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Venezuela: «Ou nos dão as vacinas ou devolvem o dinheiro»

A COVAX, que promove o acesso equitativo à vacina contra o Covid-19 em todo o mundo, ainda não entregou as vacinas pagas pelo Estado Venezuelano. Organização não justificou o incumprimento.

Venezuelano recebe a primeira dose da vacina Abdala numa campanha de vacinação em massa na cidade de Caracas 
Créditos / PressTV

O programa surgiu de uma parceria entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Gavi, Aliança Global de Vacinas, tendo até hoje distribuído mais de 95 milhões de doses a países em desenvolvimento. A Venezuela tem procurado participar enquanto parceiro autofinanciador, pagando estas vacinas do seu próprio bolso.

As dificuldades não são de agora. O pagamento de 120 milhões de dólares referente à aquisição de 11 milhões de doses foi feito há alguns meses mas o bloqueio económico imposto pelos Estados Unidos da América (EUA) ao país latino-americano levou ao seu congelamento pelo banco Suíço UBS.

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A Venezuela é o «centro de interesses geopolíticos imperialistas»

Numa entrevista concedida à Prensa Latina o líder da diplomacia venezuelana, Jorge Arreaza, afirmou que o seu país é «o centro dos interesses geopolíticos do imperialismo», com os EUA à cabeça.

Mural «chavista» em Caracas
Créditos / greenleft.org.au

Entrevistado pela jornalista Yadira Cruz Valera, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela perspectivou as relações do governo bolivariano com a actual administração norte-americana, tendo afirmado que estas nem sequer dependem da elite dominante no país da América do Norte ou de quem ocupa a Casa Branca, porque «a essência é o imperialismo».

«É uma rede, uma engrenagem de interesses corporativos, militares, tecnológicos industriais, financeiros que actuam através de determinadas entidades políticas, como é o caso do governo norte-americano; pelo que, sabendo que o seu objectivo é controlar a Venezuela para satisfazer os seus próprios interesses, é pouco o que se pode esperar», sublinhou.

«as relações do governo bolivariano com a actual administração norte-americana [...] nem sequer dependem da elite dominante no país da América do Norte ou de quem ocupa a Casa Branca, porque "a essência é o imperialismo"»

Jorge Arreaza

«Para nós – disse –, que estamos já há 22 anos como Revolução no poder, é uma aprendizagem a relação e a interacção com a elite dominante de Washington, e podemos chegar facilmente à conclusão de que o imperialismo é um e nem sequer é apenas os Estados Unidos.»

No entanto, a Venezuela é «firme na sua política, na sua resistência», pelo que, defendeu, ao novo governo norte-americano «não deve ser útil» continuar com as agressões. «Nesse caso, estaremos sempre dispostos a dialogar, a ouvir, a cooperar tendo como base o respeito mútuo. Se os Estados Unidos quiserem, nós queremos, e, se não quiserem, venceremos da mesma forma», declarou.

Na entrevista à Prensa Latina, Jorge Arreaza destacou ainda a existência do interesse geopolítico e ideológico das grandes potências, uma vez que, durante muito tempo, os governos do país sul-americano foram servis perante esse interesse e permitiram que os grandes recursos fossem saqueados – alvo que viria a mudar com o triunfo da Revolução.

«Existem grandes lobbies cujo interesse imperial é derrubar a Revolução socialista e assumir o controlo político, económico e cultural do país, […] para ter nas suas mãos a jóia da coroa desta América do século XXI», disse.

Denúncia do bloqueio e das sanções será sempre um tema central

Neste sentido, sublinhou que «denunciar a ilegalidade do bloqueio dos EUA será sempre um dos temas principais da política externa do país e, tal como Cuba o fez ao longo de 60 anos, é necessário insistir uma e outra vez que se trata de uma agressão, de um dano ao povo venezuelano».

«Essas medidas coercivas, unilaterais e arbitrárias que geram os bloqueios estão à margem do direito internacional, são criminosas», frisou.

No entender do chefe da diplomacia venezuelana, cada vez mais os países ganham consciência do dano causado por essas acções punitivas e percebem a necessidade de as enfrentar e denunciar. Acrescentou que, se todos os governos dos países que sofrem as consequências dessa política agressiva e hostil por parte de Washington trabalharem em conjunto, «há esperança de que em breve os organismos internacionais as condenem».

«Essas medidas coercivas, unilaterais e arbitrárias que geram os bloqueios estão à margem do direito internacional, são criminosas»

Jorge Arreaza

No que respeita à queixa interposta pela Venezuela contra os Estados Unidos no Tribunal Penal Internacional (TPI), disse que se destina a acusar os funcionários do governo norte-americano que firmaram ordens executivas e de viva voz fizeram parte das agressões contra a Venezuela.

«O TPI actua sobre responsabilidades individuais, por isso apresentámos elementos probatórios de que essas medidas provocaram fome, morte, doença. Estamos a representar todos os países submetidos a essas sanções», explicou à jornalista.

Arreaza disse que, neste momento, o proceso apresentado a 13 de Fevereiro de 2020 está a ser avaliado pela Procuradoria da entidade judicial, que deverá pronunciar-se este ano e determinar se deve passar ao tribunal para que este responsabilize individualmente quem agrediu a Venezuela.

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As sanções começaram a ser aplicadas em 2015, mas têm aumentado exponencialmente ao longo dos últimos anos. Em 2019, os EUA anunciaram novas medidas que envolviam a apreensão de todos os bens do Estado Venezuelano depositados em contas internacionais, exacerbando as situações de carências e pobreza sentidas em alguns sectores.

Em declarações ao país no passado domingo, o presidente da república bolivariana exigiu a entrega imediata das vacinas ou, em alternativa, a devolução por inteiro dos muitos milhões pagos pelo povo venezuelano para prosseguir os seus esforços de vacinação.

Nicolás Maduro afirmou ainda que há mais de oito semanas que não havia, da parte da COVAX,  qualquer ponto de situação acerca das vacinas e do dinheiro congelado, deixando milhões de cidadãos venezuelanos vulneráveis à doença e à sua propagação no país exclusivamente por motivações políticas.

Foi assinado um protocolo de cooperação com Cuba que resultará na entrega de 12 milhões de doses da vacina Abdala, que já está a ser distribuída e utilizada na Venezuela. 

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