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Tanto mar... mas a maré inverteu-se

Num mundo a preto e branco, partilhado entre um paradisíaco “jardim” ameaçado e uma tenebrosa “selva” sem escrúpulos, quem não está connosco está contra nós. E Lula, não haja dúvidas, está contra nós.

CréditosAntónio Pedro Santos / Agência Lusa

Uma primeira nota antes de entrar na matéria substantiva.

A primeira visita de Estado do presidente brasileiro Luiz Inácio da Silva (Lula) foi aos Estados Unidos para se encontrar com o decrépito homólogo Joseph Biden, sinalizando assim uma política de continuidade em relação à tradição de Brasília. Ou, pelo menos, a intenção de não agitar imediatamente as águas no relacionamento com o sempre ameaçador vizinho do Norte.

À luz factual das relações entre o Brasil e os Estados Unidos durante a última década pode considerar-se intrigante que Lula da Silva tenha dado primazia a Biden nas suas deslocações ao estrangeiro, porque não se trata de um qualquer presidente norte-americano. Biden foi interveniente, como vice-presidente na administração Obama, no desenvolvimento do lawfare, a manobra jurídica, conspirativa e golpista que levou Lula à cadeia como passo determinante para tentar acabar com a sua carreira política; no seguimento da operação, a mesma administração dos democratas de Washington manipulou o golpe/”revolução colorida” que provocou a dissolução da administração de Dilma Rousseff, igualmente do Partido dos Trabalhadores, o mesmo de Lula, e abriu portas à gestão desastrosa do fascista Bolsonaro. Tudo isto dá que pensar.

Na recente visita a Washington, Lula fez coro com o anfitrião na condenação da intervenção militar russa na Ucrânia e defendeu a integridade territorial deste país, posições que, no plano formal, quase o sintonizam plenamente com os Estados Unidos e os seus satélites da União Europeia e da NATO.

Postas as coisas neste pé, as polémicas que explodiram em Portugal a anteceder e durante a visita oficial do presidente brasileiro funcionaram desde logo como montagens artificiais e calculistas, sobretudo por envolverem o período das celebrações populares e oficiais (não as confundir) do 25 de Abril. O que foi uma coincidência de agendas funcionou como oportunidade para misturar coisas, levantar muita poeira, tentar abafar as comemorações da Revolução e catapultar matéria acessória como tema único da destrambelhada gritaria mediática dos meios corporativos. Nas motivações mal encobertas de uma típica reacção pavloviana da casta dominante em Portugal acabaram por revelar-se diferenças entre o Brasil e o Portugal de hoje que são mais do que pormenores – mesmo dizendo-se que é logo a partir destes que o diabo penetra nas engrenagens.

A entranhada mentalidade colonial

Passemos agora aos factos concretos e extensivos que cavam as diferenças entre o Brasil e o regime português actual e que tanto preocupam a camada dirigente implantada ao serviço da União Europeia e da NATO.

Até ver, o posicionamento internacional da nova gestão de Lula parece corresponder a uma estratégia ainda aparentemente indefinida de alguém à procura de um difícil equilíbrio, em tempos de profundas alterações mundiais, assente na proclamação de princípios intocáveis e na soberania nacional.

Como se percebeu a propósito da deslocação do presidente brasileiro a Portugal, o comportamento de Lula é inadmissível para a submissa classe dirigente lusitana, porém arrogante e obsessiva na defesa e proclamação de interesses alheios aos dos povos português e brasileiro. A prática do chefe de Estado brasileiro, ainda que omissa em vários aspectos definidores, distancia-se desses interesses, assume uma postura de quem pensa pela própria cabeça na qual se percebe uma preocupação com a independência nacional. Lula não deixa dúvidas de que defende acima de tudo aquilo que interpreta como sendo os interesses dos brasileiros.

Ora, soberania e independência nacional são conceitos arcaicos para a europeíssima e natíssima elite que corrói Portugal, cada vez mais receptiva às variantes de colarinho branco e trauliteira do neo-salazarismo e ao troar de uma comunicação social ferozmente totalitária que as acarinha com enlevo. Uma situação em que, ao contrário dos interesses brasileiros, os dos portugueses são quotidianamente dizimados. Por exemplo, pelas auto-flageladoras sanções que Lisboa impõe por exigência de outrem e que Brasília rejeita liminarmente.

