustria, grande parte da Alemanha, salvando os sobreviventes de muitos dos infernos dos campos de concentração nazis, a União Soviética perdeu mais um milhão de soldados. 

A História revista por mercenários e falsários

A história revista por alguns mercenários e falsários historiadores ocidentais afirmando que só os aliados ocidentais libertaram campos de concentração nasceu nas catacumbas onde conspiram mentes transtornadas que tudo fazem para tentar substituir a realidade factual pelas suas mentiras.

«A partir da derrota nazi na longa e mortífera batalha de Estalinegrado, na qual as tropas de Hitler perderam milhão e meio de efectivos entre 1942 e 1943, inverteu-se o rumo da Segunda Guerra Mundial; na sequência do martírio e da prolongada resistência soviética, a derrota total do Reich tornou-se possível a partir de então.»

 

Quando excluem a Rússia das comemorações da derrota nazi, os governos das potências ocidentais explicam quem são e o que realmente os move: assinalam apenas as próprias vitórias,  que seriam impossíveis sem o sacrifício do povo soviético, mas não deixam de demonstrar que não foram capazes, até hoje, de disfarçar o desencanto com o facto de a União Soviética ter sobrevivido à invasão nazi. Pelo que não nos custa perceber a sanha actual do império norte-americano e do colonialismo da União Europeia contra a Federação Russa e a disponibilidade para fazerem os possíveis e os impossíveis com o objectivo de a desmantelar. Em termos práticos, arriscam-se a originar a devastação do continente, no limite a extinguir a vida no planeta para tentar alcançar o que nem as hordas de Hitler, Napoleão e outros antes deles,  os suecos, por exemplo, conseguiram.

É um comportamento natural e que nada tem de surpreendente a circunstância de a União Europeia preferir celebrar 9 de Maio não como Dia da Vitória mas como o «Dia da Europa», neste caso o 75.º aniversário da «Declaração Schuman», considerada o pontapé de saída da integração Europeia.

Percebeu-se então, como continua a verificar-se, que esse  processo não era mais do que uma via para eternizar o controlo militar, económico e político dos Estados Unidos sobre a Europa. De tal maneira assim é que bastou o lunático Trump ameaçar que essa tutela pode acabar e logo a União Europeia se enterrou numa crise de orfandade com vocação suicida.

A falácia dos Estados Unidos da Europa

Os chamados «pais da Europa» ou avós da Europa, melhor dizendo, dois dos quais – o próprio Schumann e o italiano Alcide de Gasperi, estão em vias de ser canonizados pela Santa Sé, santificando assim o nascimento da desumana da União Europeia – associaram o processo de integração continental à criação de uns Estados Unidos da Europa. Ideia retorcida, oportunista, nada democrática e, sobretudo, artificialíssima. 

Como se fosse possível fundir num magma federativo países, nações e povos da Europa com as suas identidades, culturas, tradições, línguas e ainda rivalidades nacionais, cada qual com uma personalidade arreigada e, além disso, muitos deles com séculos e séculos de independência. Fazer esse paralelismo e pretender dar-lhe forma gerou uma situação impossível de materializar e que continua a sair-nos muito cara em dignidade humana e social. Um processo desse tipo só pode ser imposto de cima para baixo, através da mentira e do autoritarismo, no sentido contrário ao da democracia.

O regime e o Estado federativo norte-americanos nada têm a ver com a Europa profunda e real. Nasceram sobre o extermínio dos povos nativos e foram-se consolidando, em  apenas 250 anos, através da união de Estados não soberanos, quase todos eles – excepto os roubados aos vizinhos – demográfica e culturalmente homogéneos, sem história e com a mesma língua. E, ainda assim, este processo apenas atingiu a unificação depois de uma sangrenta guerra civil entre as opções confederal e federal.

«Quando excluem a Rússia das comemorações da derrota nazi, os governos das potências ocidentais explicam quem são e o que realmente os move: assinalam apenas as próprias vitórias,  que seriam impossíveis sem o sacrifício do povo soviético, mas não deixam de demonstrar que não foram capazes, até hoje, de disfarçar o desencanto com o facto de a União Soviética ter sobrevivido à invasão nazi.»

