Em Lisboa, milhares foram da Assembleia da República até ao Cais do Sodré. No Porto, também milhares se deslocaram da Praça da Batalha até Via Catarina. Em ambos os locais, o objectivo era o mesmo: lutar por uma vida melhor, pelo cumprimento da Constituição da República, pelo aumento dos salários e pelo aumento das pensões.
O mote «Cumprir a Constituição», dado pelo PCP, apresenta-se pelo partido como o caminho que Portugal deve seguir, antagónico ao que o Governo quer impor. Mas os comunistas não se ficaram pela marcha, também hoje entregaram na Assembleia da República uma petição com 140 mil assinaturas que, nas palavras de Paulo Raimundo, secretário-geral dos comunistas, expressa as «exigências de resposta aos principais problemas e às expectativas e anseios da maioria».
Na sua intervenção, em Lisboa, Paulo Raimundo considerou serem «140 mil compromissos de luta de trabalhadores, reformados e jovens pelo aumento dos salários e das pensões, pelo direito à saúde, pelo direito à habitação, pelos direitos das crianças e dos pais».
Numa análise ao país, o líder dos comunistas considerou que «por maior que seja a propaganda e a desinformação», estas não apagam o facto de 30% dos trabalhadores enfrentam o «flagelo da precariedade»; de 1 milhão e 800 mil trabalham por turnos e à noite; de ser preciso ter dois e três empregos para conseguir pagar a renda, a luz, o gás,
a comida; de 300 mil crianças e centenas de milhar de trabalhadores vivem na pobreza; ou de um milhão de reformados a receber abaixo de 510 euros por mês.
Quando se tentam empolar discursos artificiais de clivagens, Paulo Raimundo diz que neste contraste que está o «verdadeiro conflito». «De um lado os trabalhadores, o povo e a juventude, do outro estão os que querem mais exploração, precariedade, desregular ainda mais os horários de trabalho e o roubo de direitos», afirmou.
Duro nas críticas, o secretário-geral do PCP reiterou que PSD e CDS avançam com um programa à medida da banca e dos dos grupos económicos, considerando-o uma «declaração de guerra a quem trabalha», contando com o apoio do Chega, Iniciativa Liberal e PS. As críticas foram acompanhadas de adjectivação, com Paulo Raimundo a acusar estes cinco partidos de serem «o quinteto do retrocesso».
Considerando que estes partidos serão «responsabilizados» pelo empobrecimento, injustiças sociais, desigualdades, corrida aos armamentos, e políticas desenhadas para ajudar aquela minoria que tem muitos milhões de euros têm na conta bancária, o comunista não hesitou em enumerar as tácticas e os objetivos daqueles que usam a mentira para esconder a sua verdadeira face.
«É o sistema capitalista retrógrado e ultrapassado que procuram apresentar como novo. Essa sim é a causa funda das dificuldades da maioria, independentemente da cor da sua pele, da sua cultura, da sua nacionalidade ou das suas opções», disse Paulo Raimundo.
Num discurso que procurou atacar as divisões que os projectos reacionários procuram criar, o secretário-geral dos comunistas apontou à unidade dos que «trabalharam uma vida inteira, [d]os jovens, [d]os pequenos empresários, comerciantes e produtores» para, em unidade, lutarem «por uma vida melhor», pelo aumento de todos os salários e o aumento extraordinário das reformas e pensões.
Entendendo que «há dinheiro, há riqueza criada», é possivel «pôr fim à precariedade laboral», «acabar com a caducidade da contratação colectiva», «35 horas semanais», «pôr fim à brutal desregulação da vida e dos horários», «reduzir o IVA na electricidade, gás e telecomunicações», «fixar o preço da botija do gás em 20 euros», «investir 1% do PIB na habitação», e «salvar o Serviço Nacional de Saúde».
A intervenção de Paulo Raimundo acabou, naturalmente, com um apelo à paz. Enquanto se assiste ao aumento da guerra e das mortes, o PCP afirmou, mais uma vez, que é necessário «pôr fim ao genocídio do povo palestiniano às mãos do Estado de Israel, dos Estados Unidos e da União Europeia e reconhecer o Estado da Palestina».
Rompendo com a narrativa dominante, para os comunistas «não estamos condenados à exploração, à especulação, à submissão, à guerra, às injustiças e às desigualdades» porque «Portugal não é uma província da União Europeia, não é um apêndice da NATO» nem «é uma base dos Estados Unidos».
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