|Bolívia

A Marcha pela Pátria é uma das mobilizações «mais importantes» na Bolívia

Dirigentes sindicais e de organizações sociais participam na marcha de apoio Luis Arce, à democracia e à unidade do país, que arrancou terça-feira do departamento de Oruro e está prestes a chegar a La Paz.

Créditos / @evoespueblo

De acordo com o líder do Movimento para o Socialismo, Evo Morales, quando chegar à capital, hoje, a marcha deve passar a marca de um milhão de participantes. «Vamos inundar La Paz com uma vocação democrática e uma convicção revolucionária», disse.

«Marchamos unidos para defender a Bolívia, a sua democracia e o seu governo democrático. Somos um povo digno que nunca mais permitirá atentados golpistas à Pátria», sublinhou Morales.

A mobilização, que percorre um trajecto com mais de 220 quilómetros, completou este domingo o sexto dia, aproximando-se do final, na Praça de San Francisco, em La Paz.

Ao longo da jornada de ontem, os milhares de participantes exibiam wiphalas exigindo respeito pelo governo presidido por Luis Arce, que foi eleito pelo voto popular e enterrou de vez o governo golpista de Jeanine Áñez, que havia assumido o poder depois do golpe de Estado de Novembro de 2019 contra Evo Morales.

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Morales: «A unidade do povo é a derrota da direita e da política dos EUA»

A marcha de apoio ao executivo de Luis Arce, em defesa da democracia e da unidade da Bolívia entra no quarto dia, tendo feito quase metade do percurso entre Oruro e La Paz, onde deve chegar segunda-feira.

A Marcha pela Pátria, entre Oruro e La Paz, entra hoje no quarto dia 
Créditos / Prensa Latina

Na Marcha pela Pátria, convocada pelo Movimento para o Socialismo (MAS), os participantes procuram mostrar que estão ao lado do governo de Arce e que repudiam as manobras desestabilizadoras da direita no país.

A marcha partiu, na terça-feira, de Caracollo (departamento de Oruro) com destino à capital, onde se prevê que organizações sociais, sindicatos e estudantes se juntem, dia 29, aos marchantes.

Na partida, em Caracollo, a iniciativa teve à cabeça o presidente boliviano, Luis Arce, o vice-presidente, David Choquehuanca, e o presidente do MAS, Evo Morales. Arce pediu a todos os bolivianos que defendam a unidade face às agressões da oposição e afirmou que esta mobilização mostrará a coesão popular, refere a Prensa Latina.

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«A nossa luta é contra a pobreza», afirma o vice-presidente da Bolívia

Numa reunião no departamento de Beni, David Choquehuanca sublinhou a luta do governo contra a pobreza e fez um apelo à continuidade do trabalho em prol do crescimento económico.

David Choquehuanca, vice-presidente da Bolívia, afirmou que, quando se iniciou o processo de mudança no país, com Evo Morales, 4 em cada 10 bolivianos viviam em situação de pobreza extrema (imagem de arquivo) 
Créditos / Twitter

No encontro que manteve este fim-de-semana com os mototaxistas no departamento de Beni (Nordeste), o vice-presidente boliviano ressaltou o empenho do executivo em erradicar «a pobreza social e espiritual» do país.

Choquehuanca lembrou que, quando o processo de mudança chegou ao poder, em 2006, liderado pelo então presidente Evo Morales, de cada cem bolivianos 40 viviam em situação de pobreza extrema.

Então, muitos bolivianos não tinham casa ou acesso a serviços básicos, «pelo que o governo do Movimento para o Socialismo (MAS) começou a trabalhar para que na Bolívia ninguém mais tivesse de viver nessas condições», afirmou, citado pelo portal ahoraelpueblo.bo.

«Muitos de nós sabem o que é viver na pobreza extrema e muitos não sabem nem imaginam», disse o representante governamental no encontro, acrescentando: «Temos tanta riqueza, porque temos de estar em situação de pobreza extrema?»

Reconstrução económica depois do golpe

Antes, o vice-ministro da Coordenação com Movimentos Sociais da Sociedade Civil, Juan Villca Flores, destacou a importância de promover políticas de substituição de importações e o fomento da industrialização.

