|Ucrânia

«Kiev fez tudo para sabotar os acordos de Minsk»

Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador russo acusou as autoridades ucranianas de não terem respeitado os acordos que exigem o fim das hostilidades no Donbass.

Zona do Donbass bombardeada pelas forças ucranianas; de acordco com as milícias populares em Lugansk, os bombardeamentos prosseguem 
Créditos / @EHDonbass

No encontro realizado ontem à noite, o representante da Rússia junto das Nações Unidas, Vassily Nebenzia, afirmou que o seu país se mantém aberto a uma solução diplomática para resolver o conflito na região do Donbass, mas denunciando que a Ucrânia prossegue com a retórica militar e com o incumprimento dos acordos de Minsk.

«Kiev não só regressou muito rapidamente à retórica militar e continuou a bombardear os civis, como também fez todo o possível para destruir os acordos de Minsk, que pedem o fim das hostilidades na região do Donbass», disse, citado pela Prensa Latina.

Neste sentido, destacou a necessidade de defender as regiões separatistas do Sudeste da Ucrânia – as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk – daquilo que qualificou como uma agressão da Ucrânia.

Nebenzia disse que o seu país não vai permitir um novo banho de sangue na região do Donbass, frisando que a questão que prevalece é «como evitar a guerra e obrigar a Ucrânia a parar os bombardeamentos e as provocações contra Donetsk e Lugansk».

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EUA mentem sobre a situação na Ucrânia, denuncia Rússia

O representante permanente da Rússia junto da ONU, Vassily Nebenzia, afirmou esta segunda-feira que os EUA tentam enganar a comunidade internacional sobre a verdadeira situação na Ucrânia.

Créditos / alarabiya.net

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas para analisar a situação na Ucrânia, o diplomata russo classificou como «ingerência inadmissível» nos assuntos internos do seu país a declaração da delegação norte-americana para justificar o encontro, uma vez que considera o destacamento de tropas russas em território russo como uma ameaça à paz internacional.

«Na verdade, sugerem que convoquemos uma reunião do Conselho de Segurança com base em especulações e acusações infundadas, que refutámos repetidamente», frisou, citado pela TASS.

Nebenzia referiu que o formato aberto da reunião, proposto pelos Estados Unidos, associado ao tema «extremamente provocador», fez do encontro «um exemplo clássico de diplomacia de megafone».

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Esses espiões que tratam da nossa informação

O tratamento do problema da Ucrânia é realmente um caso exemplar da maneira mistificadora, desinformativa, alienante e até atemorizadora como a comunicação social dominante se comporta.

CréditosLarry Downing / Reuters

A «Operação Mockingbird» foi uma linha de montagem da propaganda imperial montada pela Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana logo no início da guerra fria para interferir nos principais meios de comunicação social dos Estados Unidos, da Europa e através do mundo.

Os numerosos autores que investigaram o processo revelam que a CIA inscreveu centenas de jornalistas de numerosas nacionalidades nas suas folhas de pagamentos de modo a tornar dominantes as posições do regime norte-americano, se possível em todo o mundo.

O jornalista Carl Bernstein informou, na sequência de uma investigação realizada nos finais dos anos setenta do século passado, que a CIA pagava a mais de 400 jornalistas de 25 empresas jornalísticas proprietárias de publicações sonantes como a Newsweek, Time, Miami Herald, das televisões ABC e NBC e das principais agências de notícias mundiais: AP, UPI e Reuters. O jornal Washington Post, através dos seus proprietários e editores, era uma parte da operação.

«a CIA inscreveu centenas de jornalistas de numerosas nacionalidades nas suas folhas de pagamentos de modo a tornar dominantes as posições do regime norte-americano, se possível em todo o mundo»

William Scharp, advogado que foi uma figura de relevo no caso da morte de Martin Luther King, explicou que a CIA financiava milhares de jornalistas, além de ter as suas próprias organizações de media. Para a agência, revelou um antigo membro da rede de propaganda, «era mais barato pagar a um jornalista do que a uma prostituta». E Thomas Braden, chefe de divisão de um departamento governamental de Washington, testemunhou que «não havia limite de dinheiro para gastar, não havia limites para as actividades a realizar na guerra fria secreta». A «Operação Mockingbird» funcionava, segundo a mesma fonte, «como uma multinacional».

Um relatório de 1976 do Congresso dos Estados Unidos concluiu que centenas de indivíduos em todo o mundo tentam influenciar as opiniões através de propaganda dissimulada, graças ao acesso directo a jornais e outros periódicos, serviços de imprensa, agências de notícias, rádios, televisões, editoras e outros meios de comunicação estrangeiros.

Coisa do passado?

Terá sido a «Operação Mockingbird» uma coisa do passado?

A realidade diz-nos que não. E os factos comprováveis todos os dias, tanto nas causas como nos efeitos, explicam sem rodeios que o processo de imposição de uma opinião única, fazendo dos interesses do regime norte-americano os dominantes e legítimos em todo o mundo, tem vindo a consolidar-se de maneira asfixiante.

«factos comprováveis todos os dias, tanto nas causas como nos efeitos, explicam sem rodeios que o processo de imposição de uma opinião única, fazendo dos interesses do regime norte-americano os dominantes e legítimos em todo o mundo, tem vindo a consolidar-se de maneira asfixiante»

Dados que é possível obter através de pesquisas pouco mais do que sumárias revelam-nos que a «Operação Mockingbird» pode até ter perdido a designação com o passar das décadas, mas os seus objectivos estão mais vivos do que nunca e os métodos utilizados refinaram.

Nada indica que a CIA tenha deixado de pagar a jornalistas, mas a realidade actual ultrapassa em muito esse processo e adaptou-se à dinâmica vertiginosa da circulação das mensagens emitidas pelos media, proporcionada pelas novas tecnologias e a multiplicação de plataformas de emissão e partilha de conteúdos.

«dezenas de ex-operacionais das várias agências de espionagem internas e externas [...] transferiram-se e transferem-se para lugares de «analistas», «comentadores» e «especialistas» das grandes cadeias de televisão e dos principais jornais, onde funcionam como fontes inquestionáveis e acima de qualquer suspeita das quais bebem os principais órgãos de manipulação social em todo o mundo»

A agência central de espionagem dos Estados Unidos descobriu um novo ovo de Colombo, que lhe permite até poupar nas despesas: dezenas de ex-operacionais das várias agências de espionagem internas e externas, alguns que desempenharam até recentemente cargos de chefia máxima, transferiram-se e transferem-se para lugares de «analistas», «comentadores» e «especialistas» das grandes cadeias de televisão e dos principais jornais, onde funcionam como fontes inquestionáveis e acima de qualquer suspeita das quais bebem os principais órgãos de manipulação social em todo o mundo. As mensagens da CIA, a propaganda imperial, fluem assim directamente para milhares de milhões de pessoas que consomem unicamente os meios dominantes ditos de informação. Não é verosímil, de facto, que essa nova espécie de «analistas», «comentadores» e «especialistas» de âmbito globalista abdiquem da sua experiência de espiões acumulada durante décadas para se tornarem «independentes» ao sentar-se nos grandes estúdios que propagam veneno embrulhado em verdade, liberdade e rigor de informação.

Um dos casos mais relevantes dos últimos anos é a transformação do director da CIA entre 2013 e 2017, John Brennan, em analista sénior de segurança e inteligência nas televisões NBC News e MSNBC, cargo para o qual transitou mal deixou Langley. Na sua nova posição foi reencontrar Juan Zarate, que foi conselheiro de segurança nacional da Administração Bush. Um serviu Obama, outro o seu antecessor, e assim se verifica não haver querelas partidárias nestas matérias onde o partido é único, tal como a informação dominante e a opinião que induz.

Escritórios da CNN em Washington DC, EUA CréditosJohn Nacion / STAR MAX/IPx

A CNN monopoliza

Não há, porém, como a CNN para integrar espiões, super polícias, operacionais do contra-terrorismo e generais do Pentágono, de preferência com ligações à indústria da morte, nas suas equipas informativas.

