|Haiti

Mantém-se nas ruas do Haiti a forte contestação a Moïse

Milhares de haitianos vieram novamente para as ruas exigir a demissão do presidente, Jovenel Möise, e condenar a interferência dos EUA e de organismos internacionais nos assuntos internos do país.

Milhares de pessoas manifestaram-se nos últimos dias contra Jovenel Moïse, defendendo que o seu mandato terminou a 7 de Fevereiro
Créditos / @JeSuisEspe_

A capital do Haiti, Porto Príncipe, foi palco de intensas mobilizações nos últimos dias. No domingo, o Sector Democrático e Popular, plataforma de oposição ao governo, conseguiu mobilizar milhares de pessoas.

Muitas exibiam bandeiras nacionais e cartazes em que se lia «Abaixo a Ditadura», «Viva a Democracia» e várias mensagens pouco abonatórias para o papel das Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e os EUA, que os manifestantes acusam de sustentar um presidente que não tem base de apoio popular, refere a Prensa Latina.

«Não, não, não vamos. Não, não, não vamos. Não vamos às eleições até que Jovenel vá para a prisão», gritavam alguns manifestantes no Champs de Mars, a principal praça pública do país, em frente ao Palácio Presidencial.

Uma parte considerável da oposição defende que o mandato constitucional de Moïse terminou a 7 de Fevereiro e já não o reconhece como autoridade, sustentando que está a instaurar uma ditadura no país caribenho.

|

Muitos milhares no Haiti em defesa da democracia e contra a ingerência externa

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se este domingo no Haiti em defesa da Constituição, denunciando o governo de Moïse, a «ditadura» e a acção do «imperialismo» no país caribenho.

Uma multidão mobilizou-se este domingo no Haiti para exigir a Jovenel Moïse que abandone o poder
CréditosEtant Dupain / Twitter

Segundo a agência AlterPresse, é difícil calcular com precisão o número de pessoas que ontem saíram à rua na área metropolitana de Porto Príncipe e em cidades como Cabo Haitiano, Jacmel ou Les Cayes, mas estima que tenham sido centenas de milhares a mobilizar-se para dizer «não» ao «regime de Jovenel Moïse», à sua «ditadura», ao «seu reino de sequestros em território nacional».

Na jornada de mobilização unitária, convocada pela Comissão de Protesto contra a Ditadura no Haiti, associações de advogados, organizações sociais e partidos políticos, os manifestantes quiseram denunciar a acção do Parti Haïtien Tèt Kale, que apoia o presidente Moïse, e exigir a este que abandone o poder e o Palácio Nacional, por considerarem que o seu mandato expirou no passado dia 7 de Fevereiro.

Na capital, a marcha começou junto ao viaduto baptizado como Cruzamento da Resistência e, ao longo do trajecto, foram-se juntando muitos outros manifestantes, incluindo personalidades da cultura e da política.

Num ambiente animado por camiões que transmitiam música, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra a «ditadura», a «ingerência externa» e o «imperialismo», exibiam bandeiras do Haiti, cartazes com reivindicações diversas ou exemplares da Constituição, para lembrar a Jovenel Moïse que tem de respeitar a Carta Magna do país.

Especialmente visada pelas palavras de ordem e pelos cânticos da multidão foi a ingerência externa, a acção da missão da ONU no Haiti e a da diplomata norte-americana Helen Meagher La Lime, representante do secretário-geral das Nações Unidas e chefe do Gabinete Integrado da ONU no Haiti (Binuh).

Recentemente, La Lime apoucou a adesão e a dimensão dos protestos contra Jovenel Moïse – como para justificar o apoio à figura presidencial – e ontem os manifestantes cantaram que «Helene La Lime não sabe contar».

Também criticaram a influência da Casa Branca nos assuntos internos do Haiti e a «hipocrisia» da comunidade internacional, que apoia um presidente inconstitucional e não faz caso da pressão popular – enquanto noutros sítios a inventa, conforme os interesses.

A marcha, que foi no geral pacífica, visou também denunciar o aumento da insegurança, dos sequestros e dos assassinatos, sobretudo em Porto Príncipe, algo a que, segundo a oposição, não é alheia a acção de Moïse.

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

A manifestação também contestou os projectos de alteração constitucional que Moïse está a promover e que, caso sejam aprovados, irão modificar o sistema parlamentar, eliminar o Senado, criando uma Câmara de Deputados ampla, e devolver direitos políticos e de nacionalidade aos haitianos da diáspora.

No entanto, refere a agência cubana, o projecto é alvo de muitas críticas e é imposto sem que haja um consenso mínimo entre partidos políticos e num contexto de intensa crise sociopolítica. Além disso, Jovenel Moïse quer realizar as alterações por via de um referendo – em Junho –, algo que não se enquadra na Constituição vigente.