«Depois de um ciclo de estabilidade económica de 14 anos, o nosso país sofreu um golpe contra a situação social, constitucional, económica, e mergulhámos numa crise», disse Villca em entrevista à Bolivia TV, citado pela TeleSur.

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Empresa estatal de lítio na Bolívia regista recordes de produção

A empresa Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB) registou no primeiro semestre do ano números recorde na produção e vendas de cloreto de potássio (agrofertilizante) e carbonato de lítio.

No Salar de Uyuni, departamento bolviano de Potosí, existem as maiores reservas conhecidas de lítio 
Créditos / construcaolatinoamericana.com

Este resultado fica-se a dever ao processo de reactivação do projecto de industrialização do lítio que o Estado boliviano leva a cabo no Salar de Uyuni, no departamento de Potosí, noticiou este domingo o diário Ahora el Pueblo.

Os dados da YLB referem que, só em vendas de ambos os produtos (a nível nacional e internacional), a empresa nacionalizada facturou mais de 12 milhões de dólares.

De acordo com o presidente executivo da YLB, Marcelo González, «foram produzidas 400 toneladas de cloreto de potássio por dia, o que foi praticamente um recorde ao nível da produção, e houve dias em que registaram 700 toneladas, graças ao trabalho dos nossos técnicos».

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O golpe na Bolívia e a luta do povo de Uyuni para salvar o lítio

Numa entrevista à Kawsachun News, o dirigente sindical Ramiro Huayta revela como o lítio boliviano está a ser entregue ao capital estrangeiro e que o povo de Uyuni está a lutar para defender esse recurso.

O Salar de Uyuni possui as maiores reservas conhecidas de lítio no mundo
Créditos / Wanderlust

Na sexta-feira passada, Elon Musk, director executivo da Tesla e da Space X, foi claro ao responder no Twitter a um post sobre o seu interesse e o dos Estados Unidos em tirar o ex-presidente boliviano Evo Morales do poder: «Daremos um golpe em quem quisermos! Lidem com isso», escreveu. Para Evo Morales, actualmente exilado na Argentina, estas palavras são uma «prova» de que o golpe de Estado de Novembro passado esteve relacionado com o precioso recurso natural.

Mais de 50% dos depósitos de lítio a nível mundial encontram-se no chamado Triângulo do Lítio – Argentina, Bolívia e Chile – e é nos desertos montanhosos da Bolívia – o Salar de Uyuni – que existem de longe as maiores reservas conhecidas de lítio, um recurso natural cada vez mais importante, na medida em que cresce a procura para a sua utilização em baterias de carros eléctricos, computadores e equipamentos industriais.

O governo de Morales assumiu uma posição de cautela com as reservas de lítio, tendo deixado claro que o precioso recurso não devia ser entregue às multinacionais, que os lucros deviam partilhados com o povo boliviano e que qualquer acordo deveria passar pela Comibol, a empresa mineira nacional, e com a Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB), a empresa nacional de lítio. Esta política levou a que três grandes multinacionais – Eramet (França), FMC (Estados Unidos) e Posco (Coreia do Sul) saíssem do país e fossem para a Argentina.

«O governo de Morales assumiu uma posição de cautela com as reservas de lítio, tendo deixado claro que o precioso recurso não devia ser entregue às multinacionais, que os lucros deviam partilhados com o povo boliviano»

Quando se deu o golpe apoiado pelos EUA, a Bolívia estava a iniciar a industrialização do processamento dos produtos finais, pela mão da empresa nacionalizada YLB. Revertendo as orientações anteriores, o governo golpista já anunciou que pretende convidar inúmeras empresas multinacionais para o Salar de Uyuni, os grandes planaltos de sal, na região de Potosí, onde ficam as reservas do metal precioso. O empresário e candidato a vice-presidente de Áñez, Samuel Doria Medina, chegou ao ponto de convidar Elon Musk, pelo Twitter, para descer até ao Salar, explorar os recursos e criar ali uma fábrica de baterias de lítio para os carros da Tesla.

Com Evo Morales, o objectivo era não a exportação de lítio, mas assumir o processo de industrialização no país – algo que já estava a avançar, com YLB a fabricar baterias de lítio e mesmo um carro eléctrico, em parceria com a empresa alemã ACISA.

