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PS: a esquerda da direita ou a direita da esquerda?

O PS queria uma aliança com o PCP em Lisboa para derrotar Carlos Moedas, mas, por exemplo, em Santiago do Cacém aliou-se ao PSD para tentar afastar os comunistas da presidência da Câmara.

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

A rábula da lista única da esquerda em Lisboa para derrotar a coligação de direita liderada por Carlos Moedas não tem, definitivamente, pernas para andar, considerando que PS, PCP, BE e Livre estiveram ao longo deste mandato em maioria na Câmara e na Assembleia Municipal. E o que fez o PS com esta maioria? Nada!

Daí que seja pouco compreensível, independentemente das boas intenções, o apelo promovido por algumas personalidades no sentido de se «aproveitar a oportunidade» para «eleger uma vereação maioritária que tenha exclusivamente em conta o bem-estar das pessoas». Talvez fosse de perguntar ao PS por que mandou às malvas a actual vereação maioritária e se esteve a marimbar para o tal bem-estar das populações.

A verdade, é que o PS viabilizou, em Lisboa, todos os orçamentos municipais da direita, e as políticas que lhe estão subjacentes, com a esfarrapada desculpa da estabilidade. Curiosamente, uma desculpa que serviu para garantir estabilidade ao executivo camarário do PSD/CDS-PP, mas que já não serviu para garantir essa mesmo estabilidade em Setúbal, município presidido pela CDU, onde os socialistas votaram contra o orçamento camarário para este ano de 2025. Isto é, garantir estabilidade à direita e desestabilizar à esquerda!

Mais, o PS, através de uma campanha que cada vez mais se parece com uma candidatura do PS e não de uma coligação, surge agora como o paladino da unidade em Lisboa para derrotar a direita, ao mesmo tempo que se aliou a essa mesma direita para derrotar a CDU em Santiago do Cacém, onde PS e PSD convergem numa lista de independentes na tentativa de afastar o PCP da presidência da Câmara. Aliás, a política de alianças dos socialistas parece não olhar a meios para atingir os seus fins, considerando, por exemplo, que em Lisboa e em Oeiras concorre coligado com o PAN, o mesmo PAN que em Sintra concorre coligado com o PSD e a IL.

«A verdade, é que o PS viabilizou, em Lisboa, todos os orçamentos municipais da direita, e as políticas que lhe estão subjacentes, com a esfarrapada desculpa da estabilidade. Curiosamente, uma desculpa que serviu para garantir estabilidade ao executivo camarário do PSD/CDS-PP, mas que já não serviu para garantir essa mesmo estabilidade em Setúbal (...).»

 

Naturalmente que não se pode escamotear a importância do município da capital, mas o País não é só Lisboa e as populações dos outros concelhos também merecem políticas que melhorem a sua qualidade de vida, aquilo que os troca-tintas do PS escamoteiam quando se aliam à direita para combater o PCP e a CDU nos municípios onde estes são poder.

E, não vale a pena argumentar, como faz Daniel Oliveira na edição online do Expresso desta quarta-feira, que o PCP «se pôs de fora» por o PS ter viabilizado «orçamentos de Moedas», porque o que o PS fez foi assumir a cumplicidade com as políticas resultantes desses orçamentos, e que agora diz combater. Quanto a isso, as dúvidas são mais que muitas. Dúvidas sublinhadas, por exemplo, pelo historiador José Neves na mesma edição do Expresso, quando se refere à «persistência no programa do PS do imaginário da cidade "empreendedora", com os "hubs criativos" de Medina e Salgado a fazerem as vezes das "fábricas de unicórnios" de Moedas, ou de propostas de programas para atrair à cidade "investigadores temporários"». Mas também quando fala das críticas que a CDU dirige à governação de Moedas e que «não têm como isentar o PS das suas responsabilidades no estado da cidade», considerando que João Ferreira «tem tido o cuidado de hierarquizar essas responsabilidades, acusando Moedas de ter agravado problemas que, é um facto, já vinham de trás».

Com uma eventual vitória em Lisboa, o que a direcção do PS pretende é ter uma bandeira para erguer na noite eleitoral de 12 de Outubro, e no dia seguinte prosseguir, nos traços essenciais, as políticas dos seus anteriores mandatos, que não servem o interesse das populações, e que acabam sempre por entregar o poder à direita, seja na governação municipal ou nacional.

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