É uma realidade que faz todo o sentido. A CNN é o veículo internacional por excelência das mensagens do regime norte-americano, o que acontece desde a sua fundação, e a criação do mito da «informação em directo» servida logo na primeira guerra contra o Iraque – abafando todo e qualquer contraditório. De tal maneira que os jornalistas empenhados em trabalhar «à antiga», isto é, dando a conhecer outros lados da situação foram rapidamente olhados como «cúmplices» de Saddam Hussein. Tal como acontece actualmente aos meios de comunicação verdadeiramente independentes, imediatamente acusados de estarem «ao serviço da Rússia» quando abordam outras realidades que não coincidam com as versões oficiais de Washington, da NATO, da União Europeia e da engrenagem de manipulação social.

«Tendo em consideração o número de CNN’s franchisadas que se multiplicam através do planeta – operação à qual Portugal não escapou – entende-se como este processo associa as agências do poder imperial à construção de uma opinião única formatada segundo os interesses do complexo militar, industrial e tecnológico que governa os Estados Unidos, além da NATO e da União Europeia como seus ramos militar e político»

Ao serviço da CNN, como «comentadores independentes», estão, por exemplo, James Clapper e Michael Hayden, ex-directores de inteligência nacional norte-americana; Chuck Rosenberg, ex-director da DEA, agência dita antidroga mas com a reputação manchada por vínculos pouco claros com meios do narcotráfico, tal como acontece com a CIA em relação ao ópio/heroína do Afeganistão; James B. Conney, ex-conselheiro do director do FBI; Frank Figliuzzi, ex-chefe de contra-espionagem no FBI; Asha Rangcapo e James Galiano, ex-destacados agentes do FBI; Mike Rogers, ex-presidente da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes; Steven L. Hall, antigo oficial de operações da CIA com mais de 30 anos de experiência em postos de comando na Eurásia e América Latina; Philip Mudd, ex-operacional da CIA; Andrey McCabe, ex-director adjunto do FBI; John Campbell, ex-supervisor especial do FBI.

Neste mundo selecto existem, com regularidade, algumas mudanças – também elas muito significativas. Por exemplo, Anthony Blinken, ex-conselheiro de segurança de Obama, trocou recentemente o lugar de «comentador independente» da CNN pelo de secretário de Estado, isto é, a segunda figura da administração Biden; e Samantha Vinograd, também membro do Conselho de Segurança de Obama, deixou agora o cargo de «comentadora de política externa» da CNN transitando para o Departamento de Segurança Interna de Biden; Fran Townsend, ex-conselheiro de Segurança Nacional, trocou há pouco a CNN pela CBS News.

A CNN tem, portanto, a parte de leão no recrutamento de membros do aparelho de espionagem, militar e governamental dos Estados Unidos.

«[No Reino Unido] o público é bombardeado com opiniões e informações seleccionadas apoiando as prioridades dos fazedores de política; Os media fornecem de forma rotineira informação deturpada e estão longe de actuar com independência»

Declassified UK

Tendo em consideração o número de CNN’s franchisadas que se multiplicam através do planeta – operação à qual Portugal não escapou – entende-se como este processo associa as agências do poder imperial à construção de uma opinião única formatada segundo os interesses do complexo militar, industrial e tecnológico que governa os Estados Unidos, além da NATO e da União Europeia como seus ramos militar e político.

O recrutamento de personalidades como as constantes da lista não exaustiva aqui publicada é comum a todas as grandes cadeias norte-americanas de televisão, da Fox à MSNBC. E também a jornais olhados como «bíblias» da independência – New York Times, Washington Post e Wall Street Journal, por exemplo. Susan Hennessy trocou recentemente o lugar neste último jornal por um cargo na Divisão de Segurança Nacional da Administração Biden.

E em alguns casos não existe exclusividade. Michael Hayden é uma espécie de deus do comentário. Além da CNN, pode dizer-se que está em todo o lado: MSNBC, Fox News, programa The Late Show, New York Times, Washington Post e Wall Street Journal. Uma rendição absoluta do aparelho informativo à sua experiência de director da espionagem nacional dos Estados Unidos.

Fora dos Estados Unidos, a desclassificação, no ano passado, de alguns documentos governamentais no Reino Unido veio provar que a imprensa do país, «do Times ao Guardian, ajuda rotineiramente a diabolizar Estados identificados pelo governo como inimigos enquanto tenta branquear os que são aliados». A conclusão é da publicação Declassified UK.

De acordo com a mesma fonte, «o público é bombardeado com opiniões e informações seleccionadas apoiando as prioridades dos fazedores de política; Os media fornecem de forma rotineira informação deturpada e estão longe de actuar com independência».

Um casal escapa de uma casa em chamas após um bombardeamento da força aérea ucraniana em Luganskaya, Leste da Ucrânia, em 2 de Julho de 2014. Os bombardeamentos sistemáticos de alvos civis pelas forças de Kiev contaram com o silêncio cúmplice do Ocidente. CréditosValery Melnikov / Rossia Segodnya

É o que temos

À luz destes factos indesmentíveis, e que desmontam a «verdade» cultivada pelo aparelho de comunicação funcionando à escala globalista, não temos de nos surpreender com o tom histérico da abordagem da actual situação na Ucrânia e a «iminência», que já se prolonga há alguns meses, de uma invasão russa.

«o cidadão que se considera informado ao frequentar a comunicação dominante desconhece, por exemplo, que o governo ucraniano é sustentado por grupos paramilitares nazis, os mesmos que integram as forças de repressão que fazem guerra às populações das regiões do Leste do país, onde grande parte dos habitantes são russófonos»

Aos consumidores dos órgãos de manipulação social basta saber que a Rússia quer ocupar a Ucrânia, não se sabendo bem porquê, talvez porque sim, é uma inerência própria dos «maus». E, para concretizar a invasão, 100 mil efectivos militares russos movimentam-se na fronteira com o território ucraniano. Então, desde âncoras de telejornais a «especialistas» e «analistas», passando por peças montadas supostamente informativas, todos tratam o tema sob este único ângulo, máquinas repetidoras das opiniões de espiões reciclados em «comentadores» actuando nas imperiais cadeias de televisão e outros meios.

A razão assim gritada não tolera contraditório. E ai dos que tentam, baseados em factos comprovados, demonstrar que há muito mais para saber sobre o actual cenário ucraniano. Quem o fizer é «cúmplice» dos russos, quiçá um disseminador de «mensagens de ódio» prontas a cair na alçada censória das redes sociais.

Por este caminho, o cidadão que se considera informado ao frequentar a comunicação dominante desconhece, por exemplo, que o governo ucraniano é sustentado por grupos paramilitares nazis, os mesmos que integram as forças de repressão que fazem guerra às populações das regiões do Leste do país, onde grande parte dos habitantes são russófonos.

Não é por isso, porém, que existe o risco de uma intervenção russa: a situação tensa prolonga-se há sete anos, desde o golpe dito «democrático» dado em Kiev pelos Estados Unidos com o apoio da União Europeia.

«Nos termos do documento [Acordo de Minsk], o governo de Kiev e os representantes das populações de Donetsk e Lugansk comprometeram-se a encontrar uma solução para os seus diferendos que proporcione uma autonomia àquelas regiões dentro do que está previsto na lei ucraniana. A Rússia, ao contrário do que é comum ouvir-se e ler-se, não é parte activa: actua como um dos países mediadores, tal como a França e a Alemanha»

Outro dos comportamentos manipuladores assumidos pela comunicação dominante é a desinformação em torno do Acordo de Minsk sobre uma saída política para a situação ucraniana. Nos termos do documento, o governo de Kiev e os representantes das populações de Donetsk e Lugansk comprometeram-se a encontrar uma solução para os seus diferendos que proporcione uma autonomia àquelas regiões dentro do que está previsto na lei ucraniana. A Rússia, ao contrário do que é comum ouvir-se e ler-se, não é parte activa: actua como um dos países mediadores, tal como a França e a Alemanha.

Ao abordar a situação existente na região os meios de comunicação evitam tratar e comentar a ideia de que as tropas russas na fronteira com a Ucrânia se movimentam com pleno direito, porque estão no interior do seu país. Já o mesmo não pode dizer-se das tropas da NATO, que estão fora dos territórios das suas nações, colocadas ameaçadoramente nas imediações das fronteiras com a Rússia. Explica a comunicação que temos, fazendo eco de generais, espiões e políticos sem coluna vertebral, que esse gigantesco aparelho militar é para nos «defender», tal como foi invocado para as agressões ao Afeganistão, Iraque e Líbia. E o cidadão comum, contaminado e intoxicado, acredita.