Esse acordo foi ao ar, com o golpe. No entanto, o povo de Uyuni opõe-se com firmeza ao processo em curso de privatização e está a organizar-se para impedir o capital estrangeiro de, mais uma vez, saquear os recursos da Bolívia. Sobre isto, Ollie Vargas, jornalista da Kawsachun News, falou com Ramiro Huayta, líder da Federación Regional Única de Trabajadores Campesinos del Altiplano Sud (Frutcas).

Oliver Vargas (OV): Quais são as ameaças ao lítio da Bolívia com este regime?

Ramiro Huayta (RH): A primeira questão é que todo o projecto [de industrialização do lítio] está parado. Isso significa que todos os aspectos do plano original se desmoronaram. A outra ameaça é o anúncio que o ministro da Economia fez, a 23 de Abril, no Fórum Económico de Santa Cruz. Ele disse que, para atrair investimento estrangeiro para o lítio, tem de se chamar duas ou três empresas estrangeiras, supostamento para injectar recursos. […] Isto fez-nos entender que a ideia é intervir no lítio para o privatizar. É uma ameaça séria.

OV: Pensa que o golpe ocorreu sobretudo para impedir o processo de industrialização da Bolívia do seu próprio lítio?

RH: Sim, completamente. Toda a situação ligada ao lítio manteve-se muito escondida. Como sabe, o Comcipo (Comité Cívico Potosinista, um grupo de protesto de direita liderado por Marco Pumari, uma das figuras destacadas no golpe) começou por tentar lidar com a situação ainda antes do golpe. Mas, sim, no fundo, o golpe teve sempre a intenção de intervir na questão do lítio. O Comcipo forneceu algum do pessoal para isto, como Juan Carlos Zuleta, que era assessor do Comcipo antes do golpe e depois se tornou o director da YLB, já com Áñez no poder. Eles tentaram sempre fazer uma manobra com as reservas de lítio ou, pelo menos, negociar alguma coisa para eles mesmos, pois, de todo o Triângulo do Lítio na América do Sul, é a Bolívia que tem as maiores reservas. A Argentina e o Chile têm algum mas em menor quantidade.

OV: Então é por isso que Marco Pumari deu início aos protestos em Potosí, antes e depois das eleições que Evo Morales ganhou?

RH: Primeiro, centraram-se numa parte do contrato com a ACISA que estipulava que a parceria durava 70 anos. Eles manipularam este aspecto de modo a mostrá-lo como algo de extremamente negativo, que depois provocou muita revolta na cidade de Potosí e em muitas partes da Bolívia.

Depois, começaram a falar da questão dos impostos e daquilo que ficaria em Potosí. Foram estes dois aspectos que foram usados como pretexto para intervir, sabendo eles muito bem que o que queriam era colocar alguém em posição de controlo dentro da YLB, no caso, Juan Carlos Zuleta.


O seu plano foi sempre derrubar o governo para abrir caminho aos negócios. No entanto, eles falharam neste objectivo [Marco Pumari concorre contra a lista de Áñez, sendo candidato a vice-presidente na lista de Fernando Camacho, fascista de Santa Cruz e outro elemento destacado no golpe].

Zuleta acabou por ser despedido por Áñez e foi substituído por Valda, que não tem ligações ao Comcipo. Então, podemos verificar que existe uma luta interna no seio da direita sobre quem controla o lítio. E, enquanto isto, o projecto de industrializar o lítio foi abandonado.

OV: Depois de tudo isto, Pumari tem muito apoio popular em Potosí?

RH: Bem, até ao golpe, eles conseguiram ganhar algum apoio no departamento. Mas deu-nos prazer ver como esse apoio depressa desapareceu, pois veio a público muita informação sobre a maneira como os de Pumari estavam a tentar fazer negócios sujos e a tentar lucrar junto do novo governo. Isso deixou muita gente decepcionada e a situação agora mudou. […]

Na Bolívia, hoje, as pessoas, sobretudo os camponeses, são perseguidas. Enquanto isso, a burguesia tem todos os benefícios e privilégios. Esta diferença entre classes é agora muito mais clara.

OV: As pessoas em Uyuni estão a lutar contra a tentativa de privatizar o lítio da Bolívia?

