EUA: o Império não paga a traidores

Em 2021, Guan Heng, um cidadão chinês, seguiu as pistas da BuzzFeed (um site de notícias conhecido pelos quizzes, reportagens sobre celebridades, receitas culinárias e dicas de bricolage) e gravou um vídeo de 20 minutos sobre o suposto «genocídio uigur»: uma campanha de propaganda sustentada nas alegações de Adrian Zenz, responsável pelos Estudos sobre a China na Fundação Memorial das Vítimas do Comunismo (uma organização criada por decisão unânime do Congresso dos Estados Unidos da América, em 1993) que acredita ser «guiado pela mão de Deus».

Ao longo do vídeo, que não chega aos 20 minutos, Guan Heng viaja por Xinjiang e capta imagens normais de uma operação STOP, campos agrícolas, prédios e edifícios governamentais, incluíndo prisões aparentemente vazias (com torres de vigia que, à excepção de uma com dois guardas, não são utilizadas), a maior parte das quais no meio de centros urbanos, e um quartel.

Pouco tempo depois, Guan Heng aproveitou uma viagem à América do Sul para entrar nos EUA, pedindo o estatuto de exilado político (ainda que não tenha sofrido qualquer repercussão na China). Em menos de três anos, Guan foi detido pelos Serviço de Imigração e Alfândega (mais conhecidos pela sigla ICE) e enviado para um dos vários campos de deportação conhecidos pelas suas más condições e pelos maus-tratos prestados aos imigrantes sequestrados nas ruas e nos seus locais de trabalho (até final de Outubro, 20 pessoas morreram nestes espaços).

Quando conseguiu finalmente falar com o seu filho, Luo Yun encontrou-o num «estado emocional de pânico extremo e de colapso nervoso». Numa audiência com um juiz realizada na segunda-feira, Guan pode ainda evitar a deportação para a China caso a justiça norte-americana concorde em enviá-lo para o Uganda, com quem os EUA têm um acordo de extradição para os requerentos de asilo que rejeitou. O império não paga mesmo a traidores.