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Díaz-Canel: «Em 2026, estaremos a lutar e mais unidos que nunca»

«Temos muito para enfrentar e resolver internamente», mas «reafirmámos a nossa confiança na capacidade de resistência e de vitória do povo cubano. A pátria não se rende», afirmou o presidente de Cuba.

Miguel Díaz-Canel durante a intervenção na Assembleia Nacional do Poder Popular, a 18 de Dezembro de 2025 Créditos / @PresidenciaCuba

«Só uma verdadeira assembleia do povo está em condições de enfrentar, com sentido de urgência, serenidade, realismo e compromisso, os colossais desafios que o país tem pela frente neste momento e virar-se para o futuro», afirmou esta quinta-feira, em Havana, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel.

Ao intervir no encerramento do sexto período de sessões da Assembleia Nacional, o chefe de Estado destacou o facto de nesta sessão terem sido debatidos e aprovados o plano da economia e o orçamento do Estado para 2026, o programa de governo para corrigir distorções e revitalizar a economia, e a Lei Geral da Ciência, Tecnologia e Inovação, indica a TeleSur.

Díaz-Canel disse que estas questões «estão todas ligadas entre si e integram um desafiante conjunto de tarefas necessárias para fazer frente à complexa situação do país, bem como aos riscos e ameaças que pairam sobre a região latino-americana e caribenha».

Depois de afirmar que a Ilha vive um «momento extremamente complexo» na economia e na vida cotidiana do povo, «que exige respostas mais profundas, rápidas e responsáveis», o também primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba sublinhou que esta «não é mais uma crise».

É – disse – «a acumulação de distorções, adversidades, dificuldades e erros próprios, agravada por um cerco externo extremamente agressivo e por um contexto internacional incerto e perigoso para objectivos vitais como a protecção da paz, a promoção do desenvolvimento e outras questões essenciais da agenda global».

Imperialismo, ameaças à paz, ao multilateralismo e ao direito internacional

Díaz-Canel abordou o contexto actual na região, marcado pela crescente agressão da administração de Trump à Venezuela, tendo afirmado que «se tornou também perigoso para a sobrevivência do multilateralismo, do direito internacional, da Carta das Nações Unidas e das normas que sustentaram as relações internacionais durante oito décadas».

Como expressão desse contexto, referiu-se à «impunidade» que permite ao regime israelita levar a cabo uma «agressão genocida contra o povo palestiniano».

No que respeita à doutrina de segurança actualmente promovida pelos Estados Unidos, «que designam com o nome ultrajante "paz pela força"», afirmou que consiste, «no fundo, em impor a todos a vontade arbitrária e a dominação do imperialismo norte-americano através de ameaças, coacção e até agressão directa».

Denunciou que Trump, «porta-voz da Doutrina Monroe e da recém-publicada Estratégia de Segurança Nacional dos EUA», «ignora e põe em risco o estatuto da região como Zona de Paz, firmemente proclamado desde 2014».

O texto da doutrina, disse o presidente cubano, «exibe descaradamente as ambições de uma potência unipolar que responde aos interesses das grandes empresas transnacionais, em detrimento dos direitos inalienáveis ​​dos países da região».

Ao mesmo tempo, Donald Trump «declara abertamente a intenção dos EUA de se apropriarem dos recursos e riquezas naturais que pertencem aos países soberanos do Hemisfério Ocidental e aos seus povos», o que, acrescentou o presidente, «explica a pressão para estabelecer bases militares norte-americanas em vários países, a presença militar excessiva e agressiva nas Caraíbas e as crescentes e provocatórias ameaças contra a Venezuela «com pretextos tão insustentáveis ​​que mudam numa questão de dias».

A ameaça de guerra aberta ou velada contra a Venezuela, frisou Díaz-Canel, «é um acto criminoso contrário ao direito internacional», tal como o ataque e sequestro de um petroleiro e a apropriação ilegal da sua carga, as execuções extrajudiciais em ataques contra embarcações nas Caraíbas e as incursões provocatórias de aviões de guerra norte-americanos no espaço aéreo venezuelano.

O bloqueio naval e petrolífero declarado por Trump à Venezuela «é uma medida de guerra brutal e perigosa contra um país que não representa qualquer ameaça para eles», denunciou o presidente cubano perante a sessão plenária da Assembleia Nacional.