RH: Sim, o povo de Uyuni protestou quando o então director Juan Carlos Zuleta veio fazer uma visita. Fomos até ao aeroporto para o tentar impedir de chegar a Uyuni. Ele teve de se esconder no interior do aeroporto por um bocado e depois saiu pela porta das traseiras, escoltado pela Polícia.

«Na Bolívia, hoje, as pessoas, sobretudo os camponeses, são perseguidas. Enquanto isso, a burguesia tem todos os benefícios e privilégios. Esta diferença entre classes é agora muito mais clara.»

Este tipo de comportamento mostra-nos que o actual governo não quer trabalhar com as organizações sociais de Uyuni, querem impor as coisas à força.

O sindicato que eu lidero sempre se opôs ao que se está a passar e disse «não» às mudanças operadas na empresa estatal YLB. Também as Juntas Vecinales (associações de moradores, de bairros) em Uyuni estão a protestar contra a privatização. Nós sabemos exactamente o que se está a passar. As nossas exigências são: primeiro, a reactivação do projecto de industrialização; segundo, uma lei geral para determinar como uma empresa estatal é gerida.

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González sublinhou ainda o facto de o lucro gerado no primeiro semestre deste ano ultrapassar de longe os quase dois milhões de dólares reportados no mesmo período da gestão anterior.

A empresa tem a funcionar actualmente a Fábrica Piloto de Carbonato de Lítio e a Fábrica Industrial de Cloreto de Potássio. Esta última foi inaugurada e posta em funcionamento em Outubro de 2018 pelo então presidente Evo Morales.

Maiores reservas conhecidas de lítio

Mais de 50% dos depósitos de lítio a nível mundial encontram-se no chamado Triângulo do Lítio – Argentina, Bolívia e Chile – e é nos desertos montanhosos da Bolívia – o Salar de Uyuni – que existem as maiores reservas conhecidas de lítio.

O governo de Morales assumiu uma posição de cautela com estas reservas, deixando claro que o precioso recurso não devia ser entregue às multinacionais, que os lucros deviam partilhados com o povo boliviano e que qualquer acordo deveria passar pela Comibol, a empresa mineira nacional, e pela YLB, a empresa nacional de lítio.

Com Evo Morales, o objectivo era não a exportação da matéria-prima, mas assumir o processo de industrialização no país – algo que já estava a avançar, com YLB a fabricar baterias de lítio e mesmo um carro eléctrico, em parceria com a empresa alemã ACISA.

O governo de Luis Arce assumiu desde o início a intenção de retomar o processo de industrialização do lítio, travado pelo governo golpista, colocando os recursos naturais ao serviço do país para erradicar a pobreza e aumentar a soberania.

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Ao referir-se à desestabilização provocada pelo golpe de Estado, Villca apontou o governo golpista liderado por Jeanine Áñez como principal responsável pela dívida externa de quase cinco mil milhões de dólares.

«Desta crise, lamentavelmente, custou muito trabalho sair», afirmou o vice-ministro, sublinhando a necessidade de «garantir um futuro para as novas gerações em que haja trabalho, estabilidade e não existam preocupações por causa da instabilidade económica».

De acordo com dados oficiais, durante 11 meses o governo liderado pela autoproclamada Áñez deixou como herança ao país uma dívida estimada em 4,9 mil milhões de dólares.

Nesse período, o produto interno bruto (PIB) caiu 11,1% e o défice fiscal subiu até 12,1%.

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Até ao momento, os participantes fizeram mais de cem dos 226 quilómetros do trajecto. Aderiram à marcha, entre outras organizações, a Central Obrera Boliviana, a Confederación Sindical Única de Trabajadores Campesinos, a Confederación Nacional de Mujeres Campesinas Indígenas Originarias-Bartolina Sisa e a coligação de esquerda Pacto de Unidad.

Ontem, à chegada à localidade de Patacamaya, Evo Morales afirmou que a população marcha unida para «defender a revolução democrática e cultural liderada pelo presidente Luis Arce e o vice-presidente David Choquehuanca».

