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UE que afasta esforço de paz endivida-se e hipoteca futuro dos povos

A União Europeia, disposta a tudo para não perder a irrelevância geopolítica, após colocar entraves a uma negociação de paz, vai agora endividar-se para emprestar 90 mil milhões de euros. A Ucrânia só terá de devolver se um dia receber reparações de guerra da Rússia. 

CréditosThomas Mukoya / EPA

É mais um episódio do desnorte que marca a política externa europeia, disposta a tudo para evitar o seu declínio evidente, mesmo que isso signifique a manutenção da guerra até ao último ucraniano. De forma a evitar o plano de paz que actualmente está a ser gizado pelos EUA, um acordo que longe de perfeito pelo menos visa colocar ambos os beligerantes a seguir a via diplomática, a UE procura continuar a instigar a guerra. 

O Conselho Europeu chegou a acordo para financiar a Ucrânia ao emitir dívida conjunta no valor de 90 mil milhões de euros. De uma forma simples, a Comissão Europeia emite títulos de dívida nos mercados financeiros internacionais com uma determinada taxa de juro, os investidores compram esses mesmos títulos e recebem o seu dinheiro de volta juntamente com os tais juros. 

A ideia parece infalível, porém há problemas. Um dos grandes problemas está na devolução do dinheiro que será emprestado. Segundo o Conselho Europeu, a Ucrânia irá devolver os 90 mil milhões de euros quando receber as reparações de guerra da Rússia. Desta forma, a União Europeia está a endividar-se com base numa hipótese futura que nem sabe se se irá concretizar ou se será suficiente para cobrir os avultados valores do empréstimo. 

A comunicação social e os especialistas na área estão já a festejar o acordo alcançado, apesar da ideia inicial ter sido dar à Ucrânia os fundos russos que se encontram congelados. Esta ideia esbarrou na falta de vontade belga e húngara. Naturalmente, a solução encontrada por António Costa, presidente do Conselho Europeu, agrada a todas as partes na medida em que estão todos fortemente comprometidos com a especulação dos mercados financeiros e sabem que estão em condições de apresentar a fatura aos povos, continuando, assim, a destruição das funções sociais do Estado, rumo seguido pelos Estados-Membro. 

Na solução da emissão de dívida conjunta, Hungria, República Checa e Eslováquia não terão de pagar um cêntimo, nem dos juros do empréstimo nem da eventual amortização, caso a Ucrânia não devolva o dinheiro. Este é mais um elemento negativo da proposta aprovada. «Parece um empréstimo, mas é claro que os ucranianos nunca conseguirão pagá-lo. É basicamente dinheiro perdido», disse Viktor Orbán, considerando que «quem está por trás desse empréstimo assumirá a responsabilidade e as consequências financeiras disso».

Em sentido contrário e totalmente submetido à vontade de outros está Luís Montenegro que afirmou aos jornalistas que com a reunião do Conselho Europeu «o objetivo foi alcançado», garantido que se trata de uma «posição forte da UE» e uma «expressão de unidade».

Já a Rússia, saudou a decisão europeia de não usar bens russos para financiar Kiev. Para Moscovo existe uma dupla vitória uma vez que os bens ficam a salvo e a União Europeia embarca numa falsa solução de empréstimo que lhe sairá muito cara no futuro. 
 

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