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|alterações climáticas

COP26: sim, mas…

Da COP26 já ninguém fala. E afinal, para que serviu? Quais são os compromissos assumidos pelo governo português e como chegou a eles? Como vai dar-se andamento a eles no nosso país? Ou foi tudo encenação?

CréditosRobert Perry / EPA

Da COP26, importa continuar a valorizar essencialmente a sã discussão que privilegie os resultados do estudo científico e os dados da realidade. Os relatórios do Painel Intergovernamental para as Mudanças climáticas (IPCC, a partir da sua denominação em inglês) são para arquivar na cesta secção…

Mas hoje gostaria de abordar três questões.

Uma primeira questão refere-se a considerações reinantes sobre energias alternativas e ao carácter antropogénico das causas das alterações climáticas.

1) Por exemplo, há quem defenda um novo paradigma de energia e transporte. Os carros sem condutor são elegantes, mas o verdadeiro progresso no transporte virá da criação de redes de recarga que tornem a recarga omnipresente para aliviar a ansiedade no seu alcance. Esses são os problemas que impedem o abandono total da condução a gasolina e um rápido declínio nas emissões de gases poluentes.

Também existem outras soluções de evitar os gases «poluentes». Porém é necessário evitar as resistências, com a introdução cuidadosa da inovação.

Algumas elas – as chamadas energias alternativas, como a eólica ou a fotovoltaica – pesam pouco para as necessidades, agridem ambientalmente paisagens e apoderam-se de terrenos com vocação agrícola em termos inadmissíveis.

Para aqueles que querem, mesmo contra as evidências científicas, que as alterações climáticas sejam essencialmente antropogénicas, isso exige alguns compromissos complicados. Pretendem aliviar-se dos piores efeitos dessas acções humanas ao mesmo tempo que não negam a capacidade de a humanidade existir, de forma sustentada, no planeta, acaba por tornar-se um compromisso difícil.

O clima sempre mudou de eras quentes e temperadas para eras glaciais. O que é diferente agora é a dimensão humana nessa mudança. Mas a relação causa-efeito de tornar a actividade humana a principal causadora dos desastres climáticos é um salto na imaginação que atropela a Ciência com algoritmos e modelos matemáticos, alheados da realidade concreta.

Podemos, por exemplo, converter a economia a uma base eléctrica e podemos remover o carbono do meio ambiente, mas também precisamos de estabilizar a população humana, garantindo recursos e empregos para todas as pessoas.

A energia, transporte e comida são hoje actividades para fazer muito dinheiro e os governos devem preocupar-se com a definição de padrões que garantam quantidades, e que devem ter em conta a necessidade de os impostos sobre o valor acrescentado acompanharem as subidas da produtividade e dos lucros.

Como disse Demétrio Alves:  «se, de facto, as alterações climáticas são um problema tão terrível para o planeta e para a humanidade, e se elas são devidas, de acordo com a teoria oficial, ao CO2 produzido pelas atividades económicas do coletivo humano, por que razão, há uns que suportam os custos das medidas erradicadoras ou mitigadoras (a grande maioria dos consumidores/contribuintes), enquanto outros (uma minoria de investidores/empresários) extraem fabulosos lucros com a política voluntarista que norteia uma descarbonização da sociedade e da economia feita em marcha acelerada?»

2) Uma segunda questão remete para Fevereiro deste ano, quando Bill Gates publicou um livro em jeito de manifesto que a COP 26 pudesse adoptar (ou garantir-lhe mesa própria nos debates…). O livro Como evitar um desastre climático é apresentado como as soluções que ele tem e as inovações de que precisamos. Nele, Gates apresenta o que diz ter aprendido em mais de uma década «ao estudar as mudanças climáticas e investindo em inovações para enfrentar o aquecimento global». E recomenda estratégias para enfrentá-lo.

Avança que «para evitar um desastre climático, temos que chegar a zero emissões de gases de efeito estufa. Precisamos implantar as ferramentas que já temos, como solar e eólica, de forma mais rápida e inteligente. E precisamos criar e lançar tecnologias inovadoras que nos podem levar a fazer o resto do caminho».

Na sequência da publicação deste livro em quase todo o mundo, a CBS transmitiu no programa «60 Minutes» uma entrevista com o fundador da Microsoft. Nela defendeu a inovação tecnológica e a cooperação global como as chaves essenciais para resolver o que ele chama «o desafio mais difícil que a humanidade já enfrentou».

Um mês depois de lançado o livro, Bill McKibben, do The New York Times, disse que o que Gates indica como energias verdes e outras soluções climáticas são medidas «surpreendentemente atrasadas». Além disso, McKibben diz ainda que Bill Gates ignorou a sua forte influência como bilionário, pedindo uma acção governamental, mas ao mesmo tempo «passando cheques a conhecidos negacionistas climáticos».

Se Bill Gates desse uma vista de olhos aos gráficos de mudança climática dos últimos 10 mil anos e dos últimos 415 mil anos, constataria que o clima muda sem a queima de nenhum combustível fóssil pelos humanos. O tempo que estamos a viver recentemente está registado historicamente. Isso acontece em cada espaço de centenas de anos.

O que transparece deste livro, também editado em português, é o incrível grau de imprecisão da observação, a clareza simplória de exposição das questões e, sobretudo, o leque de soluções que um homem ignorante do clima nos propõe…

Em entrevista encomendada, no Público de 15 de Fevereiro deste ano, o prestidigitador, jogando à cautela, para não perder as camadas sociais que lhe fazem chegar aos bolsos chorudos maravedis, fala em «eliminar as emissões de gases com efeito de estufa, conseguindo chegar ao nível zero as emissões de dióxido de carbono», sem no entanto «mudar o nível de vida dos países ricos»…

Mas «não se pode subtrair aos países pobres ou em vias de desenvolvimento o objectivo de chegar ao patamar dos países ricos».