Assim sendo, o Lula que desembarcou em Portugal não passa de um putinista mais ou menos encapotado porque, mesmo reconhecendo a soberania e integridade territorial da Ucrânia, não se dispôs a enviar armas para prolongar a matança em curso e, talvez pior, insiste em falar de paz, de direito internacional, de reorganização da ONU, do FMI e do Banco Mundial e de outras coisas inadmissíveis para a “ordem internacional baseada em regras” ditadas de Washington.

Num mundo a preto e branco, partilhado entre um paradisíaco “jardim” ameaçado e uma tenebrosa “selva” sem escrúpulos, quem não está connosco está contra nós. E Lula, não haja dúvidas, está contra nós.

O presidente brasileiro deveria estar obrigatoriamente connosco para que se respeitem as afinidades burocraticamente invocadas em Lisboa, Bruxelas, restantes capitais da União Europeia e Estados Unidos e que não passam de assanhados tiques coloniais e imperiais finalmente a perder espaço e poder ao nível planetário. O presidente brasileiro, se observarmos objectivamente o seu posicionamento perante as contradições dos tempos em mudança, pretende actuar como sujeito da História. Ao contrário de Portugal.

A fronteira da ordem mundial

Essa é uma diferença de fundo entre um país que foi colónia, mas agora luta por ser autenticamente independente e um país colonial transformado em colónia sem perder os ademanes presunçosos de “civilizador”, “justiceiro” e “missionário”, agora do globalismo predador. A inquisitorial entrevista montada pela RTP a Lula, formatada como um julgamento em que o réu, já condenado sem remissão, deveria responder da maneira exigida pelo ríspido juiz de turno, foi um exemplo vivo do terrível choque de mentalidades entre o norte e o sul do Oceano Atlântico.

O que verdadeiramente separa Lula do poder português, e que tanto preocupa políticos, analistas e comentadores incapazes de admitir qualquer coisa que não respeite a opinião única, são os conceitos em que deve assentar a nova ordem mundial.

A dominante económica e política em Portugal, seguindo obedientemente os caminhos suicidas que lhe são impostos, agarra-se a uma “ordem internacional baseada em regras”, a estrutura unipolar e imperial que conduz o mundo desde a queda do muro de Berlim e se arrasta agora numa agonia belicista e perigosa; ao invés, a gestão de Lula orienta-se por uma ordem internacional multipolar nascente, constituída por Estados soberanos e iguais entre si, baseada na cooperação mutuamente vantajosa e sem ingerências nos assuntos uns dos outros – tal como determinam a Carta das Nações Unidas e o direito internacional. A nova ordem em construção, demonizada pela mentalidade que se pretende única, mais não é do que o restabelecimento do direito internacional, descredibilizado e desacreditado por uma oligarquia globalista que o encara como um estorvo aos seus “direitos” divinizados e “civilizadores” vigentes no tal “jardim”, sempre empenhado em universalizá-los, preferencialmente à custa de guerra, destruição e muito sangue humano.

“Eles querem uma nova ordem mundial!”, escandalizou-se recentemente o presidente da Assembleia da República, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e putativo candidato à Presidência, o inenarrável Santos Silva. Falava a propósito das intenções soberanistas da Rússia, China e muitos outros países que formatam um novo tipo de relacionamento entre as nações mundiais do qual estejam ausentes os agora omnipresentes mecanismos de subordinação - a aplicação imperial da lei do mais forte.

«A dominante económica e política em Portugal, seguindo obedientemente os caminhos suicidas que lhe são impostos, agarra-se a uma “ordem internacional baseada em regras”, a estrutura unipolar e imperial que conduz o mundo desde a queda do muro de Berlim e se arrasta agora numa agonia belicista e perigosa; ao invés, a gestão de Lula orienta-se por uma ordem internacional multipolar nascente, constituída por Estados soberanos e iguais entre si.»

