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Mais de 200 organizações rejeitam intervenção da OEA no Haiti

A grave crise que o Haiti enfrenta foi «fabricada», afirmam os subscritores de uma carta aberta ao secretário-geral da OEA, recordando o «direito sagrado do povo haitiano à autodeterminação e à sua soberania».

Organizações haitianas criticam «agenda unilateral» do roteiro da OEA e defendem «solução haitiana» para a grave crise no país Créditos / TeleSur

Numa carta aberta dirigida a Albert Ramdin, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), mais de 200 organizações sindicais, políticas e sociais haitianas rejeitaram, este domingo, a intervenção que o organismo pretende levar a cabo no Haiti.

A iniciativa – lembram o Brasil de Fato e a TeleSur – surgiu como resposta ao Roteiro para a Estabilidade e Paz no Haiti, publicada em Outubro pela OEA, depois de meses de trabalho em colaboração com a Comunidade das Caraíbas (Caricom) e a ONU, entre outras organizações – mas «sem qualquer diálogo com a sociedade civil haitiana».

O documento da OEA pretende criar uma estrutura de governação com um Grupo de Coordenação composto pela OEA, pelas Nações Unidas e pela Caricom, além da eventual nomeação de um Representante Especial da OEA para o país. O roteiro, acrescentam as fontes, também inclui a reorganização das forças de segurança, realização de eleições, entre outros pontos.

Um roteiro para o Haiti sem participação dos haitianos?

No entanto, os movimentos criticam essa agenda «unilateral», por não contemplar «as prioridades nacionais», e perguntam: «Porventura não elaboraram, em violação do nosso direito à soberania, um roteiro para o Haiti sem a participação do Haiti ou dos seus representantes?»

O texto divulgado destaca que o Haiti foi o primeiro país a romper «as correntes da escravidão e a primeira república negra do mundo», abrindo «o caminho da liberdade a todos os povos oprimidos da terra».

No entender dos subscritores, o país caribenho «continua a pagar um preço elevado» pelo facto de o seu povo ter tido «a coragem de dizer "não" à exploração, à opressão e ao racismo», e continua a ser alvo de represálias por parte das «antigas potências coloniais, racistas e esclavagistas, hoje potências imperialistas».

Neste sentido, classificam a grave situação no país como uma «crise fabricada com o intuito de enfraquecer sistematicamente o Haiti e de reforçar a sua dependência política e económica».

Uma solução haitiana

Para enfrentar essa crise, a missiva defende uma «solução haitiana», que «não pode ser importada ou imposta», mas concebida e desenvolvida pelos haitianos, «sem qualquer tipo de ingerência externa».

Perguntando se «a conduta actual da OEA para com o Haiti se diferencia do padrão colonial anteriormente referido», os subscritores sublinham que não excluem «a cooperação respeitosa de todos os países e organizações internacionais e regionais que desejem oferecer o seu apoio e solidariedade activa ao Haiti», desde que respeitem «o seu direito à autodeterminação e à sua soberania».

«Este gesto fraterno de solidariedade concreta é simplesmente reciprocidade», declara o texto, lembrando que, desde a sua fundação, o Haiti sempre «fez parte de uma longa tradição de solidariedade internacional activa e altruísta».

Neste sentido, os subscritores insistem que «a crise multidimensional que ameaça o presente e o futuro do Haiti merece uma análise profunda, com vista a encontrar uma solução haitiana».

«A solução duradoura deve partir dos próprios haitianos, que devem assumir o controlo do seu destino e liderar qualquer acção tomada pela comunidade internacional», sublinham.

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