Para «tornear» a contradição, avança que «o que há a fazer para evitar um desastre ecológico é reciclar o projecto da modernidade científica, refazer o que foi mal feito com os instrumentos que a ciência e a ficção científica nos fornecem, reconstruir o que foi erradamente construído».

António Guerreiro, também no Público, dias depois, chamando-lhe «engenharia climática» refere que, «pelo lado da mecenática Fundação Gates não há adversários nem inimigos a identificar e a combater, há apenas investimentos bilionários a fazer. E eles são, afinal, muitas vezes empresariais e lucrativos, embora cobertos pelo doce manto do Grande Mecenas». Ou, digo eu, o que o que o Bill quer é ficar dono do tal «projecto da modernidade científica», alicerçado numa «engenharia climática» que afastaria os humanos da condução dos processos, para os transfigurar talvez em nenúfares saltitantes num paraíso (finalmente!) recuperado.

Uma iniciativa de Geoengenharia em Kiruna, na Suécia, projectada por Bill Gates, foi, entretanto, proibida pelo governo da Suécia, no dia 31 de Março deste ano. Denominado Stratospheric Controlled Disturbance Experiment (Experiência de Perturbação Controlada Estratosférica) previa, em Junho deste ano, resfriar artificialmente o planeta para alegadamente travar o aquecimento global.

O ambicioso projecto foi acusado de apresentar risco para o meio ambiente e para as comunidades indígenas que residem no norte da Suécia. Os representantes da comunidade indígena protestaram contra o plano, bem como associações suecas de defesa do ambiente.

O plano começaria por despejar, na Esrange (abreviatura para Estação Espacial RANGE, European Spaceresearch RANGE em inglês), toneladas de pó de carbonato de cálcio no sentido de conter a radiação solar. A equipa Gates já tinha fabricado um balão gigante para transportar o pó a uma altura de cerca de 20 quilómetros e, durante vários dias, ir libertando o pó na atmosfera.

Também a comunidade tradicional rejeitou a experiência, alegando que se desconhecem as verdadeiras propriedades do material que seria espalhado, o impacto concreto das medidas e a escolha estranha de um local remoto no extremo norte do país escandinavo.

3) Finalmente, a terceira questão que queríamos abordar é que o clima é um sistema natural muito complexo, de muito difícil compreensão na sua totalidade, embora muitos cientistas entendam os seus diferentes aspectos parciais.

Por norma, o cientista ou especialista numa área científica do conhecimento, quando se trata de outras áreas, acredita nas afirmações de colegas, considerados especialistas nesse domínio.

Sucede que algumas dessas áreas são tão restritas e especializadas que todos se conhecem uns aos outros e mutuamente se promovem como únicos e inquestionáveis conhecedores do tema.

Foi este tipo de comportamento que gerou o escândalo conhecido como climategate, com origem na revelação pública de manipulação de dados paleontológicos para forçar a conclusão, amplamente promovida pelo 3.º Relatório do IPCC (TAR-2001), de não ter havido qualquer aumento significativo da temperatura média global antes do início da industrialização e da utilização massiva de combustíveis fósseis. Essa ideia sustentou e promoveu a convicção de que as emissões de CO2 seriam as grandes responsáveis pelas anunciadas catástrofes climáticas.

Por outro lado, as afirmações alarmistas acerca de alterações climáticas globais provocadas pelas emissões de CO2 têm como único fundamento as simulações numéricas obtidas com a utilização de modelos climáticos. Estes modelos são estruturalmente idênticos aos modelos meteorológicos utilizados na previsão do tempo, nos quais têm a sua origem.

Matematicamente, são uma manifestação de caos determinístico que, em termos simples, se traduz no facto de as suas previsões terem uma intrínseca limitação temporal. No caso da previsão do tempo, uma previsão razoavelmente segura não ultrapassa 1-2 semanas. No caso do clima existe a mesma limitação intrínseca.

Recorro ao meu professor no IST, J. Delgado Martins, que tem um pensamento sobre as alterações climáticaso petróleo e as oportunidades das energias renováveis, ou a energia eólica em particular. Para ele o clima é a estatística do tempo, os modelos climáticos baseiam-se no pressuposto de que fazendo a estatística de muitas simulações do tempo, cobrindo décadas, se lhes pode atribuir uma probabilidade estatística fiável. E conclui afirmando: «não existe, até hoje, nenhuma prova convincente de que assim seja mesmo partindo da hipótese adicional de que os modelos reflectem com rigor os fenómenos físicos determinantes, o que não sucede, por exemplo, com a formação e evolução das nuvens, que têm um papel crucial nas alterações climáticas».

Independentemente de considerandos de natureza fundamental e inultrapassáveis como o da previsibilidade temporal da evolução do clima, um teste empírico objectivo e convincente é, por exemplo, imaginar que estamos em 1880 e utilizar os modelos para «prever» o que se passou até 2012. Segundo o autor, «estes testes foram feitos e o que se verifica é que nenhum dos modelos utilizados pelo IPCC consegue prever os períodos conhecidos de aquecimento e arrefecimento sem fazer batota, isto é, sem ajustar subjectivamente e em cada período parâmetros fundamentais para se obterem os resultados desejados»

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