O Rassemblement National (RN), partido que construiu a sua base eleitoral em retórica sobre a proteção da família tradicional, moral cristã e valores conservadores, surge agora a advogar a legalização de estabelecimentos que, durante décadas, foram retratados pela própria direita francesa como ameaças à moralidade pública e à estrutura familiar.
O promotor da proposta parece ser Jordan Bardella, o jovem querubim da extrema-direita francesa e presidente do RN, que denunciou o que chamou de «hipocrisia» em relação ao suposto trabalho sexual. A iniciativa, apresentada como medida de saúde pública, revela uma contradição flagrante no discurso de um partido que historicamente se afirma como defensor dos «valores tradicionais da família», mas também destroi as falasiosas teses que uma determinada esquerda tenta veicular, nomeadamente relativamente a um suposto progressismo na legalização da prostituição.
Apesar dos bordéis estarem ilegalizados desde 1946, a prostituição é legal em França, embora uma lei introduzida em 2016 tenha tornado ilegal pagar por sexo, transferindo a responsabilidade criminal para os clientes, que podem ser multados se forem apanhados.
No fundo, ao invés de erradicar uma das formas mais violentas de exploração, o RN procura, assim, facilitar a vida a quem recorre à prostituição e evita combater as redes de tráfico humano e sexual associadas ao fenómeno. Sob um manto de suposta modernidade e preocupação com a saúde pública e segurança, a extrema-direita procura demonstrar que não é bafienta. A razão é simples: as eleições aproximam-se e, desta forma, é retirada uma das bandeira a uma esquerda que encara o «trabalho sexual» como progresso. A extrema-direita, sabendo que o que está em causa é um retrocesso social, não se importa de assumir essa proposta.
Para não serem acusados de promover o lenocínio, o RN defende que os bordéis passem a ser geridos em modo de cooperativa por «trabalhadoras sexuais». Não deixa de ser digno de registo que, de forma a combater algo que não está regulado, não surge no discurso público que essas mesmas «cooperativas» estarão sob o controlo das redes que continuam a promover o tráfico humano e sexual.
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