Também não é explicado aos envenenados leitores e telespectadores que os Estados Unidos e o seu braço armado da NATO estão ansiosos que a Rússia proceda à sempre «iminente» invasão. Estão mesmo dispostos a provocá-la e, para isso, há indícios de infiltrações de agentes especiais de países da NATO no Leste da Ucrânia para cometerem um atentado, admitindo-se que com armas químicas, De acordo com a eventual estratégia atlantista, a acção criminosa seria atribuída por Moscovo ao regime de Kiev, seguindo-se a intervenção militar para proteger as populações do Donbass.

Sejamos lúcidos, ao contrário do que pretende a manipulação social: que interesse tem a Rússia numa guerra quando se encontra em fase de desenvolvimento económico e de afirmação como grande potência do multilateralismo, a par da China? Uma Rússia empenhada em processos de integração multifacetada para Oriente carece de estabilidade, não do envolvimento numa aventura militar.

Aliás, a recente tentativa de «revolução colorida» no Casaquistão, através de um golpe à maneira da Praça Maidan em Kiev, teve a ver com o objectivo de multiplicar os acontecimentos que obriguem Moscovo a desperdiçar meios e energias necessários para desenvolver a estratégia traçada. Porém, desta feita Estados Unidos e aliados saíram-se mal: a lição da Ucrânia foi aprendida pelo regime russo – a resposta estava preparada e funcionou.

Os Estados Unidos e a NATO têm efectivamente todo o interesse em desviar Moscovo dos seus principais objectivos, comprometendo-os num conflito desestabilizador e contraproducente no plano internacional que, ao mesmo tempo, travaria a fase de consolidação e afirmação do país. Quando Putin garante que não pretende intervir na Ucrânia não é para ser «bonzinho» ou especialmente cordato; na verdade, tem todas as razões objectivas para o dizer. E também não o vemos a mexer um dedo que seja para erradicar o poder fascista em Kiev. Só um agravamento provocatório da violência do regime ucraniano sobre as populações do Leste seria susceptível de obrigar Moscovo a fazer o que realmente não quer.

E não o deseja porque, nessas circunstâncias, a Rússia seria também obrigada a rever a sua presença militar na Síria para ajudar o governo legítimo a combater o terrorismo objectivamente ao serviço dos Estados Unidos e da NATO, que têm assim mais uma razão para empurrarem Moscovo em direcção à Ucrânia.

A resposta à hipotética acção russa no território ucraniano, tudo o indica, não seria dada pela colocação de tropas norte-americanas no terreno – coisa que até os desinformados consumidores da informação asfixiante já sabem. O que desconhecem é a previsível intenção da NATO de promover e treinar uma miríade de estruturas armadas de «resistência ucraniana», a partir dos grupos paramilitares nazis, para criar, segundo militares norte-americanos, um «pântano» onde se enterrem as tropas russas invasoras. Isto é, um «novo Afeganistão» agora desenvolvido pelo apoio ocidental a «combatentes da liberdade» oriundos dos sectores saudosistas de Hitler no lugar dos terroristas islâmicos que deram origem à al-Qaeda.

«É evidente que os múltiplos ângulos sob os quais os acontecimentos podem ser vistos obrigariam os consumidores de informação a pensar. E pensar é tudo quanto os poderes dominantes pretendem evitar – como também se percebe na actual campanha eleitoral portuguesa – porque assim não conseguiriam cultivar a robotizada opinião única»

A comunicação social também tem silenciado, certamente seguindo o comportamento dos espiões transformados em «comentadores», a proposta apresentada pela Rússia aos Estados Unidos de um tratado escrito capaz de garantir a paz e a segurança entre os dois países desde que a Ucrânia não seja admitida na NATO e esta aliança não instale mísseis nas fronteiras com o território russo. Proposta razoável sabendo-se que a seguir ao desmembramento da União Soviética a administração do presidente William Clinton se comprometeu com Moscovo a manter o status quo da NATO, significando isso que a Aliança Atlântica não se deslocaria para Leste na sequência da derrocada do muro de Berlim. Do compromisso de Washington, pela voz de Clinton, resta aquilo que sempre foi: uma deslavada mentira.

Os Estados Unidos evitam dar qualquer resposta à nova proposta de Moscovo. Isso diz muito sobre os reais interesses de Washington servidos pela crise actual – que é artificial e cultivada de Ocidente para Oriente. O que ajuda a explicar a movimentação das tropas russas no interior das suas fronteiras, de facto para as defender.

O tratamento do problema da Ucrânia é realmente um caso exemplar da maneira mistificadora, desinformativa, alienante e até atemorizadora como a comunicação social dominante se comporta.

É evidente que os múltiplos ângulos sob os quais os acontecimentos podem ser vistos obrigariam os consumidores de informação a pensar. E pensar é tudo quanto os poderes dominantes pretendem evitar – como também se percebe na actual campanha eleitoral portuguesa – porque assim não conseguiriam cultivar a robotizada opinião única.

Para isso é essencial a informação do tipo fast food, cozinhada com sound bites, frases feitas, mentiras repetidas e métodos próprios do marketing publicitário. Uma lavagem cerebral, em suma.

Uma tarefa onde pontificam brigadas de espiões reciclados em «analistas» fazedores de opinião e os respectivos batalhões de máquinas repetidoras que envenenam o mundo. Um sistema que faz parecer os primeiros tempos da «Operação Mockingbird» uma brincadeira de crianças.

José Goulão, Exclusivo AbrilAbril

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Opinião
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O representante russo disse «entender perfeitamente o zelo» dos seus colegas norte-americanos «em espalhar a histeria em torno das suas próprias alegações sobre os preparativos de uma agressão russa», sublinhando que a utilização das tribunas do Conselho de Segurança coloca os países-membros «numa posição bastante incómoda».

Neste contexto, o diplomata russo destacou que as acções de Washington «não são menos prejudiciais» para a Ucrânia, cujo presidente, Vladimir Zelensky, pediu nos últimos dias aos países ocidentais que não exacerbem «a histeria sem fundamento sobre a presença de tropas russas perto da fronteira, já que todo esse exagero prejudica a economia ucraniana».

«"Não precisamos deste pânico", disse o Sr. Zelensky. Mas parece que isso é do interesse de quem promove o tema da mítica ameaça russa», afirmou Nebenzia.

Acrescentou que altos responsáveis em Kiev afirmaram publicamente nas últimas semanas que não existe uma ameaça à Ucrânia por parte da Rússia, ao contrário do que afirma Washington, que, denunciou Nebenzia, está a tentar enganar a comunidade internacional sobre a situação real na região.

«Não apresentam provas»

De acordo com o comunicado publicado pela embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, a reunião visava debater «um assunto de importância crucial para a paz e a segurança internacional», face ao alegado «comportamento ameaçador» da Rússia contra a Ucrânia.

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Rússia: «Se houver intimidação, haverá contra-intimidação»

Alexander Grushko, diplomata russo, considerou a reunião com a NATO «franca, directa e intensa», mas destacou as divergências existentes e a necessidade de «alterar o perigoso curso dos acontecimentos».

Alexander Grushko, ao centro, em Bruxelas, esta quarta-feira, com o vice-ministro russo da Defesa, Alexander Fomin, e com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg 
Créditos / bakersfield.com

Ao comentar a reunião desta quarta-feira, em Bruxelas, entre a Federação Russa e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros apontou a «viragem» da aliança atlântica para «esquemas de segurança da Guerra Fria», dando prioridade ao objectivo da dissuasão da Rússia.

Uma política desse género terá uma resposta semelhante da parte de Moscovo: «Se a NATO passa à política de dissuasão, da nossa parte haverá uma política de contra-dissuasão. Se houver intimidação, haverá contra-intimidação. […] Não é a nossa opção, mas não haverá outro caminho se não conseguirmos […] mudar hoje o perigoso curso dos acontecimentos», disse o diplomata, citado pela RT.

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Rússia insta países ocidentais a travar avanço para leste

Com vista a garantir a segurança da Europa e impedir o avanço da NATO para leste, a diplomacia russa defende negociações imediatas e a celebração de acordos juridicamente vinculativos.

Um tanque norueguês participa em exercícios militares na Polónia (imagem de arquivo)  
CréditosSean Gallup / RT

Na sequência do encontro recentemente mantido entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e norte-americano, Joseph Biden, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros afirma que «o diálogo é urgentemente necessário», tendo em conta a «linha crítica» para que caminham as relações entre a Federação Russa e o Ocidente.

