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Aumento da pobreza preocupa reformados

O aumento da pobreza na população reformada passou de 15,7% em 2019 para 18% em 2020, sendo de 20,1% para os idosos maiores de 65 anos. 

Depois de uma década a perder poder de compra, cerca de 85% das pensões do regime geral da Segurança Social tiveram aumentos reais em 2017
CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

A preocupação agiganta-se num cenário em que, ao congelamento das pensões mais elevadas e a uma actualização insuficiente das restantes (o PS não quis ir além dos dez euros), se junta o crescimento galopante da inflação, que em Maio atingiu o valor (8%) mais alto desde Fevereiro de 1993. 

O empobrecimento foi um dos temas em debate no 10.º congresso do MURPI – Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos, realizado na semana passada no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, onde se reuniram 234 delegados e 118 convidados, de todo o País. Durante os últimos anos, as pensões foram actualizadas de acordo com a taxa de inflação (sem habitação) e o desenvolvimento económico, não garantindo a manutenção nem um reforço significativo do poder de compra, mesmo tendo em conta os aumentos extraordinários de dez euros nas pensões mais baixas.

Em 2020, o valor da pensão média de velhice era de pouco mais de 450 euros mensais, enquanto a de invalidez era de cerca de 390 euros e a de sobrevivência de aproximadamente 230 euros. 

No Programa de Acção 2022/2025, aprovado no congresso, ficou clara a necessidade de continuar a dar combate aos baixos valores das reformas e afirmar a dignidade social do idoso enquanto sujeito de direitos adquiridos ao longo de carreiras contributivas. Direitos que são incompatíveis «com referências de natureza assistencialista e caritativa», tendo merecido crítica ainda as referências realizadas às medidas de protecção social e, sobretudo, às pensões de velhice, como se fossem «esmolas» dadas aos idosos. 

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Reformados exigem melhores condições de vida

Alertar para as dificuldades que enfrentam os trabalhadores reformados e pensionistas foi o mote de várias iniciativas realizadas a nível nacional pelo MURPI e pela Inter-Reformados. 

Em Avis alertou-se para os «crescentes condicionamentos» no acesso aos cuidados de saúde primários no concelho  
Créditos / União dos Sindicatos do Norte Alentejano

Sob o lema «Melhores pensões e condições de vida dignas para os idosos/Pelo direito dos trabalhadores à reforma e a uma pensão digna», a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (Murpi) e a Inter-Reformados/CGTP-IN realizaram ontem diversas tribunas públicas, um pouco por todo o País. 

A defesa da sustentabilidade da Segurança Social, através da diversificação das fontes de financiamento, e o combate às desigualdades sociais e à pobreza são algumas reivindicações destacadas pelas estruturas, que simultaneamente exigem o reforço orçamental do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o respeito pelos direitos dos seus profissionais. 

O reforço da rede de cuidados de saúde primários através da reabertura dos postos de saúde nas freguesias, e da contratação de mais trabalhadores para os centros de saúde, são, juntamente com o prolongamento dos horários dos centros de saúde e a reabertura dos serviços de urgência outras das exigências dos reformados e pensionistas.

Tendo em conta aspectos como a fixação de população no Interior e a qualidade de vida da população mais idosa, Murpi e Inter-Reformados reivindicam a reabertura dos serviços públicos que foram encerrados, tais como estações dos CTT e balcões da Caixa Geral de Depósitos, mas também escolas do 1.º Ciclo. «O seu encerramento está a retirar a população mais jovem das aldeias, retirando apoio familiar aos mais velhos, desenraizando os mais novos», alertam.

O aumento de todas as pensões, em particular das mais baixas, e a alteração do mecanismo de actualização, o aumento de salários e a abolição do factor da sustentabilidade, entre outras penalizações, são outras propostas dos reformados e pensionistas, que exigem o acesso à reforma antecipada para os trabalhadores com 40 ou mais anos de carreira contributiva, independente da idade e sem penalizações. Mas também a reposição da idade legal de acesso às pensões de velhice e de reforma aos 65 anos de idade salvaguardando os regimes especiais consagrados, com condições de acesso mais favoráveis.

A par dos problemas nacionais, as iniciativas desta sexta-feira deram visibilidade aos problemas concretos de cada distrito, como foi o caso de Portalegre, onde em Avis se alertou para os «crescentes condicionamentos» no acesso aos cuidados de saúde primários neste concelho.

As tribunas públicas terminaram com a aprovação de uma resolução que será enviada à Assembleia da República e às instituições locais.

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A necessidade de eliminar preconceitos sobre o envelhecimento, que alimentam o isolamento e a baixa auto-estima dos mais idosos, foi outro dos aspectos abordados na reunião magna, onde se apelou a uma nova pedagogia, mas também a mudanças no funcionamento da sociedade e na forma como os poderes instituídos encaram esta fase da vida. 

Tendo em conta que o envelhecimento é um processo natural, universal, progressivo e inevitável, e que o aumento da esperança de vida, sendo um factor socialmente positivo, resulta do desenvolvimento científico e social, o MURPI entende que a população idosa não pode ser apontada como causa de males sociais, políticos, financeiros ou culturais.

A Confederação não desvaloriza o peso dos reformados no conjunto da população portuguesa ou a proporção de 182 idosos por cada 100 jovens, mas considera que o envelhecimento demográfico não pode levar a um caminho de redução dos direitos da Segurança Social devidos aos reformados, pensionistas e idosos. «Para o envelhecimento demográfico intervêm como factores determinantes o aumento da esperança de vida, a diminuição da natalidade, gerando um desequilíbrio que é ninstrumentalizado pelos decisores políticos com grande dramatismo e como uma inevitabilidade», realça a organização numa nota emitida esta segunda-feira.

O MURPI sublinha ainda que, enquanto «verdadeira conquista civilizacional», o aumento da esperança de vida não põe em risco a sustentabilidade financeira da Segurança Social, e aponta a possibilidade de se ampliarem as fontes de receitas do regime previdencial por via do combate ao desemprego, do aumento dos salários e do salário mínimo nacional e das medidas que desincentivem os jovens de emigrar.

De acordo com o que foi aprovado no Programa de Acção até 2025, serão realizados também seminários, palestras, debates, tribunas públicas, desfiles de rua e promoção de acções nas escolas, a fim de permitir a interacção e troca de saberes entre os mais novos e as pessoas idosas.

Lutar contra a rejeição de preconceitos sobre a «eterna juventude física» e outras situações que constituem discriminações e estereótipos é outra das questões elencadas, onde se reitera o direito a envelhecer com direitos e, consecutivamente, reivindicações como uma habitação condigna, espaços públicos de qualidade, reforço do Serviço Nacional de Saúde, cultura, desporto e participação. 

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