A defesa da soberania brasileira é, como vimos, um aspecto em que Lula contradiz o comportamento da elite portuguesa. E essa opção implica outras que cavam ainda mais o fosso entre Brasília e Lisboa.

O conteúdo da recente visita do presidente brasileiro à China funciona como pedra de toque essencial desse distanciamento.

Lula e Xi Jinping falaram de paz, e não apenas na Ucrânia, um tema tabu e subversivo no chamado Ocidente colectivo. E, como consequência natural disso, sublinharam a necessidade de negociações para solucionar a guerra ucraniana e travar a matança em curso.

A abordagem de temas como a paz, a solução negociada de conflitos, a igualdade entre Estados, a complementaridade equilibrada das economias e do comércio internacional tal como foram abordadas em Pequim não estão sintonizadas, obviamente, com a NATO na qual Portugal se enterrou com o que tem e não tem.

“Deixou de se falar de paz”, lamentou Lula em Portugal num tom educadamente conciliatório mas que funcionou como um recado diplomaticamente poderoso estabelecendo, desta maneira, uma fronteira estanque entre Lisboa e Brasília. Por isso, a inclusão do termo “paz” nos documentos conjuntos luso-brasileiros acordados em Lisboa é um exercício de hipocrisia do lado de cá. As autoridades portuguesas limitaram-se, afinal, a seguir os comportamentos mistificadores assumidos por parceiros maiores da União Europeia, como a Alemanha e a França, assinando compromissos sem a menor intenção de os respeitar – como aconteceu nos acordos de Minsk, que poderiam ter evitado a chacina ucraniana. Isso mesmo foi confirmado por François Hollande e Angela Merkel a qual, no entender do chefe de Estado, merece uma das mais altas condecorações portuguesas, tal como aliás o ucraniano Zelensky. Depois não venham insultar os cidadãos portugueses que se recusam a ser agraciados por Belém para não terem de partilhar comendas com tal gente.

O papel e o teste dos BRICS

A China e o Brasil, recorda-se, são membros fundadores do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), uma entidade que lentamente se vem transformando no pior pesadelo para as mordomias do Ocidente colectivo.

Compreende-se porquê.

Através das dinâmicas abertas pelos BRICS e por outras entidades complementares onde se associam nações soberanas - como a Iniciativa Cinturão e Estrada da China (ICE), a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) fundada pela China e a Rússia, a União Económica da Eurásia e o Tratado de Segurança Colectiva (OST), lançadas pela Rússia - a China tornou-se, a grande distância, o maior parceiro económico e comercial do Sul Global – incluindo a América Latina, o “quintal das traseiras” dos Estados Unidos da América. A estes grupos dinâmicos podem acrescentar-se outros acordos recentes como o Corredor Internacional de Transportes Norte-Sul, ligando a Rússia, o Irão e a Índia; e o Corredor Económico China-Ásia Central-Ásia Ocidental (que inclui o habitualmente designado Médio Oriente).

Estas novas estruturas traduzem uma potencial revolução em relações multilaterais e poderes regionais, na cooperação, no comércio e nas rotas mundiais de circulação de bens, matérias primas estratégicas, artefactos tecnológicos de ponta e mercadorias, funcionando alternativamente em relação aos circuitos transcontinentais há muito definidos ao sabor dos interesses específicos e exclusivistas de índole colonial e imperial.

O “jardim” do Ocidente colectivo, com os seus 15% da população mundial, começa a sentir a marginalização inerente. Entrou em pânico, em desespero e a insistência selvagem na guerra da Ucrânia, manifestando um criminoso desprezo por um e todos os ucranianos dos quatro pontos cardeais, é um dramático sinal dessa agonia. Implícitas estão a estratégia de minar não apenas o poder e a soberania da Rússia mas também a intenção de desmantelar o país como uma espécie de golpe de misericórdia para salvar a velha ordem imperial, a tal “baseada em regras” verdadeiramente desconhecidas até que qualquer cidadão do mundo sinta os seus efeitos nefastos.

O dólar perde a validade

Neste novo mundo emergindo das convergências de interesses e soberanias dos BRICS e várias outras organizações começou a praticar-se aquilo que traduz uma machadada num dos grandes pilares do globalismo, isto é, a fuga crescente da maioria da população mundial à moeda única, o dólar.