«A direita procura desestabilizar o país através de paralisações forçadas com vista a reeditar um golpe militar como o de 2019», «porque jamais conseguirá uma vitória eleitoral para chegar ao poder», sublinhou Morales, que apelou à coesão: «A unidade do povo é sempre a derrota da direita e das políticas norte-americanas», frisou.

Proposta de federalismo não parte do povo e responde a interesses da direita

O governador do departamento de Santa Cruz, Fernando Camacho, adiantou à imprensa uma proposta de federalização da Bolívia.

Em resposta, o presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, afirmou esta quarta-feira que esta atitude se entende, pois Camacho «foi o protagonista da ruptura da ordem constitucional e de todos os princípios democráticos em 2019, mas não conseguiu nada com isso e nós recuperámos a democracia com o voto do povo», informa a Agencia Boliviana de Información (ABI).

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Bolivianos repudiam ofensas à wiphala por autoridades de Santa Cruz

Entidades políticas, sociais e oficiais bolivianas prevêem realizar nos próximos dias acções de repúdio contra ofensas recentes no departamento de Santa Cruz à wiphala, bandeira indígena e símbolo nacional.

População de El Alto com a wiphala, a bandeira índigena, que, com Evo Morales no poder, se tornou co-oficial, em 2008
Créditos / pagina12.com.ar

Uma das acções destacadas terá lugar na sexta-feira, com jovens a reivindicarem o símbolo de origem indígena numa mobilização que representará entidades das 20 províncias do departamento de La Paz, na sequência das ofensas repetidas à wiphala em Santa Cruz, refere a Prensa Latina.

No passado dia 24, nas cerimónias do 211.º aniversário do Grito Libertário de Santa Cruz, o governador do departamento, o político de extrema-direita Luis Fernando Camacho, impediu que o vice-presidente boliviano, David Choquehuanca, proferisse o seu discurso.

De forma paralela, indica a Agencia Boliviana de Información (ABI), alguns dos apoiantes de Camacho retiraram do mastro, à força e entre empurrões, a wiphala (termo da língua aimara) que tinha sido içada por Choquehuanca. Além disso, agrediram e expulsaram do local um dirigente indígena.

O Movimento para o Socialismo já pediu ao Ministério Público que investigue as ofensas realizadas em Santa Cruz contra o símbolo nacional, sublinhando que estão em causa «direitos fundamentais», nomeadamente o de «liberdade de pluralismo ideológico» e o de «expressão».

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Governo boliviano realiza grande investimento no departamento de Santa Cruz

O presidente boliviano anunciou a retoma do investimento público num departamento governado pelo «agitador» de extrema-direita Fernando Camacho. O orçamento é 149% superior ao executado em 2020.

O presidente boliviano (à direita) cumprimenta uma senhora no município de La Guardia (departamento de Santa Cruz) 
Créditos / @LuchoXBolivia

Ao visitar o departamento de Santa Cruz, Luis Arce destacou, na quarta-feira, a reactivação do investimento público no departamento, sendo que o orçamento deste ano é superior em 149% ao executado durante 2020.

Para 2021, estão programados cerca de 5,1 mil milhões de bolivianos (mais de 640 milhões de euros), que têm como destino prioritário os sectores da produção e das infra-estruturas.

As autoridades do país andino-amazónico explicaram que, entre os projectos a executar, se encontram a construção e a ampliação de hospitais em sete municípios: Camiri, Puerto Suárez, San Ignacio de Velasco, San Julián, Warnes, La Guardia e El Torno.

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Bolívia vai concluir 1800 obras que foram interrompidas pelo golpe de Estado

O presidente boliviano anunciou esta segunda-feira que o seu governo vai concluir pelo menos 1800 obras promovidas pelo ex-presidente Evo Morales e que ficaram paradas após a intentona golpista de 2019.

Luis Arce na tribuna do comício realizado pelo Movimento para o Socialismo (MAS) para celebrar a vitória nas eleições de 18 de Outubro, em El Alto, La Paz, Bolívia, a 24 de Outubro de 2020
Créditos / Twitter/Luis Arce Catacora

«Estamos a concluir o que já estava a ser construído em todo o país, mais de 1800 projectos, e depois vamos começar novas obras», afirmou Luis Arce no acto de entrega da Unidade Educativa Tomás Katari, no município de Macha (departamento de Potosí).

