A falta de transparência e a promiscuidade do actual primeiro-ministro, Luís Montenegro (PSD/AD), com os grupos económicos que se vão conhecendo, por via da empresa que criou, foi inevitavelmente o tema de abertura do debate, que parecia estar orientado para temas menos discutidos, como a reforma da justiça, mas acabou centrado em cenários pós-eleitorais, e menos na acção e nos compromissos de cada força política.
Este domingo, na RTP, Paulo Raimundo (CDU) reiterava que Montenegro se devia ter demitido mal veio a público o caso da Spinumviva, hoje, o primeiro-ministro continuou debaixo de fogo dos restantes líderes partidários, não obstante a gestão de imagem de Montenegro, por parte de Cavaco Silva, tentando criar a ideia de que esta é uma questão do foro pessoal. O ex-Presidente da República não só «não infere» que Montenegro tenha violado «quaisquer princípios éticos», como semeia a ideia de que o primeiro-ministro foi alvo de uma «campanha de suspeitas e insinuações, mais confusa e desinformativa do que esclarecedora», criticando «alguma comunicação social». No despudorado artigo de campanha, publicado hoje no Observador, Cavaco Silva admite inclusive as políticas da AD (PSD/CDS-PP) como «mais adequadas» ao «desenvolvimento» do País e «à melhoria do bem-estar das famílias», cenário que a realidade desmente e a oposição, de formas distintas e com responsabilidades e compromissos diferentes, contestou no chamado debate das rádios, onde se recordou a importância deste órgão de comunicação no dia do apagão, apesar da escassa informação do Governo.
«A rádio fez tudo o que era possível com a informação indisponível», salientou Paulo Raimundo (PCP/CDU), enquanto Pedro Nuno Santos (PS) acusou o Governo de ser «profundamente incompetente» na gestão das crises, mas o tema do apagão trouxe outro alerta, que é o facto de redes essenciais, como a da energia e as telecomunicações, estarem nas mãos de operadores privados. «Nunca sabemos se os investimentos que estamos a fazer são os que Portugal precisa ou os que maximizam o lucro das empresas», disse Mariana Mortágua (BE). Também o secretário-geral comunista admitiu que foi preciso um apagão «para se fazer luz» sobre a falta de soberania energética, frisando que «precisamos de caminhar para ter sector unificado, ter distribuição e comercialização nas mãos do controlo público». Enquanto isso, Rui Rocha (IL), que há uma semana admitiu que quer reduzir funcionários públicos «sem criar nenhum drama social», e defende a redução dos serviços do Estado, criticou, entre outros aspectos, que «o INEM, mais uma vez, teve uma enorme dificuldade», e propôs que se avalie a «viabilidade económica» da energia nuclear. Sobre «mudar o País», o líder da IL falou de «propostas reformistas», designadamente «trazer menos impostos» para as pessoas e para as empresas.
Questionados sobre um imposto europeu para financiar a defesa, Montenegro foi um dos líderes da direita a dizer «não», enquanto Pedro Nuno Santos defendeu a emissão de dívida europeia, assim como Rui Tavares (Livre), que já anteriomente tinha defendido uma comunidade europeia da defesa».
Mariana Mortágua admitiu que a dívida europeia devia ser emitida para melhorar os serviços públicos, taxando os ricos, Paulo Raimundo foi taxativo – «impostos para financiar a loucura da guerra, não», frisando que «precisamos de investimento nos salários, nas pensões, nas creches». Inês Sousa Real (PAN) advogou que «cada euro de investimento na Defesa tem de ser investido» nas alterações climáticas e nas questões sociais.
Questões como os salários, as pensões e a inflação estiveram ausentes do último debate entre as forças políticas com assento parlamentar, conduzido pela Antena 1, TSF, Observador e Renascença.
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