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Ucrânia oferece o seu território para instalar sistema de defesa aéreo dos EUA

O apelo da Ucrânia aos EUA para que enviem tropas e sistemas anti-mísseis para o país foi classificado pela Rússia como uma «provocação grosseira», que não ficará «sem retaliação».

Créditos / PressTV

Numa reunião em Washington com o presidente da Jamestown Foundation, Glen Howard, o vice-ministro ucraniano para a Reintegração dos Territórios Não Controlados, Alexei Reznikov, abordou aquilo a que chamou a necessidade de expandir o pacote de segurança para a Ucrânia.

Para esse efeito, sugeriu a instalação de meios de defesa anti-aérea dos Estados Unidos e mesmo o destacamento de unidades de tropas norte-americanas, refere a agência TASS.

Reznikov defendeu que a legislação ucraniana permite o destacamento de tropas estrangeiras no país e disse estar preocupado com a alegada intenção da Rússia de colocar armas nucleares na Crimeia.

Reagindo a estas «especulações» do lado ucraniano, o presidente da Comissão para os Assuntos Externos da Duma Estatal, Leonid Slutsky, recorreu à rede social Telegram para afirmar que o destacamento de sistemas norte-americanos de defesa anti-mísseis na Ucrânia poderia alterar o equilíbrio de forças na região e fora dela, informa a agência russa.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP
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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

Nas últimas semanas, a guerra intensificou-se e muitas das pessoas com que conversei admitem que o governo de Kiev pode estar a preparar uma provocação a larga escala durante o Campeonato Mundial de Futebol. 

Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, acaba de ser recebido em Espanha por Pedro Sánchez, novo chefe do governo, e falava abertamente ao diário El País do falso assassinato do jornalista Arkadi Babchenko como uma técnica necessária para proteger os dissidentes.

Sem qualquer vergonha, acrescentou que há uma campanha russa de notícias falsas para destabilizar o mundo. É este o carácter de um governante que anunciava meses depois do golpe que faria tudo para que as crianças da Ucrânia pudessem ir à escola e para que as de Donbass ficassem fechadas em caves.

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Pelas mortes, o governo da Ucrânia responsabilizou «forças de ocupação russas», referindo-se, segundo a RT, a efectivos da República Popular de Donetsk, cujos representantes negaram qualquer ligação ao facto e, posteriormente, declararam que os militares ucranianos morreram por terem pisado um explosivo durante uma inspecção a campos minados.

A este propósito, Peskov disse que «não tentava fazer passar os desejos por realidade». «Para nossa desgraça, a realidade na linha de contacto é bastante aterradora, têm lugar provocações por parte das Forças Armadas da Ucrânia, e não são casos isolados, mas múltiplos», afirmou.

No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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O responsável russo classificou o pedido de Reznikov como «uma provocação grosseira» e sublinhou que a presença dos sistemas de defesa aérea dos EUA «perto das fronteiras com a Rússia irá sem dúvida merecer uma resposta da parte de Moscovo». «As tensões vão simplesmente aumentar», alertou Slutsky.

«É lamentável que as leis da Ucrânia permitam privá-la do que ainda resta da sua soberania e aos seus cidadãos de uma oportunidade para viver em segurança. Os políticos ucranianos estão dispostos a sacrificar tudo isto para prolongar a sua participação no projecto anti-Rússia», afirmou o funcionário russo.

As relações entre Kiev e Moscovo deterioraram-se bastante na sequência do golpe fascista de Maidan, em Fevereiro de 2014, com a Ucrânia a assumir um posicionamento consistente pró-NATO, UE e EUA e anti-russo, a acusar a Rússia de envolvimento na guerra antifascista na região do Donbass e a reclamar a recuperação da Crimeia, depois de os habitantes do território terem votado num referendo esmagadoramente a favor da reintegração na Rússia, em Março de 2014.

A Ucrânia tem acolhido no seu território, de forma recorrente, manobras militares organizadas pelos países da NATO, tanto em terra como no Mar Negro.

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«Aumentar o confronto com o nosso país é absolutamente inaceitável», afirma o governo russo num comunicado emitido dia 10, onde defende a adopção de um acordo juridicamente vinculativo que garanta que a Organização do Tratado do Atlântico Norte não avança mais para leste ou instala armamento de ataque nos países que fazem fronteira com a Rússia.

Também insiste em receber uma resposta da NATO a propostas previamente formuladas com vista à diminuição das tensões na Europa, nomeadamente sobre a realização de exercícios operacionais a uma distância acordada da linha de contacto Rússia-NATO; a coordenação da aproximação de navios e aviões de combate, para prevenir actividades militares perigosas, sobretudo nas regiões do Báltico e do Mar Negro; a renovação do diálogo regular entre os ministérios da Defesa nos formatos Rússia-EUA e Rússia-NATO.

Negociações devem começar «imediatamente»

Sobre a conversa telefónica mantida esta segunda-feira entre Vladimir Putin e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o gabinete de imprensa do Kremlin refere que a Rússia expôs a necessidade urgente de negociações, que devem ter início «imediato», para estabelecer acordos internacionais que impeçam qualquer expansão adicional do bloco militar.

No decorrer da conversa, Johnson manifestou preocupação com um «alegado movimento de tropas russas em larga escala junto à fronteira com a Ucrânia», a que o chefe de Estado russo respondeu com a sua visão da situação actual no país vizinho, de acordo com a nota do Kremlin, a que a RT faz referência.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP
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Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

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Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

Nas últimas semanas, a guerra intensificou-se e muitas das pessoas com que conversei admitem que o governo de Kiev pode estar a preparar uma provocação a larga escala durante o Campeonato Mundial de Futebol. 

Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, acaba de ser recebido em Espanha por Pedro Sánchez, novo chefe do governo, e falava abertamente ao diário El País do falso assassinato do jornalista Arkadi Babchenko como uma técnica necessária para proteger os dissidentes.

Sem qualquer vergonha, acrescentou que há uma campanha russa de notícias falsas para destabilizar o mundo. É este o carácter de um governante que anunciava meses depois do golpe que faria tudo para que as crianças da Ucrânia pudessem ir à escola e para que as de Donbass ficassem fechadas em caves.

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Pelas mortes, o governo da Ucrânia responsabilizou «forças de ocupação russas», referindo-se, segundo a RT, a efectivos da República Popular de Donetsk, cujos representantes negaram qualquer ligação ao facto e, posteriormente, declararam que os militares ucranianos morreram por terem pisado um explosivo durante uma inspecção a campos minados.

A este propósito, Peskov disse que «não tentava fazer passar os desejos por realidade». «Para nossa desgraça, a realidade na linha de contacto é bastante aterradora, têm lugar provocações por parte das Forças Armadas da Ucrânia, e não são casos isolados, mas múltiplos», afirmou.

No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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Putin deu exemplos concretos de decisões tomadas por Kiev com o objectivo de desmantelar os acordos de Minsk, com vista a encontrar uma solução para o conflito no Leste da Ucrânia, e acusou as autoridades de Kiev de estarem a agravar a situação no Donbass, recorrendo a armamento pesado e drones de ataque, e de discriminarem a população russo-falante no país.

O Kremlin acusa também o Ocidente de estar a utilizar como pretexto a situação na Ucrânia, um país onde «se empenhou no incentivo à russofobia e em justificar as acções do regime de Kiev para minar os acordos de Minsk [de 2015] e se preparar para um cenário militar no Donbass».

«Os países da NATO estão a empurrar Kiev para medidas agressivas. A militarização do território da Ucrânia e o fornecimento de armas estão em curso», lê-se na nota emitida dia 10, na qual a Rússia advoga que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) não deve estar à margem das discussões que dizem respeito à segurança no continente.

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A parte russa, referiu Grushko, indicou que uma maior deterioração da situação conduziria a «consequências mais imprevisíveis e nefastas para a segurança europeia», e propôs medidas que «permitem voltar a construir uma segurança europeia baseada em princípios comuns, no interesse de todos», que irá «melhorar não apenas a segurança militar da Federação Russa, mas também a dos países-membros da NATO».

Alexander Grushko qualificou a conversa com os representantes da Aliança Atlântica como «bastante franca, directa, profunda, intensa», mas revelando, ao mesmo tempo, «muitas divergências sobre questões fundamentais».

Neste sentido, acrescentou que Moscovo não pode aceitar a abordagem da NATO ao princípio da segurança indivisível, uma vez que é «selectiva»: «aos olhos da NATO só existe para os membros da aliança», ignorando os interesses de outros países.