 

 

Só idealistas ou, muito mais provavelmente, conspiradores mentirosos e oportunistas do pós-guerra ao serviço de interesses opostos aos dos povos europeus poderiam impôr este caminho para uma integração impossível. Daí que, afinal com a consciência absoluta das suas intenções fraudulentas, tenham erradicado as consultas populares e os referendos de qualquer etapa que conduziu à União Europeia e até a uma moeda única. Konrad Adenauer, o primeiro chanceler da Alemanha Federal pós-nazi, ele próprio rodeado de nazis reciclados, inclusivamente na formação da polícia secreta, apressou-se a declarar que os referendos eram inconstitucionais. 

Até a ideia de criar, em alternativa, uma confederação de Estados soberanos, como chegou a propôr o general De Gaulle, foi liminarmente posta de lado pelo núcleo fundador da integração, porque «subvertia a NATO» ao criar um exército europeu – sem tutela norte-americana – e estruturar uma política externa comum.

Vale a pena recordar as intenções manifestadas pelos avós fundadores e acólitos, como Winston Churchill, e compará-las com a realidade de hoje. Não será difícil concluir que vivemos há 75 anos uma ficção, transformada hoje numa realidade paralela cultivada pelo orwelliano aparelho de propaganda, que opera a anos luz da vontade e dos interesses dos povos.

Dizia Robert Schuman, ministro dos Negócios Estrangeiros de França: «a criação de uma federação europeia é indispensável à preservação da paz.»

Jean Monnet, historicamente considerado o principal progenitor da União Europeia e também o inspirador da Declaração Schuman, não emergiu, porém, dos ambientes políticos. Era um comerciante de conhaque e banqueiro com interesses dos Estados Unidos, personalidade sombria de bastidores que nunca se candidatou a qualquer cargo político. Dizia ele: «só uma federação europeia poderá tornar a guerra impensável e materialmente impossível.» Além disso, «não haverá paz na Europa se os Estados forem reconstituídos com base na soberania nacional e tudo o que ela implica.»

As ideias de Churchill eram coincidentes, mas sempre embrulhadas num fraseado imaginativo. Segundo o ex-primeiro-ministro britânico, «só a supranacionalidade poderá eliminar os males europeus dos  nacionalismos e do belicismo.» Acresce que os Estados «são demasiado pequenos para prosperarem isoladamente» e dentro de uns Estados Unidos da Europa os «trabalhadores poderão recuperar a alegria e a esperança.» Enquanto o chanceler alemão Adenauer proclamava que a reconciliação das nações «só é possível com a sua integração numa associação supranacional.»

Será que os nossos pais ou avós fundadores se enganaram nas previsões ou estavam já a meter-nos numa camisa de onze varas usando falinhas mansas e venenosas, no que são seguidos pelas classes políticas de hoje, tornadas autistas e auto-suficientes na sua mediocridade, analfabetismo e autoritarismo melífluos e suicidas?

O dia em que «não vai haver Portugal»

Um exemplar bastante meritório do actual estado de coisas e militante dos delírios imperiais – hoje «globalistas» – dos avós fundadores é o apátrida que desempenha paradoxalmente o lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa, de seu nome Paulo Rangel. Há uns tempos, numa conferência realizada no Porto a propósito dos 127 anos do «Jornal de Notícias», o indivíduo profetizou que «há-de chegar o dia em que não vai haver portugueses e não vai haver Portugal». Nessa ocasião, Rangel era eurodeputado do PSD, o partido que pretende continuar a governar Portugal e, pelos vistos, conduzir o país até à extinção. Passando por  cima do zelo do ministro candidato a ministro para acabar com a língua portuguesa antes de acabar com a pátria, assinale-se a franqueza do dito Rangel ao confessar que «os governos e os parlamentos já não têm capacidade para resolver os problemas»; ficando assim por explicar porque insiste ele em governar e deputar quando tudo em redor «tem uma dimensão extraterritorial».

«Não haverá paz na Europa se os Estados forem reconstituídos com base na soberania nacional e tudo o que ela implica.»

Jean Monnet

Mais inusitada é a reflexão que o conduziu à conclusão de que «os votos valem menos hoje do que valiam no passado». Porque andará Rangel tão empenhado na caça ao voto?

