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Casa Branca anuncia retirada de militares norte-americanos da Síria

A Casa Branca confirmou, esta quarta-feira, que as tropas dos EUA vão sair da Síria, mas negou que isso signifique o fim da «coligação internacional» ou da sua campanha contra o Daesh.

A presença das tropas norte-americanas na Síria foi sempre denunciada e considerada ilegítima pelo governo de Damasco
Créditos / drimpic.pw

O presidente norte-americano, Donald Trump, recorreu à rede social Twitter (como é habitual) para declarar a «vitória» dos EUA sobre o grupo terrorista Daesh – também conhecido como Estado Islâmico.

Uma «vitória» apregoada apesar das acusações repetidamente formuladas pelo governo sírio – e também pela Rússia – sobre o papel desempenhado pelas tropas norte-americanas e os seus aliados na Síria, desde 2014.

O governo de Damasco, que acusou em reiteradas ocasiões as potências ocidentais, Israel, a Turquia e as petro-ditaduras do Golfo de apoiarem e finaciarem os grupos terroristas no território levantino, nunca autorizou as operações da chamada coligação internacional, liderada pelos EUA, na Síria.

Em missivas enviadas às Nações Unidas, acusou-os ainda de fazer vista grossa às acções do Daesh e de, a coberto de uma pretensa luta contra o terrorismo, massacrarem de forma deliberada a população civil síria, acrescentando que os ataques liderados pelas forças militares norte-americanas visam destruir as infra-estruturas e provocar o êxodo da população na província de Deir ez-Zor.

«Nós derrotámos o Daesh, a minha única razão para estar ali durante a presidência Trump», escreveu ontem Donald Trump no Twitter. Sem se referir ao papel do Exército Árabe Sírio, da Rússia, do Irão, do Hezbollah e de outras forças aliadas na luta contra o terrorismo na Síria, também Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, confirmou as «vitórias» norte-americanas sobre o Daesh e o «regresso» das forças norte-americanas, cuja presença militar na Síria «está a passar para uma nova fase». Sublinhou, no entanto, que tal não implica o fim da «coligação global ou da sua campanha».

A declaração de Trump e o comunicado da Casa Branca vêm confirmar o que alguma imprensa norte-americana tinha apontado: cerca de 2000 militares sairão do território sírio «imediatamente» (no espaço de 60 a 100 dias).

De acordo com fontes do Pentágono, a decisão de Donald Trump – que já em Março deste ano havia manifestado a vontade de retirar as tropas norte-americanas do país árabe – foi tomada na sequência de uma conversa telefónica entre os presidentes dos EUA e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que terá ameaçado atacar os aliados curdos integrados nas chamadas Forças Democráticas Sírias (FDS), aliadas dos EUA.

Outra conversa telefónica anterior à tomada de decisão teve lugar há alguns dias entre o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, Donald Trump e o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, segundo revelou Netanyahu numa conferência de imprensa ontem realizada. Netahyahu disse que o seu país está preparado para se «defender» das «ameaças», informa a TeleSur.

Rússia congratula-se com «eventual saída»

A porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, mostrou-se satisfeita com uma «evental retirada» das tropas norte-americanas da Síria, considerando que tal passo criará «boas perspectivas para uma solução política».

Comentando ontem em Moscovo o anúncio da Casa Branca, Zakharova referiu-se concretamente à situação na região al-Tanf, onde as forças do Pentágono controlam cerca de 50 quilómetros quadrados, possuem bases militares – onde são acusadas, pela Rússia, de treinar grupos terroristas – e impedem o acesso a um campo do refugiados de Rukban, onde estão cerca de 50 mil pessoas, em «condições humanitárias atrozes».

«Surge a esperança de que esse ponto no mapa sírio tenha a mesma sorte que a cidade de Alepo e de outras localidades, onde começa a regressar a população civil», disse, citada pela Prensa Latina. Acrescentou que, enquanto ali permanecerem os militares norte-americanos, «essa esperança não existe de todo».

Das «incongruências» de Trump à «vitória da Rússia»

Falando à PressTV sobre a decisão do presidente norte-americano, o comentador político Stephen Lendman frisou que «Trump diz uma coisa num dia e outra coisa noutro» e lembrou que, depois de ter prometido retirar as tropas dos EUA do Afeganistão e da Síria, reforçou o contingente em ambos países. Para Lendman, é altamente improvável que o Pentágono largue a operação na Síria, onde possui uma dezena de bases.


Nos EUA, vários políticos e elementos do Pentágono receberam o anúncio com críticas. De acordo com a RT, um funcionário do Pentágono ter-se-á referido a uma «vitória da Rússia», enquanto um ex-conselheiro de política externa de Hillary Clinton, Jesse Lehrich, defendeu que a retirada das tropas irá reforçar o presidente sírio, Bashar al-Assad, e dar mais força à Rússia e ao Irão, deixando os curdos, aliados dos EUA, «pendurados».

Por seu lado, o senador republicano Marco Rubio, com historial conhecido na ingerência na Venezuela, classificou a retirada como um «erro colossal», com «graves repercussões».

Outro senador republicano, Lindsey Graham, disse que o Daesh não está derrotado e que a retirada põe os curdos em risco.

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