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|incêndios florestais

Territórios que ardem

O problema dos incêndios rurais tem as suas raízes no facto de sucessivos governos terem abandonado o território à sua sorte, resultando na fuga de populações de muitas freguesias do continente.

Habitação e veículo atingidos pelo incêndio que deflagrou em Castro Marim e alargou aos concelhos limítrofes, destruiu milhares de hectares de matos e florestas e várias habitações, causou ferimentos em três bombeiros, a morte de inúmeros animais e deslocou dezenas de pessoas, além de prejuízos diversos que estão ainda por calcular. Algarve, 17 de Agosto de 2021
Habitação e veículo atingidos pelo incêndio que deflagrou em Castro Marim e alargou aos concelhos limítrofes, destruiu milhares de hectares de matos e florestas e várias habitações, causou ferimentos em três bombeiros, a morte de inúmeros animais e deslocou dezenas de pessoas, além de prejuízos diversos que estão ainda por calcular. Algarve, 17 de Agosto de 2021CréditosLuís Forra / LUSA

Os incêndios rurais que assolaram o país nos passados meses de Julho e Agosto, trouxeram de novo para a atualidade este problema de segurança interna, que os mais distraídos pensaram ter sido resolvido, após os incêndios de Junho e Outubro de 2017, de tão trágica memória.

Uma vez mais, anunciam-se medidas de avaliação, através da utilização do bizarro modelo de «lições aprendidas tipo NATO», conforme pomposamente o Governo informou.

Assim, aguardam-se as conclusões deste milagroso modelo, que irá determinar porque estamos a perder a guerra contra o fogo, num momento em que o 'inimigo' parece indiciar que continuará cada vez mais forte, elevando-se assim o grau da ameaça.

Considerações bélicas à parte, o problema dos incêndios rurais tem as suas raízes no facto de sucessivos governos terem abandonado o território à sua sorte, resultando na fuga de populações de muitas freguesias do Continente, deixando ficar nas aldeias e nos lugares do interior centro e norte, aqueles cuja idade, condição social e económica não lhes permite delas sair. Este despovoamento tem como consequência direta a acumulação de combustível no espaço rural e o exponencial aumento da sua vulnerabilidade para a ocorrência de incêndios cada vez mais severos.

Entretanto associado a este problema, há alguns outros que podemos resumir em simples perguntas:

- Para quando uma atuação concertada entre a administração central e os órgãos de administração local, para potenciar uma intervenção de proximidade, de modo a envolver nas soluções as populações e os pequenos e médios proprietários florestais em processos de intervenção e ordenamento florestal?

«os incêndios rurais ameaçam uma significativa parte do território, empobrecem milhares de pessoas e fragilizam o tecido económico e social local»

- Que resultados foram até agora avaliados da missão da Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) e dos muitos milhões de euros que gere?

- Que resultados foram produzidos pela comunidade científica, no domínio de I&D, de modo que não tenhamos todos a ideia de que se gasta muito dinheiro em projetos, experiências e ensaios, promovidos por grupos diferenciados oriundos de universidades diferentes, numa espécie de competição estranha e sem resultados consequentes, que incorporem as decisões políticas?

- Para quando o cadastro dos prédios rústicos, como instrumento fundamental para suportar a reestruturação fundiária, sabendo-se que esta é condição determinante para dar dimensão económica e viabilidade às explorações e contrariar o processo de abandono das áreas florestais?

Estas são apenas algumas de muitas das perguntas que continua a ser necessário fazer. 

É mais fácil afirmar que 'não há bombeiros suficientes', que 'os bombeiros não têm formação para o combate aos incêndios florestais' e que 'a coordenação no combate é deficiente'. Afinal, para afirmar isto, basta consultar os 'especialistas' do costume, que há muitos anos dizem sempre o mesmo, incapazes de reconhecer a evolução verificada nesta matéria, sabe-se lá porquê.

Estudem-se os muitos relatórios produzidos ao longo dos últimos dez anos, analisem-se as medidas políticas adotadas pelos sucessivos governos e os seus resultados, identifiquem-se os riscos e as vulnerabilidades que continuam a potenciar situações explosivas quanto à deflagração e progressão de incêndios e chame-se toda a sociedade a participar na solução.

Para esta missão muitos poderão ser chamados a dar o seu contributo, por exemplo, no âmbito de um Observatório Cívico, que faça perguntas e proponha respostas integradas, tecnicamente sustentadas e livres de interesses corporativos, económicos, académicos ou de qualquer outra natureza.

Deste modo, os incêndios rurais passarão a ser assumidos como coisa séria, que ameaçam uma significativa parte do território, empobrecem milhares de pessoas e fragilizam o tecido económico e social local, apesar das narrativas oficiosas que pretendem fazer querer que a mudança desta situação está a chegar. 

Os incêndios dos passados meses de Julho e Agosto, embora não tenham sido um fenómeno específico do nosso país, assumem particularidades relativas às fragilidades do nosso território, cujo argumento das alterações climáticas – que são uma evidência reconhecida – serve para encobrir essa espécie de fogo que arde e não se vê: ou seja, a falta de uma estratégia de desenvolvimento de uma parte significativa do país.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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