Os fundadores, pelo contrário, tiveram o decoro de não abusar da palavra democracia – foram até bastante comedidos. Os herdeiros, porém, proclamam em seu lugar uma corruptela, a democracia dita liberal, adjectivo que serve para tudo, até para tentar matar qualquer resquício democrático.

Os iniciadores do processo de integração europeia assumiam abertamente o federalismo; os seus sucessores de hoje praticam-no mas escondem-no, roubam-nos as soberanias invocando a defesa dos interesses nacionais, em suma, na sua inaptidão e com a ajuda da manipulação autoritária são ainda mais hipócritas e mentirosos.

Promessas falsas de nascença

Os antepassados da União Europeia garantiam que a integração era uma mezinha contra os nacionalismos e o belicismo. O que temos hoje? Mais nacionalismos, belicismo e o nazifascismo de regresso, em formas antigas ou actualizadas, olhados com benevolência pelas nossas classes políticas, prontas a usá-los como instrumentos dos seus interesses. São sete décadas e meia de mistificação, manipulação e mentira que os governos da União Europeia festejam, em vez da derrota do nazifascismo.

A aliança entre as cúpulas europeístas e as várias formas de nazifascismo em afirmação  não é coisa embrionária nem contra natura. Em causa não está apenas o envolvimento na defesa do banderismo de Kiev; o apoio implícito, frequentemente explícito, ao genocídio praticado pelo sionismo contra o povo palestiniano, aceitando Israel como «única democracia do Médio Oriente» e representante da «civilização e da superioridade cultural do Ocidente», torna os governos da União Europeia coautores de uma matança que nos devolve aos tempos dos horrores do holocausto. Israel é o sionismo e o sionismo é uma doutrina supremacista, racista, de apartheid e fascista – as palavras existem para ser usadas. E não são antissemitas, são anti-sionistas, conceitos não apenas diferentes mas opostos.

«Os fundadores, pelo contrário, tiveram o decoro de não abusar da palavra democracia – foram até bastante comedidos. Os herdeiros, porém, proclamam em seu lugar uma corruptela, a democracia dita liberal, adjectivo que serve para tudo, até para tentar matar qualquer resquício democrático.»

 

Os avós fundadores desta agora moribunda União Europeia insistiram no papel fundamental da integração europeia e do federalismo na defesa da paz e na criação de condições para tornar a guerra impossível. Setenta e cinco anos depois, os governos da União Europeia investem o que têm e, sobretudo, o que não têm num vergonhoso esforço de guerra em defesa de um regime fascista, não hesitando em desmantelar as já precárias estruturas sociais da maioria dos 27 países membros; e mergulhando as populações europeias em níveis de pobreza aviltantes, na supressão de muitos dos seus direitos cívicos e humanos e em situações gritantes de desigualdade. 

Pretendem assim preparar-se, sem resquício de humanismo, para lançar uma geração de jovens europeus na fogueira de uma guerra, tragédia que dizem prezar como um virtuoso caminho para a paz. Bruxelas e quase todos os governos dos 27, essa plêiade «cristã e ocidental», são autistas até perante os Papas, tanto Francisco como o actual Leão XIV que, nas primeiras intervenções, fez um apelo lancinante à paz e ao «fim da terceira guerra mundial aos pedaços», que reforçou com o grito de «guerra nunca mais». Paz, como se sabe, tornou-se uma palavra maldita na União Europeia. Não faltará quem, em Bruxelas e por essas capitais fora, sem esquecer o tal Rangel, profira a sentença de que o novo Papa vai por mau caminho

A União Europeia não pode, e não poderá, enquanto existir, celebrar o 9 de Maio como Dia da Vitória. É a ordem natural das coisas.

Neste quadro temos todos um grande desafio entre mãos: fazer o que estiver ao nosso alcance para tornar desnecessária a celebração daquilo a que chamam o dia da Europa, o que significa livrar os povos europeus dos grilhões da União Europeia.

Intervenção proferida na Conferência 80 Anos sobre a Queda do Nazifascismo, promovida pelo Canal Multipolar TV em 9 de Maio, na Casa do Alentejo, em Lisboa.

 

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