Vinyl Chloride, Butyl Acrylate, Isobutylene, Benzene, Ethylhexyl Acrylate e Ethylene Glycol Monobutyl Ether: Cloreto de Vinila, Acrilato de Butilo, Isobutileno, Benzeno, Etilhexil Acrilato e Éter Monobutílico de Etilenoglicol. Algumas das 20 carruagens que tombaram na noite de dia 3 de Fevereiro libertaram todos estes químicos para o ar e para os cursos de água ao redor da pequena localização de East Palestine, no estado de Ohio, com pouco menos de 5 mil habitantes.
Estes químicos, usados para a produção de PVC e plástico, tinta, verniz e adesivos, podem provocar problemas respiratórios como a falta de ar, assim como sintomas neurológicos como dores de cabeça e tonturas. A exposição crónica a níveis elevados de Cloreto de Vinila, por exemplo, está associada a lesões hepáticas e cancro.
Vários residentes na zona do acidente têm desenvolvido dores de cabeça, náuseas e erupções cutâneas nestas últimas semanas. Embora as autoridades norte-americanas continuem a desvalorizar a situação, vários milhares de peixes morreram no rio Ohio, enquanto nas redes sociais circulam imagens de pássaros e pequenos mamíferos com sintomas de intoxicação nas imediações.
Numa sessão pública dos residentes da zona, a mesma questão foi levantada por um dos habitantes: «Porque é que as pessoas continuam a ficar doentes se não há nada no ar ou na água?». A Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos, 18 dias depois do desastre, assumiu o controlo das limpezas, prometendo remeter a fatura para a empresa Norfolk Southern.
A explosão controlada de alguns destes químicos produziu uma nuvem tóxica nos dias seguintes ao descarrilamento, altura em que o Governador do Ohio pediu a todas as pessoas num raio de vários quilómetros em torno do local para permanecerem fechadas em casa e beberem apenas água engarrafada (incluíndo a evacuação total num raio de duas milhas).
Pelo mundo fora, a privatização alcança os mesmos resultados: aumento exponencial dos lucros do patronato e a degradação dos serviços e da segurança
Em 2002, a Norfolk Southern empregava 29 mil trabalhadores. 20 anos depois, no final de 2022, a empresa tinha reduzido o número de trabalhadores efectivos em 33%. Nesse mesmo período, a empresa mais do que duplicou as suas margens de lucro, denuncia a More Perfect Union, um portal de informação norte-americano focado em questões laborais.
«A inspecção de um vagão é um processo largamente manual que envolve o exame visual em busca de defeitos», explicou Clyde Whitaker, do SMART (um sindicato do sector ferroviário), ao More Perfect Union. «A Norfolk Southern despediu os trabalhadores que efectuavam as inspecções, reduzindo ainda para metade o tempo disponível para inspeccionar cada vagão».
O que as empresas privadas esperam é que os trabalhadores façam o mesmo trabalho, com menos ajuda e em metade do tempo. «No papel, e para Wall Street, isso é eficiência». Na realidade, a manutenção dos vagões, que transportam material extremamente perigoso e nocivo para seres humanos, animais e o ambiente, ficou completamente comprometida.
Imagens de câmaras de segurança identificaram o problema que provocou o descarrilamento: um rolamento de roda sobreaquecido. Há três anos, a empresa empregava cinco trabalhadores sinaleiros na área do acidente, responsáveis por verificar a segurança dos vagões: a 3 de Fevereiro de 2023, a Norfolk Southern já não tinha um únicos destes funcionários.
A Association of American Railroads, uma associação industrial que inclui a Norfolk Southern, promoveu, durante anos, lobbying para descartar a lei que obrigava a uma verificação obrigatória a cada vagão, a cada paragem de quatro horas. Esta alteração pouparia, à indústria ferroviária, quase 600 milhões de dólares ao longo de um período de 10 anos. Conseguiram o que queriam em 2020.
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