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Parlamento canadiano pede desculpa por homenagear nazi das SS

Nem Zelensky, nem Trudeau, nem as centenas de deputados canadianos se aperceberam de que alguma coisa estava mal quando um nazi foi apresentado como «veterano» da luta contra os «russos» durante a IIª Guerra Mundial.

Momento em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao lado do presidente do Canadá, Justin Trudeau, e Chrystia Freeland, ministra das Finanças e putativa candidata a um dos mais altos cargos da NATO, saúda o antigo soldado ucraniano das SS, o nazi Yaroslav Hunka, de 98 anos. Ottawa, 22 de Setembro de 2023 
Momento em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao lado do presidente do Canadá, Justin Trudeau, e Chrystia Freeland, ministra das Finanças e putativa candidata a um dos mais altos cargos da NATO, saúda o antigo soldado ucraniano das SS, o nazi Yaroslav Hunka, de 98 anos. Ottawa, 22 de Setembro de 2023 Créditos

«É devido um pedido de desculpas a todos os sobreviventes do Holocausto e aos veteranos da Segunda Guerra Mundial que lutaram contra os nazis, e é necessário explicar como é que este indivíduo entrou nos corredores sagrados da Câmara dos Comuns canadiana e recebeu o reconhecimento do seu presidente e uma ovação em pé», afirmou a Friends of Simon Wiesenthal Center for Holocaust Studies, uma organização sem fins-lucrativos dedicada à divulgação de informação sobre o Holocausto e o antisemitismo.

Em causa está a sessão organizada pela Câmara dos Comuns do Canadá para receber o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na passada sexta-feira (22 de Setembro). Depois de se dirigir aos parlamentares e ao executivo governamental, liderado por Justin Trudeau, Anthony Rota, presidente da assembleia, anunciou a presença de Yaroslav Hunka, de 98 anos, um «herói de guerra».

Este veterano da Primeira Divisão Ucraniana, explicou Rota, combateu pela independência da Ucrânia, durante a Segunda Guerra Mundial, «contra os russos e continua, ainda hoje, a apoiar as tropas ucranianas». A reacção foi unânime: centenas de representantes eleitos pela população canadiana, para além de toda a delegação da Ucrânia, ergueram-se para saudar o valoroso combatente.

«É um herói ucraniano, um herói canadiano!», afirmou Rota, «agradecemos-lhe por todo o seu serviço».

Nenhum deles, nem Volodymyr Zelensky, nem Justin Trudeau, nem Chrystia Freeland, ministra das Finanças do Canadá e pretendente a um dos mais altos cargos da NATO (neta, ela própria, de um colaborador nazi, facto que tentou ocultar ao afirmar que apenas se tratava de desinformação russa), nem Rota, nem nenhum dos 338 deputados estranhou o sentido para o qual Hunka decidiu, de livre e espontânea vontade, apontar a espingarda.

Como é amplamente sabido, esses tais «russos» integravam, durante todo o período da Segunda Guerra Mundial (tal como a Ucrânia), a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Tal como o Canadá, a União Soviética foi uma parte fundamental da resistência dos Aliados contra o nazi-fascismo. É perturbante que tal facto, parte do currículo de qualquer aluno do ensino básico, não tenha despertado qualquer tipo de questionamento por parte de qualquer um dos presentes, que continuaram a aplaudir acefalamente. 

Mais de 7 milhões de ucranianos combateram, nas fileiras soviéticas, o nazi-fascismo, recebendo, pela sua coragem, determinação e sacrifício, mais de 2,5 milhões de condecorações enquanto heróis soviéticos, como destaca a embaixada ucraniana na Grécia. Yaroslav Hunka era o inimigo.

É possível que Zelensky não conheça a Primeira Divisão Ucraniana? 

A Primeira Divisão Ucraniana é um eufemismo para 14.ª Divisão de Granadeiros da Waffen-SS, conhecida como divisão Galícia, uma divisão de infantaria, voluntária, integrada no exército nazi, composta por soldados com origem ucraniana. Yaroslav Hunka, herói do parlamento canadiano, é nada mais, nada menos, do que criminoso de guerra nazi, responsável pelo assassinato de milhares de cidadãos polacos e judeus.

Esta divisão foi, por exemplo, responsável pelo massacre de Huta Pieniacka, em que uma pequena aldeia de pouco mais de mil habitantes foi destruída, tendo a maioria das pessoas sido encurralada em edifícios a que os voluntários nazis ucranianos atearam fogo, queimando-as vivas. Relatos recolhidos pela Comissão de Instrução dos Crimes contra a Nação Polaca descrevem um cenário macabro, em que um bebé foi morto, atirado contra uma parede, e a barriga de uma mulher grávida aberta à facada.