Fim da expansão para Leste e «desescalada» na Ucrânia

Em declarações à imprensa, Grushko afirmou que uma das principais exigências da Rússia à NATO é a do fim da expansão para Leste, nomeadamente para países que integravam a União Soviética, e sublinhou os riscos associados a «uma nova expansão».

Numa reunião que durou quatro horas, o tema da Ucrânia ocupou uma hora e meia, disse o diplomata, para dar uma ideia da importância da questão.

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Pela defesa da paz, é «urgente» acabar com o cerco da NATO à Rússia

Acompanhando com preocupação a escalada de tensão da NATO face à Rússia, o CPPC defende que o Governo português não deve alinhar nesta escalada, respeitando os princípios da Constituição da República.

Comboio militar da NATO circulando em estradas polacas.
CréditosFonte: US Naval Institut

«Perante a gravidade da situação», o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) advoga a urgente adopção de medidas que reduzam, no imediato, a escalada militar e o perigo de confrontação, bem como a promoção do «estabelecimento de medidas de confiança mútua que, a prazo, possibilitem o desanuviamento e a salvaguarda da paz».

Numa nota agora publicada, a organização de defesa da paz urge ao fim da ameaça de escalada de agressão das forças militares ucranianas no Donbass e apela ao diálogo «com vista à resolução pacífica do conflito, no respeito dos acordos e compromissos anteriormente assumidos».

Também considera fundamental deter a escalada de confrontação, a campanha belicista e as contínuas ameaças por parte da NATO face à Rússia, incluindo «provocações e manobras» junto às fronteiras da Rússia, e os planos de instalação de sistemas de misseis e de outros armamentos de carácter ofensivo dos EUA na Europa.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP
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É igualmente proposto o fim do alargamento da NATO, assim como colocar no horizonte a dissolução deste bloco político-militar «agressivo e principal responsável pela corrida aos armamentos e militarização que hoje varre o mundo».

Só tomando medidas desta dimensão, para acabar com «a política de confrontação e cerco à Rússia», se poderá «salvaguardar a paz e a segurança na Europa e no mundo», defende o CPPC, que reafirma o direito dos povos à paz e à soberania.

No que respeita à actuação do Governo português, o organismo de defesa da paz considera que não deve ser pautada pelo «alinhamento com a escalada belicista e de ameaça da NATO e da UE [União Europeia]», e que a intervenção no plano internacional deve ser feita no respeito dos princípios da Constituição da República Portuguesa, nomeadamente pela «solução pacífica dos conflitos internacionais».

Não se trata de um mero «diferendo entre a Ucrânia e a Rússia»

Sobre as razões na origem do agravamento da situação, o CPPC alerta que não devem ser reduzidas a um diferendo entre a Ucrânia e a Rússia. «Na verdade, elas radicam em décadas de alargamento da NATO ao Leste da Europa – de cuja estratégia a Ucrânia é actualmente mais um peão –, visando o cerco, a pressão, a chantagem, a confrontação com a Rússia», lê-se no texto.

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Rússia insta países ocidentais a travar avanço para leste

Com vista a garantir a segurança da Europa e impedir o avanço da NATO para leste, a diplomacia russa defende negociações imediatas e a celebração de acordos juridicamente vinculativos.

Um tanque norueguês participa em exercícios militares na Polónia (imagem de arquivo)  
CréditosSean Gallup / RT

Na sequência do encontro recentemente mantido entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e norte-americano, Joseph Biden, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros afirma que «o diálogo é urgentemente necessário», tendo em conta a «linha crítica» para que caminham as relações entre a Federação Russa e o Ocidente.

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Ucrânia oferece o seu território para instalar sistema de defesa aéreo dos EUA

O apelo da Ucrânia aos EUA para que enviem tropas e sistemas anti-mísseis para o país foi classificado pela Rússia como uma «provocação grosseira», que não ficará «sem retaliação».

Créditos / PressTV

Numa reunião em Washington com o presidente da Jamestown Foundation, Glen Howard, o vice-ministro ucraniano para a Reintegração dos Territórios Não Controlados, Alexei Reznikov, abordou aquilo a que chamou a necessidade de expandir o pacote de segurança para a Ucrânia.

Para esse efeito, sugeriu a instalação de meios de defesa anti-aérea dos Estados Unidos e mesmo o destacamento de unidades de tropas norte-americanas, refere a agência TASS.

Reznikov defendeu que a legislação ucraniana permite o destacamento de tropas estrangeiras no país e disse estar preocupado com a alegada intenção da Rússia de colocar armas nucleares na Crimeia.

Reagindo a estas «especulações» do lado ucraniano, o presidente da Comissão para os Assuntos Externos da Duma Estatal, Leonid Slutsky, recorreu à rede social Telegram para afirmar que o destacamento de sistemas norte-americanos de defesa anti-mísseis na Ucrânia poderia alterar o equilíbrio de forças na região e fora dela, informa a agência russa.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
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Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

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E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

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EUA reforçam presença militar na Europa

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Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

Nas últimas semanas, a guerra intensificou-se e muitas das pessoas com que conversei admitem que o governo de Kiev pode estar a preparar uma provocação a larga escala durante o Campeonato Mundial de Futebol. 

Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, acaba de ser recebido em Espanha por Pedro Sánchez, novo chefe do governo, e falava abertamente ao diário El País do falso assassinato do jornalista Arkadi Babchenko como uma técnica necessária para proteger os dissidentes.

Sem qualquer vergonha, acrescentou que há uma campanha russa de notícias falsas para destabilizar o mundo. É este o carácter de um governante que anunciava meses depois do golpe que faria tudo para que as crianças da Ucrânia pudessem ir à escola e para que as de Donbass ficassem fechadas em caves.

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Pelas mortes, o governo da Ucrânia responsabilizou «forças de ocupação russas», referindo-se, segundo a RT, a efectivos da República Popular de Donetsk, cujos representantes negaram qualquer ligação ao facto e, posteriormente, declararam que os militares ucranianos morreram por terem pisado um explosivo durante uma inspecção a campos minados.

A este propósito, Peskov disse que «não tentava fazer passar os desejos por realidade». «Para nossa desgraça, a realidade na linha de contacto é bastante aterradora, têm lugar provocações por parte das Forças Armadas da Ucrânia, e não são casos isolados, mas múltiplos», afirmou.

No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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O responsável russo classificou o pedido de Reznikov como «uma provocação grosseira» e sublinhou que a presença dos sistemas de defesa aérea dos EUA «perto das fronteiras com a Rússia irá sem dúvida merecer uma resposta da parte de Moscovo». «As tensões vão simplesmente aumentar», alertou Slutsky.

«É lamentável que as leis da Ucrânia permitam privá-la do que ainda resta da sua soberania e aos seus cidadãos de uma oportunidade para viver em segurança. Os políticos ucranianos estão dispostos a sacrificar tudo isto para prolongar a sua participação no projecto anti-Rússia», afirmou o funcionário russo.

As relações entre Kiev e Moscovo deterioraram-se bastante na sequência do golpe fascista de Maidan, em Fevereiro de 2014, com a Ucrânia a assumir um posicionamento consistente pró-NATO, UE e EUA e anti-russo, a acusar a Rússia de envolvimento na guerra antifascista na região do Donbass e a reclamar a recuperação da Crimeia, depois de os habitantes do território terem votado num referendo esmagadoramente a favor da reintegração na Rússia, em Março de 2014.

A Ucrânia tem acolhido no seu território, de forma recorrente, manobras militares organizadas pelos países da NATO, tanto em terra como no Mar Negro.

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«Aumentar o confronto com o nosso país é absolutamente inaceitável», afirma o governo russo num comunicado emitido dia 10, onde defende a adopção de um acordo juridicamente vinculativo que garanta que a Organização do Tratado do Atlântico Norte não avança mais para leste ou instala armamento de ataque nos países que fazem fronteira com a Rússia.

Também insiste em receber uma resposta da NATO a propostas previamente formuladas com vista à diminuição das tensões na Europa, nomeadamente sobre a realização de exercícios operacionais a uma distância acordada da linha de contacto Rússia-NATO; a coordenação da aproximação de navios e aviões de combate, para prevenir actividades militares perigosas, sobretudo nas regiões do Báltico e do Mar Negro; a renovação do diálogo regular entre os ministérios da Defesa nos formatos Rússia-EUA e Rússia-NATO.

