Sem sedes diplomáticas na Venezuela desde 2020 – ano em que o governo do presidente Jair Bolsonaro decretou o encerramento dos consulados e da embaixada no país vizinho –, aos mais de 1300 eleitores brasileiros que ali residem só restava a opção de viajar cerca de 1500 quilómetros (por conta própria) e votar em Bogotá, capital da Colômbia.
Isto, porque o Itamaraty – sede da diplomacia brasileira – não os libertou da obrigação eleitoral. Segundo apurou o Brasil de Fato, esta decisão divergiu da posição do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF), o órgão responsável por organizar as eleições no estrangeiro, que iria dispensar os brasileiros da votação no país caribenho por ausência de locais apropriados para receber os eleitores e as urnas.
Simone Magalhães, brasileira que vive em Caracas e é coordenadora da brigada do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) no país, disse que a impossibilidade de votar na Venezuela fez com que ela e outros brasileiros se sentissem impedidos de exercer a sua cidadania e manifestar as suas vontades políticas através da escolha de um dos candidatos presidenciais.
«É uma consequência nefasta da atual política externa brasileira e de uma crise que foi instalada desde o golpe contra Dilma [Rousseff], que esse governo atual estendeu. Para nós, não poder votar aqui é uma violência e eu atribuo essa violência ao governo atual», afirmou em declarações ao Brasil de Fato.
Impedidos mas não desmobilizados
O facto de não poderem votar na Venezuela não impossibilitou os brasileiros de se mobilizarem nesta primeira volta das eleições presidenciais. Cerca de 100 pessoas, entre estudantes, trabalhadores e membros de movimentos populares, reuniram-se no domingo passado no Bairro de San Agustín, no centro de Caracas, para acompanhar o apuramento dos resultados e manifestar-se politicamente.
Com música, dança, palavras de ordem e debates, a comunidade brasileira ali reunida celebrou a votação no Brasil e disse que vai permanecer mobilizada até dia 30 de outubro, quando Lula da Silva e Jair Bolsonaro vão disputar a a segunda volta das presidenciais.
Em declarações ao Brasil de Fato, Simone Magalhães disse que, mesmo sem poder votar, os cidadãos em território venezuelano podem participar no debate político e expressar os seus posicionamentos, mobilizando-se.
«Nós estamos aqui emanando nossas energias porque sabemos que a luta que a sociedade brasileira está fazendo hoje é para restabelecer a democracia em nosso país. Então, mesmo não tendo o direito de votar garantido, nós estamos com o nosso povo organizado, o povo brasileiro, o povo sem terra, reconhecendo que nessas eleições a democracia precisa ser restabelecida, estamos conscientes e trabalhando intensamente para isso», disse.
Simone destacou ainda a união dos brasileiros que vivem na Venezuela e prometeu novas mobilizações para a segunda volta, afirmando que espera que o próximo governo brasileiro retome as relações com o país vizinho.
Por seu lado, Tiago Coelho, estudante de Medicina da Escola Latino-Americana de Medicina Dr. Salvador Allende, disse que ficou muito feliz ao saber do encontro para acompanhar o apuramento dos resultados e fez questão de revelar em quem teria votado caso tivesse a oportunidade.
«É de uma importância imensa a gente conseguir reunir esse núcleo para poder comemorar esse momento. Eu falo comemorar porque a gente já viu que o povo brasileiro quer o Lula, quer democracia e liberdade de expressão, então a gente poder se reunir aqui para compartilhar esse momento é de extrema importância», frisou.
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