«Quando assumi o cargo, deparei-me com um Estado endividado, mas temos estado a trabalhar durante todo este tempo e, agora, estamos a terminar todas as obras. Por isso, o nosso lema é "obra terminada, obra 100% paga também"», afirmou, citado pela Agência Boliviana de Informação (ABI).

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Morales regressou a Chimoré, denunciou o golpe e pediu apoio para Lucho

Cerca de um milhão de pessoas juntaram-se para receber Evo na pista de onde levantou voo, há um ano, com destino ao exílio, no México. Morales denunciou o golpe e lançou uma mensagem de unidade.

 Cerca de um milhão de pessoas deram as boas-vindas a Evo Morales, em Chimoré, local de onde partiu para o exílio há um ano; com ele, o seu ex-vice-presidente. Álvaro García Linera
Créditos / @evoespueblo

«Vem lá dura luta, temos de acompanhar e estimar o irmão Lucho [Luis Arce]», disse ontem Morales na maior das concentrações realizadas desde que regressou ao país, na segunda-feira.

Na pista do aeroporto de Chimoré, no Trópico de Cochabamba, estima-se que cerca de um milhão de pessoas, provenientes de todo o país, se juntaram para receber o ex-presidente da Bolívia. A data era simbólica, já que esta quarta-feira passava exactamente um ano desde que Morales se viu forçado a fugir para o exílio, na sequência do golpe de Estado.

Ao falar para a multidão, Evo Morales defendeu que a exploração dos recursos naturais e estratégicos é uma via legítima para recuperar a soberania e a dignidade dos povos contra a subjugação pelo imperialismo norte-americano, indica a TeleSur.

Morales afirmou que a direita não aceita que os índios tenha conseguido mudar a Bolívia, referindo que, apesar dos erros cometidos, o Movimento para o Socialismo (MAS) mostrou que governa melhor o país que os neoliberais, sem ter de seguir as habituais receitas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O desenvolvimento alcançado na Bolívia e a grande melhoria das condições de vida do povo boliviano com base na nacionalização dos recursos naturais, fora do modelo capitalista, é algo que o imperialismo, que os Estados Unidos não perdoaram, sublinhou o ex-presidente, que enumerou provas de que o golpe de 2019 teve motivações económicas, para atacar o modelo alternativo de desenvolvimento do país sul-americano e deitar mão aos seus recursos.

Ainda sobre o golpe de Estado de 2019, Evo Morales disse que «derrotámos a direita e vamos continuar a derrotá-la porque somos um povo unido, organizado, mobilizado, que mostrou que em pouco tempo se pode mudar a Bolívia».

«Em menos de um ano recuperámos a democracia, voltámos ao governo; isso é algo inédito, histórico, único no mundo», disse, acrescentando que a vitória de Luis Arce e do MAS nas eleições de 18 de Outubro veio confirmar que, há um ano, não houve qualquer fraude, como alegaram os golpistas.

Organizações sociais reconhecem «liderança social indiscutível de Morales»

Morales chegou à Bolívia na passada segunda-feira, atravessando a fronteira internacional entre a Argentina – país onde esteve exilado desde Dezembro do ano passado – e o seu país em La Quiaca. Em Villazón, já no lado boliviano, teve início uma caravana de três dias pelas estradas dos departamentos de Potosí, Oruro e Cochabamba, até chegar a Chimoré.


Na concentração gigante de ontem estiveram presentes o líder do Senado, Andrónico Rodríguez, Juan Carlos Huarachi, secretário-geral da Central Obrera Boliviana, o candidato presidencial equatoriano Andrés Arauz, entre outros representantes de delegações internacionais, sindicatos, organizações populares.

Estava previsto que o presidente da República, Luis Arce, estivesse presente, mas tal não foi possível. Morales disse que falou com ele duas vezes ao telefone, na madrugada e manhã de ontem, sobre a nomeação dos membros do novo governo, na sequência da vitória esmagadora do MAS nas eleições gerais.

Antes da intervenção de Morales, representantes de organizações sociais da Bolívia leram um manifesto em que reconhecem a liderança social indiscutível de Morales, a sua governação unitária e o seu êxito em fazer da Bolívia um país independente e digno, informa a Prensa Latina.