Em seu entender, isto evidencia «o desespero impotente daqueles que apostaram na rendição desse país irmão face à ofensiva violenta de uma camarilha que tomou o controlo da política externa e dos mecanismos de poder nos Estados Unidos».

«A pátria não se rende»

Contra Cuba – disse Díaz-Canel – «quase de forma paralela, e também há muito mais tempo, tem sido exercida uma incessante agressão económica, com a intensificação criminosa do bloqueio e a inclusão injustificada do país na lista arbitrária de estados que supostamente patrocinam o terrorismo».

Esta inclusão, denunciou o chefe de Estado, citado pela TeleSur, implica a constante sabotagem das transacções comerciais e financeiras do país caribenho com praticamente todos os mercados do mundo, além de «acções directas ou indirectas» para interferir no funcionamento macroeconómico interno da Ilha, promover a inflação e «deprimir substancialmente o poder de compra da população».

Na sua agressão – disse –, o imperialismo continua a usar o seu «poder de monopólio» sobre os meios de comunicação e as infra-estruturas tecnológicas das redes digitais, procurando «desorientar e confundir, alimentar a especulação e corroer a confiança na liderança da Revolução, atacando, em última análise, o núcleo emocional da nação cubana».

Díaz-Canel salientou que, em 2025, a Assembleia Geral da ONU apoiou, mais uma vez, a rejeição do bloqueio dos EUA; Cuba aderiu ao grupo BRICS como parceiro; e prosseguiu em todo o mundo a mobilização de movimentos e organizações de solidariedade, forças políticas e sociedade civil em apoio à Ilha, que continua a fortalecer as relações com os cubanos no estrangeiro.

«Temos muito que enfrentar e resolver internamente, a começar pela crucial esfera económica. Ao analisarmos a situação actual do país, fomos realistas e autocríticos, mas também reafirmamos a nossa confiança na capacidade de resistência e de vitória do povo cubano. A pátria não se rende», frisou.

A história que o povo cubano escreve todos os dias

Depois de defender os princípios de unidade, continuidade do legado histórico e resistência criativa, reconheceu que «ninguém em Cuba precisa que lhe explique que a economia está sob tensão».

«Sente-se nas filas, nas nossas carteiras, nos apagões, nos transportes que não chegam e na escassez de alimentos nos nossos pratos. Vimos de anos de queda do produto interno bruto (PIB), de inflação elevada, de escassez, de crise energética e de quebra das receitas externas», disse.

Neste contexto, sublinhou o presidente cubano – «é crucial que o Parlamento envie um sinal claro: a magnitude da crise é reconhecida, a realidade não é ignorada, mas, ao mesmo tempo, a vontade política de mudar o que for necessário para defender a justiça social e a soberania nacional é reafirmada.»

As transformações que Cuba deve empreender «não são apenas estruturais, mas também mentais», afirmou, sublinhando que «o único limite à flexibilidade é tudo o que ameaça os nossos princípios: a autodeterminação, a soberania e a independência nacional».

«Ninguém descreveu como construir o socialismo num país que nasceu em verdadeira independência depois de mais de quatro séculos de colonização e 60 anos de domínio neocolonial. Ninguém, além de Cuba, pode falar sobre o que significa promover o desenvolvimento com justiça social após o súbito desaparecimento do bloco socialista a que pertencia», afirmou.

«Ninguém – prosseguiu – nos pode dizer o que significa resistir, de forma exemplar mas com um elevado custo económico e social, a uma política infame de bloqueio e perseguição implacável como a que Cuba sofre. Esta história somos nós, povo cubano, que a estamos a escrever todos os dias e neste preciso momento.»

«O povo cubano jamais será derrotado», defendeu o presidente, acrescentando que a história de Cuba mostra que quando a liderança política, as instituições e o povo trabalham no mesmo sentido, com verdade, disciplina e criatividade, «não há bloqueio ou crise que possa roubar o nosso futuro».

Com a lembrança de Fidel e «a vontade de superar o impossível, o ano de 2026 – o Ano do Centenário do Comandante-Chefe Fidel Castro – vai encontrar-nos a lutar e mais unidos que nunca», sublinhou Díaz-Canel.

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