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Trabalhadores uruguaios exigem mais ao governo de Yamandú Orsi

Milhares de pessoas manifestaram-se em Montevideu no âmbito da greve geral convocada pela central PIT-CNT. Marcelo Abdala lembrou a desigualdade e a pobreza existentes, e insistiu na tributação dos mais ricos.

Milhares de pessoas manifestaram-se em Montevideu, a 12 de Agosto de 2025, em defesa dos salários e da tributação dos mais ricos Créditos / @PITCNT1

Discursando perante milhares de trabalhadores que aderiram à greve geral desta terça-feira, o presidente do Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT) chamou a atenção para o facto de a ideologia neoliberal «perpassar até mesmo aqueles que defendem a mudança».

No acto central da mobilização associada à jornada de greve geral, Marcelo Abdala sublinhou que «o movimento operário foi a espinha dorsal da luta contra o modelo de desigualdade do anterior governo, do presidente Luis Lacalle Pou», refutando dessa forma as acusações da Frente Ampla, actualmente no poder.

«A mudança e a história são feitas pelo povo e os trabalhadores, por isso, o nível de luta da classe trabalhadora organizada não deve surpreender ninguém», declarou, citado pela Prensa Latina.

No seu discurso, Abdala insistiu na transformação do modelo de desenvolvimento assente na exportação de matérias-primas e defendeu a aposta, por parte do Estado, de uma estratégia económica que «discipline o capital».

Taxar os 1% mais ricos para combater a pobreza infantil

O dirigente sindical insistiu na proposta que havia feito de tributar os 1% mais ricos da população como medida para combater a pobreza infantil.

«Estamos convencidos, em primeiro lugar, de que é correcto acabarmos com a desigualdade e o seu produto: a pobreza. Em particular, a pobreza infantil, que insulta as melhores tradições democráticas do nosso povo», declarou Abdala.

Com base no conhecimento técnico disponível, disse, a central sindical apresentou essa proposta e insiste na necessidade de tributar os 1% mais ricos da sociedade, cerca de 25 mil uruguaios com patrimónios superiores a um milhão de dólares.

A ideia não teve o apoio do governo liderado por Yamandú Orsi, que disse em Junho e repetiu a 7 deste mês que não pensa criar esse imposto sobre os mais ricos, preferindo procurar alternativas para financiar a promessa de campanha eleitoral.

«Não ouvimos qualquer razão de fundo contra a iniciativa», sublinhou o presidente da central sindical, que declarou a disposição e abertura dos sindicatos para dialogar sobre políticas públicas que beneficiem o povo.

Os mais ricos não investem em políticas públicas

Abdala frisou que os mais ricos não só não investem nessas políticas, como metem o dinheiro no estrangeiro, e defendeu: «Não entramos no dogma de que a política tributária não pode ser melhorada, há coisas para fazer nesse âmbito.»

Disse a este propósito que, em 2023, mais de 60 mil milhões de dólares do grande capital estavam depositados fora do país, enquanto as grandes empresas privadas recebiam isenções fiscais.

«É de facto possível satisfazer as necessidades sociais básicas e aumentar a participação do Estado no desenvolvimento nacional», observou.

Na sua intervenção, o presidente da PIT-CNT referiu-se também à necessidade de reduzir os horários de trabalho e de aumentar os salários, e expressou a sua solidariedade aos trabalhadores das pescas, da indústria leiteira, frigorífica e das autarquias que estão em luta por melhores condições e direitos.

Grande adesão

A greve geral, convocada sob o lema «O povo primeiro. Mais trabalho e salário, melhor Uruguai», teve uma grande adesão no sector público, com muitos sindicatos a declararem uma paralisação de 24 horas (a PIT-CNT havia convocado uma paralisação parcial, até às 13h).

Os sindicatos reclamaram também a recuperação do poder de compra perdido e a criação de emprego com qualidade, tendo deixado claro que não aceitam as propostas salariais avançadas pelo governo de Orsi – que alega «heranças» deixadas pelo governo anterior.

A solidariedade com a Palestina marcou a mobilização, onde se viu uma enorme bandeira palestiniana e se reclamou a paz e o fim da «matança infame» do povo palestiniano por parte das forças de ocupação sionistas.

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