Num discurso televisivo à nação nesta quarta-feira, o presidente russo anunciou uma «mobilização parcial», pouco tempo antes da votação em referendo, das quatro regiões ucranianas, para se juntarem à Rússia.
Moscovo não deu um número oficial para as tropas recém-mobilizadas, mas estima-se que estas aumentarão significativamente o número de forças russas na Ucrânia, que os oficiais ocidentais estimaram, no passado, situar-se entre 150 000 e 190 000.
Segundo o ministro da Defesa russo, esta medida corresponde a pouco mais de 1% da capacidade de mobilização do país, cerca de 300 mil pessoas.
Putin sublinhou que a Rússia não se batia com a Ucrânia, mas contra um regime suportado e dirigido pelo conjunto do Ocidente. Definiu a actual situação como uma luta existencial pela sobrevivência da Rússia contra o que descreveu como um «Ocidente hostil».
O presidente russo afirmou que o Ocidente quer «enfraquecer, dividir e destruir a Rússia», e fez um aviso de poder utilizar todas as armas, incluíndo as nucleares, se a Ucrânia, e os seus aliados ocidentais, ameaçassem o território da Rússia e das zonas que, por referendo, se venham a declarar parte da Federação Russa.
Acusou o Ocidente de usar a «chantagem nuclear» contra a Rússia e prometeu: «Se a sua integridade territorial for ameaçada, a Rússia utilizará todos os meios à sua disposição.» «Isto não é um bluff», avisou.
«A solução pacífica foi torpedeada pelo Ocidente. Após ter chegado a certos compromissos, Kiev recebeu de facto uma ordem directa para interromper todos os acordos», declarou.
Ao juntar à federação o sudeste da Ucrânia, de maioria de populações de cultura russa, Putin disse que «utilizaria todos os meios à disposição para defender o país e o povo», ameaçando de que a Rússia reagiria se os EUA e os seus aliados persistirem em fornecer armas de destruição de longo alcance ao regime de Kiev.
O presidente russo anunciou também a mobilização da economia e da indústria para a guerra: «O governo da Federação Russa deve resolver imediatamente os problemas de apoio financeiro à indústria de defesa, a fim de aumentar a produção de armas» .
E afirmou que os voluntários e milicianos do Donbass seriam integrados nas tropas russas e rearmados com armas de última geração.
«O estatuto legal dos voluntários e milicianos de Donbass deve ser o mesmo que o do pessoal militar russo regular». «Questões de abastecimento e manutenção das Milícias Populares e unidades voluntárias de Donbass devem ser resolvidas imediatamente e ao mais alto nível».
Mais de 100 mil baixas ucranianas
Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, numa declaração pré-gravada, emitida após o anúncio de Putin, disse que Moscovo apenas convocaria reservas, em vez de destacar todos os mobilizáveis. Isto acrescentaria 300 000 pessoas à força de combate russa, disse ele.
Shoigu disse que seriam pessoas que já serviram, têm experiência em combate e alguma especialização militar necessária às forças armadas. «Estas não são pessoas que nunca tenham visto ou ouvido nada sobre o exército».
«Deixem-me antecipar as perguntas». «Não estamos a falar da mobilização de quaisquer estudantes... Eles podem continuar calmamente a ir às aulas», disse Shoigu. Afirmou que depois de as reservas terem sido convocadas, a Rússia teria ainda utilizado apenas 1% do seu potencial de mobilização.
Sobre as baixas na guerra, o ministro da Defesa russo fez uma contabilidade bastante diferente do governo ucraniano e dos media ocidentais que normalmente reproduzem sem verificação as afirmações do governo de Zelensky: «As nossas perdas são de 5937 mortos. As perdas da Ucrânia são de 61 207 mortos e 49 368 feridos».
Recorde-se que, esta semana, o dissidente russo Ilya Ponomarev saudou a contraofensiva ucraniana, tendo lamentado os mais de 10 mil mortos ucranianos nessa acção militar do governo de Kiev.
O mais provável é nem russos nem ucranianos darem os números correctos dos mortos deste sangrento conflito.