Uma sobrevivente do ataque da Primeira Divisão Ucraniana, do veterano Hunka, Filomena Franczukowska, perdeu os pais e os três irmãos mais novos nesse dia. Numa entrevista dada ao jornal polaco de extrema-direita Gazeta Polska, Franczukowska descreveu como os ucranianos não mataram, deliberadamente, dois gémeos de 4 anos, rindo-se das crianças que tentavam acordar a mãe, por eles assassinada.

A acção do general polaco Władysław Anders (representante do governo polaco antes da guerra) e do Vaticano (estes nazis eram «católicos ferverosos e anti-comunistas» explicou Anders) foi fundamental para garantir que os sobreviventes desta divisão das SS não tenham sido enviados para a URSS, onde os esperarava um tribunal de guerra. Para além do Reino Unido, também o Canadá recebeu entre 600 a 2000 criminosos nazis ucranianos da 14.ª Divisão de Granadeiros da Waffen-SS, protegendo-os de alguma vez serem responsabilizados pelos seus crimes, ocultando as suas identidades.

Outro nazi adoptado pelo Canadá foi Peter Savaryn, também ele um ucraniano que se voluntariou para combater ao lado das SS, que veio a ocupar, nos anos 80, a posição de Reitor da Universidade de Alberta. O nazi Savaryn foi responsável por, em 1983, inaugurar o primeiro monumento em todo o mundo em homenagem às vítimas do Holodomor. Em 2015, a Rússia exigiu a deportação do nazi ucraniano Vladimir Katriuk, envolvido em massacres na Bielorússia (que inspiraram o grande clássico do cinema soviético, Vem e Vê, de Elem Klimov): o Canadá rejeitou o pedido.

O jornal judaico norte-americano Forward identificou, num blogue de veteranos desta divisão, uma biografia dedicada a Hunka, com imagens da sua participação enquanto membro das SS, incluindo uma que o identifica como um dos soldados que recebeu a visita de Heinrich Himmler (da cúpula do Partido Nazi, idealizador do Holocausto), em Neuhammer, na Polónia, em 1943.

Em Maio de 2021, o AbrilAbril noticiou a realização de uma marcha de homenagem aos nazis desta divisão, contando com a participação de algumas centenas de ucranianos no centro de Kiev. Nessa altura, após críticas de Israel e da Alemanha, Zelensky condenou «categoricamente qualquer manifestação de propaganda de regimes totalitários, em particular o nacional-socialista, e as tentativas de revisão da verdade sobre a Segunda Guerra Mundial». 

Zelensky já soube, em tempos, o que era a Primeira Divisão Ucraniana, mas pela forma acolhedora com que recebeu o nazi no Canadá, sorrindo e erguendo o punho, parece já se ter esquecido da maior parte. Uma imagem partilhada pela neta do veterano nazi dá a entender que tanto o presidente ucraniano e canadiano se encontraram com Hunka antes da sessão.

Associações judaicas e de memória do holocausto exigem explicações, embaixador polaco no Canadá denuncia «branqueamento» do nazismo e instituições canadianas tentam encontrar bode expiatório

Embora Justin Trudeau tenha considerado a situação «profundamente embaraçosa para o Parlamento do Canadá e, por extensão, para todos os canadianos», deixou o alerta: mesmo que as instituições canadianas tenham acabado de homenagear um nazi, é indispensável «continuar a reagir contra a desinformação e propaganda russa» (a mesma habilidade que Chrystia Freeland tentou usar para desviar as atenções da sua tentativa de apagamento do passado nazi do avô).

Anthony Rota, presidente do Parlamento, acabou por cair sobre a espada: «quero, em particular, apresentar as minhas mais sinceras desculpas às comunidades judaicas do Canadá e de todo o mundo. Assumo a total responsabilidade pelas minhas acções». 

«É escandaloso que o Parlamento tenha homenageado desta forma um antigo membro de uma unidade nazi», afirmou a organização judaica B’nai Brith Canada. Soldados como Hunka «sonhavam com um Estado ucraniano etnicamente homogéneo e apoiaram a ideia da limpeza étnica».

«Os soldados canadianos lutaram e morreram para libertar o mundo dos males da brutalidade nazi». O embaixador polaco, Witold Dzielski, anunciou nas redes sociais já ter exigido um pedido de desculpas formal, endereçado ao seu país.

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