Negociações devem começar «imediatamente»

Sobre a conversa telefónica mantida esta segunda-feira entre Vladimir Putin e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o gabinete de imprensa do Kremlin refere que a Rússia expôs a necessidade urgente de negociações, que devem ter início «imediato», para estabelecer acordos internacionais que impeçam qualquer expansão adicional do bloco militar.

No decorrer da conversa, Johnson manifestou preocupação com um «alegado movimento de tropas russas em larga escala junto à fronteira com a Ucrânia», a que o chefe de Estado russo respondeu com a sua visão da situação actual no país vizinho, de acordo com a nota do Kremlin, a que a RT faz referência.

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Rússia tomará «medidas adicionais» se a NATO destacar tropas para a Ucrânia

O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana.

Soldados ucranianos (imagem de arquivo) 
A NATO tem vindo a reforçar a sua presença no chamado Flanco Leste Créditos / @14Milimetros

Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia».

«Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk.

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Secretário-geral da NATO entrevistado na RTP

Fascismo na Ucrânia ou destruição da Líbia? Não, ameaça russa!

Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove.

Em entrevista à RTP, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse, sem «mea culpa», que a Aliança se depara com «muitos desafios complexos ao mesmo tempo»
Créditos / politico.eu

Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão.

Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente.

Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.

Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse.

«Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.»

Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco.

«A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado.

O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas.

Diálogo, sim, mas a culpa é da Rússia

Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu.

«Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia».

E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg.

Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa.

O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras.

EUA reforçam presença militar na Europa

O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg.

Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia».

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Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo.

Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS.

O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos».

«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»

No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas.

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Resistência antifascista em Donbass

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência.

Igreja destruída junto ao aeroporto de Donetsk
Créditos / Bruno Carvalho

Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países.

Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias.

No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe.

Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». 

Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich.

O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência.

Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev.

O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas.

Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia.

Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética.

Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país.

Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos.

Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região.

O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas.

Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa.

Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8.

O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

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No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia.

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Putin deu exemplos concretos de decisões tomadas por Kiev com o objectivo de desmantelar os acordos de Minsk, com vista a encontrar uma solução para o conflito no Leste da Ucrânia, e acusou as autoridades de Kiev de estarem a agravar a situação no Donbass, recorrendo a armamento pesado e drones de ataque, e de discriminarem a população russo-falante no país.

O Kremlin acusa também o Ocidente de estar a utilizar como pretexto a situação na Ucrânia, um país onde «se empenhou no incentivo à russofobia e em justificar as acções do regime de Kiev para minar os acordos de Minsk [de 2015] e se preparar para um cenário militar no Donbass».

«Os países da NATO estão a empurrar Kiev para medidas agressivas. A militarização do território da Ucrânia e o fornecimento de armas estão em curso», lê-se na nota emitida dia 10, na qual a Rússia advoga que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) não deve estar à margem das discussões que dizem respeito à segurança no continente.

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«Faltando a compromissos de boa vizinhança assumidos na década de oitenta do século passado, sucessivos alargamentos da NATO nos últimos 30 anos colocaram este bloco político-militar agressivo às portas da Rússia», afirma o CPPC, que situa igualmente entre os motivos para o agravamento da situação questões como: o aumento do número de exercícios militares junto às fronteiras russas; o abandono, pelos EUA, de vários tratados internacionais de controlo de armamento; a imposição de sanções económicas à Rússia, por parte de EUA e UE; uma campanha anti-russa «cada vez mais agressiva» e «mobilizando vastos recursos mediáticos».

Neste sentido, torna-se «extremamente perigosa a instrumentalização da Ucrânia na estratégia belicista da NATO», alerta o texto, sublinhando que, «desde o golpe de Estado de 2014 – orquestrado e apoiado por EUA, NATO e UE –, é dirigida por forças assumidamente xenófobas e anti-russas, em que se integram sectores fascistas, que levaram a profundas divisões e à guerra» no país.

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Moscovo defende que a «desescalada no país vizinho é possível» e que, para alcançar esse objectivo, é necessário que Kiev implemente de forma incondicional os acordos de Minsk, no âmbito da resolução 2052 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Sendo aplicados os acordos de Minsk, «não haverá ameaças à segurança e à integridade territorial da Ucrânia», frisou Grushko, acrescentando que, se a NATO estiver interessada na «desescalada», deve cessar «toda a ajuda militar à Ucrânia», incluindo fornecimento de armas, bem como retirar do país inspectores, instrutores, oficiais e soldados.

Sobre a reunião entre o Conselho da NATO e a Rússia, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também se pronunciou em Bruxelas, valorizando-a como positiva, e referindo-se à importância de retomar o diálogo com Moscovo, mas destacando as divergências entre as partes.

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Por seu lado, o representante russo instou a parte norte-americana a aproveitar a reunião para apresentar alguma prova das suas acusações, frisando que «os responsáveis russos não fizeram uma única ameaça de invasão à Ucrânia».

Nebenzia pediu ainda aos seus colegas que deixem de utilizar o Conselho de Segurança como instrumento «para implementar os posicionamentos da propaganda do Ocidente».

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O diplomata disse ainda que, entre os países ocidentais, existe um «pânico sem fundamento» sobre uma alegada invasão da Ucrânia.

A reunião de emergência do Conselho de Segurança foi convocada por iniciativa da Ucrânia, depois de, ontem, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ter decidido «reconhecer de imediato a independência e a soberania» de Donetsk e Lugansk, e ter anunciado o envio de forças para os territórios separatistas para garantir a paz.

Alerta para consequências «regionais e globais»

A secretária-geral adjunta da ONU, Rosemary DiCarlo, sublinhou que as próximas horas e dias serão «críticos» e destacou que a decisão da Rússia de reconhecer a independência de ambas as repúblicas populares poderá ter «implicações regionais e globais».

DiCarlo, que também se mostrou preocupada com o destacamento de tropas russas para o Leste da Ucrânia numa «missão de manutenção de paz», alertou para as tensões na região e para 3331 violações do cessar-fogo registadas nos últimos dias no Donbass.

Já a China fez um apelo à «moderação» de todas as partes envolvidas, no sentido de não tomarem medidas que conduzam à tensão, bem como a procurar resolver o conflito pela via diplomática.

Países ocidentais falam de «violação do direito internacional» 

No Conselho de Segurança, a representante norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que o reconhecimento, por Vladimir Putin, das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk «como estados independentes» constitui «uma violação não provocada da soberania e integridade territorial da Ucrânia», refere a RT.

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Proposta iniciativa na Sérvia para recordar agressão da NATO

A Rede de Intelectuais, Artistas e Movimentos Sociais em Defesa da Humanidade – Capítulo Sérvia lançou uma iniciativa para perpetuar entre os cidadãos a memória da agressão da NATO, iniciada há 22 anos.

A agressão da NATO à Jugoslávia começou a 24 de Março de 1999
Créditos / serbianmonitor.com

Um documento a que a agência Prensa Latina teve acesso destaca que a lembrança deste dia relaciona toda a gente com o massacre dos cidadãos da então República Federal da Jugoslávia, perpetrado por 19 países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte entre 24 de Março e 10 de Junho de 1999.

Pela primeira vez na história das Nações Unidas, sublinha a Rede, tomou-se a decisão de atacar um país soberano, membro e fundador desta organização internacional, sem a aprovação do Conselho de Segurança, um precedente criado como expressão da arbitrariedade política dos líderes dos Estados Unidos e da NATO.

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Bombas sobre Belgrado

Há vinte anos a NATO iniciou o bombardeamento da Jugoslávia. Começava a primeira agressão militar a um país soberano no continente europeu, após a Segunda Guerra Mundial. Os sérvios não esquecem.

Manifestação anti-NATO em Belgrado. Foto de arquivo.
CréditosAlexa Stancovic / AFP/RT

«A Sérvia jamais entrará para a NATO, nem que seja o único país europeu» a rejeitar aquela aliança militar, afirmou o ministro da Defesa sérvio, Aleksandar Vulin, em evento recordando a passagem do 20.º aniversário do início da agressão à Jugoslávia, desencadeada pela NATO a 24 de Março de 1999. «Estamos prontos para perdoar, mas não para esquecer», afirmou o ministro sérvio.