«Este referendo é uma palhaçada, porque o miolo do problema haitiano não é um assunto constitucional», afirmou Michel Péan, ex-secretário de Estado para pessoas com deficiência, que participou no protesto de domingo. Acrescentou que o país tem problemas mais urgentes, nomeadamente para definir o seu rumo. «Um país sem poder judicial, sem poder legislativo, onde tudo se reduz a um presidente que governa por decreto: isso basta para afirmar que estamos numa situação de ditadura», denunciou.

Manifestação em defesa da Constituição de 1987

Na segunda-feira, milhares de haitianos voltaram a manifestar-se, em resposta a uma convocatória unitária de organizações políticas, sociais e religiosas em defesa da Constituição de 1987, no dia do seu 34.º aniversário e considerada «histórica» por ter sido a que «abriu o caminho à democracia», nas palavras de um dos seus redactores, o ex-candidato presidencial Leslie Magniat. A Lei das Leis foi aprovada por 99,8% dos votos válidos dos cidadãos haitianos, após o fim da ditadura de François e Jean Claude Duvalier (1951-1986).

|

Continuam os protestos contra o governo no Haiti

As manifestações deste domingo foram as maiores e mais violentas da última semana. Pelo menos uma pessoa morreu e a imprensa continua na mira. Moïse, com apoio internacional, diz que não se vai embora.

Milhares de pessoas manifestaram-se este domingo no Haiti contra a permanência de Jovenel Moïse no poder e a ingerência externa no país
Créditos / france24.com

Pelo menos um manifestante morreu nos protestos deste domingo para exigir a saída do poder de Jovenel Moïse, presidente do Haiti cujo mandato terminou no passado dia 7 de Fevereiro, segundo defendem amplos sectores da oposição, que o acusam de corrupção, entre outras coisas.

Na última semana, as manifestações no país caribenho – sobretudo na capital, Porto Príncipe – têm-se realizado a um ritmo diário, mas nenhuma teve a dimensão da deste domingo. No bairro de Petion Ville, os manifestantes incendiaram um carro e apedrejaram vários outros, lançando também uma chuva de pedras contra a Polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo e fogo real. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo um jornalista, refere a Prensa Latina.

Uma das exigências colocadas pela multidão ao presidente Jovenel Moïse era que aceitasse o fim do mandato, defendendo que, segundo a Constituição, este terminou uma semana antes. A mesma leitura fazem vários partidos políticos, organizações sociais, o Poder Judicial, associações de magistrados e representantes de diversas igrejas.

No entanto, Moïse insiste que deve continuar no cargo até 2022, para reformar a carta magna e realizar eleições, e conta com o apoio das Nações Unidas, da Organização dos Estados Americanos (OEA), da União Europeia e da Comunidade das Caraíbas (Caricom), que recentemente se pronunciarama favor de um processo eleitoral «transparente e democrático».

A atitude da administração norte-americana e dos vários organismos internacionais face àquilo que está a contecer no Haiti tem sido duramente criticada por vários representantes da oposição e pelos manifestantes, que rejeitam a ingerência externa nos assuntos do país e põem em causa o balanço dos 13 anos da presença de forças de manutenção de paz da ONU, indica a TeleSur.

Alerta para os abusos policiais sobre a imprensa

Numa missiva enviada à Inspecção-Geral da Polícia, o Gabinete de Protecção do Cidadão chamou a atenção, este fim-de-semana, para os casos sucessivos de jornalistas feridos a tiro e por latas de gás lacrimogéneo, disparados pela Polícia haitiana, quando fazem a cobertura dos protestos anti-governamentais.


Antes, as Nações Unidas também manifestaram a preocupação com o uso «desproporcionado» da força contra a imprensa, advertindo que estas acções têm como efeito limitar o direito à informação.

Em declarações à Prensa Latina, o professor universitário progressista Camille Chalmers disse que nas últimas semanas aumentou a repressão não apenas contra os jornalistas, mas também contra activistas políticos dos bairros populares.

Juízes haitianos em greve por tempo indeterminado

As quatro associações de juízes do Haiti entraram ontem em greve por tempo indeterminado «para obrigar o presidente Jovenel Moïse a respeitar a Constituição».

Em comunicado, os juízes acusam Moïse de prender «ilegalmente» o juiz do Tribunal de Apelação Yvickel Dabrésil, de reformar outros juízes desse tribunal e de nomear outros, por decreto, em sua substituição, violando a Constituição, indica a TeleSur.

O texto alerta para as acções recentes do governo que minam os fundamentos do Estado de direito e a independência do Poder Judicial. Neste sentido, os juízes decidiram fazer greve «até que o executivo observe a razão e respeite a Constituição, as leis da República e as convenções internacionais que consagram o princípio da separação de poderes e a independência do poder judicial com o fim de impedir o colapso total das conquistas democráticas».

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

Muitos especialistas, refere a TeleSur, apontam que a Carta Magna, que alicerçou a transição democrática no Haiti, permite a excessiva divisão do poder entre o ramos executivo e legislativo, promovendo assim a instabilidade política e dando demasiado protagonismo à figura presidencial.