A desdolarização está na ordem do dia. As organizações transnacionais que actuam na criação da ordem internacional multipolar estão a trabalhar activamente em mecanismos de relacionamento que, para já, substituem o dólar por moedas nacionais; e também na criação de moedas de cariz transnacional baseadas em “cestas” de riqueza tangível como o ouro, matérias-primas mais valiosas e produtos alimentares. Tudo ao contrário do dólar, transformado em papel impresso associado somente à especulação financeira e que perdeu qualquer contacto com a riqueza concreta. O fim da época do dólar, que induz um requiem pelo euro, traduz o confronto aceso entre o capitalismo financeiro e o capitalismo produtivo, travado em planos diferentes de uma única ideologia, o capitalismo explorador. Daí que o esforço de situar o confronto entre a velha e a nova ordem internacional, num plano de cruzada da “democracia liberal” contra os autoritarismos e as autocracias, seja apenas mais uma manobra de manipulação porque, como está mais do que comprovado, ninguém tem as mãos limpas em matéria de respeito pela democracia, direitos humanos e valores universais. As chacinas no Iraque, Afeganistão, Síria e Líbia não são mais “civilizadas” do que a matança na Ucrânia. E as “democracias liberais”, tratando tecnocraticamente os seus cidadãos como ferramentas, números e estatísticas, servindo-se de um aparelho triturador de vidas humanas como a NATO, não hesitam em sangrar-se a si próprias para sustentar o regime autocrático, racista e de inspiração nazi-banderista como o ucraniano de Kiev.

«As organizações transnacionais que actuam na criação da ordem internacional multipolar estão a trabalhar activamente em mecanismos de relacionamento que, para já, substituem o dólar por moedas nacionais; e também na criação de moedas de cariz transnacional baseadas em “cestas” de riqueza tangível como o ouro, matérias-primas mais valiosas e produtos alimentares.»

O declarado apoio de Lula à substituição do dólar nas relações entre Estados soberanos, que corresponde aos objectivos programáticos dos BRICS, é uma das principais razões da desconfiança que os dirigentes ocidentais nutrem por ele. Nos Estados Unidos a sensação é de pânico, perceptível em reprimendas proferidas pelo próprio Biden em relação à política externa do Brasil: imagine-se o retorno e o despejo de biliões de pedaços de papel impresso com valor real ínfimo na economia degradada de um país que tem uma dívida soberana impagável mas sustentada, até agora, pelas nações e povos do mundo através da utilização potencialmente exclusiva do dólar.

A desdolarização não é um objectivo idealizado somente lá para as calendas. É um movimento concreto em curso: dados do FMI explicam que a participação do dólar nas reservas globais era de 73% em 2001, descendo para 55% em 2021 e para 47% em 2022. A descida de oito pontos em apenas um ano revela que, na actualidade, a velocidade de abandono do dólar no comércio internacional aumentou dez vezes. Essa vertigem é consequência, por exemplo, do facto de a Arábia Saudita e a China passarem a comercializar petróleo – o maior negócio bilateral do mundo – nas moedas nacionais (um golpe terrível no petrodólar); de a Rússia ter adoptado o mesmo sistema em trocas com a Índia, o Irão, a China e vários outros países; e de o Brasil ter dado indícios de passar a negociar com a China, uma parceria de grande envergadura, em yuan chinês.

Estas mudanças de fundo registam-se numa fase em que, ainda segundo o FMI, os BRICS (apenas com cinco países) representam 32,1% da economia global contra apenas 7,29% do G7, Grupo dos Sete, o cartel dos “donos do mundo” ansiosos por imporem o globalismo totalitário através da NATO e da neutralização da vontade dos cidadãos recorrendo à morfina da comunicação social e da indústria de entretenimento à escala planetária. Como pode ver-se, o “jardim” de Borrell começa a confrontar-se com a sua própria insignificância demográfica e territorial. E também com as suas crescentes insuficiências económicas, tecnológicas e, principalmente, de recursos naturais, energéticos e matérias-primas

Portugal é um canteiro irrelevante desse “jardim”; o Brasil é um gigante no meio da “selva” em progressão. O mal contido azedume raivoso colonial da triste “intelligentsia” lusa perante Lula tem essencialmente a ver com este quadro global e muito menos com a tão invocada e suposta diferença de posições em relação à Ucrânia. Que não passa de uma simples manifestação de hipocrisia porque a elite dirigente portuguesa, tal como as dos países da NATO e da União Europeia, desprezam liminarmente todos os ucranianos. Caso contrário não os condenavam a uma matança sistemática como a que continua a ser incentivada e alimentada.