«Fizemos esta escolha porque fomos bombardeados mas, acima de tudo, porque jamais faremos a outros aquilo que nos fizeram» – afirmou Vulin, confirmando que Belgrado escolheu ser militarmente neutral em qualquer situação.

«Não faremos parte da NATO», afirmou também o presidente sérvio Aleksandar Vucic, durante uma entrevista à televisão russa Canal 1, a 22 de Março. «Tornei-o claro a [Jens] Stoltenberg» (secretário-geral da NATO) afirmou o presidente sérvio, acrescentando que «a Sérvia, que foi o coração da antiga Jugoslávia, não é algo que se possa esmagar ou destruir».

«Não esperamos ser reembolsados pelas nossas perdas, nem podemos esperar a punição dos responsáveis por este crime horrendo», declarou Vucic, «mas o mais importante, agora, é [assegurar] que isto nunca mais nos volte a acontecer».

É a guerra

A 24 de Março de 1999 iniciaram-se os bombardeamentos, pela aviação da NATO, à Jugoslávia. Era o primeiro de 78 dias de pesadelo. Entre 24 de Março e 9 de Junho os aviões da NATO cumpriram 38 mil missões sobre a Jugoslávia, sendo quase 11 mil delas de bombardeamento, atingindo aquele estado balcânico com mais de 23 mil bombas e mísseis – muitos deles integrando o cancerígeno urânio empobrecido. Fontes próximas à coligação agressora estimam terem sido despejadas sobre a Jugoslávia mais de 6,3 mil toneladas de bombas, quase um terço daquelas que, nos ataques de Dezembro de 1972, foram largadas pelos EUA sobre Hanói, durante a guerra do Vietname.

O pretexto para os bombardeamentos foi um incidente na cidade de Racak, no Kosovo, onde os sérvios foram acusados do massacre de dezenas de civis de etnia albanesa naquela região da República Sérvia, a 15 de Janeiro de 1999. Trata-se de uma acusação contestada pelos sérvios mas também por diversos especialistas naquele conflito. Vladimir Chizhov, representante diplomático da Rússia na União Europeia (UE), declarou à RT News que se tratou de «uma pura provocação para começar os bombardeamentos», denunciando as acusações de massacre naquela «praça-forte dos militantes albaneses» como falsas e afirmando que os corpos apresentados pertenciam, na realidade, a membros dos grupos terroristas albaneses falecidos em combate.

Os ataques aéreos, que não pouparam alvos civis, deixaram o país em ruínas. Milhares de mortos, muitos deles civis – a coligação admitiu «apenas» 500 – e dezenas de milhar de feridos, com um número não determinado de mortos, ocorridos anos mais tarde, por cancros causados pelas radiações emitidas pelas munições da NATO, é a conta criminosa que nenhum dos implicados nos ataques aceita receber, até hoje.

Alvos civis e vítimas civis: os horrores da guerra

Hoje é reconhecido que as bombas com urânio empobrecido, largadas pela NATO, poluíram o país. A substância tóxica, que é usada para dotar os projécteis de um mais elevado poder de penetração, é vista como estando na origem do aumento de cancros entre a população civil, que ainda hoje são demasiado elevados na Sérvia.

Têm sido detectados cancros, em crianças sérvias com menos de 15 anos de idade, com uma frequência três vezes mais elevada do que em qualquer país europeu, afirmou à RIA Novosti a neurocirurgiã Danica Grujicic, directora de neuro-oncologia no Centro Clínico em Savski, nos arredores da capital, e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Belgrado. «Cheguei a perguntar-me se estaríamos a fazer algo de errado», disse Grujicic, «operamo-los como sempre fizemos, recebem a radioterapia» e, ainda assim, «morrem passado um ano».

A cidade de Vranje, no Sul da Sérvia, não era reconhecida por nenhum facto em particular, antes da agressão da NATO à Jugoslávia. Deixou de o ser: haverá poucas cidades na Europa que possam gabar-se de ter uma «rua da morte», refere uma reportagem do Canal 1 sobre a Sérvia: «depois de Hiroshima e Nagasaki, Vranje tornou-se a primeira cidade na história a ser bombardeada com armas nucleares». No decurso dos ataques ao país, aviões da NATO literalmente encheram a colina no centro da cidade com munições reforçadas com núcleos de urânio empobrecido. Vinte anos depois, os activistas locais das vítimas dos bombardeamentos com urânio continuam a aumentar as suas listas.

«A minha mulher teve um diagnóstico de cancro e, duas casas abaixo, um vizinhomorreu de cancro pulmonar. Do outro lado da rua, os meus dois vizinhos estão doentes. E são pessoas jovens, não têm mais de 40-45 anos», disse à reportagem um residente local. A rua Przharskaya, chamada pelos habitantes de Vranje de «rua da morte», é a mais próxima da colina onde ficava a antena de televisão bombardeada pela NATO. Os resíduos radioactivos transformados em munições perfurantes encheram o ar de partículas tóxicas. Desde então, contam-se pelos dedos da mão as casas cujos moradores não sabem o que é um cancro. Os anos passam e a alta taxa de mortalidade permanece igual,«como se evidencia pelos anúncios de mais uma morte prematura», em cada passo da «rua da morte».

Os responsáveis estão vivos, mas não serão julgados

Goran Petronievich é um conhecido advogado sérvio. Há 20 anos era juiz de distrito no tribunal de Belgrado. Em um dos seus veredictos dessa época condenou a 20 anos de prisão – in absentia – a direcção da NATO e os líderes dos países responsáveis pela agressão, entre eles Bill Clinton, Tony Blair e Madeleine Albright. A sentença foi anulada em 2001 pelas autoridades sérvias «sob pressão do Ocidente» e agora repousa «nos arquivos do tribunal», afirmou Petronievich ao Canal 1 russo, em programa produzido por aquela estação por ocasião da entrevista do presidente da Sérvia.

«Ainda que chegue um tempo em que esta sentença volte a estar em demanda, nunca entrará em efeito» mas, «ainda assim, servirá a história», manifestou o jurista, acrescentando: «reunimos provas irrefutáveis de que as baixas civis não foram acidentais».

Antes desta tentativa, ainda as bombas da NATO tombavam sobre o país, a Jugoslávia apresentou queixa no Tribunal Internacional de Justiça em Haia, da agressão que estava a sofrer. A queixa foi liminarmente rejeitada. «As mais de duas mil vidas ceifadas» pelos 78 dias de ataques, incluindo cerca de uma centena de crianças, «já não parecem uma irrealidade», diz-se na reportagem daquele canal televisivo. A impunidade favorece os criminosos, como se veio a ver no Iraque e na Líbia. A Jugoslávia foi apenas «a primeira vítima dessa falta de legalidade e cinismo», refere o Canal 1: «à destruição de um país, à morte de milhares de pessoas, à ocupação de 15% do território, chamaram uma operação de imposição da paz».

Um outro advogado, Srdjan Aleksic, vem de Vranje, a cidade onde fica a «rua da morte». Quando, imediatamente após a guerra, a sua mãe morreu imesperadamente de cancro, prometeu a si próprio punir os responsáveis. Percebendo que das instâncias internacionais ou interestatais não se pode esperar justiça, concluiu que «o único caminho, para as vítimas», é demandarem os culpados por meio de processos privados, «exigindo compensação pelos dados sofridos».

Um tribunal estabelecido por «grandes potências que não estivessem implicadas na agressão contra a Jugoslávia, como a Rússia, a Índia e a China» poderia, para Aleksic, ser a solução para obter justiça para as vítimas. «Um tal tribunal poderia ser absolutamente imparcial», afirma. As queixas poderão não ser apenas sérvias: soldados italianos da NATO, que estiveram no Kosovo após o fim dos bombardeamentos, morreram de cancro, inesperadamente, depois de regressarem a casa – outros lutam, ainda, contra a terrível doença. Ao reconhecerem como causa da morte desses soldados o contacto com resíduos das munições reforçadas urânio empobrecido, a justiça italiana criou um precedente que pode vir a servir a outras vítimas. E convém não esquecer que militares portugueses da KFOR morreram por essa razão.

No seu escritório «acumulam-se as caixas de crimes sem castigo», refere a reportagem do Canal 1. Aleksic aguarda o veredicto de da comissão estatal sérvia, estabelecida no ano transacto com o objectivo de avaliar os danos causados pelos bombardeamentos da NATO e as suas consequências. «Este veredicto», refere a reportagem, «poderá tornar-se a base para transformar aquelas histórias em processos legais».