Na manifestação desta segunda-feira viram-se novamente cartazes contra a «ditadura», a afirmar «Jovenel não é o nosso presidente» ou «ONU e USA, tirem as mãos do Haiti». O líder do partido Pitit Dessalines, Moïse Jean Charles, que se juntou ao protesto na capital, desafiou Jovenel Moïse a modificar a Constituição de costas voltadas para a vontade do povo e ameaçou intensificar os protestos.

Em vários pontos da cidade, os manifestantes ergueram barricadas com pneus a arder e incendiaram a entrada de um dos escritórios estatais de seguros de veículos, enquanto exigiam a saída de Moïse do poder e que a comunidade internacional deixe de o apoiar, informa a Prensa Latina.

Jornada Mundial de Solidariedade

Para esta segunda-feira foi igualmente convocada uma Jornada Mundial de Solidariedade com o Haiti, por iniciativa de diversas organizações haitianas, com o apoio internacional da ALBA Movimientos, da Jornada Internacional de Lucha Antiimperialista, do Fórum de São Paulo, da Vía Campesina, da Federação Democrática Internacional de Mulheres, entre outras organizações.

|

Tribunal popular denuncia crimes da missão da ONU no Haiti

Vítimas, familiares e especialistas testemunharam no julgamento simbólico dos crimes da missão da ONU (2004-2017). A iniciativa insere-se no contexto de mobilizações anti-imperialistas e pelos direitos.

Haitianos reclamam justiça e reparação às Nações Unidas pelos abusos e crimes cometidos pela Minustah
CréditosHector Retamal / Brasil de Fato

O chamado Tribunal Popular contra os Crimes da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) decorreu ao longo desta terça-feira na capital haitiana, Porto Príncipe, visando reforçar a reivindicação de justiça e reparação para as vítimas dos abusos cometidos pelas tropas envolvidas na operação.

A missão da ONU foi liderada pelo Brasil e prolongou-se por 13 anos, entre 2004 e 2017. As críticas e denúncias à sua actuação surgiram ainda nesse período e, três anos volvidos, mantêm-se, da parte da população haitiana, que espera reparação das Nações Unidas, refere a TeleSur.

A iniciativa do tribunal popular, para responsabilizar o organismo internacional, partiu de organizações sociais como a Plataforma Haitiana para o Desenvolvimento Alternativo (Papda), a Rede Nacional em Defesa dos Direitos Humanos, a Comissão Nacional Episcopal de Justiça e Paz, a Plataforma de Organizações de Defesa dos Direitos Humanos.

Entre as violações de direitos referidas pelo tribunal durante a permanência da Minustah no Haiti, contam-se políticas contrárias ao acesso da maioria da população à educação e o aumento da repressão militar sobre manifestações populares.

Também o crescimento de grupos criminosos organizados como milícias, o desrespeito pelos direitos das mulheres e das crianças, o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e outros crimes sexuais, além da cultura de impunidade como marca do poder judicial local.

Denunciar a natureza imperialista da missão

A propósito do tribunal, Camille Chalmers, director executivo da Papda, disse: «Agora, existem milhares de mulheres com filhos sem pai, milhares de órfãos numa situação difícil», tendo referido que a instabilidade política também se agravou no país – algo a que, em seu entender, não é alheia a interferência dos EUA.

Ainda a propósito do tribunal popular, Chalmers afirmou: «Desde o início, levámos a cabo uma campanha para denunciar não só a natureza desta ocupação militar, mas também o perigo e a ameaça que representava para todos os povos do continente, como o presidente [Jovenel Moïse] e muitas formas de ocupação que, sob o pretexto da manutenção da paz, estavam a executar a agenda imperialista dos EUA.»

Mortes por cólera

Uma das questões mais destacadas no que respeita às irregularidades e violações da Minustah foi a propagação da cólera a partir da presença no país de tropas nepalesas, em 2010, que provocou a morte a 10 mil pessoas (números oficiais) e afectou cerca de um milhão. A ONU só reconheceu a responsabilidade em 2016.


«Uma década depois da epidemia de cólera no Haiti, há milhares de famílias que ainda guardam experiências dolorosas», lamentou Camille Chalmers, citado pela Prensa Latina, acrescentando que «muitas casas continuam abandonadas» e que há «zonas devastadas que jamais regressaram à normalidade».

«Além do balanço humano catastrófico, o impacto económico foi terrível, pois muitas pessoas afectadas pela cólera perderam o trabalho e foram discriminadas», denunciou, sublinhando que a epidemia também desorganizou os circuitos de producção agrícola.

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

No manifesto que lançaram, destacam a crise profunda que o país caribenho atravessa, a ditadura imposta por Moïse e a mobilização nas ruas da maioria da população.

Apontam, além disso, a ingerência do imperialismo norte-americano e da OEA, e o papel negativo desempenhado pelas tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah).

Sublinham que «só o povo haitiano pode decidir o seu futuro, sem ditaduras nem intervenções imperialistas», em defesa «da democracia e da soberania».

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui