O documento, publicado na última quinta-feira e dirigido a Lula da Silva com conhecimento do assessor especial Celso Amorim, destaca «a importância da manutenção de boas relações de vizinhança entre o nosso país e a República Bolivariana da Venezuela, baseadas no respeito mútuo, na cooperação e na compreensão das complexidades internas de cada nação».
«O reconhecimento dessa eleição [de Nicolás Maduro] não apenas reafirma nosso compromisso com o respeito à soberania venezuelana, mas também fortalece os laços de amizade e cooperação que historicamente unem nossas duas nações», afirma a missiva subscrita por cerca de duas dezenas de organizações.
«Os princípios da soberania e da autodeterminação dos povos, consagrados na Constituição Federal de 1988 e na Carta das Nações Unidas, guiam a nossa política externa independente, uma conquista importante da nossa nação, sob vossa liderança», declaram, entre outros, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz) e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).
Levante Popular da Juventude, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) também figuram na lista de signatários do texto, que se refere à política externa brasileira sob o comando de Lula da Silva e aos esforços que o presidente brasileiro fez no sentido de construir acordos benéficos para países vizinhos.
Extrema-direita promove «agenda desestabilizadora»
Em simultâneo, alertam para «os riscos que a ascensão de movimentos extremistas na Venezuela representa para toda a região». «A extrema-direita venezuelana e seus aliados fora do país promovem uma agenda polarizadora e desestabilizadora, ameaçando não só a paz interna do país, mas também a estabilidade de toda a América Latina», denunciam.
No final de Julho deste ano, Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais com 52% dos votos – dados que foram confirmados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pelo Supremo Tribunal de Justiça do país caribenho.
Edmundo González Urrutia, da coligação de extrema-direita Plataforma Unitária, não reconheceu os resultados e gritou «fraude», mesmo sem apresentar provas à Justiça eleitoral venezuelana.
Então, lembra a Opera Mundi, o Ministério brasileiro dos Negócios Estrangeiros congratulou-se com o «carácter pacífico» das eleições presidenciais, mas sem reconhecer a reeleição de Maduro e afirmando que acompanhava com «atenção» o processo de apuramento das actas eleitorais.
Já em Novembro último, Lula da Silva afirmou que «Maduro é problema da Venezuela, não do Brasil», dando a entender a defesa da soberania de cada país.
«Mensagem clara de apoio à paz e à estabilidade regional»
Neste contexto, organizações como Afronte – Movimento Nacional de Juventude, o Instituto Brasil Palestina (Ibraspal) ou o Movimento Brasil Popular entendem que «relações diplomáticas, de abertura ao diálogo, sincero, empático e direto com o governo da Venezuela, especialmente nesse momento crítico pós-eleitoral, assim como com outros países de nossa região, é essencial para construir de maneira mais estrutural, institucional e permanente a Integração Regional».
«Ao reconhecer a reeleição de Nicolás Maduro, o Brasil não apenas reafirma seu compromisso com os princípios de soberania e autodeterminação, mas também envia uma mensagem clara de apoio à paz e à estabilidade regional, promovendo o fortalecimento da integração latino-americana em um momento de grandes desafios globais», declaram.
No próximo dia 10 de Janeiro terá lugar a tomada de posse de Nicolás Maduro. Países como México e Colômbia já anunciaram que iriam enviar representações diplomáticas ao evento. Brasília, no entanto, ainda não confirmou presença.
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