De acordo com o «Conceito Estratégico» agora aprovado, a Rússia passa a ser designada como a «principal e mais directa ameaça» aos 30 estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
O bloco militar, que considera a União Europeia (UE) como «um parceiro único e essencial», afirmou que os seus membros decidiram aumentar a presença militar na Europa e, para tal, usam a actual situação de conflito na Ucrânia como pretexto.
No entanto, obliteram os alertas reiterados por parte de Moscovo relativamente ao avanço da NATO para leste. Da mesma forma, a NATO insiste em apresentar-se como uma aliança «defensiva», cujos países-membros ou valores são ameaçados pelas acções de outros.
Tal afirmação passa por cima do bombardeamento da Jugoslávia em 1999 ou, no que respeita à Ucrânia, de relatórios e documentos divulgados na imprensa – emitidos por fontes próximas do Pentágono – que dão conta da intervenção de países da NATO na Ucrânia desde o golpe fascista de Maidan, bem como de «receitas» para provocar e desafiar a Rússia.
De acordo com o Conceito Estratégico agora em vigor, a «Federação Russa violou as normas e os princípios que contribuíam para uma ordem de segurança europeia previsível e estável», ou seja, a da NATO, que, enquanto repetia a ladainha da «aliança defensiva», ia avançado para leste, violando acordos celebrados.
Com base nessa premissa repetida até à exaustão e na de que a guerra na Ucrânia começou a 24 de Fevereiro de 2022 – não em 2014 –, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, continuou a garantir à Ucrânia colaboração «durante o tempo que for preciso». Para os fabricantes e negociantes de armamento, a cimeira trouxe as boas novidades que eram esperadas.
Finlândia, Suécia, Turquia e «valores europeus»
A essa junta-se a de que a Finlândia e a Suécia tiveram luz verde para integrar futuramente a NATO, depois de a Turquia ter levantado o veto a essa integração. Em troca, disse Stoltenberg, os países nórdicos aceitaram «alterar mais as suas legislações nacionais» para dar à Turquia as garantias de que necessita para «combater o terrorismo» e «concluir um acordo de extradição» de pessoas que até agora encontravam refúgio no Norte da Europa.
O secretário-geral da NATO mostrou-se «absolutamente confiante» de que Finlândia e Suécia sejam rapidamente membros da aliança militar, sem referência aos destinos dos 33 refugiados que seguem de Helsínquia e Estocolmo para a Turquia. «Valores europeus», como os Von der Leyen na Ucrânia ou os de Pedro Sánchez em Melilla.
EUA: reforço da presença militar na Europa
Para o negócio da guerra, outra boa novidade foi o anúncio do presidente norte-americano, Joe Biden, de que o Pentágono vai reforçar a cooperação militar com a Itália, a Alemanha e o Reino Unido, e de que a «Europa se vai "otanizar"», com o pretexto da guerra na Ucrânia – que é a que Biden diz que começou em Fevereiro de 2022 e não em 2014, não se referindo, por exemplo, à presença de elementos da Agência Central de Inteligência (CIA) na Ucrânia desde 2014, agora amplamente divulgada.
O reforço da presença na base naval espanhola de Rota ou a criação de uma sede especial na Polónia para fortalecer o «flanco leste» da aliança foram outros anúncios feitos por Washington.
Joe Biden afirmou que a NATO é hoje mais relevante «do que alguma vez foi» e que a aliança seria «reforçada em todas as direcções e todos os domínios – terra, ar e mar».
A China é um «desafio»
No Conceito Estratégico aprovado em Madrid, a China passa a ser encarada como um «desafio». Nesse sentido, os aliados da aliança vão trabalhar em conjunto para «enfrentar os desafios sistémicos colocados pela República Popular da China à segurança euro-atlântica».
Isto porque, declara o texto, «as ambições declaradas e políticas coercivas [da China] desafiam os nossos interesses, segurança e valores».
A Missão da China junto das UE criticou o documento, que disse estar repleto de ideias de Guerra Fria, sublinhando que a NATO «cria inimigos, confrontação e problemas em todo o mundo».
Numa nota divulgada pela Prensa Latina, a missão diplomática chinesa denuncia o facto de a NATO se caracterizar como «uma aliança defensiva que respeita a ordem internacional assente em regras», mas que «passou por cima do Conselho de Segurança da ONU e lançou guerras contra estados soberanos, provocando grande número de vítimas e milhões de deslocados».