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Protestos populares no Equador não abrandam, apesar da intensa repressão

A jornada de greve geral contra o «paquetazo» de Moreno ficou marcada por grandes mobilizações em Quito, Guayaquil e outras cidades. Forças policiais e militares exerceram forte repressão sobre os manifestantes.

Comunidades indígenas em protesto contra o «paquetazo» de Lenín Moreno
Comunidades indígenas em protesto contra o «paquetazo» de Lenín Moreno Créditos / CONAIE

Esta quarta-feira, sétimo dia consecutivo de mobilizações no país andino, milhares de manifestantes – indígenas, agricultores, estudantes, trabalhadores de diversos sectores – aderiram à greve geral e protestaram nas ruas de várias cidades equatorianas contra o Decreto 883 imposto por Lenín Moreno, que inclui o fim dos subsídios estatais à gasolina especial e ao gasóleo (provocando a subida dos preços dos transportes públicos e de bens de primeira necessidade), e contra o ataque aos direitos dos trabalhadores (sobretudo do sector público).

Em Quito, capital do país, os manifestantes dirigiram-se bem cedo para as imediações do Palácio de Carondelet (sede do governo, provisoriamente transferido para Guayaquil) e bem cedo começaram a enfrentar a repressão das forças policiais e militares, tendo sido agredidos a cacetete, a pontapé e com chuvas de gás lacrimogéneo por indivíduos fardados que, de motorizada, a cavalo ou em viaturas blindadas, montaram verdadeiras operações de caça ao manifestante.

A brutal acção dos agentes policiais e dos militares – a que não escaparam as instalações da Pontifícia Universidade Católica do Equador e da Universidade Salesiana, a funcionarem como centros de acolhimento e zonas de paz para os indígenas que, aos milhares, tinham chegado a Quito – parece estar de acordo com as declarações do vice-presidente equatoriano, Otto Sonnenholzner, que criminalizou os protestos populares e acusou agentes estrangeiros de estarem a receber entre 40 e 50 dólares para gerar o terrorismo no país, refere a TeleSur.

Por seu lado, as Forças Armadas equatorianas informaram em comunicado que não se responsabilizavam pelas consequências das suas acções, «no estrito cumprimento do dever», sendo que essa responsabilidade se deveria exclusivamente apontar a quem convocou as manifestações.

714 detidos, de acordo com o governo

Em conferência de imprensa, a ministra do Governo, María Paula Romo, teve a desfaçatez de «pedir desculpas» pelo que diz serem os 360 civis que receberam assistência hospitalar durante os protestos e os 86 feridos pelas forças repressivas (versão do governo de Lenín Moreno). Disse ainda que, desde o início das mobilizações contra o Decreto 883, ao gosto do FMI, foram detidas 714 pessoas.

Na sua conta oficial de Twitter, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) disse não «aceitar as desculpas» da ministra, nem o «cinismo das suas declarações», tendo-a acusado de «pertencer a um governo criminoso e assassino».

De acordo com o governo, da acção repressiva da Polícia não resultaram mortes – algo que contrasta com várias denúncias de organizações e familiares de falecidos. Ontem, a CONAIE confirmou a existência de «companheiros mortos» «na repressão desmedida e brutal de dia 9» e, face «ao ocultamento de informação por parte das autoridades e certos órgãos de comunicação», disse que irá emitir um «relatório completo de todas as vítimas mortais, feridos e desaparecidos».

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