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|Grécia

Escândalo de espionagem abala o governo de direita grego

Demitiram-se responsáveis governamentais envolvidos na espionagem do líder dos socialistas gregos e de jornalistas com um software de uma empresa dirigida por um ex-espião israelita.

Primeiro-ministro grego tem a responsabilidade directa dos serviços de informação apanhados no caso de espionagem a jornalistas e políticos da oposição.
Primeiro-ministro grego tem a responsabilidade directa dos serviços de informação apanhados no caso de espionagem a jornalistas e políticos da oposição.CréditosDR / DR

A 26 de Julho, o líder do partido socialista grego (Pasok), Nikos Androulakis, revelou que o seu telefone tinha sido visado pelo software espião Predator. Na sexta-feira, 5 de Agosto, Grigoris Dimitriadis, o secretário-geral do gabinete do primeiro-ministro renunciou, seguido do director dos serviços de informação (AEL), Panagiotis Kontoleon.

Kontoleon, chefe dos serviços secretos, admitiu ter mandado colocar sob escuta os telefones de dois jornalistas de investigação gregos numa audição à porta fechada no parlamento, a 29 de Julho.

«Vários membros do parlamento confirmaram que eu tinha sido espiado pelos serviços secretos gregos enquanto estava a fazer uma reportagem sobre uma criança síria encarcerada num centro de detenção na ilha de Kos. Os serviços secretos citaram razões de segurança nacional como justificação na sequência das tensões com a Turquia em Março de 2020 e da tentativa de Ancara de utilizar a questão da migração para pressionar a Grécia», confirmou o jornalista Stavros Malichudis.

Espionagem às ordens do primeiro-ministro

Pouco depois da sua eleição em 2019, o primeiro-ministro conservador, Kyriakos Mitsotakis, colocou os serviços de informação directamente sob a sua égide.

Recentemente, várias investigações jornalísticas ligaram Grigoris Dimitriadis, chefe de gabinete do primeiro-ministro e seu amigo íntimo, a Felix Bitzios, vice-director da Intellexa, a empresa que comercializa software espião Predator na Grécia.

Na sequência dessas revelações, Grigoris Dimitriadis avançou com processos cíveis contra os meios de comunicação social que o investigaram, incluíndo o jornalista Thanasis Koukakis que revelou vários casos de corrupção governamental e que, por isso, foi mandado espiar com o software Predator. «Estou a ser atacado só porque partilhei artigos sobre o caso no Twitter. Quatro meses após a minha vigilância pelo spyware ter sido confirmada após análise pelo Citizen Lab da Universidade de Toronto, o governo tem continuado a negar e a minimizar a questão. Isto é preocupante para o Estado de direito na Grécia, e a União Europeia [UE] deve levar a situação a sério», disse Thanasis Koukakis ao diário francês Le Monde.

Pavol Szalai, chefe do gabinete Repórteres sem Fronteiras UE-Balcãs, tem estado preocupado com a deterioração da liberdade de imprensa na Grécia durante meses. «A decisão de processar Thanasis Koukakis e os jornalistas que investigaram a sua vigilância em vez de tentar lançar luz sobre ela é deplorável», denunciou ao mesmo jornal. A Grécia está classificada em último lugar na UE e em 108.º, de 180 países, no índice de liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras para 2022.

O governo grego nega qualquer responsabilidade

Nos três casos de espionagem, seja por meios tradicionais ou através de spyware, o governo grego excluiu «qualquer envolvimento do Estado». O porta-voz do governo, Yiannis Economou, tinha afirmado que «provavelmente indivíduos privados» tinham usado o Predator na Grécia.

Desenvolvido pela Cytrox, uma empresa sediada na Macedónia do Norte, um país vizinho da Grécia mas não sujeito à legislação da UE. O software permite, uma vez o telefone infectado, gravar mensagens e chamadas, incluindo as que se encontram em aplicações encriptadas, para aceder a palavras-passe, ficheiros ou ao histórico da web da pessoa espiada.

O Predator é comercializado na Grécia pela empresa Intellexa, cujo CEO é Tal Dilian, um antigo agente dos serviços secretos israelitas. O seu custo, 14 milhões de euros, e os seus clientes são sobretudo serviços secretos estatais.

O que é o Predator?

Este software espião comercial foi revelado no dia 16 de Dezembro de 2021 pelo Citizen Lab, uma instituição de investigação da Universidade de Toronto. Num longo estudo detalhando vários ataques, este grupo de investigadores, um observador atento da indústria da vigilância digital, levantou o véu sobre uma empresa pouco conhecida do público em geral: Cytrox.

Com sede na Macedónia do Norte, a Cytrox foi fundada em 2017, segundo o Citizen Lab, e pode, de acordo com as investigações dos websites Gizmodo e Fast Company, estar ligada a um grupo de várias empresas especializadas em ferramentas de espionagem. O estudo do laboratório canadiano descobriu que um programa de spyware chamado Predator utiliza uma infra-estrutura técnica ligada ao Cytrox.

Os investigadores identificaram o Predador analisando os telefones de duas vítimas, ambos egípcios: Ayman Nour, um opositor e antigo candidato à presidência, e um jornalista exilado, não identificado publicamente. Ao observar o funcionamento do software espião num dos telefones, o Citizan Lab descobriu um nome de domínio que, após investigação, foi rastreado até um website ligado ao Cytrox. Ayman Nour, por outro lado, também teve o seu telefone infectado com Pegasus, um software espião concebido pela empresa israelita NSO, uma vez que o Citizen Lab pôde observar ambos os bugs a funcionar ao mesmo tempo ao telefone.

Quem são os clientes da Cytrox? Empresas como a Cytrox, que operam no sector da vigilância digital, tendem a manter os nomes das entidades que utilizam os seus serviços em segredo. No entanto, sabe-se que estes são a polícia estatal e os serviços secretos. No seu relatório, o Citizen Lab sugere que um serviço estatal egípcio está provavelmente por detrás dos dois ataques que foram analisados. Da mesma forma, uma análise da infra-estrutura técnica do Predator realizada pelos investigadores leva-os a acreditar que os clientes da Cytrox estão localizados na Arábia Saudita, Indonésia, Madagáscar e Grécia, entre outros países.

Durante vários anos, instituições como o Citizen Lab e a Amnistia Internacional têm vindo a expor o uso indevido de software espião comercial vendido por empresas privadas aos Estados, oficialmente para combater o crime e o terrorismo, mas regularmente utilizado para espionagem de jornalistas, advogados e opositores políticos. «Como a evidência de novos participantes no mundo do software espião continua a surgir, as mesmas práticas abusivas continuarão, sem dúvida, até que a regulamentação internacional seja alterada», conclui o Citizen Lab no seu relatório.

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