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Trabalhadores uruguaios continuam a exigir mais ao executivo de Orsi

Ao promover a segunda greve geral parcial em dois meses, a PIT-CNT insistiu na distribuição da riqueza e na tributação aos mais ricos, lembrando que um terço das crianças uruguaias vivem na pobreza.

A manifestação desta quarta-feira em Montevideu decorreu sob intensa chuva Créditos / @PITCNT1

A paralisação desta quarta-feira no país austral ocorreu em moldes semelhantes aos da que teve lugar em meados de Agosto, igualmente convocada pelo Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT), com a greve a ter um impacto abrangente entre as 9h e as 13h, e cada sindicato a decidir se prolongava a cessão de actividades por 24 horas.

Na capital uruguaia, Montevideu, milhares de pessoas juntaram-se a uma marcha que partiu da esplanada da Universidade da República (Udelar), sob o lema «O povo primeiro. Por trabalho, salário e orçamento. É tempo de cumprir».

No final da manifestação, que decorreu sob intensa chuva, Carolina Spilman, vice-presidente adjunta da PIT-CNT, destacou a necessidade de acabar com a «exclusão e a falta de perspectivas».

«Esta mobilização é uma expressão legítima e necessária do povo organizado, que exige que o país comece a adoptar políticas públicas que beneficiem a grande maioria e não os interesses de uns quantos», declarou, citada pelo portal da organização sindical.

Trabalhadores não pedem favores nem concessões

Spilman sublinhou que são os trabalhadores uruguaios que mantêm o país a funcionar e que não «pedem favores nem concessões». «Merecemos um país que reconheça esse esforço com justiça social, direitos garantidos e dignidade económica», disse a dirigente sindical.

Saudando os trabalhadores que se mantêm em luta contra a precariedade e reclamando negociação colectiva, Carolina Spilman destacou a profunda unidade de classe na luta e recordou que no Uruguai «não falta riqueza», mas justiça na forma de a distribuir.

Nesse contexto, referiu que os 1% mais ricos concentram 40% da riqueza nacional e que esse nível de concentração «não é um fenómeno natural nem inevitável, mas a consequência directa de um modelo económico que permite a acumulação ilimitada de uma minoria, enquanto a maioria trabalhadora é confrontada com a estagnação salarial e a perda de direitos».

Quando nos dizem que não há recursos…

Por isso, questionou as isenções fiscais aos grandes patrimónios e capitais concentrados. «Quando nos dizem que não há recursos, o que realmente nos estão a dizer é que não querem tocar nos privilégios de quem mais tem», declarou, insistindo na implementação de um imposto aos 1% mais ricos do país, proposta pela PIT-CNT, e frisando que «não se trata de um gesto simbólico ou de um castigo, mas de uma acção de justiça fiscal».

Na sua intervenção, a dirigente sindical defendeu igualmente a necessidade de uma estratégia de desenvolvimento para o país que não passe por produzir muito, ganhar pouco e ceder a soberania; valorizou o papel estratégico das empresas públicas; destacou a importância da valorização salarial e questionou o orçamento que está a ser debatido, uma vez que projecta crescimento limitando os recursos destinados à saúde, educação, habitação ou políticas sociais.

Neste contexto, lembrou que «uma em cada três crianças vive na pobreza» e disse que um país que permite a miséria e protege o capital acumulado perdeu a bússola e inverteu a ordem das suas prioridades.

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