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Índia: o maior confinamento do mundo deixa um rasto de grande pobreza

Dirigentes do PCI (M) estão entre as vozes que acusam Narendra Modi de má preparação e gestão do confinamento na Índia. Estima-se que, só em Abril, 122 milhões de pessoas tenham ficado sem trabalho.

Militantes comunistas entregam comida a trabalhadores migrantes que passam pela cidade de Vijayawada, no estado indiano de Andhra Pradesh
Créditos / @cpimspeak

Sitaram Yechury, secretário-geral do Partido Comunista da Índia (Marxista) – PCI (M) – acusa o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, de ter decretado «uma quarentena unilateral, não planeada, à última da hora» e de «agora não saber como lhe pôr fim de forma científica». «O custo – afirma – está a ser suportado por milhões de indianos».

Também na sua conta de Twitter, Yechury afirmou que «o impacto da pior migração deste século será sentido nos anos que aí vêm» e instou o governo de Modi a «partilhar imediatamente a sua estratégia de saída para o confinamento», antes de que uma saída apressada e confusa «agrave a situação sanitária e económica».

O dirigente comunista é uma de muitas vozes que criticam a quarentena em vigor desde 25 de Março e que a escritora Arundhati Roy caracterizou, no Financial Times, como o «confinamento mais punitivo e mal planeado do mundo».

De acordo com dados divulgados pelo Centro de Monitorização da Economia Indiana (CMIE, na sigla em inglês), só no mês de Abril cerca de 122 milhões de indianos ficaram sem trabalho. O sector informal é o mais atingido.

Por seu lado, o Banco Mundial estima que 49 milhões de pessoas em todo o mundo passem a viver em situação de «pobreza extrema» – com 1,7 euros ou menos por dia – como resultado directo da «destruição da economia» no contexto da pandemia, sendo que, segundo a projecção, a Índia «vai à frente», esperando-se que 12 milhões «sejam empurrados» para a miséria.

Em declarações ao portal bloomberg.com, Ashwajit Singh, director executivo da empresa IPE Global, disse não esperar uma melhoria na taxa de desemprego este ano e afirmou que «mais pessoas podiam morrer de fome que do vírus».

Precários e pobres, os que mais sofrem

Com a entrada em vigor do confinamento (lockdown), a 25 de Março, milhões de trabalhadores, dependentes de rendimentos diários e que se viram sem trabalho, tentaram sair das grandes cidades e regressar às suas terras. As imagens de migrantes apinhados em comboios, autocarros e camiões correram mundo.

Muitos fizeram centenas de quilómetros a pé e, para escapar à Polícia – que os espancava duramente –, seguiam pelas linhas de caminho-de-ferro, ao longo de rios e ribeiras, com malas pesadas às costas.


Em Abril – e este mês também – repetiram-se as caravanas destes trabalhadores, a fugir da fome e do desemprego, a caminho das suas terras, e que sobreviveram, em alguns casos, com a ajuda dos militantes do PCI (M), que, nos vários estados, organizaram cozinhas comunitárias e centros de distribuição de comida junto às estradas.

No entanto, como tem sublinhado alguma imprensa, a maioria destes trabalhadores não arranja meios de subsistência no campo e, apesar da precariedade e da exploração a que são sujeitos nos centros urbanos, vão acabar por regressar às cidades.

É o caso de Abdul Kareem, que, ao ficar sem trabalho em Nova Déli, com a quarentena, viajou com dois filhos e a mulher até à sua aldeia, no estado de Uttar Pradesh.

Agora, as suas poupanças – 9000 rupias (107 euros) – já foram gastas. Por isso, Kareem tem a certeza de que vai regressar, mesmo «não sabendo como estará a situação ao nível do emprego em Déli quando voltar». «Não podemos passar fome; faço aquilo que aparecer», disse ao bloomberg.com.

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