Não será fácil. Os EUA anunciaram, recentemente, a sua disposição de imporem sanções contra representantes do Tribunal Internacional de Justiça de Haia que manifestem nem que seja a intenção, apenas, de acusar soldados americanos de crimes de guerra que tenham cometido no Afeganistão. É difícil de imaginar qual a reacção imperial a uma tentativa sérvia para pedir justiça por estes crimes, cometidos vinte anos atrás.


O ministro da Ecologia e da Protecção Ambiental da Sérvia, Goran Trivan, mostrou-se pessimista, nas declarações prestadas ao Canal 1. «Não acredito que alguém venha a responder por estes crimes. O povo sérvio parece condenado a que ninguém seja responsável pelos crimes contra si cometidos. Compreendemo-lo muito bem. Mas, ao contrário do que é admitido, não ficaremos calados! Clinton e Solana cometeram crimes numa escala épica».

«O impacto da injustiça interminável sofrido pela sociedade sérvia não é menor que o impacto das munições de urânio empobrecido sobre a saúde da nação». O jornalista do Canal 1 dificilmente poderia fechar de melhor forma a reportagem conduzida pelo canal televisivo.

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A NATO bombardeou a Jugoslávia para «proteger os civis»
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O texto afirma que esse foi o último grande crime do século XX, cometido pelo Ocidente em violação do direito internacional e numa tentativa de estabelecer um mundo unilateral, e destaca que essa acção bélica inaugurou um modelo de intervencionismo global que depois se aplicou no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, no Mali e na Síria.

A nota a que a agência cubana teve acesso acrescenta que, longe do medo e da agonia esperados, as forças de defesa jugoslavas, pese a inferioridade técnica e militar, ofereceram uma magnífica resistência e as canções patrióticas dos desobedientes ressoaram em locais públicos, pontes e tertúlias.

Foram 1008 soldados e polícias mortos, que marcharão para sempre junto à memória colectiva, bem como mais de 2500 vítimas civis do crime da NATO, incluindo 89 crianças, denuncia a declaração.

Resistência à desmemória e à «profanação» do Fogo Eterno

A Rede afirma que as cicatrizes daquela agressão ainda não se apagaram, mas que as transformações sociais e políticas posteriores na Sérvia fizeram surgir figuras que mudaram a atitude face à agressão e à forma de a recordar.

Chamou a atenção da Rede o facto de o monumento denominado Fogo Eterno, em Belgrado, ter sido vandalizado, apagada a chama, símbolo da defesa heróica da Sérvia com a participação de todo um povo, e destruída a placa com os nomes dos países participantes no ataque.

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Jugoslávia: o dia em que uma televisão se tornou um alvo militar

Dentro de algumas horas, a Rádio Televisão da Sérvia será bombardeada para calar a agressão da NATO à Jugoslávia. Estamos em 1999 e este é um dos muitos ataques contra alvos civis, ao longo de 78 dias.

O edifício do Quartel-General do Exército da Jugoslávia não foi reconstruído depois de ser danificado por mísseis de cruzeiro em Abril de 1999, durante o bombardeio da NATO
Créditos / 1389blog.com

A agressão imperialista à República da Jugoslávia tinha começado um mês antes, a 24 de Março de 1999, e desenrolou-se até 10 de Junho desse ano, depois de fracassadas as negociações em Rambouillet e Paris, entre 6 e 23 de Fevereiro de 1999, com o pretenso objectivo de pôr fim ao conflito entre o Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) e as forças de Belgrado, acusadas de promoverem uma limpeza étnica.

Durante 78 dias, aviões e navios de guerra da NATO realizaram 3800 «operações de combate», lançando 22 milhões de quilos de bombas, cerca de 2300 mísseis e 14 mil bombas sobre um milhar de alvos, entre os quais a Rádio Televisão Sérvia, onde morreram 16 pessoas.

Para a NATO, a sede da TV Sérvia, em Belgrado, era um alvo militar a abater pelo facto de ser «porta-voz da propaganda» de Milosevic. Por outras palavras, pelo facto de revelar uma realidade não conforme com a que foi fabricada pelo Ocidente, evidenciando as consequências dos ataques da Aliança Atlântica, liderada pelos EUA.

Os ataques a pontes, comboios, colunas de refugiados, mercados e fábricas foram alguns dos crimes cometidos pela NATO, e que a televisão estatal cobriu. 

Em 2002, Milanovic, ex-director da televisão estatal, foi condenado por um tribunal sérvio a dez anos de prisão por não ter procedido à evacuação dos trabalhadores, apesar de «saber que o edifício podia vir a ser alvejado e que um ataque provocaria necessariamente a perda de vidas humanas». Milanovic acabaria por ser o único condenado pelo bombardeamento ocorrido na madrugada do dia 23 de Abril. 

O advogado de Milanovic classificou a sentença como «o mais vergonhoso veredicto na história da justiça de Belgrado». Mais curioso ainda, o facto de Carla del Ponte, procuradora do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), ter admitido que, após analisar a possibilidade de indiciar os dirigentes dos países da NATO, estes não eram responsáveis pelos crimes. 

Criado em 1993 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, o TPIJ foi, segundo Diana Johnstone, na sua obra Cruzada de Cegos, «uma instituição estabelecida de cima para julgar os de baixo. […] Desde o princípio, o objectivo proclamado pelos seus promotores principais não foi forjar um instrumento de Justiça neutra e universal mas punir um grupo nacional: os sérvios». 

«Take it ou leave it»

As supostas negociações ocorridas em França e mediadas pela NATO não foram mais do que uma encenação. Numa entrevista concedida ao Belgrado Politika, em 2013, Zivadin Jovanovic, então ministro jugoslavo dos Negócios Estrangeiros, afirmou que «em Rambouillet, não houve nem tentativa de alcançar um acordo, nem de negociação».

Zivadin Jovanovic explicou que o enviado norte-americano exigiu à delegação jugoslava que se limitasse a assinar o texto que ele mesmo tinha elaborado e colocado em cima da mesa, «segundo o princípio take it or leave it [peguem ou larguem]».

Entre os pressupostos do referido texto, assinalava-se a passagem livre e sem restrições, bem como o acesso total em todo o território da República Federal da Jugoslávia por parte do pessoal da NATO, incluindo os seus veículos, navios, aviões e equipamento. 

«Uma provocação»

Numa entrevista ao Daily Telegraph de Londres, a 27 de Junho de 1999, o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger denunciou: «O texto do projecto de acordo de Rambouillet, que exigia o estacionamento de tropas da NATO em toda a Jugoslávia, era uma provocação. Serviu de pretexto para começar os bombardeamentos. O documento de Rambouillet estava formulado de tal maneira que nenhum sérvio podia aceitá-lo.»

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Por isso, lançou a iniciativa de restaurar a instalação, voltar a acender a chama da tocha e colocar em redor do pedestal o texto original e os nomes dos agressores.

Também sugeriu colocar no local aquilo que designa como 14 obstáculos, com os nomes dos mais altos políticos e comandantes da aliança ocidental, condenados no Tribunal do Distrito de Belgrado em Setembro de 2000, como «advertência ao mundo inteiro do perigo da arbitrariedade política e abusos de poder», refere a Prensa Latina.

Considerou ainda oportuno para as actuais e futuras gerações fazer o contraste entre essas personagens e as últimas palavras dos pilotos coronel Milenko Pavlovic e major Zoran Radosavljevic, dedicadas ao amor à pátria e à defesa das crianças do país, como um acto de desagravo à profanação do monumento.

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Da mesma forma, outros países ocidentais, como França, Alemanha, Canadá ou Portugal, receberam mal a decisão do Kremlin, frisando que se trata de «uma violação unilateral dos compromissos internacionais da Rússia e um ataque à soberania da Ucrânia».

Alguns também falaram em «reagir com firmeza» perante a «violação do direito internacional». Reconhecer a independência do Kosovo, bombardear a Jugoslávia, destruir a Líbia, o Iraque ou Afeganistão não mereceram a mesma apreciação dos dirigentes do mundo ocidental, aliados dos EUA, membros da NATO e outros.

Intervir na Síria sem mandato das Nações Unidas e sem autorização do país também não violou o direito internacional, ao que parece. E apoiar Juan Guaidó – a marioneta autoproclamada a mando de Washington – na Venezuela fez parte da etiqueta ocidental. Até que não. 

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