O Verão pode ser muito quente

Atentemos, a propósito, no que pode acontecer já no próximo Verão com a cimeira dos BRICS na África do Sul. Como indicador importante da consistência actual do grupo veremos se Lula comparecerá nessa reunião de alto nível em que estarão também os presidentes chinês e o russo; e se o presidente brasileiro se avistará com Putin.

No entanto, como sinal do seu empenhamento em relação ao papel dos BRICS deve notar-se, por outro lado, que Lula designou Dilma Rousseff, outrora sua sucessora no cargo presidencial, como directora do banco da organização, o Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai.

Porém, o aspecto com maior impacto estratégico dessa cimeira será o de saber qual a dimensão do alargamento dos BRICS, que pode implicar uma tremenda alteração qualitativa no cenário mundial. São 19 os países que apresentaram a sua candidatura à organização, entre eles o Irão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Argentina, o México, a Turquia (membro da NATO) e a Indonésia. Países muito diferenciados, tanto ao nível político como geográfico. Mas que parecem dispostos a privilegiar interesses soberanos e a potenciar a cooperação em detrimento do que os separa. Repare-se na convergência – que parecia impossível – do Irão e da Arábia Saudita num mesmo grupo, depois de a China ter gerido um processo surpreendente, e alarmante para o Ocidente, que conduziu ao restabelecimento de relações diplomáticas entre os rivais. Repare-se ainda que este grupo de países, representando muito mais de metade da população mundial, possui a esmagadora maioria das reservas de recursos e matérias-primas estratégicas das quais dependem todo o desenvolvimento tecnológico, a inovação, a indústria de ponta e até a tão mistificadora “transição verde”.

Com Lula, o Brasil passou a actuar como uma grande potência em toda a construção deste processo capaz de determinar a nova ordem internacional multipolar. Sem quaisquer dúvidas, sobretudo a partir do alargamento, muitos outros países do Sul Global serão tentados por esta nova realidade, com as inerentes consequências restritivas para o espaço colonial/imperial.

É inevitável, portanto, que o Brasil soberano, com alma renovada, e o Portugal dependente, sem saber já muito bem o que realmente é, tenham poucos pontos de sintonia na situação mundial em transformação.

“Tanto mar a nos separar”, cantou Chico Buarque, agraciado com o mais do que merecido Prémio Camões, invocando há quase cinco décadas a enorme distância entre o Portugal libertado e o Brasil oprimido. Hoje a maré inverteu-se. Continua a haver “tanto mar” a separar, agora um Brasil que trata em primeiro lugar de si próprio e dos seus, e um Portugal verdadeiramente governado algures por máfias não eleitas e que despreza rudemente os portugueses.

«É inevitável, portanto, que o Brasil soberano, com alma renovada, e o Portugal dependente, sem saber já muito bem o que realmente é, tenham poucos pontos de sintonia na situação mundial em transformação.»

Neste 50.º ano da Revolução de Abril que atravessamos cabe ao povo português, que necessita urgentemente de recuperar a vontade, a capacidade de intervenção e a união perdidas, fazer tudo o que for necessário para dar substância à democracia e devolver a soberania a Portugal.

A soberania, ao contrário do que pretendem explicar-nos os serviçais da oligocracia e do atlantismo globalistas, não é subversiva nem autocrática. É a essência dos Estados, a base de afirmação dos interesses autênticos de cada povo. O governo não é global, os interesses próprios das nações não são transformáveis em argamassa indefinida manipulada por entidades cuja degeneração sociopática se exibe periodicamente no Fórum de Davos, os seres humanos não são zombies.

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