No documento, comprometem-se a defender as conquistas da revolução democrática e cultural a nível político, social, económico e cultural, procurando alcançar êxitos económicos, maior igualdade, independência nacional e identidade pluricultural.

Também pedem segurança para o ex-presidente boliviano, tendo em conta as ameaças de morte contra ele vertidas na Internet desde que regressou ao país.

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Acrescentou que o actual governo assumirá todos os compromissos realizados pelo executivo de Morales (2006-2019), uma vez que beneficiam as populações das cidades e das áreas rurais.

Na comitiva que acompanhou Arce integrava-se o ministro da Educação, Adrián Quelca, que destacou a importância da construção da infra-estrutura educativa, no âmbito da estratégia do governo boliviano que faz de 2021 «o ano da recuperação do direito à educação».

A estrutura terminada e entregue implicou um investimento de cerca de 700 mil dólares. Conta com 12 salas de aula, dois laboratórios, oficinas, sala de reuniões e um campo multifuncional, precisa a agência Prensa Latina.

Apelo à unidade contra a desestabilização

Ao participar na tradicional Festa do Tinku, no mesmo município, o presidente da Bolívia pediu ao povo que se mantenha unido face a certas tentativas de desestabilização da direita.

«Vivemos em paz e tranquilidade, queremos trabalhar, mas a direita não dorme», disse Arce, sublinhando: «Por isso, mais que nunca, unidade, irmãos, entre todos nós.»

O chefe de Estado, que participava numa festa que é património cultural da Bolívia, recordou o papel importante dos municípios do Norte de Potosí na recuperação da democracia e a sua luta contra o golpe de Estado de Novembro de 2019, informa a ABI.

«Mostraram-no várias vezes, mostraram-no no bloqueio de caminhos de Agosto do ano passado, quando, graças a essa mobilização, dissemos "não" ao "prorroguismo" do governo golpista [sobre a data das eleições] e conseguimos uma data definitiva [18 de Outubro]», destacou.

«Estamos a levar o país para a frente, temos o problema da pandemia de Covid-19, o da Educação e estamos a encarreirar a economia pouco a pouco», disse ainda o presidente acompanhado por autoridades locais.

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Segundo refere a Agencia Boliviana de Información (ABI), as autoridades acrescentaram que o governo de Arce tem novos projectos para o departamento de Santa Cruz, na região oriental da Bolívia, nas áreas energética, hidrocarborífera e agropecuária, entre outras.

Esta sexta-feira, o Ministério do Planeamento do Desenvolvimento confirmou a atribuição da verba orçamentada, tendo afirmado que, «no âmbito da reconstrução do aparelho produtivo, o orçamento vigente dá prioridade aos projectos de infra-estruturas, sem descuidar os projectos de carácter social, particularmente os relacionados com a saúde».

Entre os de maior envergadura, estão a criação de Fábrica Siderúrgica Básica, em Mutún, para o fabrico de aço laminados, a construção da estrada San José de Chiquitos – San Ignacio e a recuperação da que liga Santa Cruz a Trinidad. Outros projectos programados são a construção de redes de gás domiciliário em Santa Cruz e a construção de dois parques eólicos.

As autoridades governamentais explicaram que, ao analisarem os dados do investimento e do crescimento económico, verificaram que o investimento estatal é um dos principais factores para o crescimento económico no departamento de Santa Cruz, indica a ABI.

Luis Arce durante a visita ao município de Buena Vista / @LuchoXBolivia

A «marcha indígena de Camacho»

Para esta sexta-feira estava prevista a chegada a Santa Cruz da marcha indígena que a 25 de Agosto partiu do departamento de Beni (Nordeste), com a característica peculiar de não se conhecer as suas reivindicações.

Aquilo que a referida marcha tem conseguido pelo caminho é reunir acusações de que é manipulada pelo actual governador do departamento de Santa Cruz, ex-presidente do Comité Cívico Pro Santa Cruz e que nos tempos mais acesos do golpe de Estado e da resistência a ele era apelidado como «facho Camacho».

Representantes da Central Indígena Regional Amazónica, do Consejo Nacional de Ayllus y Markas del Qullasuyu, da Confederación de Pueblos Indígenas del Oriente, Chaco y Amazonía, da Central de Mujeres Indígenas del Beni, do movimento aymara Ponchos Rojos, entre outros, foram deixando claro que a marcha não tinha «legitimidade» para representar os indígenas, e que respondia aos interesses de políticos e grupos de direita para desestabilizar o país e a acção do governo de Arce.

Em declarações à Bolivia TV, o antigo ministro Hugo Siles afirmou que o mero facto de Camacho apoiar esta marcha e assumir um papel de interlocutor a deslegitima.

Sublinhou ainda que este alegado apoio da extrema-direita aos indígenas contrasta com a realidade, uma vez que, historicamente, os povos originários das terras baixas e altas do país foram marginalizados por essa área política.

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Por seu lado, a Federação Especial dos Trabalhadores Camponeses do Trópico de Cochabamba condenou o «ultraje» e exigiu ao Ministério Público que actue contra Camacho e seus correligionários, como o actual presidente do Comité Cívico pro Santa Cruz, Rómulo Calvo.

Membros do partido Creemos, liderado por Camacho, retirou esta terça-feira do seu local, mais uma vez, a wiphala, bandeira de sete cores, aos quadrados, que representa os povos indígenas e é um dos símbolos nacionais da Bolívia.

Os aliados de Camacho, um dos agitadores no golpe de Estado de 2019 contra Evo Morales, chamaram «vândalos e delinquentes» a quem colocou no edifício do governo departamental a bandeira indígena, cumprindo a Constituição Política do Estado.

«Não vamos permitir que faltem ao respeito a David Choquehuanca»

Ao discursar esta quarta-feira em El Alto, a presidente do município, Eva Copa, manifestou solidariedade com o vice-presidente boliviano, David Choquehuanca, sublinhando que foi o povo quem escolheu «quem nos governa» e não permitirá que «ninguém lhe falte ao respeito», sendo «uma autoridade democraticamente eleita».

Copa disse que já «basta de confronto», que «já não é tempo de divisão, é tempo de que falemos a linguagem da paz para todos», em alusão ao que se passou no aniversário da fundação de Santa Cruz, refere a ABI.

«A wiphala não é um partido político, a wiphala é do povo, a wiphala (é) dos 36 povos indígenas, originários e camponeses, (…) não confundam, não politizem este tema e as autoridades façam o que têm de fazer», frisou a autarca de El Alto.

Lembrou ainda que a wiphala não é um mero trapo e que, como outros símbolos, tem um estatuto nacional reconhecido pela Constituição, desde 2008.

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Para Rodríguez, a proposta de federalismo responde ao «desespero» de Camacho e «não é uma exigência genuína do povo, não expressa o sentimento e a necessidade prioritária do conjunto dos bolivianos», pelo que carece de aceitação.

Por seu lado, Javier Flores, eleito do MAS em Potosí, afirmou que, com a proposta, o elemento da direita boliviana pretende evitar que a região partilhe a riqueza dos seus recursos.

Santa Cruz, Sucre e Tarija são departamentos produtores de riqueza natural e é-lhes aplicado o Imposto Directo aos Hidrocarbonetos, que vai para as universidades, municípios e departamentos do país, refere a ABI.

Flores entende que Camacho está a tentar fazer com que os recursos naturais sejam canalizados exclusivamente para Santa Cruz.

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Na zona de Calamarca, refere a TeleSur, juntaram-se mais pessoas, rejeitando as pretensões dos chamados «comités cívicos», organizações de extrema-direita que, depois da derrota nas eleições, agitam a bandeira do golpismo.

«O poder da nossa convicção revolucionária fez com que a Marcha pela Pátria seja uma das mobilizações mais importantes dos últimos anos. Milhares e milhares de companheiros avançam de forma pacífica mas firme para a cidade de La Paz», disse Evo Morales.

No sábado, o presidente boliviano, Luis Arce, juntou-se à marcha, tendo agradecido o apoio dos sectores populares à defesa da democracia.

Arce, que destacou o simbolismo da iniciativa e a defesa da unidade, afirmou a necessidade de continuar a trabalhar pela reconstrução e o desenvolvimento do país, denunciando que «há gente que não quer que avancemos porque responde apenas a interesses de grupos e também internacionais».

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